12 de outubro de 2010

A Filosofia Esotérica e os Rituais

Oito Trechos Teosóficos Sobre Práticas Cerimonialistas

O Teosofista


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O texto a seguir foi publicado
inicialmente no boletim “O Teosofista”,
sua edição de setembro de 2010.

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A teosofia é uma filosofia universal. A sua compreensão só pode ser obtida por mérito próprio.  Para ser colocada em prática, o estudante de filosofia deve libertar-se do apego a formas externas e crenças supersticiosas.  

A seguir, trazemos algumas referências ao problema do cerimonialismo e à necessidade de libertar-se de formalidades materiais. 

1) Em uma das “Cartas dos Mahatmas”, um raja iogue dos Himalaias menciona a ilusão da “crença na eficácia de vãos rituais e cerimônias, em orações e em intercessão”. No mesmo trecho, há uma nota de pé de página em que é feita citação das seguintes palavras de C. Jinarajadasa: “Dos ‘dez grilhões’ existentes no Caminho da Libertação, os três últimos são: 1) Sakkayaditti, a ilusão do eu; 2) Vichikicheha, dúvida; e 3) Silabbataparamasa, crença na eficácia de ritos e cerimônias.” [1]

2) Em outro parágrafo da mesma carta, o raja iogue escreve: “Dentro de uma semana - novas cerimônias religiosas, novas bolhas resplandecentes para divertir os bebês, e mais uma vez estarei ocupado noite e dia ...” [2]

3) Um  Mestre de Sabedoria afirma em carta a um discípulo leigo que o movimento teosófico moderno, criado em 1875, foi concebido “para ser a pedra angular das futuras religiões da humanidade”. Para realizar este objetivo, os que o lideram “devem deixar de lado suas frágeis predileções pelas formas e cerimônias de qualquer credo particular, e demonstrar que são verdadeiros teosofistas, tanto no pensamento interno quanto no comportamento externo.” [3]

4) Henry S. Olcott, um dos principais fundadores do movimento teosófico original, escreveu o seguinte em seu livro Catecismo Budista, referindo-se a Gautama Buda: “Desde o começo, ele condenou o costume das cerimônias e outras práticas exteriores que não tendem senão a aumentar nossa cegueira espiritual e nosso apego às formas inertes.” [4]

5) Um  Mahatma informa em uma carta que é impossível fazer boa magia cerimonial ou uma “central de mágicas” no Ocidente. Ele  narra a experiência frustrada de algumas reuniões de  que ele participou pessoalmente em Londres, com o escritor Bulwer-Lytton e outros ocultistas. [5] 

6) Um Mestre escreveu: “Muitos preferem chamar-se budistas não porque a palavra se refira ao sistema eclesiástico construído sobre as idéias básicas do nosso Senhor Gautama Buddha, mas pela palavra sânscrita “buddhi” – sabedoria, iluminação; e como um protesto silencioso contra os vãos rituais e cerimônias vazias que, em um número excessivo de casos, têm produzido as maiores calamidades. Esta é a origem também do termo caldeu mago. ” [6]

7) Sobre rituais maçônicos, é interessante ver a abordagem crítica que HPB faz deles em “Ísis Sem Véu”. Segundo ela, a maçonaria foi amplamente infiltrada e seus rituais alterados e adulterados pelos jesuítas, que formavam o aparelho de inteligência e espionagem a serviço do Vaticano.

8) No artigo “The Beacon of the Unknown” (“O Farol do Desconhecido”), H.P.Blavatsky  referiu-se à “ST”, isto é, à Sociedade Teosófica original, que deixou de existir depois da sua morte. Ela escreveu: “Não tendo nenhum dogma nem ritual - e estes dois são apenas obstáculos, um corpo material que sufoca a alma - nós não empregamos a ‘magia cerimonial’ dos cabalistas ocidentais; sabemos muito bem dos seus perigos para termos qualquer coisa  a ver com ela. Na ST  cada membro tem a liberdade de estudar o que deseja, uma vez que não se aventure em caminhos desconhecidos que o levariam certamente à magia negra, a feitiçaria contra a qual Eliphas Levy advertiu o público tão abertamente.” [8]

Até que ponto o movimento teosófico compreende a importância das palavras citadas acima?  É verdade que a organização teosófica mais numerosa - a Sociedade de Adyar - está ainda hoje sob o controle de burocracias ritualísticas inventadas por Annie Besant. 

No entanto, uma parcela considerável do movimento teosófico internacional permaneceu livre da crença cega e disponível para o livre pensamento. No século 21, há  teosofistas que já apontam para um futuro em que o movimento teosófico todo, inclusive Adyar, deverá estar finalmente livre de estruturas ritualistas e organizado, de modo espontâneo e natural, em torno dos ensinamentos autênticos dos Mahatmas. 

É deste modo que a loja luso-brasileira da Loja Unida de Teosofistas visualiza o futuro do movimento teosófico. É nesta direção que a Sociedade de Adyar já está a caminhando,  ainda que, talvez,  tão lentamente que a maior parte das pessoas não perceba.   

Um velho ditado popular brasileiro afirma que “a mentira tem pernas curtas”.  E, de fato, enquanto a falsa teosofia de Annie Besant e C. W. Leadbeater vai sendo inegavelmente abandonada,   cresce em diferentes países o número de teosofistas de Adyar que descobrem o valor permanente da literatura teosófica verdadeira,  e se voltam para o ensinamento de Helena Blavatsky.  Há uma possibilidade real de que, com o tempo, a velocidade deste processo passe a aumentar. Isso será bom não só para a Sociedade de Adyar, mas para todo o movimento esotérico. Não há qualquer necessidade de arrastar durante mais duzentos anos o processo pelo qual Adyar está deixando de lado as envelhecidas  ilusões que alguns falsos clarividentes fabricaram, durante a primeira parte do século vinte.   

NOTAS:

[1] Carta 68, na metade da p. 311,  do volume um de “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica.

[2] Carta 68, p. 317.

[3] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília,  Carta 46, primeira série, p. 107.

[4] “Catecismo Budista”, H.S. Olcott, Edições IBRASA, SP, 132 pp., ver p. 68.

[5] “Cartas dos Mahatmas”, vol. um, Carta 11, pp. 75-76.

[6] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Carta 120, vol. dois, pp. 257-258.

[7]  “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Ed. Pensamento, vol. IV, Capítulo VIII, pp. 9 e seguintes.

[8] “Collected Writings of  H.P. Blavatsky”, TPH, Adyar, Índia, volume 11, p. 266.


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