9 de junho de 2011

DEUS PESSOAL OU LEI UNIVERSAL?


A Filosofia Esotérica Esclarece: o Deus
Monoteísta é uma Invenção das Castas Sacerdotais


 Um Mahatma dos Himalaias


 
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    Um Trecho do  volume II da obra
“Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”
Editora Teosófica,  Brasília,  2001, dois volumes

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CARTA Nº  88               (ML-10)    Copiada por A.P.S., 28  set. 1882

NOTAS DE UM MESTRE DOS HIMALAIAS SOBRE UM “CAPÍTULO PRELIMINAR SOBRE DEUS”, QUE HAVIA SIDO ESCRITO POR UM CORRESPONDENTE DELE, UM CIDADÃO INGLÊS.

[ Recebidas em Simla,  Índia, Set. 1882 ]



Nem a nossa filosofia, nem nós próprios acreditamos em um Deus, e muito menos em um Deus cujo pronome necessita uma inicial maiúscula. Nossa filosofia se encaixa na definição de Hobbes[1]. Ela é preeminentemente a ciência dos efeitos pelas causas e das causas por seus efeitos, e já que ela é também a ciência das coisas surgidas do primeiro princípio, segundo a definição de Bacon[2], antes de admitir qualquer primeiro princípio devemos conhecê-lo, sem o que não temos o direito de admitir nem mesmo sua possibilidade. Toda sua explicação se baseia sobre uma admissão isolada, feita para efeitos de argumentação em outubro  passado.   Foi-lhe    dito que nosso conhecimento estava limitado ao nosso sistema solar: portanto, como filósofos que desejam ser dignos do nome, não poderíamos negar nem afirmar a existência do que você qualificou como um ser supremo, onipotente, inteligente, de um tipo além dos limites do sistema solar. Mas embora tal existência não seja absolutamente impossível, a menos que a uniformidade da    lei    da    natureza   se   rompa   naqueles limites, nós sustentamos que é altamente improvável. Mesmo assim, rejeitamos de modo extremamente enfático a posição do agnosticismo neste sentido, e com relação ao sistema solar. Nossa doutrina não conhece meios-termos. Ela afirma ou nega, porque só ensina aquilo que sabe que é a verdade. Portanto, nós negamos a Deus como filósofos e como budistas. Sabemos que há vidas planetárias e outras vidas espirituais, e sabemos que em nosso sistema solar não existe coisa tal como Deus, seja pessoal ou impessoal. Parabrahm não é um Deus, mas a lei absoluta imutável, e Ishwar[3] é o efeito de Avidya e Maya, ignorância baseada na grande ilusão. A palavra “Deus” foi inventada para designar a causa desconhecida daqueles efeitos que o homem tem admirado ou temido sem entender, e já que nós alegamos e somos capazes de comprovar o que alegamos - isto é, que conhecemos aquela causa e outras causas – temos condições de sustentar que não há Deus ou Deuses atrás daqueles efeitos.

A idéia de Deus não é uma noção inata, mas adquirida, e nós só temos uma coisa em comum com as teologias – nós revelamos o infinito. Mas enquanto atribuímos causas materiais, naturais, sensíveis e conhecidas (por nós, pelo menos) a todos os fenômenos que procedem do espaço, da duração e do movimento infinitos e ilimitados, os teístas atribuem a eles causas espirituais, sobrenaturais, ininteligíveis e desconhecidas. O Deus dos teólogos é simplesmente um poder imaginário, un loup garou[4] na expressão de d’Holbach – um poder que  até agora nunca se manifestou. Nossa principal meta é libertar a humanidade deste pesadelo, ensinar ao homem  a virtude pelo bem da virtude, e ensiná-lo a caminhar pela vida confiando em si mesmo, ao invés de depender de uma muleta teológica que por eras incontáveis foi a causa direta de quase toda a miséria humana. Podemos ser chamados de panteístas  - de agnósticos NUNCA. Se as pessoas estiverem dispostas a aceitar e  a   ver   como   Deus   nossa   VIDA   UNA,  imutável   e inconsciente em sua eternidade, poderão fazê-lo e assim manter mais um gigantesco equívoco de denominação. Mas então terão de dizer como Spinoza que não há e não podemos conceber   qualquer   outra substância além de Deus, como aquele famoso e infeliz filósofo [5] diz em sua décima-quarta proposição: “praeter Deum neque dari neque concipi potest substantia” – e assim tornarem-se panteístas ... quem, exceto um teólogo formado no mistério e no mais absurdo sobrenaturalismo pode imaginar um ser auto-existente, necessariamente infinito e onipresente, fora do universo manifestado que não tem fronteiras? A palavra infinito é apenas uma negativa que exclui a idéia de limites. É evidente que um ser independente e onipresente não pode estar limitado por nada que seja externo a ele; que não pode haver nada externo a ele – nem mesmo um vácuo; portanto, onde haverá espaço para a matéria? para aquele universo manifestado, mesmo que este último seja limitado? Se perguntarmos aos teístas se o Deus deles é vácuo, espaço ou matéria, eles responderão que não. E no entanto eles sustentam que o Deus deles penetra a matéria embora ele próprio não seja matéria. Quando nós falamos da nossa Vida Una, também dizemos que ela não só penetra, mas é a essência de cada átomo de matéria; e que, portanto, ela não apenas tem correspondência com a matéria mas possui também todas as suas propriedades, etc. – consequentemente, é material, é a própria matéria.” Como poderia a inteligência proceder ou emanar da não-inteligência? “ – você insistia em perguntar no ano passado. “Como poderia uma humanidade altamente inteligente, o homem que é o coroamento da razão, ter evoluído a partir de uma lei ou força cega, não-inteligente!” Mas uma vez que raciocinamos nesta direção, eu posso perguntar por minha vez, como poderiam idiotas congênitos, animais que não raciocinam, e o resto da “criação” ter sido criados ou haver evoluído a partir de uma Sabedoria absoluta, se esta última é um ser pensante inteligente, o autor e governante do Universo? “Como?” diz o dr. Clarke, em seu exame das provas da existência da Divindade. “Deus que fez o olho, não enxergará? Deus que fez o ouvido não escutará?” Mas de acordo com este modo de pensar eles teriam que admitir que, ao criar um idiota, Deus é um idiota; que aquele que fez tantos seres irracionais, tantos monstros físicos e morais, deve ser irracional ...

... Nós não somos advaitas[6], mas nosso ensinamento com respeito à vida una é idêntico ao dos advaitas com relação a Parabrahm. E nenhum verdadeiro advaita treinado filosoficamente jamais se definirá como agnóstico, porque sabe que Parabrahm é idêntico em todos os aspectos à vida e à alma universal – o macrocosmo e o microcosmo, e sabe que não há Deus separado dele, nenhum criador, como nenhum ser. Tendo encontrado a Gnose, nós não podemos esquecê-la e transformar-nos em agnósticos.

... Se nós fôssemos admitir que até mesmo os mais altos Dhyan Chohans podem cair em alguma ilusão, então de fato não haveria realidade para nós, e as ciências ocultas seriam uma quimera tão grande quanto Deus. Se há um absurdo em negar aquilo que não conhecemos, é ainda mais absurdo atribuir a este algo leis desconhecidas.

Segundo a lógica, o “nada” é aquilo do qual tudo pode ser corretamente negado e do qual nada pode ser corretamente afirmado. Portanto, a idéia seja de um nada finito ou um nada infinito é uma contradição em termos. E no entanto, de acordo com os teólogos, “Deus, o ser auto-existente, é extremamente simples, imutável e incorruptível; sem partes, sem figura, movimento, divisibilidade ou quaisquer outras propriedades como estas, que encontramos na matéria. Porque todas estas coisas implicam muito clara e necessariamente finitude em sua própria noção, e estão completamente afastadas da infinidade completa”.  Portanto, Deus aqui oferecido à adoração do século XIX perde toda qualidade sobre a qual a mente do homem seja capaz de ter qualquer julgamento. O que é isto, na verdade, além de um ser do qual eles não podem afirmar coisa alguma que não seja negada instantaneamente? A própria Bíblia deles, seu Apocalipse, destrói todas as perfeições morais que eles empilham sobre ele, a menos, de fato, que qualifiquem como perfeições aquelas qualidades que a razão e o senso comum de qualquer outro homem chamam de vícios odiosos e maldade brutal. Autêntica e verdadeiramente, a sua teologia criou o Deus dela apenas para destruí-lo pedaço por pedaço. A Igreja de vocês é o Saturno da fábula, que tem filhos apenas para devorá-los.

(A Mente Universal) - Algumas reflexões e argumentos deveriam embasar cada nova idéia - por exemplo, nós certamente seremos criticados pelas aparentes contradições existentes. (1) Negamos a existência de um Deus pensante consciente, com base em que um tal Deus deveria ser condicionado, limitado e sujeito a mudança, e portanto não infinito, ou (2) se ele for descrito para nós como um ser eterno, imutável e independente, sem partícula alguma de matéria em si, então responderemos que ele não é um ser, mas um princípio imutável e cego, uma lei. E no entanto, eles dirão, nós acreditamos em Dhyan Chohans, ou Planetários (“espíritos”, também), e atribuímos a eles uma mente universal, e isso deve ser explicado.

Nossas razões podem ser brevemente resumidas assim:

(1) Rejeitamos a proposição absurda de que pode haver, mesmo em um universo ilimitado e eterno - duas existências eternas e onipresentes.

(2) Sabemos que a matéria é eterna, isto é, que não tem começo, (a) porque a matéria é a própria Natureza; (b) porque aquilo que não pode aniquilar a si mesmo e é indestrutível existe necessariamente - e portanto não poderia começar a existir, nem pode deixar de existir; e (c) porque a experiência acumulada de eras incontáveis e da ciência exata mostra que a matéria (ou natureza) age por sua própria energia peculiar, da qual nem um só átomo está jamais em estado de repouso absoluto, e portanto ela deve haver existido sempre, isto é, com seus materiais sempre mudando de forma, de combinações e propriedades, mas com seus princípios e elementos absolutamente indestrutíveis.

(3) Quanto a Deus - já que ninguém jamais e em tempo algum o viu - a menos que ele seja a própria essência e natureza desta matéria eterna ilimitada, sua energia e seu movimento, não podemos vê-lo como eterno nem como infinito, e tampouco como auto-existente. Nós nos recusamos a admitir um ser ou uma existência da qual não sabemos absolutamente nada; (a) porque não há espaço para ele na presença daquela matéria cujas propriedades e qualidades inegáveis nós conhecemos completamente bem, (b) porque se ele é apenas uma parte daquela matéria seria ridículo sustentar que ele movimenta e governa aquilo de que ele é apenas uma parte dependente, e (c) porque se eles nos dizem que Deus é um puro espírito auto-existente e independente da matéria - uma deidade extra-cósmica nós respondemos que mesmo admitindo a possibilidade de tal impossibilidade, isto é, a existência dele, nós  sustentaríamos que um espírito puramente imaterial não pode ser um governante consciente e inteligente, nem  pode ter nenhum dos atributos atribuídos a ele pela teologia, e assim um tal Deus se torna novamente uma força cega. A inteligência tal como encontrada em nossos Dhyan Chohans é uma faculdade que pode pertencer apenas a seres organizados ou animados - por mais imponderáveis, ou melhor, invisíveis que sejam os materiais das suas organizações[7]. A inteligência torna necessário o pensamento; para pensar alguém deve ter idéias; idéias supõem sentidos que são físicos e materiais, e como pode qualquer coisa material pertencer ao puro espírito? Se for feita a objeção de que o pensamento não pode ser uma propriedade da matéria, nós perguntaremos: por quê? Devemos ter uma prova inegável desta afirmativa, antes que possamos aceitá-la. Ao teólogo, nós perguntaríamos o que havia para impedir que seu Deus - já que ele é o suposto criador de tudo - dotasse a matéria com a faculdade do pensamento; e quando nos fosse respondido que evidentemente ele preferiu não fazê-lo, de que esse é um mistério tanto como uma impossibilidade, nós insistiríamos para que nos fosse dito por que é mais impossível a matéria produzir o espírito e pensamento do que o espírito ou pensamento de Deus produzir e criar matéria.

Nós não inclinamos nossas cabeças até o pó do chão diante do mistério   da   mente  –  porque já o resolvemos eras atrás.  Rejeitando com desprezo a teoria teística, rejeitamos ao mesmo tempo a teoria autômata, que ensina que os estados de consciência são produzidos pela disposição das moléculas do cérebro; e sentimos um respeito igualmente pequeno por aquela outra hipótese - a produção de movimento molecular pela consciência. Então, em que acreditamos? Bem, acreditamos na muito ridicularizada phlogiston (veja o artigo “O que é Força, o que é Matéria”, Theosophist, Setembro) [8] e no que alguns filósofos da natureza chamam de nisus, o movimento ou esforços incessantes embora perfeitamente imperceptíveis (para os sentidos comuns) que um corpo faz em relação a outro - as pulsações da matéria inerte - a sua vida. Os corpos  dos  espíritos Planetários são formados com aquilo que Priestley e outros chamaram de Phlogiston e para o qual nós temos outro nome. Esta essência, em seu sétimo e mais elevado estado, forma a matéria da qual são compostos os organismos dos Dhyans  mais elevados e puros, e em sua forma mais inferior ou densa (tão impalpável, no entanto, que a ciência a chama de energia e força) serve como uma cobertura para os Planetários do primeiro grau, o mais inferior. Em outras palavras, nós acreditamos na MATÉRIA apenas, matéria como natureza visível e matéria em sua invisibilidade, como o Proteu[9] invisível, onipresente com seu movimento incessante, que é a   sua vida, e que a natureza extrai de si mesma já que ela é o grande todo fora do   qual     nada   pode   existir.    Porque,   como    Bilfinger    corretamente  afirma “o  movimento é um modo de existência que flui necessariamente da essência da matéria; que a matéria se movimenta por suas próprias energias peculiares; que seu movimento é devido à força inerente a si mesma; que a variedade de movimentos e os fenômenos que resultam procedem da diversidade das propriedades das qualidades e das combinações que são encontradas originalmente na matéria primitiva” da qual a natureza é a montagem, e da qual a ciência de vocês sabe menos do que um dos nossos condutores de iaque[10]  a respeito da metafísica de Kant.

A existência de matéria, então, é um fato; a existência de movimento é outro fato, e a existência ou eternidade e indestrutibilidade deles constitui um terceiro fato. E a idéia de puro espírito como um Ser ou uma Existência - dê a isso o nome que quiser - é uma quimera, um gigantesco absurdo.

Nossas idéias a respeito do mal.  O mal não tem existência per se[11] e é apenas a ausência do bem; e existe apenas para aquele que é transformado em vítima sua. Ele surge de duas causas, e, tanto quanto o bem, não é uma causa independente na natureza. A natureza é destituída de bondade ou maldade; ela segue apenas leis imutáveis quando dá vida e alegria ou manda sofrimento e morte,  destruindo o que havia criado. A natureza tem um antídoto para cada veneno, e suas leis possuem uma recompensa para cada sofrimento. A borboleta devorada pelo pássaro se torna aquele pássaro, e o pequeno pássaro morto por um animal alcança uma forma mais elevada. Essa é a lei cega da necessidade e da eterna adequação das coisas, e portanto não pode ser considerada um Mal na Natureza. O verdadeiro mal surge da inteligência humana e sua origem está inteiramente no homem que raciocina e que se dissocia da Natureza. Só a humanidade, portanto, é a verdadeira fonte do mal. O mal é o exagero do bem,  produto do egoísmo e da ganância humanos. Pense profundamente e  descobrirá que com a exceção da morte - que não é um mal mas uma lei necessária - e de acidentes, que sempre terão suas recompensas em uma vida futura,  a origem de cada mal, seja pequeno ou grande, está na ação humana, no homem, cuja inteligência faz dele o único agente livre da natureza. Não é a natureza que cria doenças, mas o homem. A missão e o destino dele na economia da natureza é ter uma morte natural provocada pela velhice; salvo acidentes, nem um homem selvagem nem um animal selvagem (livre) morrem devido a doenças. Comida, relações sexuais, bebida, são todas necessidades naturais da vida; no entanto, o excesso delas traz doenças, miséria, sofrimento mental e físico; e estes últimos   são transmitidos como os maiores males para as gerações futuras, os descendentes dos culpados. A ambição e o desejo de assegurar felicidade e conforto para aqueles que amamos através da obtenção de honras e riquezas são sentimentos naturais dignos de elogios, mas quando eles transformam o homem em um tirano cruel e ambicioso, um miserável, um egoísta, trazem miséria indescritível para os que estão ao redor dele; e para nações tanto quanto para indivíduos. Tudo isso então - comida, riqueza, ambição, e outras mil coisas que deixamos de mencionar - se torna fonte e causa do mal, seja por causa da sua abundância, seja devido à ausência. Torne-se um glutão, um devasso, um tirano, e você se transforma em um gerador de doenças, de sofrimento e miséria humanos. Deixe de lado tudo isso e você passa fome, é desprezado como um ninguém, e a maior parte do rebanho, seus semelhantes, transforma você em um sofredor a vida toda. Portanto, não é a natureza nem uma Divindade imaginária que devem ser acusadas, mas a natureza humana transformada pelo egoísmo em algo mau. Pense bem sobre estas poucas palavras; identifique a causa de cada mal em que você pode pensar e localize a sua origem e  terá resolvido uma terça parte do problema do mal. E agora, depois de deixar de lado, como é devido, os males que são naturais e não podem ser evitados - e eles são tão poucos que eu desafio todo o conjunto dos metafísicos ocidentais a qualificá-los como males ou a atribuir-lhes uma causa independente - direi a você qual é o maior, a principal causa de cerca de dois terços dos males que perseguem a humanidade desde que esta causa se tornou um poder. É a casta sacerdotal, o clero e as igrejas; é naquelas ilusões que o homem vê como sagradas, que ele deve procurar a fonte daquele sem-número de males, a grande maldição da humanidade que quase domina totalmente o gênero humano. A ignorância criou os Deuses e a astúcia aproveitou a oportunidade. Veja a Índia, veja a Cristandade, o Islamismo, o Judaísmo e o fetichismo. Foi a impostura dos cleros que fez com que estes Deuses passassem a ser tão terríveis para o homem; é a religião que o transforma no beato egoísta, no fanático que odeia toda a humanidade fora da sua própria seita, sem torná-lo em nada melhor ou mais moral por isso. É a crença em Deus e nos Deuses que faz de dois terços da humanidade escravos de um punhado daqueles que os enganam com o falso pretexto de salvá-los. O homem não está sempre pronto a cometer qualquer tipo de maldade se lhe disserem que seu Deus ou Deuses exigem o crime - vítima  voluntária de um Deus ilusório, escravo abjeto de seus ministros astuciosos? Os camponeses irlandeses, italianos e eslavos passarão fome, e verão suas famílias famintas e sem roupa, para alimentar e vestir seu padre e seu papa. Durante dois mil anos a Índia gemeu sob o peso das castas, com os brâmanes engordando só a si mesmos com o melhor da terra, e hoje os seguidores de Cristo e os de Maomé estão cortando as gargantas uns dos outros em nome - e para maior glória - dos seus respectivos mitos. Lembre que a soma da miséria humana nunca será diminuída até aquele dia em que a parte melhor da humanidade destruir em nome da Verdade, da moralidade e da caridade universal, os altares dos seus falsos deuses.

Se for feita  a objeção de que nós também temos templos, de que nós também temos sacerdotes e que nossos lamas também vivem da caridade ... que se saiba que os objetos mencionados acima só têm o nome em comum com seus equivalentes ocidentais. Assim, em nossos templos não há um deus ou deuses adorados, apenas a memória três vezes sagrada do maior e mais santo homem que jamais viveu. Se nossos lamas, para honrar a fraternidade dos Bhikkhus[12] estabelecida pessoalmente pelo nosso abençoado mestre, saem para serem alimentados pelos leigos, estes últimos freqüentemente, em números que vão de 5 a 25.000, são alimentados e cuidados pela Samgha (a fraternidade de monges lamaicos), e a lamaseria atende as necessidades dos pobres, dos doentes e dos aflitos. Nossos lamas aceitam comida, nunca dinheiro, e é nesses templos que a origem do mal é pregada e transmitida para o povo. Lá são ensinadas as quatro nobres verdades - aryia sacca - e a cadeia da causação (as 12 nidānas)[13] lhes dá uma solução para o problema da origem do sofrimento e a sua destruição.

Leia o Mahavagga[14] e tente compreender, não com a mente ocidental preconceituosa, mas com o espírito de intuição e de verdade, o que o ser Completamente Iluminado diz no 1º Khandhaka. Permita que eu traduza para você.

“Na época em que o abençoado Buddha estava em Uruvela, às margens do rio Neranjara, quando ele descansava sob a árvore da sabedoria Bodhi, depois de haver-se tornado   Sambuddha,   ao  final  do sétimo dia mantendo sua mente fixa na cadeia de causação, ele falou assim: “da Ignorância surgem os samkharas[15] de natureza tríplice - as produções do corpo, da fala e do pensamento. Dos samkharas surge consciência, da consciência surgem o nome e a forma, disso surgem as seis regiões (dos seis sentidos, sendo que o sétimo é propriedade apenas do iluminado); destes surge o contato, deste a sensação; desta surge a sede (ou desejo, kama, tanha), da sede o apego, a existência, o nascimento, a velhice, a aflição, a lamentação, o sofrimento, o desânimo e o desespero. E no sentido inverso, pela destruição da ignorância os samkharas são destruídos, e a consciência deles, nome e forma, as seis regiões, contato, sensação, sede, apego (egoísmo), existência, nascimento, velhice, morte, aflição, lamentação, sofrimento e desânimo e desespero são destruídos. Assim é a cessação de toda essa massa de sofrimento.”

Sabendo disso, o Ser Abençoado fez esta afirmação solene:

“Quando a natureza real das coisas se torna clara para o Bhikshu[16] que medita, então todas as suas dúvidas desaparecem, já que ele compreendeu qual é aquela natureza e qual a sua causa. Da ignorância surgem todos os males. Do conhecimento vêm a cessação desta massa de infelicidade, e então o brâmane que medita ergue-se dispersando as hostes de Mara como o sol ilumina o céu.”

Meditação, aqui, significa as qualidades super-humanas (não sobrenaturais), ou a condição de arhat nos seus mais altos poderes espirituais.



NOTAS:

[1] Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, desenvolveu um enfoque matemático para uma filosofia da natureza. Neste aspecto, entre outros, seu pensamento teve certa influência sobre Benedictus de Spinoza (1632-1677). (N. ed. bras.)

[2] Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês, grande ocultista, considerado formulador do método científico experimental moderno. A literatura teosófica o considera o verdadeiro autor das obras assinadas por William Shakespeare. (N. ed. bras.)

[3] A grafia mais usada atualmente é Ishwara ou Ishvara. (N. ed. bras.)

[4] Loup-garou – bicho-papão, em francês: fantasma imaginário que se usa para assustar crianças. (N ed. bras.)

[5] Benedictus de Spinoza foi perseguido por suas idéias filosóficas mesmo na Holanda do século 17, conhecida por seu clima de liberdade religiosa. Sua principal obra,“Ética”, não pôde ser publicada enquanto ele viveu. Foi acusado de ateísmo e considerado um herege pela comunidade judaica. A décima-quarta proposição mencionada a seguir pelo Mestre pertence à parte I, “De Deus”, do seu famoso tratado sobre a Ética (publicado no Brasil pela Ed. Ediouro).  (N. ed. bras.)

[6] Advaita – escola não-dualista da tradição dos Vedas ou vedanta; foi fundada por Shankaracharia. (N. ed. bras.)

[7] Isto é, dos seus organismos. (N. ed. bras.)

[8] O texto “O que é Força, o que é Matéria?” está publicado no volume quatro de “Collected Writtings de H.P. Blavatsky”. Em “Letters of H.P.B. to A.P. Sinnett”, p. 8, Blavatsky afirma que esse texto é de autoria do Mestre K.H.  Phlogiston, segundo O que é Força, o que é Matéria?, constitui de certo modo uma essência da matéria, e o Mahatma sugere que ele corresponde a um nível do akasha e tem parentesco com a “matéria radiante” do professor William Crookes (isto é, com a radiatividade e a energia atômica). Em outro trecho do mesmo texto, o Mahatma diz: “Os Ocultistas sustentam que a concepção filosófica do espírito e a concepção da matéria devem ter uma mesma e única base de fenômenos, acrescentando que Força e Matéria, Espírito e Matéria, ou Divindade e Matéria, embora possam ser vistos como pólos opostos nas suas respectivas manifestações, são em essência e em verdade apenas um; e que a vida está presente tanto em um corpo morto como em um corpo vivo, na matéria orgânica como na matéria inorgânica. É por isso que, enquanto a ciência ainda está pesquisando e pode continuar pesquisando eternamente para resolver o problema do que é a vida, o Ocultista pode deixar de lado a questão, já que ele alega, com razões tão boas quanto as possíveis razões contrárias, que a Vida, seja na sua forma latente ou dinâmica, está em todo lugar. Que ela é tão infinita e indestrutível como a própria matéria, já que nenhuma das duas pode existir sem a outra, e que a eletricidade é a verdadeira essência e origem da - própria vida”. (N. ed. bras.)

[9] Proteu – Na mitologia clássica, um Deus marinho, filho de Oceano e de Tétis. Conhecia o presente, o passado e o futuro, e assumia todas as formas possíveis. (N.ed.bras.)

[10] Iaque  - Animal doméstico tibetano de grande porte, equivalente ao boi. (N. ed. bras).

[11]  Per se – por si mesmo. (N. ed. bras.)

[12] Bhikkhus – Discípulos, em sânscrito. (N. ed. bras.)

[13] Os 12 nidanas – Nidana, em sânscrito, significa causa ou essência. As 12 nidanas são um conceito fundamental da doutrina budista: o encadeamento de causa e efeito em todo o transcurso da existência, cuja compreensão resolve o enigma da vida. Os doze degraus, segundo o “Glossário Teosófico  de H.P.B”., são: 1. Jati, nascimento; 2. Jaramarana, velhice e morte; 3. Bhava, o agente cármico que leva ao nascimento; 4. Upadana, a causa criadora de Bhava; 5. Trichna, amor, seja puro ou impuro; 6. Vedana, sensação, percepção pelos sentidos; 7. Sparza, o sentido do tato; 8. Chadayatana, os órgãos de sensação; 9. Nama-rupa, a personalidade; 10. Vijnana, perfeito conhecimento de tudo que é perceptível e do encadeamento unitário dos objetos; 11. Samskara, ação no plano ilusório; 12. Avidya, ignorância. Helena Blavatsky escreveu em “A Doutrina Secreta” que os ensinamentos esotéricos sobre a relação entre as Nidanas e as Quatro Nobres Verdades são secretos (Vol. I, item 7 do Comentário à Estância I). (N. ed. bras.)

[14] Mahavagga – parte de uma escritura budista. O Tripitaka, literalmente “três cestas” em páli, constitui um cânone do budismo hinayana e tem três grandes divisões, uma das quais é intitulada Vinayapitaka. Vinayapitaka tem por sua vez quatro subdivisões, entre as quais Khandhaka. Mahavagga,citado pelo Mahatma, é a maior das duas partes que compõem Khandhaka. Há alguns anos, finalmente, o Tripitaka está sendo traduzido do chinês para o inglês. O empreendimento é de grande vulto e de longo prazo. (N. ed. bras.)

[15] Samkharas – termo páli equivalente a samskara ou sanskaras em sânscrito. Significa germes e tendências cármicas estabelecidos em vidas anteriores. Também pode designar as impressões deixadas na mente pelas ações individuais e pelas circunstâncias externas, e que vão influenciar o futuro a curto ou longo prazo. (N. ed. bras.)

[16] Bhikshu – literalmente “discípulo mendicante”, em sânscrito. O equivalente em páli é bikku. O termo se refere ao discípulo budista, especialmente dos primeiros tempos. (N. ed. bras.)

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Para ter acesso a um estudo diário de teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.  

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