27 de maio de 2015

O Resgate de ‘A Doutrina Secreta’


Versão Ilegítima da Obra Foi Abandonada
Em Inglês Mas Ainda Circula em Português

Carlos Cardoso Aveline

A ilustração acima reproduz, na letra de H. P. B., a maior
parte do parágrafo final da edição original em inglês de “A
Doutrina Secreta”. Em 1888, com a obra já pronta para a
impressão, Helena Blavatsky escreveu à mão, para ser inserido,
o parágrafo final que contém a advertência sobre a questão
cármica de como os teosofistas iriam agir depois de terem
em mãos os dois volumes iniciais de “A Doutrina Secreta”. 


 (Fonte da imagem: Sociedade Teosófica de Pasadena)




Escrita por Helena P. Blavatsky, a obra máxima da filosofia esotérica moderna foi lançada em Londres em 1888. Tinha dois volumes.

Pouco depois da morte da Sra. Blavatsky, Annie Besant estava entre os principais líderes do movimento teosófico quando abandonou a ética e os ensinamentos originais da filosofia esotérica.

A Sra. Besant decidiu então adulterar o texto de “A Doutrina Secreta”, usando a desculpa de revisá-lo, e publicou uma edição ilegítima da obra, preparada com ajuda de G. R. S. Mead e outros membros desorientados da Sociedade de Adyar.[1]

A deslealdade teve êxito a curto e médio prazo. O movimento teosófico foi colhido de surpresa. O esforço coletivo original, inspirado por H. P. B. e pelos Mestres de Sabedoria, demorou a reerguer-se. Reergueu-se lentamente, e até hoje é pequeno.

Algumas décadas foram necessárias para que surgisse, em 1925 e já por iniciativa da Loja Unida de Teosofistas (LUT), a primeira reedição fac-similar da versão original de “A Doutrina Secreta”. Depois disso, a Sociedade Teosófica de Point Loma (Pasadena) também publicou edições autênticas. Pasadena nunca deturpou obras teosóficas.

O Histórico das Edições

Em 1947, a Loja Unida de Teosofistas lançou sua segunda reedição através da “Theosophy Company”. O prefácio de 1947 afirma:

“Em torno de 1925, cinquenta anos depois da fundação do Movimento em Nova Iorque, a primeira edição da obra estava esgotada já havia muito tempo. Naquele momento, o ponto intermediário do ciclo de cem anos do Movimento Teosófico, a Theosophy Company tornou disponível pela primeira vez uma edição fac-similar da grande obra da senhora Blavatsky, com uma reprodução fotográfica da edição original. O atual volume é idêntico às impressões anteriores, embora tenha sido impresso a partir de novas chapas.”

Em seguida, o prefácio de 1947 aborda o problema da falsificação:

“Além da edição original de 1888 - a única autorizada pela senhora Blavatsky - apareceram várias outras edições desta obra. Uma delas, a chamada ‘Terceira Edição Revisada’, de 1893, está distorcida e com muitos milhares de alterações, algumas das quais são triviais, enquanto outras são verdadeiras mutilações do texto original. Mais adiante, foi incluído nesta suposta ‘Edição Revisada’ de A DOUTRINA SECRETA um ilegítimo ‘Terceiro Volume’. Ele foi lançado em 1897, seis anos depois da morte de H. P. Blavatsky. Compilado de papéis vários achados em seus arquivos, este volume não faz parte da DOUTRINA SECRETA original escrita pela senhora Blavatsky.” [2]

O prefácio prossegue:

“A ‘Terceira Edição Revisada’ deu lugar a outra edição em 1938, esta vez com seis volumes, que foi chamada de ‘Edição de Adyar’. Esta edição é substancialmente a mesma versão ‘revisada’, com as exceções do acréscimo de índices remissivos, de um texto biográfico sobre a autora, de várias mudanças tipográficas e de um texto tentando justificar a publicação do ilegítimo ‘terceiro volume’.”

H. P. Blavatsky morreu em 8 de maio de 1891, devido a uma infecção respiratória e de um modo inesperado para seus estudantes. Os volumes III e IV da obra, que estavam naquele momento quase prontos, não foram localizados.

O prefácio de 1947 explica deste modo a desaparição:  

“A DOUTRINA SECRETA autêntica tem apenas dois volumes. Como foi escrito inicialmente, A DOUTRINA SECRETA devia ser publicada em quatro volumes, mas só dois volumes foram dados por H. P. B. ao editor. Os dois volumes restantes, embora completos, ou quase, foram retirados por ela por razões claramente indicadas ao final do segundo volume da edição original.” [3]

De fato, nas linhas que concluem o volume II da obra, H. P. B. anuncia:

“Até aqui foram dados os esboços gerais das crenças e princípios das primeiras e arcaicas Raças, contidos nos registros Escritos, até agora secretos. Mas nossas explicações não estão de modo algum completas; e elas não têm a pretensão de divulgar todo o texto, que foi lido com ajuda de apenas três ou quatro chaves, das sete chaves de interpretação esotérica que há. E mesmo isso só foi conseguido em parte. O trabalho é demasiado gigantesco para que uma pessoa tente fazê-lo individualmente, e ainda mais, para que possa completá-lo. Nossa principal meta foi simplesmente preparar o solo. Isso, nós pensamos confiantemente que foi feito. Estes dois volumes constituem apenas o trabalho de uma pioneira que abriu seu caminho na floresta quase impenetrável e virgem da Terra do Oculto. Foi iniciada a tarefa de destruir as raízes e derrubar as mortais árvores upas [4] da superstição, do preconceito e da ignorância arrogante, de modo que estes dois volumes devem constituir para o estudante um prelúdio adequado dos volumes III e IV. Enquanto o lixo acumulado durante eras não for afastado das mentes dos teosofistas a quem estes volumes são dedicados, é impossível que o ensinamento mais prático contido no Terceiro Volume seja compreendido. Em consequência disso, a questão sobre se os dois últimos volumes serão publicados algum dia - embora eles estejam quase prontos - depende inteiramente do que os Teosofistas e Místicos fizerem, quando tiverem em suas mãos os volumes I e II.”

Cabe destacar que as linhas acima foram colocadas já nas provas finais do livro, pouco antes da impressão, como se pode ver pela ilustração acima.

É possível que H. P. B. tenha de algum modo previsto, em linhas gerais, os acontecimentos posteriores à sua morte.

A Importância de “A Doutrina Secreta”

Só a verdade permanece: cedo ou tarde, toda ilusão está condenada a desaparecer. Desde 1934, crescem lentamente a ética e o número de estudantes da teosofia original, na Sociedade de Adyar. Em 1979, finalmente, a Sociedade abandonou a edição adulterada por Annie Besant e adotou uma edição autêntica, corretamente produzida por Boris de Zirkoff. 

Assim, já nenhuma das principais correntes de pensamento teosófico adota a edição falsificada. Ainda existem, no entanto, sequelas da adulteração anterior. Até o momento, a única edição completa disponível de “A Doutrina Secreta” em português é a publicada pela Editora Pensamento, de São Paulo. E esta é a versão adulterada.  

Até o segundo semestre de 2016 a situação era essencialmente a mesma em espanhol e francês, de modo que ainda devem ser tomadas providências importantes no século 21 para que o público leitor esteja bem informado e tenha acesso à literatura autêntica, o que levará ao gradual desaparecimento da falsa literatura.       

Em português, a tradução online da edição original e autêntica desta obra-prima da literatura teosófica está sendo publicada passo a passo pelos websites ligados à Loja Independente de Teosofistas, e ainda demorará vários anos para estar completa. [5] 

“A Doutrina Secreta” foi escrita há menos de 150 anos e já é um dos maiores clássicos da literatura mundial de todos os tempos. Não há algo comparável a ela na literatura esotérica ou filosófica produzida e publicada nos últimos três mil anos. 

Para a sua leitura é necessário um esforço especial. A abordagem meramente intelectual tem pouco valor. A obra exige o despertar de uma intuição universal na consciência do leitor, algo que o seu estudo paciente possibilita e estimula.

Apesar dos desafios, “A Doutrina Secreta” revela muito mais da sabedoria eterna do que, por exemplo, as obras de Platão, na Grécia antiga. Acompanhada de “Ísis Sem Véu” e outros escritos de H.P. Blavatsky, a obra máxima da literatura esotérica moderna decodifica as principais religiões e filosofias de todos os tempos e define as grandes linhas da religião, da ciência e da filosofia do futuro. 

Quando percebem a importância da DS na literatura mundial, alguns estudantes se perguntam:

“Quem, exatamente, escreveu a obra? H. P. Blavatsky ou os Mahatmas?”

A questão é complexa. A forma externa da DS ficou a cargo de H. P. B. Quanto ao conteúdo, duas abordagens semelhantes ao problema podem ser encontradas nas cartas 69 e 70 da segunda série do volume “Cartas dos Mestres de Sabedoria”. [6]

Na Carta 69, um Raja Iogue dos Himalaias anuncia que “A Doutrina Secreta”, quando estivesse pronta, seria uma “produção tríplice” dele próprio, de outro Raja Iogue, e de Helena Blavatsky. 

Na Carta 70, outro Mestre se refere a H. P. B. como “Upasika” - palavra que significa “Discípula” - e escreve as seguintes palavras:

“Se esta puder ser de alguma utilidade ou auxílio (....) - embora eu duvide disso - eu, o humilde Fakir abaixo assinado, certifico que A Doutrina Secreta é ditada a Upasika, parte por mim mesmo e parte por meu Irmão _______[7].”

Estas duas evidências deixam claro quem são os autores de “A Doutrina Secreta”. No entanto, saber quem escreveu o livro é ainda uma indicação indireta da sua importância. O valor da DS deve ser verificado diretamente através da leitura de cada estudante, e, para isso, o público deve ter acesso à edição original.

NOTAS:
 
[1] Veja o texto “Changing The Secret Doctrine”.
 
[2] A edição brasileira da Ed. Pensamento de “A Doutrina Secreta” tem seis volumes. Os dois primeiros correspondem ao primeiro volume da edição falsificada de 1897. Os volumes 3 e 4 correspondem ao volume 2 da edição adulterada. Os volumes 5 e 6 correspondem ao terceiro volume “fabricado” por Annie Besant.
 
[3]The Secret Doctrine”, obra publicada nos websites associados; ver volume II, pp. 797-798. 
 
[4] As mortais árvores upas: a espécie antiaris toxicaria, cuja seiva é venenosa. (“Webster’s Encyclopedic Unabridged Dictionary of the English Language”, 1989 edition.)
 
[5] Veja “A Doutrina Secreta”  em nossos websites associados.
 
[6] “Cartas dos Mestres de Sabedoria” uma compilação de C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, 1996, 296 pp. Veja as páginas 246 e 247.
 
[7] Neste ponto aparecem as  iniciais do nome de um Raja-Iogue, seguidas da assinatura do Mestre que escreveu a carta.  
 
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O texto acima foi publicado em 2012.
 
Clique para ver nos websites associados a parte já publicada da tradução da edição original de “A Doutrina Secreta”.  

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Em setembro de 2016,   depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida. 

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