3 de julho de 2012

O Centro do Círculo de Pascal

A Ação Individual Pode Provocar Uma
Reação Em Cadeia Que Leva ao Despertar Coletivo

Carlos Cardoso Aveline




“…A forma primordial  de tudo o que é
manifestado, desde um  átomo a um globo,
desde um ser humano até um anjo,  é esferoidal.
Em todas as nações, a esfera tem sido o símbolo da
eternidade e da infinitude (...). Ela é o círculo simbólico
de Pascal e dos Cabalistas, ‘cujo centro está em toda
parte, e cuja circunferência não está em parte alguma’ (...).”

(Helena P. Blavatsky)


Em qualquer espaço ou tempo, aqueles que buscam a verdade e a justiça necessitam uma visão compartilhada da meta comum.

O objetivo deve ser suficientemente universal para que a independência de cada um seja respeitada. Mas a meta também precisa ser clara e desafiadora. Embora todo objetivo valioso seja necessariamente difícil de alcançar, o progresso em sua direção deve ser verificável, para que se saiba que o esforço não é feito em vão.  

É pior que inútil reclamar da época em que se vive. É uma perda de tempo atribuir as limitações do esforço teosófico individual à “decadência da civilização de hoje” ou à presença de um materialismo cego na mentalidade atual.   

O ponto de vista correto aponta na direção oposta: se o mundo está do jeito que podemos ver, a responsabilidade disso é, precisamente, dos cidadãos de boa vontade. Porque só eles podem mudar a situação, e a mudarão.

A humanidade atual está esperando, subconscientemente, pela reação em cadeia do redespertar humano.

A energia do despertar opera no plano da mente superior e universal, ou buddhi-manásica.

É possível dizer que esta reação cármica em cadeia começou há muito tempo e vem se acelerando mais fortemente desde 1875, quando foi criado o movimento teosófico moderno e foi feita a proposta de uma civilização da fraternidade.  

O que os humanos estão “esperando”  é apenas aquele momento em que a aceleração desta invisível reação em cadeia alcançará uma massa crítica suficiente para chegar até eles,  e para ajudar a fazer com que eles acordem, de fato.

Isso pode demorar mais ou menos tempo linear. O tempo cronológico do despertar não é motivo de preocupação.  Os teosofistas não dão prioridade a resultados de curto prazo. Ao contrário, eles sabem que é  fundamental  trabalhar  com uma perspectiva de tempo imenso.     

Cabe aos estudantes de filosofia,  isso sim, identificar o ponto central , o fator decisivo  que muda a vida e o carma como um todo; o centro da roda da vida. Uma vez que ele foi localizado, deve-se trabalhar pacientemente nele, a partir dele e em torno dele, deixando de lado os elementos periféricos do carma planetário.

Desde 1875, quando foi fundado o movimento esotérico moderno, o melhor modo de trabalhar a partir do centro da roda da vida é buscar uma meta universal.  O objetivo é  acordar a si mesmo enquanto se desperta a humanidade, e  despertar a humanidade enquanto se acorda a si mesmo.

Este modo de abandonar o sonho da ignorância pode parecer contraditório e paradoxal, mas é eficiente.   Cada estudante tem através dele o privilégio de assumir plena responsabilidade pela sua vida, e, na mesma medida,  de ajudar para que mais indivíduos desenvolvam um contato ampliado com as suas próprias consciências.  

Por este método o despertar provoca uma cooperação sem fronteiras que constitui a reação em cadeia. O despertar de cada um ajuda o despertar de todos,  e o despertar de todos acelera e aprofunda o despertar de cada um.  

Os testes são inevitáveis. Os tropeços fazem  parte da caminhada. No início, a ajuda mútua se espalha devagar.  Mas há de fato um ponto único a partir do qual cada estudante de filosofia pode colocar em funcionamento, simultaneamente, o seu próprio despertar e o despertar do mundo inteiro.

Este ponto decisivo está no centro do Círculo de Pascal, e Helena Blavatsky escreveu sobre ele, em “A Doutrina Secreta”:

“…A  forma primordial de tudo o que é manifestado, desde um átomo a um globo, desde um ser humano até um anjo, é esferoidal. Em todas as nações, a esfera tem sido o símbolo da eternidade e da infinitude - uma serpente engolindo sua própria cauda. Para compreender o seu significado, no entanto, deve-se pensar a esfera como se ela fosse vista desde o seu centro. O campo de visão ou de pensamento é como uma esfera. Os seus raios saem do nosso ser em todas as direções e vão até o espaço exterior, abrindo visões ilimitadas ao nosso redor. Ela é o círculo simbólico de Pascal e dos Cabalistas, ‘cujo centro está em toda parte, e cuja circunferência não está em parte alguma’ (...).”[1]

Cada estudante, de acordo com as suas circunstâncias e possibilidades individuais, constitui o centro criativo de toda a roda da vida

O movimento teosófico é em si mesmo um nível  - vivo, flexível, potencialmente decisivo -  da esfera de Pascal.

O segredo do “ponto de mutação” a partir do qual pode ocorrer um processo de iluminação súbita da humanidade - ou, pelo menos,  uma iluminação menos lenta - deve ser encontrado precisamente no Círculo cabalístico de Pascal.[2] 

O centro do universo está em todas as partes. Portanto, ele está em cada cidadão. Todo indivíduo dotado de boa vontade tem, em si mesmo, a alavanca capaz de mover o mundo. 

Ele não poderá mudar  o carma humano de imediato. Mas ele não está sozinho, e não dispõe apenas de uma vida para fazer a tarefa.  A lei da reencarnação ensina que o tempo é precioso, porém,  também ensina que ele é infinito. 

A transfiguração do mundo ocorre, então, de modo natural.  Quando a  consciência desperta, o esforço individual  faz a diferença que  muda a realidade compartilhada por todos.  

A fraternidade universal resulta da percepção direta de que o centro da vida está em todas as partes. O esforço  evolutivo da humanidade  gira hoje em torno deste fato. O movimento teosófico existe para colocar à disposição de cada um os meios que tornam mais fácil viver esta compreensão inevitável, e arcar com as responsabilidades  que decorrem dela.

NOTAS:

[1] Veja o comentário (a)  do item 2 da Estância III,  no volume I de “A Doutrina  Secreta”, de Helena P. Blavatsky, edição online de  nossos websites associados.  Na edição original em inglês, “The Secret Doctrine”,  H. P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, Volume I, p. 65.

[2] Para ler mais sobre o Círculo de Pascal, veja o artigo “Pascal’s Sphere”, de Jorge Luis Borges. Ele pode ser encontrado em nossos Websites Associados.

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O artigo acima corresponde ao capítulo 26 do livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”.

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Sobre a missão do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a vivência da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.


A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de  2013 por “The Aquarian Theosophist”.

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