Mais Importante é Observar e
Corrigir os Nossos Próprios Erros
William Q. Judge

W. Q.
Judge (1851-1896)
Nota Editorial
de 2018:
O texto a seguir consiste de uma pergunta e uma resposta, divulgadas originalmente
na publicação periódica “The Theosophical Forum”, que William Q. Judge editou nos
Estados Unidos entre 1889 e 1896.
O artigo não visa proibir o uso do senso crítico. Sua
meta é apenas criticar a condenação irresponsável deste ou daquele indivíduo no
plano pessoal.
Judge condena os ataques neuróticos a seres humanos. De
fato, o atrito entre personalidades cria sérios obstáculos à ação do movimento
teosófico. No entanto, a advertência deve ser compreendida corretamente. Helena
Blavatsky - de quem William Judge foi discípulo - ensinou que o espírito
crítico é fundamental em teosofia. Para Blavatsky, o lema “não condenar, para não ser condenado”
expressa um oportunismo bastante hipócrita, e convida ao ocultamento recíproco
de ações erradas. As pessoas sinceras, ao contrário, prestam um serviço umas às
outras ao discutir abertamente os seus erros.
A crítica mútua, na democracia e no caminho espiritual
autêntico, é parte essencial da caminhada. As ações erradas precisam ser
identificadas, julgadas, condenadas - e corrigidas. Seus responsáveis devem
arcar com as consequências do erro. Por outro lado, é importante evitar a
condenação instintiva e apressada dos outros, o que constitui uma fuga da
tarefa de aperfeiçoar a si mesmo. [1]
(Carlos Cardoso Aveline)
A Arte de Não Condenar os
Outros
William Q. Judge
Pergunta:
É verdade que não temos o direito a condenar as pessoas,
e que deveríamos condenar apenas a sua conduta?
W. Q. Judge:
Não consigo ver por que razão, para treinar o sentido
moral, alguém teria que praticar a condenação dos outros. A necessidade de
condenação nunca deixará de existir, se nos dedicarmos a praticá-la, enquanto
esperamos que o mundo fique tão bom que já não haja mais ninguém para condenar.
Tenho a impressão de que seria uma doutrina não-teosófica afirmar que o nosso
senso moral deve, ou pode, ser adequadamente cultivado através da prática da
condenação dos outros.
O pensamento citado na pergunta nunca foi visto por seu
autor ou autores como algo a ser aplicado às questões de Estado. Ele se dirige
apenas a discípulos que se esforçam por seguir as mais altas regras de conduta.
Nós temos tamanha inclinação a condenar os outros e a ignorar as nossas próprias
falhas que se recomenda aos discípulos sinceros, como uma disciplina, cultivar
o seu sentido moral observando seus próprios erros, e deixar que os outros
façam o mesmo por si mesmos; mas quando a ocasião exige uma condenação, é a
ação errada que deve ser condenada. Isto não se aplica a um juiz, ou a qualquer
outra autoridade responsável, ou professor ou guia. A ideia se refere apenas a
aqueles que, pensando que o nosso tempo de vida é tão breve que não há tempo
para que nos ocupemos com os erros dos outros, preferem aproveitar a sua
oportunidade purificando a si mesmos, limpando a sua própria casa, tirando a
viga do seu próprio olho. Porque todos os sábios e praticantes de Ocultismo [2] declaram que entre os fatos que se
deve necessariamente conhecer está a realidade de que, cada vez que um homem
cai na condenação de outro, ele é impedido por tal ação de ver seus próprios
defeitos, e mais cedo ou mais tarde seus defeitos aumentarão.
Quando um estudante sincero considera que essa afirmativa
é correta, ele pensa duas vezes antes de condenar os outros e se dedica ao
autoexame e ao autocontrole. Isso tomará todo o seu tempo. Nós não nascemos
para ser reformadores universais de todos os erros e abusos das outras pessoas,
e os teosofistas não podem desperdiçar suas energias criticando outros. Além
disso, tenho sérias dúvidas sobre se alguém já foi melhorado alguma vez devido
às críticas feitas pelos seus conhecidos. É a disciplina natural, e só ela, que
faz o progresso.
Na verdade, tenho observado ao longo de muito tempo que
em 99 por cento dos casos, quando alguém critica constantemente os outros, os
únicos resultados são uma maldosa satisfação consigo mesmo, por parte do
crítico, e raiva ou desprezo por parte da vítima da condenação. Um exemplo será
suficiente, como ilustração, e é o seguinte: certa noite eu estava saindo de um
trem com um amigo que raramente perde uma oportunidade de assinalar ações
erradas ou omissões equivocadas dos outros. Quando ele desembarcava, um homem
malvestido bloqueou sua passagem, aparentemente tentando embarcar. Meu amigo,
que era fisicamente forte, pegou o homem pelos ombros, tirou-o da sua frente e
disse: “A regra é que os passageiros devem desembarcar primeiro”. Resultado:
enquanto ele saía dali com a sensação de que havia corrigido adequadamente um
erro, o homem o amaldiçoou em voz alta, e pôde ser ouvido ao solicitar uma
oportunidade para usar de violência contra ele.
Assim, para um deles - talvez um homem nascido na
adversidade - o único resultado foi raiva e sentimentos destrutivos; para o crítico,
o resultado foi um tipo de autossatisfação que é amplamente conhecido por ser
inseparável da ilusão.
NOTAS:
[1] Veja em nossos websites o artigo “In Defense of Criticism”, de Helena
Blavatsky. (CCA)
[2] “Ocultismo” é o estudo filosófico
das questões essenciais da vida, que são “ocultas” ou invisíveis do ponto de
vista dos cinco sentidos. (CCA)
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O texto acima é traduzido do livro “Forum Answers”, de William Q. Judge,
The Theosophy Co., Los Angeles, EUA, 1982, 142 pp., ver pp. 26-27.
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Leia também, em nossos websites, os artigos “A Arte de Julgar Pessoas”, “Senso Crítico e Pensamento Positivo”
e “A Ecologia da Mente”.
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Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.

Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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