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23 de julho de 2025

Ideias ao Longo do Caminho - 61

 
Como Se Perdeu a Memória
Sobre Pedro Álvares Cabral
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
Em 23 de abril de 1500, Cabral desembarca no futuro Brasil. No dia
anterior ele havia chegado a Porto Seguro e preparado o desembarque.




* Nem sempre a força moral de uma pessoa de caráter é compreendida ou valorizada no mundo social.

* Pouco tempo depois de descobrir em abril de 1500 o território do futuro Brasil, Pedro Álvares Cabral caiu em uma certa desgraça política e viveu esquecido o resto da vida. De acordo com Metzner Leone, isso ocorreu porque ele era um navegador demasiado ético para aquele momento, e para aquele rei.

* Cabral considerava que ter caráter era mais importante do que agradar os poderosos. Quando Pedro Álvares morreu - em 1520 - fortaleceu-se o processo do seu esquecimento. Desde então, poucos dados biográficos resistiram ao tempo. A obra de Metzner Leone sobre o navegador é uma exceção à regra do esquecimento. Trata-se de um livro valioso que está disponível online.[1]

Um Informe Sobre o
Brasil - em Livro de 1730

* Uns 230 anos depois de 1500, o historiador Sebastião da Rocha Pitta escreveu o seguinte a respeito da América portuguesa:
                                               
* “Em nenhuma outra Região se mostra o Céu mais sereno, nem madruga mais bela a Aurora. O Sol em nenhum outro Hemisfério tem os rayos tão dourados, nem os reflexos noturnos tão brilhantes. As Estrelas são as mais benignas, e se mostram sempre alegres: os horizontes, nasça o Sol ou se sepulte, estão sempre claros. As águas, quer se tomem nas fontes pelos campos, ou dentro das Povoações nos aquedutos, são as mais puras.”

* “É em fim o Brasil Terrenal Paraíso descoberto, onde têm nascimento e curso os mayores rios; domina salutífero clima; influem benignos Astros, e respiram auras suavíssimas, que o fazem fértil e povoado de inumeráveis habitadores, [embora] por ficar debaixo da Tórrida Zona o desacreditassem e dessem por inhabitável Aristóteles, Plínio, e Cícero, e [com estes não-cristãos] os Padres da Igreja Santo Agostinho, e Beda, que se tivessem tido experiência deste feliz Orbe, seria ele famoso assunto das suas elevadas penas, onde a minha pena receia voar …”. [2]

Os Pés no Chão e o Paraíso Interior

* O paraíso deve começar na alma de cada cidadão. Paraísos externos só podem existir como reflexos concretos de um estado de consciência que constitui um paraíso interior. O país abençoado é aquele cujos cidadãos são sábios. O conhecimento divino, como se sabe, é obtido através da ética e do amor à verdade.  

* Durante o século 21, cabe investigar qual é a melhor maneira de trilhar o caminho espiritual. Tudo indica que é preciso, em primeiro lugar, manter os pés no chão. Um Mestre da Sabedoria do Oriente escreveu a uma aluna ocidental:  

* “Trate (…) de aprender uma lição através de quem quer que seja que ela possa estar sendo dada. ‘Até mesmo as pedras podem pregar sermões’. (…) Você sempre obterá o que necessita se o merecer, mas não mais do que merece ou estiver apta a assimilar.” [3]

* A afirmação do instrutor significa que são inúteis as palavras, as crenças e os rituais, se estiverem separados da vida interna que acontece na alma do aprendiz.

* O ensinamento escrito da teosofia clássica nos dá o instrumento básico do aprendizado. Mas a própria vida é o livro principal a ser estudado. A natureza, nos seus diversos níveis de consciência, é o instrutor dos instrutores.

* A partir do momento em que os ensinamentos clássicos de teosofia são reconhecidos como marcos referenciais para uma experiência direta do conhecimento divino, uma leitura inteligente das lições de vida poderá começar. Mas este processo será independente do mundo enganoso das aparências.

A Força e a Utilidade das Leis

* Nenhuma quantidade de leis e regulamentos pode substituir a força tácita e não-escrita da boa vontade mútua. Em última instância, o processo da boa convivência não pode ser provocado por palavras. Ele deve ser um sentimento comum, um valor moral compartilhado.

* Laotse afirma no capítulo 87 do Wen-tzu que “quando as leis são complicadas e os castigos severos, o povo se torna desonesto.” E o fundador do taoísmo acrescenta: “Quando as proibições são muitas, pouca coisa é realizada.”

* Embora as leis sejam importantes, a boa vontade e a decisão comum de ter respeito pelo Espírito das leis são fatores centrais e decisivos.

* Quando as pessoas querem se aproveitar de sutilezas para agir com desonestidade sem quebrar a lei formalmente, as regulamentações precisam tornar-se exaustivas, detalhadas e complexas.

* Três passos são necessários para evitar complicações dolorosas na sociedade. 1) O primeiro é obedecer à lei e ao seu espírito, apesar das limitações que a lei possa ter, porque o caos não é bom para ninguém. 2) O segundo passo é produzir uma “consciência legal” mais forte na comunidade, tal como escreve o filósofo russo Ivan A. Il’in (1883-1954). Consciência legal é um sentido interno de dever diante das leis e do bem comum. Deste modo se torna mais fácil dar o terceiro passo: 3) Fazer com que as leis sejam simples, justas, compreensíveis, e fortes.

* A vitória ao caminhar neste rumo depende de reconhecer um fato bastante básico: as leis, para serem eficientes, necessitam que haja força moral, sentimento ético e “consciência legal” na comunidade. Em outras palavras, é a boa vontade que mantém de pé uma nação ou um grupo humano, e boa vontade só se ensina pelo exemplo. Propaganda não tem valor nas questões de substância.

O Mistério do Bem-Estar

* O mundo inteiro tem paz, quando nós temos paz. Em outras palavras, na medida em que nos sentimos ligados à nossa alma espiritual, estamos também em unidade e harmonia com a Lei que conduz a vida por toda parte. Este tipo de paz transcende o conflito. Um tal sossego interior cura a infantilidade, desmascara a ilusão, reduz a fonte da dor, faz com que vençamos a falta de discernimento, e nos rodeia de uma atmosfera de bem-aventurança.

NOTAS:

[1] Clique e veja a obra “Pedro Álvares Cabral”, de Metzner Leone.

[2] Do livro “Historia da America Portugueza”, de Sebastião da Rocha Pitta, Edição de Lisboa de 1730, 716 pp., ver pp. 3-4. A ortografia foi atualizada quando necessário para facilitar a compreensão. Tal como Pedro Álvares Cabral, o autor da obra foi membro da Ordem de Cristo, ou seja, pertenceu à tradição antiga dos Templários.

[3] Veja o texto “Os Sermões Através de Pedras”.

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O artigo “Ideias ao Longo do Caminho - 61” foi publicado como item independente em 23 de julho de 2025. Uma versão inicial e anônima dele pode ser vista na edição de agosto de 2020 de “O Teosofista”, pp. 16-17: porém a citação presente na nota “Um Informe Sobre o Brasil - em Livro de 1730” é aqui reproduzida das páginas 11-12 da mesma edição.

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Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, de Carlos C. Aveline, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos do autor. Desde 2018 a série “Thoughts Along the Road” está sendo publicada também em espanhol sob o título de “Ideas a lo Largo del Camino”.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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