9 de março de 2013

Sobre a Esperança de Ser Infalível

Simplicidade Voluntária é
Indispensável na Caminhada

Carlos Cardoso Aveline

Cachorros transmitem lições de teosofia sem necessidade de palavras



Estudante A:

Alguns “líderes espirituais” parecem considerar a si mesmos como incapazes de errar. O que diz a teosofia a respeito?

Estudante B:

A marca de uma pessoa desinformada é a esperança de ser infalível. O orgulho que decorre desta esperança é sintoma que não há um bom contato com a alma imortal. 

Os seres humanos são todos aprendizes, quando são sábios. O importante é aprender a aprender, e H. P. Blavatsky escreveu:

“Por que deveria qualquer um de nós - sim, e até mesmo o maior conhecedor da sabedoria oculta entre os teosofistas - adotar a pose da infalibilidade? É melhor admitirmos humildemente como Sócrates que ‘só sabemos que nada sabemos’; pelo menos, em comparação com o que ainda temos que aprender.” [1]

A luz da aprendizagem interior ilumina melhor aquele que corrige seus erros com gratidão e simplicidade, enquanto avança pelo caminho estreito e íngreme que vai morro acima em direção à visão do Todo. 

Estudante A:

Compreendo. Mas neste ponto surge outra dúvida. 

Estudante B:

Diga. Franqueza é fundamental.

Estudante A:

A humildade é indispensável. Certo.  E isso significa que, para sermos humildes, devemos renunciar à audácia? Será necessário deixar de lado, por exemplo, a esperança de mudar o mundo? É nossa obrigação abandonar o desejo de fazer coisas significativas para melhorar definitivamente a situação humana? Talvez seja uma arrogância ter a pretensão de mudar o mundo e abrir espaço para uma civilização baseada na ética e na sabedoria.

Estudante B:

Não é arrogância.  

A coragem e a simplicidade - assim como a audácia e a autocrítica - são igualmente importantes. Saber perder é uma condição indispensável para obter o verdadeiro êxito. Abrir espaço para a civilização da fraternidade é uma tarefa prática que requer uma visão de longo prazo. Devemos viver a renúncia e, ao mesmo tempo, agir com uma profunda vocação de vitória. Robert Crosbie escreveu sobre a necessidade de combinar humildade e coragem.

Ele disse:

“Nós assumimos uma alta missão e uma tarefa pesada - não porque pensemos que estamos notavelmente à altura dela, mas porque vemos que ela deve ser feita e que não há mais ninguém para fazê-la; e também porque sabemos que não estaremos sós no esforço.” [2]

Lições de filosofia esotérica podem ser encontradas em toda parte. Basta ter olhos para ver. Os animais, por exemplo, ensinam sabedoria sem necessidade de palavras. Podemos aprender com os cachorros a ser simultaneamente mais leais, mais humildes, mais confiantes - e mais corajosos.  

Estudante A:

Percebo que a esperança de ser infalível é uma atitude infantil. Mas o comodismo também é coisa de criança. Só é possível trabalhar com eficiência por uma causa nobre quando sabemos conviver bem com nossos erros e aprender com eles. Deve-se corrigi-los gradualmente e com firmeza.   

Estudante B:

Exato.

Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece. Aquele que sabe aprender observa os seus fracassos desde o ponto de vista do seu potencial sagrado, e evita repeti-los.

O desafio do peregrino é agir a cada momento da maneira mais correta possível: mas é preciso fazer isso com realismo, porque as autoexigências exageradas são apenas um modo disfarçado de levar a si mesmo a derrotas desnecessárias. O equilíbrio e a paz-ciência são indispensáveis.

Estudante A:

Quais são as condições básicas necessárias à vitória?

Estudante B:

Posso citar quatro delas:

1) Buscar uma meta elevada;
2) Usar a clareza e discernimento de que dispomos; 
3) Combinar grande audácia com absoluta humildade;
4) Perseverar sem expectativa de recompensas no plano pessoal.  

E ser realista nem sempre é fácil. Não basta erguer o olhar para um ideal nobre: é preciso vigilância para preservar a humildade e o bom senso. O discernimento está na base da perseverança, e a perseverança prepara uma vitória durável.   

NOTAS:

[1] “Theosophical Articles”, H. P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, edição em 3 volumes, 1981, ver volume 1, p. 22, texto “Esoteric Buddhism and The Secret Doctrine”.

[2] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 1945, p. 370.

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Uma versão inicial do texto acima foi publicada de modo anônimo na edição de março de 2009 de “O Teosofista”.

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