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26 de julho de 2021

O Rio Grande do Sul e a Ecologia

Crônicas Escolhidas de um
Naturalista Contemporâneo
 
Henrique Luiz Roessler
 
À esquerda, Henrique Roessler, que não precisava andar armado para
apreender armas de caça. À direita, a capa do livro que reúne artigos dele.
 
 
 
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Nota Editorial de 2021
 
Entre os principais pioneiros do movimento ambientalista
brasileiro, Henrique Luiz Roessler (1896-1963) parece ser
o único que deixou escritos importantes. A reflexão em seus
artigos transcende o seu tempo e permanece mais válida do
que nunca no século seguinte. Grande parte do ensinamento
que Roessler transmite surge do exemplo que ele nos dá de ação
voluntária independente, gerada pelo prazer de ajudar outros seres.  
 
Roessler era um intelectual como há poucos em qualquer tempo
e lugar. Foi um amigo da Ética, um homem do povo e um ativo
defensor da felicidade de todos os seres. Sentia-se corresponsável
pelo bem-estar dos seres não-humanos. E sabia bem que conforme
os humanos tratam a natureza, assim a natureza trata os humanos.  
 
Estudioso de ecologia, dono de conhecimentos sólidos,
acompanhava a luta pela preservação ambiental na Europa e
inspirava-se nela. Roessler tinha uma sólida filosofia de vida. Seu
ponto de vista era essencialmente teosófico e estoico, sem deixar de ser
cristão. Não faltava nele o sentimento místico de amor à Natureza.
 
Dentro da melhor tradição de altruísmo, a edição de 1986
da obra que agora reproduzimos avisa: “Não há direitos
autorais. Os promotores desta edição e os filhos do Autor
permitem a reprodução total ou parcial desde que haja  citação
do Autor, a respectiva data e a menção desta edição.”
 
Toda preparação de um livro inclui alguns erros, que costumam
tornar-se agressivamente visíveis depois de ele ser publicado, conforme
alertou Monteiro Lobato. Sem tentar uma revisão sistemática, corrigimos
no PDF algumas falhas de revisão desta grande obra de Roessler.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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Clique para ler em PDF o livro
“O Rio Grande do Sul e a Ecologia”
 
 
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O livro “O Rio Grande do Sul e a Ecologia” está disponível nos websites associados desde o dia 26 de julho de 2021.
 
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Leia mais:
 
 
 
 
 
 
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.  
 
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22 de julho de 2021

Educação Ecológica no Brasil dos Anos 1960

 Quatro Testemunhos Diretos de um
Pioneiro da Preservação Ambiental

Henrique Luiz Roessler
 
Roessler plantando uma árvore, e um dos cartazes educativos distribuídos por ele
 
 
 
Nota Editorial de 2021
 
Como ocorre com outros escritos de Roessler, pertencem ao século 20 apenas as circunstâncias externas da realidade a que ele se refere.    
 
A realidade humana em si, que Roessler luta para melhorar, é de longo prazo e segue basicamente a mesma no século 21. A luta de Roessler é filosófica. O inimigo é a ignorância, organizada e estruturada na rotina mental. Roessler estuda, propõe e ensina a arte de plantar bom carma, ou seja, a ciência de colocar em movimento as Causas do bem-estar durável.
 
Em consequência da sua visão ampla, os escritos de Roessler têm várias dimensões. Ele faz um diagnóstico implacável da ignorância humana no Brasil do século 20, e o leitor que vai além da superfície vê que o diagnóstico é válido no século 21. Roessler aponta as soluções éticas para os problemas criados pelo processo da industrialização urbana. Ele descreve suas ações, mostrando como se desdobrou uma experiência vitoriosa de educação moral e ética do povo. Ele deixa claro para as futuras gerações de ativistas o que se pode esperar das autoridades, a menos que o povo eduque a si próprio - e Roessler é um membro do povo. Os escritos deste ecologista pioneiro - que começou a defender a natureza em 1939 - são um testemunho da integridade. Demonstram o poder da força moral e apontam de modo claro para o caminho da vitória.
 
 
 
 
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O artigo “Educação Ecológica no Brasil dos Anos 1960” está disponível nos websites associados desde o dia 22 de julho de 2021.
 
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Leia mais:
 
* O Compromisso Interior.   
 
* Roessler, um Pioneiro da Ecologia.
 
Veja outros escritos de Henrique Roessler:
 
* Velhas Árvores Mortas Estupidamente.
 
* A Razão do Coração.
 
* Monstrópolis - a Grande Capital.
 
* Imprevidência de Homens Inteligentes.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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20 de julho de 2021

Imprevidência de Homens Inteligentes

 Felizes Aqueles que Compreendem
Seus Erros a Tempo, e Decidem Corrigi-los

Henrique Luiz Roessler

 
 
 
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Nota Editorial de 2021
 
O texto clássico que publicamos a seguir é de
1960 e aponta para uma escolha fundamental a fazer.
Todo e qualquer momento do século 21 é uma ocasião
propícia para restabelecer a harmonia com a natureza.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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Era uma vez uma grande floresta, com enormes árvores de muitas espécies, como feitas para a eternidade, cujas fortes raízes penetravam fundo na terra, entre as pedras, dando-lhes absoluta firmeza contra as tempestades.
 
Suas frondosas copas formavam uma ruidosa cúpula verde, cheia de vida, a qual se elevava a grande altura dos arbustos e fruteiros silvestres do sub-bosque.
 
Em brilhantes filetes gotejava a água do chão úmido e fofo como uma esponja e coberto de musgos e folhagens, formando pequenos córregos, que serpenteavam entre os troncos e as rochas, caindo em cascatas rumo às baixadas.
 
Alcançadas as várzeas ao pé dos morros, se espraiavam e formavam pequenos lagos entre verdejantes campinas e capões, continuando, depois de se unirem, num forte e límpido rio, a correr pela planície afora.
 
E o grande império verde ressoava do farfalhar do vento nas folhas, dos cânticos da passarada e do zunido das abelhas e estava cheio de animais silvestres e nas águas abundavam peixes.
 
Reinava naquele paraíso da natureza uma perfeita comunhão de vidas.
 
Certo dia vieram de longe uns homens e comentaram entusiasmados:
 
“Este mato é inesgotável”.
 
Se estabeleceram na planície, na beira do rio e começaram logo a derrubar para construir suas casas, veículos e embarcações, escolhendo sempre as mais grossas e as mais linheiras [1]. Para alcançá-las, cortavam largas picadas e queimavam a madeira inferior e os galhos; para desimpedir a passagem para os arrastos dos troncos. Nunca ninguém se lembrou de reflorestar um único pé.
 
Durante trinta, cinquenta anos aqueles homens despreocupados saquearam aquele gigantesco rico mato. Quando alguém apontava o erro e falava em reflorestamento, era ridicularizado. No decorrer dos anos aquele primitivo lugarejo se desenvolveu numa populosa cidade industrial. Vieram agricultores, que abriram enormes clareiras na floresta e faziam grandes queimadas nas coivaras para roças e pomares, porque havia sempre maior procura de alimentos.
 
Crescia também o consumo de lenha e carvão para uso doméstico e industrial e de madeira para móveis e construções e por isso instalaram uma grande serraria, processando-se então a devastação em marcha batida.
 
De repente os homens inteligentes se assustaram, porque viram que as árvores não cresciam tão rapidamente como eram cortadas, que só restavam restolhos tortos, brotos e macegais e que começava a escassear a água dos arroios e do rio.
 
Reconheceram que tinham que reflorestar. Os bem inteligentes diziam:
 
“Se temos que reflorestar, vamos então plantar somente árvores de rápido crescimento para compensar o emprego do nosso capital.”
 
Foi aí que cometeram o maior erro de sua vida.
 
Devastaram e queimaram toda a vegetação das encostas dos morros, deixando o solo nu, lavraram e encheram tudo com eucaliptos, essa árvore estrangeira, que seca e desfertiliza a terra. Plantaram as mudas bem juntinhas e em fileiras, para não perder nenhum pedacinho de chão. E os homens inteligentes se alegravam, quando a grande floresta renasceu e diziam:
 
“Estão vendo? É só preciso ensinar as árvores a crescer.”
 
Mas vieram as enxurradas do inverno e arrancaram a camada humosa da terra com muitas mudas, levando tudo para as baixadas, onde se formaram banhados e brejais, atulhando também o rio, cujas águas ficaram toldadas.
 
Era a erosão em plena ação. Fizeram replantio às pressas, mas o mato artificial parecia uma lavoura de varas, onde o vento passava livremente. Não se criou sub-bosque, nem qualquer vegetação, porque a terra foi capinada e ficou dura e compactada como cimento, incapaz de reter as águas das chuvas, como antes acontecia no mato virgem. Secaram as fontes dentro do novo mato e ao redor dele e deixaram de correr muitos arroios na região. Somente nos dias de grandes chuvaradas se enchiam os antigos leitos e se transformavam em violentas corredeiras, arrancando as barrancas e fazendo transbordar o rio, provocando enchentes, que logo eram seguidas de prolongadas vazantes.
 
E os homens inteligentes se viram obrigados a construir às pressas uma barragem, para não paralisar a Usina Elétrica e a Hidráulica, alimentadas pelas águas do rio.
 
Os pássaros e os animais silvestres fugiram daquele mato artificial, porque não encontraram mais locais para nidificar, nem esconderijos. A maioria da fauna foi abatida pelos caçadores da cidade.
 
Criaram-se no mato artificial milhões de insetos nocivos, agora livres de seus inimigos naturais, os pássaros, e começaram a destruir as plantações vizinhas e broquear as árvores.[2] O mato sangrava de inúmeras feridas. As árvores doentes tinham que ser derrubadas e aproveitadas às pressas. Pulverizações de veneno sobre a floresta de nada adiantaram.
 
Os homens presunçosos ficaram muito quietos e pensativos diante da desgraça e com saudades dos passarinhos que espantaram e da riqueza florestal que esbanjaram.
 
Mas a medida dos desastres ainda não estava completa. O mato enfraquecido, de raízes superficiais, não resistia aos ventos fortes. Sobreveio uma forte ventania que desenraizou e quebrou centenas de milhares de pés, numa larga frente, formando montes de madeira estraçalhada.
 
Certo dia, por descuido dos lenhadores, incendiou-se aquela enorme massa de troncos e galhos ressequidos.
 
O devastador incêndio foi preciso combater com contrafogo posto, ficando assim sacrificada mais uma extensão de mato.
 
A grande floresta morreu naquele dia pela segunda vez.  
 
Mas não era ainda tudo. No verão secou a represa, paralisando a Usina Elétrica, a Hidráulica e as Indústrias, ficando milhares de operários sem trabalho.
 
A cidade ficou sem luz e sem água, a qual tinha que ser trazida de longe em caminhões-tanques. O nível do lençol de água subterrânea também baixou perigosamente, fazendo secar os poços.
 
Morreram as plantações e os pomares e os agricultores invadiram a cidade, criando tremendos problemas à Administração.
 
Só então os homens tão inteligentes e infalíveis compreenderam o que significa comunhão de vida na floresta, colocada pela Mão Divina onde faz falta.
 
Para não deixar morrer a cidade e para poderem “sobreviver”, são agora obrigados a ressuscitar pela terceira vez a grande floresta, mas de acordo com as imutáveis Leis da Natureza e com o dispêndio de fabulosos recursos privados e oficiais.
 
Este exemplo de grave imprevidência encontra paralelos em todo o mundo, onde o homem, este ser superior, mete a mão na Natureza e onde o Poder Público não cuida do seu mais precioso Patrimônio, o qual significa vida ou morte, riqueza ou miséria para as respetivas populações. Felizes aqueles que compreenderem seus erros em tempo e possuírem ânimo e recursos para corrigi-los.
 
NOTAS:
 
[1] Linheiras: retas. (CCA)
 
[2] Broquear: brocar, furar, perfurar. (CCA)
 
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Nota Bibliográfica:
 
 
 
O conto “Imprevidência de Homens Inteligentes” está disponível nos websites associados desde o dia 20 de julho de 2021.
 
A narrativa foi inicialmente publicada no Suplemento Rural do “Correio do Povo” de Porto Alegre em 28 de maio de 1960. Mais tarde foi reproduzida como panfleto pela União Protetora da Natureza, UPN. Um exemplar do panfleto faz parte da biblioteca da Loja Independente de Teosofistas. Veja a foto acima. 
 
Ao longo do panfleto de distribuição gratuita, Roessler colocou diversas palavras em negrito. Na nossa transcrição, adotamos os negritos do panfleto da UPN. Também seguimos o texto do panfleto, quando, perto do fim, ele fica diferente do texto publicado no jornal. Em suas frases finais, o texto do panfleto está mais atualizado e foi adaptado para o público amplo pelo próprio autor, que eliminou menção a acontecimentos de curto prazo.
 
Na década de 1980, a versão do jornal, menos atualizada, foi incluída no volume “O Rio Grande do Sul e a Ecologia”, de Henrique Luiz Roessler. O livro é uma coletânea de textos preparada pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, e publicada por Martins Livreiro Editor, em Porto Alegre, RS, em 1986, com 220 páginas. Ver pp. 81-84. (CCA)
 
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Henrique Luiz Roessler nasceu em 16 de novembro de 1896 e viveu até 14 de novembro de 1963. Foi o primeiro ecologista do Rio Grande do Sul e um dos primeiros do Brasil. Entre os pioneiros, Roessler parece ser o único que deixou uma obra escrita importante e uma presença marcante na sociedade. (CCA) 
 
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Leia mais:
 
 
* Velhas Árvores Mortas Estupidamente (de Henrique Luiz Roessler).
 
* A Razão do Coração (de Henrique Luiz Roessler).
 
 
* Monstrópolis - a Grande Capital (de Henrique Luiz Roessler).
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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19 de julho de 2021

Monstrópolis - a Grande Capital

 Se Quisermos Sobreviver, Teremos
Que Nos Manter Próximos à Natureza

Henrique Luiz Roessler

Porto Alegre, com o rio Guaíba ao fundo
 
 
 
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Neste artigo de 1959, Roessler
tece uma visão válida não só para as
grandes capitais brasileiras do século 21,
mas também para as cidades de porte médio.  
 
(CCA)
 
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A união das cidades e vilas ao longo da Rodovia Federal, que se processa em ritmo acelerado entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, em poucos anos formará uma gigantesca área urbana de vários milhões de habitantes.
 
Parece incrível que tantos homens do campo ainda vendam suas terras amplas, abandonando uma vida livre, sadia e feliz, para virem morar nas cidades, atraídos por um falso esplendor, ganhos e divertimentos fáceis de uma vida artificial, para se tornarem autômatos anônimos sem alma, a vegetar no borborinho enervante.
 
Como vive a multidão desse enorme centro industrial, enclausurada entre paredes? É o que muitos, antes de se desfazerem de suas propriedades rurais, não estudam. É o que vamos esclarecer àqueles que pretendem se atirar na desgraça.
 
Na grande cidade, o homem está rodeado de pedras, aço, vidro, cimento armado e asfalto; cores berrantes e luz artificial transtornam a sua visão; o barulho ensurdecedor nas ruas e fábricas martiriza o seu cérebro; mau cheiro e clima antinatural terá que suportar; é obrigado a respirar o ar viciado com o pó das ruas, o gás das descargas dos automotores e a fumaça envenenada expelida por milhares de chaminés.
 
Sofrerá o sacrifício das correrias e o perigo do trânsito para chegar aos locais do trabalho, morará em prédios de apartamentos como num formigueiro humano ou em pequeninas casinhas dos subúrbios, muitos no submundo das vilas de malocas anti-higiênicas dos marginais, num ambiente de imundície e de crime.
 
A vida familiar desaparece na maioria dos casos, e a lembrança do passado não deixa de os incriminar pela maldita troca que fizeram.
 
Daí a eterna saudade da natureza que trazem no coração, que os obriga a correr nos fins de semana para fora do inferno da urbe para o idílio das matas, à procura de descanso debaixo de frondosas árvores, para brincar nos prados e nos arroios, beber a água cristalina das fontes, respirar ar puro, observar os animais silvestres, se deleitar com os gorjeios dos passarinhos.
 
Tudo isto não custa nada, é uma dádiva divina como a luz do sol. É um lenitivo para os nervos agitados e saúde para os corpos enfraquecidos na luta encarniçada pela vida. Felizes os citadinos que ainda encontram um mato ou um parque para os seus devaneios.
 
Desgraçadamente, com a extensão das cidades, vilas e loteamentos, sempre maiores áreas estão sendo devastadas, próximas aos centros urbanos.
 
Por isso, as autoridades competentes não deveriam se descuidar em reservar, enquanto é tempo, muitas áreas verdes ainda existentes, mas já tão raras, antes de concederem autorizações de novos loteamentos, para uso e gozo de populações de poucos recursos.
 
Lembramos aqui o Horto Florestal de 800 hectares de Sapucaia, situados bem no centro da área industrial descrita, antiga aspiração do povo.
 
Virá o tempo, e muito breve, em que a importância do mato como fornecedor de matéria-prima (madeira, lenha e carvão), como regulador das águas, como filtro da atmosfera, como protetor contra perigosos movimentos da terra, em muito retrocederá diante de sua tarefa de área de recreio para a população.
 
Devemos reconhecer que, se quisermos sobreviver, teremos que nos manter próximos à natureza. No claro reconhecimento dessa necessidade, já está raiando a aurora no espírito dos responsáveis. Mas também os proprietários de matos deviam desistir da sua destruição, e o reflorestamento das áreas nuas não deveria ficar para trás quando se trata da humanidade, da sua saúde, da sua vida.
 
Sem esperar medidas acauteladoras por parte do Serviço Florestal, devem sempre prevalecer os artigos primeiro e segundo do Código Florestal: as florestas e demais formas de vegetação constituem bem de interesse comum, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a lei em geral e especialmente este Código estabelecem.
 
Temos toda a razão em nos apressar. O amor à Natureza não deve perecer.
 
Por isso é necessário aguçar as consciências para que compreendam o empenho da UNIÃO PROTETORA DA NATUREZA em bem servir à humanidade, às árvores e aos animais com sua propaganda educativa.
 
Todos são convidados a auxiliar na Campanha de Conservação dos nossos recursos naturais.
 
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O artigo “Monstrópolis - a Grande Capital” está disponível nos websites associados desde o dia 19 de julho de 2021.
 
O texto foi publicado pela primeira vez no jornal “Correio do Povo”, de Porto Alegre, Brasil, em 05 de junho de 1959. Mais tarde foi reproduzido na obra “O Rio Grande do Sul e a Ecologia”, de Henrique Luiz Roessler, Martins Livreiro Editor, Porto Alegre, RS, 1986, 220 pp., ver pp. 205-206.
 
Henrique Luiz Roessler nasceu em 16 de novembro de 1896 e viveu até 14 de novembro de 1963. Foi o primeiro ecologista do Rio Grande do Sul e um dos primeiros do Brasil. Entre os pioneiros da preservação ambiental no país, parece ser o único que deixou uma obra escrita importante e uma presença marcante na sociedade. (CCA)  
 
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Leia mais:
 
 
* Velhas Árvores Mortas Estupidamente (de Henrique Luiz Roessler).
 
* A Razão do Coração (de Henrique Luiz Roessler).
 
* O Compromisso Interior (o Juramento ecológico de Roessler).

 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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18 de julho de 2021

A Razão do Coração

 O Ser Humano Não Pode
Ser Feliz Longe da Natureza

Henrique Luiz Roessler

O voo de um quero-quero, o sentinela dos pampas 
 
 
 
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Nota Editorial de 2021:
 
Segundo a Teosofia, o caminhante espiritual deve
transcender a “Doutrina do Olho”, que vê as aparências, para
alcançar a “Doutrina do Coração”, que enxerga a essência.[1]

No artigo a seguir, Henrique Luiz Roessler (1896-1963) examina
estes dois conceitos e discute a escolha necessária entre eles. Para isso
usa os termos “Razão do Cérebro” e “Razão do Coração”. Roessler
aplica a Doutrina do Coração à realidade social e ambiental do mundo
contemporâneo. Ele denuncia o cérebro mecânico, em grande parte
desligado da alma. A avaliação severa que Roessler faz do carma humano na
sociedade industrial coincide essencialmente com a visão de Helena Blavatsky.
  
O texto, de 1961, é um convite para enxergar a história humana em
profundidade, e para deixar de lado o pesadelo do materialismo cego.
Embora alguns dos fatos sociais descritos por Roessler já não pareçam
os mesmos quando olhados desde um ponto de vista superficial, o quadro
geral permanece idêntico e a análise feita pelo ecologista continua certeira. 
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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Não há razão de muita euforia, quando o homem pensa na sua origem.
 
O verdadeiro ancestral da humanidade foi o macaco CHIMPANZÉ, do qual evoluiu através de milhares de séculos, passando pelo homem da caverna - que já conhecia o fogo e comia carne -, o atual HOMO SAPIENS, informado por um princípio imaterial que se chama alma.[2]
 
Portanto, o homem não passa de um animal aperfeiçoado, mas seu livre arbítrio é uma ilusão, pois seu espírito não se desenvolveu como seu corpo, ficando estacionado, como prova o fato de que, com toda sua inteligência, suas atitudes quase que não diferem das dos brutos.
 
Foi pela evolução da “razão do cérebro” que lhe foi possível construir estradas e colocar trilhos, drenar banhados, edificar cidades e fábricas, conceber invenções fantásticas, para proporcionar conforto e espaço vital para sempre maior número de habitantes do globo.
 
Mas todo este progresso foi conseguido pela destruição das riquezas naturais do universo, principalmente a devastação das florestas e o massacre dos animais silvestres, seus irmãos de origem, sob a capa de exigências da ciência e da técnica.
 
Estamos dentro desse processo. O animal superior homem se tornou dono de tudo que lhe oferece vantagens no mundo, inclusive dos irracionais, que considera como objetos, coisas e não seres vivos.
 
Observamos este desenvolvimento com apreensões, porque temos mais pendores para a “razão do coração”, para o respeito à vida e à conservação das riquezas naturais, sem nos considerarmos por isso retrógrados.
 
Provas do atraso mental do homem são estas:
 
Antes vivia feliz e com saúde, em plena liberdade na quietude dos campos, trabalhando a terra para o sustento de uma vida simples, mas espiritualmente rica. Mas descontente com poucos haveres materiais, foi atraído pela quimera do luxo e divertimentos dos grandes centros urbanos, para ambiente mais civilizado, mas que lhe é hostil.
 
O homem da atualidade, motorizado e materialista, com este ato precipitado, desligou-se completamente da natureza. Como castigo, agora sofre profunda nostalgia, por ter ficado privado de suas belezas e benefícios, mas não tem a força moral de voltar atrás.
 
Hoje vive nos formigueiros humanos dos arranha-céus ou nas malocas imundas dos arrabaldes, no forno de cimento armado, no trepidante e ensurdecedor borborinho citadino. Aspira o ar impuro, saturado de monóxido de carbono dos motores, da poeira das ruas, dos gases envenenados e da fumaça expelida pelas chaminés das fábricas e milhares de fogões domésticos. Vê seus filhos definharem pelas doenças e na miséria.
 
Provoca seu lento suicídio bebendo álcool e fumando nicotina, venenos fortíssimos que minam o organismo e são responsáveis pelas maiores desgraças da humanidade. É um escravo da luta pelo dinheiro, seu supremo ideal de riqueza, sofrendo insanáveis males no seu corpo e na sua alma. Trabalha como prisioneiro entre quatro paredes, com a exclusiva preocupação pelos assuntos comerciais, industriais e financeiros, padecendo inúmeros incômodos com o fisco e os operários, que o levam infalivelmente ao colapso cardíaco.
 
É um sistema de vida que os animais desconhecem.
 
Sacrifica sua paz de espírito, metendo-se em política, para complicar ainda mais a sua existência e a dos seus semelhantes e comete coisas incrivelmente imorais, que os irracionais nunca seriam capazes de praticar.
 
Quando os grandes potentados se desentendem, não fazem como os animais rivais, brigando pessoalmente, mas sim obrigam seus subordinados ou correligionários a se baterem e morrerem por alguma coisa muitas vezes absurda ou sem importância.
 
Lembrem-se da loucura e horrores das guerras. A flor da juventude é obrigada a se tornar assassinos contra os mandamentos divinos. Entram cantando para a luta, abençoados de ambos os lados por sacerdotes e poucas horas depois são recolhidos mortos, feridos ou aleijados por toda vida, tudo para beneficiar os fazedores de guerras. A humanidade hoje vive em constante medo das bombas atômicas, que de um momento para outro podem acabar com o mundo. Fabricadas com o sacrifício dos povos, com esses engenhos de guerra os governos estão gastando fantásticas verbas, que melhor seriam empregadas em escolas e hospitais.
 
O homem moderno não tem mais tempo para meditar. Seu interesse máximo é enriquecer o mais rapidamente possível. Não tem mais tempo para procurar contato com a mãe natureza, que cura todos os males. À procura de distração, às vezes corre como louco pelas estradas poeirentas, dirigindo seu carro a toda velocidade, sempre sujeito a acidentes, sem olhar para os lados e só fica satisfeito quando na volta de longe vê no horizonte aparecerem as chaminés da sua cidade, sinal de progresso material. Não tem mais tempo de cuidar de sua família. Não tem mais interesse pelas coisas simples e estimulantes da vida, como o amor da esposa e dos filhos; como acariciar um animal; como descansar na beira dum murmurante arroio; deitar-se na relva, debaixo de uma grande árvore; como passar uma noite estrelada, ao pé do fogo, junto à barraca; como ouvir os hinos da passarada ao alvorecer do novo dia; como remar por um grande rio marginado de mato, onde cantam milhares de cigarras; como beber um copo de água cristalina de uma fonte, etc.
 
Vocês nem imaginam o que estão perdendo.
 
Como são invejáveis os animais silvestres.
 
NOTAS:
 
[1] Veja a respeito o Fragmento (ou Parte) II de “A Voz do Silêncio”, de Helena P. Blavatsky, e especialmente as primeiras páginas dele. O Fragmento II começa à pagina 16. (CCA)
 
[2] O ser humano tem uma origem complexa, material e espiritual. A divindade da alma humana ainda está amplamente adormecida. Veja “A Doutrina Secreta”, de Helena P. Blavatsky. Leia o artigo “As Três Proposições Fundamentais”. (CCA)
 
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O artigo “A Razão do Coração” está disponível nos websites associados desde o dia 18 de julho de 2021. Título original: “Bicho Estúpido e Feroz”.
 
O texto foi publicado pela primeira vez no jornal “Correio do Povo”, de Porto Alegre, Brasil, em 13 de outubro de 1961. Mais tarde foi reproduzido na obra “O Rio Grande do Sul e a Ecologia”, de Henrique Luiz Roessler, Martins Livreiro Editor, Porto Alegre, RS, 1986, 220 pp., ver pp. 78-80.
 
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Leia mais:
 
 
* Velhas Árvores Mortas Estupidamente (de Henrique Luiz Roessler).
 
 
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17 de julho de 2021

Velhas Árvores Mortas Estupidamente

 A Relação Interna Entre a
Alma Humana e a Alma das Árvores

Henrique Luiz Roessler
 
Bosque de pinheiros em Canela, RS, Brasil
 
 
 
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Nota Editorial de 2021:
 
A Teosofia ensina que o espírito da vida universal está
presente em todos os reinos da natureza, unindo por exemplo a
pedra, a árvore, o animal, o homem e as inteligências divinas. No
texto a seguir, um dos grandes pioneiros da ecologia no Brasil conta
fatos que ilustram esta relação de almas entre bosques e humanos.
 
Cabe lembrar que um posteiro é um empregado que mora junto
ao limite de uma fazenda. Sua função é cuidar das cercas, para
que não haja invasão das terras da fazenda por gado dos vizinhos.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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No rancho junto ao grande pinhal da Fazenda, morava há muitos anos o velho posteiro Francisco.
 
Várias vezes ele viu chegarem os doutores filhos do patrão, que moravam longe, na capital, acompanhados duns homens estranhos, os quais queriam comprar os pinheiros que o pai queria conservar, porque neles via uma imensa fortuna.
 
O posteiro ficava apreensivo com as insistências dos madeireiros, porque amava a floresta, que lhe dava todo o conforto - caça, lenha para os frios invernos, a água límpida da fonte, sombra e proteção dos ventos, o cantar dos passarinhos.
 
O patrão, muito bondoso, o tranquilizava, dizendo:
 
“Nunca os pinheiros serão cortados e tu serás guarda deles para sempre.”
 
Mas inesperadamente o fazendeiro faleceu e logo a desgraça caiu sobre o pinhal.
 
Os herdeiros materialistas, loucos por dinheiro para continuar com sua vida de luxo, venderam as árvores por cem cruzeiros cada, preço em 1942. Hoje [1962] valeriam dez mil cruzeiros. Casos dessa natureza acontecem frequentemente em muitas famílias cujos filhos só esperam a morte do pai para avançar nos seus bens.
 
Quando foram marcados os 8 mil pinheiros, destinados à morte, o velho posteiro se tomou de coragem e pediu aos herdeiros que deixassem a ponta do capão junto ao seu rancho, lembrando-os da promessa do seu pai.
 
A resposta chocante foi esta:
 
“Você está louco, homem, nada temos com promessas feitas pelo falecido. Em todo caso vamos deixar fora de venda aquele grande pinheiro que faz sombra ao seu rancho.”
 
Iniciou-se a derrubada. Ouvia-se incessante bater dos machados, o sibilar das serras mecânicas, o roncar dos tratores e de vez em quando o fragoroso estraçalhar das grandes copas batendo no chão, seguidos dos gritos vitoriosos dos cortadores. Tudo devastado e o mato baixo todo quebrado e recortado de picadas dos arrastos, a turma cercou o último pinheiro, o reservado para o posteiro.
 
Ao primeiro golpe de machado, este se lançou de joelhos na frente dos homens e suplicou-lhes com lágrimas nos olhos:
 
“Pelo amor de Deus, não matem o ‘meu’ pinheiro.”
 
Veio o capataz, enfurecido e insensível por terem os cortadores, penalizados, atendido a desesperada súplica, agarrou o velho Chico e dando-lhe um empurrão, gritou: “Afaste-se, seu velho bobo caduco”, e aos homens ordenou: “Continuem”.
 
O posteiro, estarrecido, se encostou no seu rancho e assistiu o assassinato da árvore amiga de longos anos, sem poder salvá-la. Depois viu seguirem os brancos cadáveres florestais com destino à Serraria. Chico não falava mais com ninguém e mal se alimentava. Foi visto sentado no banco do rancho, com a cabeça apoiada nas mãos, muito triste. Certa manhã o encontraram morto, deitado do lado do cepo do “seu” pinheiro. O fato não impressionou ninguém, nem sequer comoveu os diretamente responsáveis. Dizem que o velho Chico morreu de saudades, de coração partido. Que estranho sentimento de amor pela natureza num homem simples e incompreendido.
 
Esta história não é ficção. Aqui a registramos como uma homenagem. 
 
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O artigo “Velhas Árvores Mortas Estupidamente” foi publicado nos websites associados em 17 de julho de 2021.
 
A narrativa faz parte de um texto maior, publicado no jornal “Correio do Povo”, de Porto Alegre, Brasil, em 14 de setembro de 1962 e mais tarde reproduzido na obra “O Rio Grande do Sul e a Ecologia”, de Henrique Luiz Roessler, Martins Livreiro Editor, Porto Alegre, RS, 1986, 220 pp., ver pp. 52-53.
 
O dia e o mês da primeira publicação de “Velhas Árvores Mortas Estupidamente” coincidem com a data de fundação da Loja Independente de Teosofistas, que aconteceu décadas mais tarde em 14 de setembro de 2016.

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Sobre a presença do espírito universal em todas as coisas, veja os artigos “As Encarnações de Um Poema” e “Um Cosmo Em Cada Feto Humano”.
 
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