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1 de agosto de 2016

O Caminho da Sabedoria na Educação

Educar É Tornar Possível a Cada Ser Humano a
Percepção da Luz e da Força Que Há Nele Mesmo

Regina Maria Pimentel de Caux


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O texto a seguir foi publicado
inicialmente na edição de
setembro de 2012 de “O Teosofista

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Carlos Cardoso Aveline afirma que “quando percebe de fato que a vida física é apenas uma hospedagem passageira, o indivíduo passa a cuidar daquilo que é efetivamente seu, isto é,  a sua responsabilidade perante seu próprio eu superior, o seu “pai espiritual”, ao qual terá que prestar contas ao final da encarnação.[1]

Esta ideia merece ser examinada. É essencial despertar para as vivências não-exteriores, que ocorrem em camadas de consciência ainda ignoradas ou até mesmo rejeitadas por nós. Desta interioridade vem o saber verdadeiro, que manifesta o poder e a força invencíveis.

À medida que as sementes da teosofia são plantadas, percebemos dia a dia novos progressos dentro e fora de nós.

Podemos observar o sentimento de tédio e vazio existencial nos adolescentes e jovens. A escola muitas vezes existe fora dos contextos da vida, do ser. Desestimulante, afasta os alunos de seus ideais mais profundos e dos valores humanos. Isso provoca efeitos desastrosos em nossa civilização.

Os jovens precisam de encorajamento, e devem ser tocados com afeição e compaixão. Precisam ser aceitos e reconhecidos em sua dignidade, independentemente do resultado dos estudos e de sua origem sócio-econômica. Deve-se valorizar seu esforço, a perseverança em seu processo de desenvolvimento, e mesmo os pequenos avanços.

Cabe-nos examinar até que ponto assumimos no plano educacional compromissos que são coerentes com nossa jornada pelo caminho da sabedoria. O caminho da sabedoria está disponível, e é preciso conhecer a sua existência. É possível abrir as portas para percebê-lo, trilhá-lo e vivenciá-lo. Se queremos realmente progredir, cabe optar pelo estudo assíduo, com perseverança e sinceridade. É recomendável abolir de nossa existência tudo que contradiz a verdade.

Enquanto prosseguimos com este trabalho, como podem os educadores dar apoio para que os alunos tenham autoconfiança e determinação? Como podem incentivar a autonomia e os seus talentos? Como contribuir para o estado de concentração, harmonia e cooperação entre os alunos, ao invés de repetir as meras formas externas?

Educar é tornar possível a cada ser a percepção da luz e da força existentes nele mesmo. É aprender a intensificar a existência, e dar-lhe sentido.

Carlos Aveline escreveu, referindo-se a Paulo Freire:

“Pensador socrático, ele apoiou sua pedagogia sobre o diálogo. As bases do seu pensamento estão na Grécia antiga. Grande erudito, ele vai além dos livros. Ele ensina que devemos recriar a cada momento o nosso conhecimento da realidade, em um processo aberto de diálogo e investigação, em que não devem faltar nem a coragem nem a humildade.”  [2]

E Leonardo Boff, um dos principais criadores da Teologia da Libertação, afirmou:

“A importância de Paulo Freire foi de ter mostrado que o oprimido jamais é somente um oprimido. É também um criador de cultura e um sujeito histórico, que, quando conscientizado e organizado, pode transformar a sociedade. (...) O processo de libertação implica fundamentalmente uma pedagogia. A libertação se dá no processo de afastamento do opressor que carregamos dentro e na constituição da pessoa livre e libertada, capaz de relações geradoras de participação e de solidariedade. (...)” [3]

Em seu livro “A Chave Para a Teosofia”, Helena P. Blavatsky apresenta a seguinte proposta para a educação:

“Reduziríamos o trabalho puramente mecânico da memória a um mínimo absoluto e dedicaríamos todo o tempo ao desenvolvimento e treinamento dos sentidos internos, das faculdades e das capacidades latentes. Nós nos empenharíamos em lidar com cada criança como uma unidade, educando-a de modo a produzir o desabrochar mais harmonioso e equilibrado de seus poderes, para que suas aptidões especiais se desenvolvam natural e plenamente. Deveríamos ter como objetivo a criação de homens e mulheres livres - livres intelectualmente, livres moralmente, sem preconceitos de qualquer natureza e, acima de tudo, não egoístas. E acreditamos que muito, se não tudo isso, poderia ser conseguido através de uma educação apropriada e verdadeiramente teosófica.” [4]

Um sistema muda quando as pessoas dentro do sistema mudam. Que espaço melhor para começar o trabalho do que o espaço compartilhado com as novas gerações?

NOTAS:

[1] “Os Limites da Infância”, artigo que pode ser localizado em nossos websites associados.  

[2] “Conversas na Biblioteca, Um Diálogo de 25 Séculos”, Carlos Cardoso Aveline, Editora Edifurb, SC, p. 156.

[3] Citado em “Conversas na Biblioteca”, na mesma página 156 mencionada na nota anterior. 

[4] “A Chave Para a Teosofia”, H. P. Blavatsky, Editora Teosófica, pp. 232-233.

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A educadora mineira Regina Maria Pimentel de Caux é licenciada em Pedagogia, e tem Pós-graduação em Processo Ensino-Aprendizagem  e  Psicopedagogia.

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Para conhecer a teosofia original desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.


Com 19 capítulos e 191 páginas, a obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília.   

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4 de fevereiro de 2016

O Despertar da Leitura

Uma Biblioteca é um Mundo de Saber  

Regina Maria Pimentel de Caux




Num texto intitulado “A Arte de Ler”, Carlos Cardoso Aveline escreve que quando descobrimos o prazer da leitura o nosso aprendizado na vida adquire proporções ilimitadas. “Mas isso não é tudo”, afirma. “A palavra escrita também é um instrumento revolucionário. Ela desperta as consciências, revoluciona o espírito humano, derruba governos corruptos e provoca grandes transformações sociais”. Aveline acrescenta: “a mera presença de um bom livro em nossa casa pode irradiar uma misteriosa influência benigna.” [1]

Sem leitura não há educação. Uma pessoa que lê tem mais condições de discutir ideias e enxergar soluções, vê a vida de diferentes pontos de vista e torna-se um cidadão mais atuante.

A leitura é importante em todos os níveis educacionais. Deve ser iniciada na educação infantil, continuar nos diferentes níveis de ensino e durante toda a vida.

É na escola, pela mediação do professor consciente que os estudantes aprenderão a ler e a amar os livros. Aprenderão, também, a escrever e a enxergar sua própria realidade e a realidade do outro. Essa relação pelo contato e exploração do livro nas mais diversas formas cria uma atmosfera de entrada a inúmeros universos e possibilitam a conexão com o nosso próprio eu. Por meio de boas ações intermediadas pelo professor o estudante produz um conhecimento partilhado, enriquecido  e com isto conseguirá representar melhor, oralmente e por escrito, seu pensamento, sua vivência e seu conhecimento coletivo de mundo.

No prefácio ao “Glossário Teosófico”, de Helena Blavatsky (Ed. Ground, SP, p. 5), Murilo Nunes de Azevedo aconselha os verdadeiros buscadores do mistério das coisas, a fazer uma espécie de preparação à magia da leitura:

“Leitor amigo, segure o livro cuidadosamente. Sinta o seu peso, volume, disposição gráfica, maciez ou rugosidade de suas páginas. Acaricie a sua capa lentamente, plenamente, consciente do que está fazendo. Fique algum tempo silencioso e concentrado no fato de estar segurando firmemente este exemplar. É importante, pois tem em mãos um texto profundamente significativo que poderá modificar a sua vida.”

Nesse instante sentimos a sacralidade que o livro possui; o valor do conhecimento resguardado das gerações passadas e as sabedorias de nossos ancestrais. Um bom livro é como uma estrela iluminando a noite escura da existência humana. É necessário fazer aflorar estas percepções junto aos educadores, estudantes e toda a sociedade. Assim poderão constatar por si mesmos a importância da arte de ler.

A Biblioteca Escolar, espaço dinâmico da Escola, envolvida no processo ensino-aprendizagem, deve desempenhar sua função de agente educacional atuante, proporcionando aos estudantes oportunidades criativas de crescimento cultural, social, intelectual, emocional, e momentos de lazer através da leitura recreativa e de livros científicos. Esta é uma responsabilidade e um dever da escola.

Os serviços de Biblioteca devem ser planejados e direcionados para a utilização cotidiana do acervo que a compõe, estando o profissional comprometido com a Educação, e também, com a preservação de seu patrimônio.

Mas é preciso fazer com que leitura venha a ser cada vez mais sedimentada na vida do cidadão. É necessário suprir continuamente as bibliotecas públicas e comunitárias de bons livros, periódicos e outros bens culturais, tendo em vista também o interesse e as expectativas do usuário.

Um exemplo de valorização da leitura é a implantação de minibibliotecas em bairros e a dinamização de seu atendimento. A experiência do projeto Farol do Saber, em Curitiba, é um ponto de referência disseminador da cultura. Ali as atividades propostas são desenvolvidas de maneira a despertar o interesse e a participação voluntária de seus frequentadores. Reúnem biblioteca, acesso a Internet e outros recursos culturais. São valiosos acervos públicos de fácil acesso e próximos da população.

Os Faróis do Saber surgem como antídoto ao conhecimento “acabado”, “pronto” e “certo”, ao discurso de “certezas” do mestre, para se tornarem um espaço gerador do espírito crítico e de questionamento, propiciando o acesso ao livro, a recriação do conhecimento.

Quem já descobriu o prazer da leitura concorda: “Ler me traz a sensação de paz”; “Os livros são luz, não fiques na escuridão”; A biblioteca é um mundo de saber”.

“O homem que não tem o costume de ler está aprisionado num mundo imediato, em relação ao tempo e espaço”, escreveu o pensador chinês Lin Yutang. [2] E as seguintes palavras são frequentemente atribuídas a Rubem Alves:

“Bom seria que o professor dissesse aos seus alunos: Leiam esse livro. Ruminem. Depois de ruminar, escrevam os pensamentos que vocês pensaram, provocados pelos pensamentos do autor. Os pensamentos dos outros não substituem os seus próprios pensamentos. Somente os seus pensamentos estão vivos em você. Um livro não é para poupar-lhes o trabalho de pensar. É para provocar o seu pensamento.” 

A alegria advinda da descoberta da leitura é intensa, contagiante, transformadora. Portanto, propomos construir com a confluência de esforços das mais diversas instâncias sociais, uma nova sociedade com mais livros, mais bibliotecas, mais livrarias, mais leitores, mais alegria, que priorize o bem e o desenvolvimento da humanidade.


NOTAS:

[1] “A Arte de Ler”, de Carlos Cardoso Aveline. O texto pode ser encontrado  em nossos websites. 

[2] “A Importância de Viver”, de Lin Yutang, Editora Globo, 1963, tradução de Mário Quintana, 360 pp., ver pp. 302 a 305. Citado por C.C. Aveline em “A Arte de Ler”.

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A educadora mineira Regina Maria Pimentel de Caux é licenciada em Pedagogia, com Pós-graduação em Processo Ensino-Aprendizagem e Psicopedagogia.

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Para acompanhar um diálogo com a sabedoria de vida de grandes pensadores dos últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.


O livro foi publicado pela Edifurb, de Blumenau, Santa Catarina. Com 170 páginas divididas em 28 capítulos, ele foi publicado em 2007.

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31 de agosto de 2014

O Progresso do Trabalho Docente

Notas Sobre a Pedagogia do Autoconhecimento

Regina Maria Pimentel de Caux



O anseio por milagres é cultural, e é um gesto que mostra ignorância. Muitos educadores dizem: - eu gostaria que a escola fosse assim!  A atitude mostra desconhecimento e também impotência. As transformações ocorrem através de uma aspiração consciente rumo de uma ação contínua, num eterno desdobrar-se. O progresso educacional advém do trabalho por um ideal.

Se a educação é um processo contínuo de busca de um saber ampliado e aprofundado, de um viver inteiro, é preciso que os indivíduos estejam inteiros nessa busca. Iluminar o espaço desse trabalho e buscar o seu sentido, bem como estimular seu desenvolvimento fundamentado dos valores humanos e da perspectiva ética, é descobrir rumos na direção de uma vida mais justa e feliz.

Aderir ao novo paradigma educacional significa aceitar que alguns princípios aparentemente certos já não são mais válidos. Cabe ver e sentir com força a unidade de tudo e todos. John Garrigues afirma que nossas ações estão sempre de acordo com as visões que temos da vida, do tempo e da lei divina. E acrescenta:

 “A crença governa a conduta. (...) Se nós reconhecermos a unidade da vida que se estende por todo o universo, nós teremos cuidado para não agredir a nenhuma das suas manifestações, e reconheceremos que a fraternidade [universal] não é apenas um sentimento, mas uma lei em vigor e que não pode ser evitada.” [1]

A preocupação ética se constitui na preocupação com o outro e tem a ver com sua aceitação. A indiferença é uma atitude de distanciamento e anula totalmente o outro em sua humanidade. No espaço escolar verdadeiramente democrático as ações e relações sustentam-se em princípios éticos, as identidades se afirmam no diálogo, na justiça, no respeito mútuo e na fraternidade.

O artigo 6º das Diretrizes Curriculares Nacionais afirma que “na Educação Básica, é necessário considerar as dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade, buscando recuperar, para a função social desse nível da educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa em formação na sua essência humana.” O reconhecimento do outro e o respeito a ele devem coexistir com o autoconhecimento e a exigência de respeito da parte dele. Isto vale para todas as instâncias da vida.

Antônio J. Severino escreveu:

“A escola é o lugar do entrecruzamento do projeto coletivo e político da sociedade com os projetos pessoais e existenciais dos educadores. É ela que viabiliza a possibilidade de as ações pedagógicas dos educadores tornarem-se educacionais, na medida em que as impregna das finalidades políticas da cidadania que interessa aos educandos. Se, de um lado, a sociedade precisa da ação dos educadores para a concretização de seus fins, de outro, os educadores precisam do dimensionamento político do projeto social para que sua ação tenha real significado enquanto mediação da humanização dos educandos.” [2]

Quantas vezes já não se ouviu um aluno dizer que o professor deu uma ótima aula? Certamente ele trouxe contribuições à descoberta do mundo pelos alunos, proporcionou a interação, a criatividade, a cooperação, a valorização do progresso, a alegria na construção do conhecimento.

Ensinar à luz destas contribuições traz todo dia o desafio de olhar para a experiência do ensinante-aprendiz. Esse trabalho serve para expandir a visão de nós mesmos como seres autoconscientes em evolução.

A teosofia abre espaço para a forma de aprendizado ensinada e estimulada pelos Mestres orientais de Sabedoria. O conhecimento pode, e deve, ser testado diretamente pelo aprendiz, que confirma por si próprio sua veracidade. Além de crescer em conhecimento, o estudante, à medida que avança, também cresce em capacidade de aprender.  Helena P. Blavatsky escreveu em “A Chave Para a Teosofia”:

“Se tivéssemos dinheiro, fundaríamos escolas que não produzissem candidatos alfabetizados à miséria. Deveríamos ensinar às crianças, acima de tudo, a autoconfiança, o amor por todos os homens, o altruísmo, a caridade mútua e, mais do que qualquer outra coisa, a pensar e raciocinar por si mesmas. Reduziríamos o trabalho puramente mecânico da memória a um mínimo absoluto e dedicaríamos todo o tempo ao desenvolvimento e treinamento dos sentidos internos, das faculdades e das capacidades latentes.”[3]

O progresso do trabalho docente está em superar a opressão, a fragmentação do conhecimento e possibilitar o diálogo dos saberes e práticas, promover o autoconhecimento, o autodesenvolvimento e superar a massificação que se revela decorrente da globalização.

O conhecimento de si mesmo não é fácil de obter e só pode ser alcançado gradualmente. É necessário obter níveis crescentes de autoconhecimento, isto é, de conhecimento do nosso Verdadeiro Eu.  Blavatsky apresenta o modo de alcançar o autoconhecimento:

“A primeira condição necessária para obter autoconhecimento é tornar-se profundamente consciente da ignorância; sentir com  cada fibra do seu coração que se é incessantemente autoiludido. O segundo requisito é uma convicção ainda mais profunda de que tal conhecimento - um conhecimento intuitivo e seguro - pode ser obtido por  esforço próprio. A terceira condição, a mais importante, é uma determinação indômita de obter e enfrentar  aquele conhecimento.”[4]

O professor deve se transformar no conhecedor de si mesmo, da sua própria cotidianidade e da cotidianidade dos alunos, já que ensinar é também aprender. Neste sentido as dúvidas, a indiferença, a curiosidade, a falta de interesse dos alunos, devem ser assumidas como desafios pelo professor.

NOTAS:

[1] “Consciência Ética e Interesse Pessoal”, de John Garrigues, artigo disponível em nossos websites associados.

[2] “Compreender e Ensinar, Por uma Docência da Melhor Qualidade”, Terezinha Azerêdo Rios, Cortez Editora, p. 127.

[3] “A Chave Para a Teosofia”, H. P. Blavatsky, Ed. Teosófica, Brasília, 2004, pp. 233-234.

[4]Como Alcançar o Autoconhecimento”, de Helena P. Blavatsky, texto publicado em  nossos websites associados.  

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A educadora mineira Regina Maria Pimentel de Caux é licenciada em Pedagogia, com Pós-graduação em Processo Ensino-Aprendizagem e Psicopedagogia.

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