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26 de fevereiro de 2024

Como Educar a Vontade

 
Em 1942 Já se Sabia: Educação da Vontade é
Necessária Para Que Haja Moralidade e Ética
  
João Serras e Silva
  
Lisboa em meados do século 20: aguarela de Vanessa de Azevedo.



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Nota Editorial de 2024

Na década de 1940, a educação moral era um
tema popular. O artigo a seguir é um exemplo disso.
Em Portugal e no Brasil, pensadores notáveis escreviam
sobre a necessidade da construção de uma consciência ética,
tanto no mundo individual como na comunidade, e também
entre as nações. Depois começou a acontecer uma falha
coletiva de memória. O materialismo imediatista ganhou força
e a necessidade de viver de maneira correta foi caindo no
esquecimento, pelo menos em grande parte da mídia. Felizmente a
vida é cíclica. O que morre, renasce, e a sabedoria do passado ressurgirá.   

(Carlos Cardoso Aveline)

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Tudo se tem esperado da ciência: erudição, saber, descobertas, invenções, trabalho intelectual são as divindades dos tempos modernos. Atitude errônea e prejudicial que deixa ao abandono a parte mais nobre do homem - o senso moral.

A experiência diz-nos todos os dias que o saber não chega para organizarmos honestamente e sadiamente a vida. Não é por falta de saber ou por erro de inteligência que o alcoólico não abandona a sua paixão que o degrada e consome - é por impotência da vontade; não é por ignorância do mal que o fumador continua a irritar a garganta, os brônquios e a intoxicar o sistema nervoso, não é por desconhecimento do mal, é por fraqueza da vontade; e o vicioso, o debochado, ignora ele porventura aonde o levam os seus desvarios, em que perde a saúde, a fazenda e a reputação? Não é a inteligência que falta, é a vontade que mingua.

E o pobre jogador, que se balouça todos os dias sobre o abismo, dominado pela vertigem dum sucesso, que sempre lhe escapa, é a vítima da ignorância ou da abulia? São os doentes da vontade, os débeis da vontade; farrapos humanos que o destino arrasta, como as folhas mortas, levadas pelo vento do outono.

A nossa incúria em cultivar e desenvolver a vontade é verdadeiramente criminosa. Quantas vezes dizemos diante de crianças: “Faz-me mal, mas não lhe posso resistir.” Não podemos porque não nos dispomos a querer.

Prevost, o célebre abade, escreveu: “Como é difícil retomar um pouco de vigor, quando fizemos da fraqueza um hábito! Custa tanto combater pela vitória, quando nos costumamos à doçura de nos deixar vencer!”

Ser forte de vontade é a primeira condição da moral e do carácter. Sem esta base, sem uma vontade forte, todo o edifício moral desabará ao sopro da primeira tempestade. Quantas vezes o cristão paga as fraquezas do homem.

Façamos homens primeiro que tudo.

Alguém, que muito tinha visto e meditado, dizia: “Não se podem ter cristãos fortes com naturezas fracas e anêmicas.” (…)

O ideal é o norte, ou a bússola para orientar o esforço. A atitude do espírito, a disposição da alma, favorável ao esforço, a decisão, é o querer; o exercício cotidiano é a ação.

(…)

A técnica da ação para desenvolver a vontade está clara; - todos podem em cada momento procurar desenvolver esta preciosa faculdade. Uma abstenção de falar ou de ficar calado; a privação duma satisfação de vaidade, de curiosidade, de gula, de mil coisas é bastante para fortificar a vontade. Como há uma ginástica para fortificar os músculos entorpecidos, há também uma ginástica para tonificar uma vontade anêmica.[1] Num e noutro caso os peritos inventaram uma técnica apropriada.

NOTA:

[1] A propósito da semelhança entre o esforço espiritual e o esforço da ginástica física, examine o item três no artigo “A Consciência de um Mahatma”.  

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O texto “Como Educar a Vontade” foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 26 de fevereiro de 2024. Ele pode ser lido também na edição de julho de 2023 de “O Teosofista”, pp. 16-17. Trata-se de uma reprodução de trechos selecionados da Carta-Prefácio de João Serras e Silva (1868-1956), no livro “Papel da Vontade na Educação”, de Manuel Trindade Salgueiro. A obra de Trindade Salgueiro foi publicada pela Editora Casa do Castelo em Coimbra, Portugal, em 1942, com 246 páginas: ver pp. 7 a 10.

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Leia mais:




* Como Renovar a Consciência (de João Serras e Silva).


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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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17 de julho de 2023

Como Renovar a Consciência

 
Para Fortalecer a Vontade, Construa um
Estoque de Forças Positivas no Subconsciente
 
 João Serras e Silva
 
Lisboa histórica, aguarela de Vanessa de Azevedo



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O texto a seguir é uma carta do médico e educador português
João Serras e Silva (1868-1956), e faz parte do livro “Papel da
Vontade na Educação”, de D. Manuel Trindade Salgueiro. [1]

(CCA)

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Esta carta tem por fim falar-lhe de uma técnica de formação da vontade por meios indiretos. A maneira clássica de desenvolver uma função é o exercício; faculdade que a não exerce atrofia-se. A vontade robustece-se pelo esforço de lutar e de vencer: queremos fazer, queremos não fazer. É a forma direta, forma útil, mas fatigante.

Há outra maneira de vencer sem grande luta, e sem grande fadiga: é a convicção, a formação de um estoque de motivos, de forças armazenadas no subconsciente que nos ajudarão a fazer ou não fazer nas ocasiões oportunas.

Ponhamos um exemplo: suponhamos uma pessoa biliosa, inclinada à cólera, pronta à irritação, diante da menor contrariedade. Esta tendência é um flagelo para ela e para os outros.

Para combater esta incômoda disposição temos duas maneiras: uma consiste em fazer um esforço de vontade, sorrir à contrariedade, como S. Francisco de Sales, morder disfarçadamente os lábios, contrair os músculos das mãos, em suma, dominar-se, é a forma direta; a outra, a indireta, é mais complicada mas muito mais cômoda e consiste em criar no subconsciente uma acumulação de energia que atue por si, no momento conveniente, contrapondo-se à emoção impulsiva. A forma direta é fatigante, exige um esforço no momento crítico e requer uma grande vigilância para se não ser colhido de surpresa; e Deus sabe quantas vezes o iracundo se encontra a vociferar e a gesticular de uma maneira descomposta, em oposição com todos os programas e boas intenções. O consciente vai ser substituído pelo automatismo, na forma indireta.

Para chegar a este resultado procede-se por autossugestão. Escreve-se num cartão uma fórmula sumária, como esta - não quero irritar-me, quero ser calmo.

Esta fórmula dever ser lida muitas vezes durante o dia e, no dia seguinte, deve ser substituída por outra equivalente. A mudança evita a monotonia e aumenta a eficácia.

É conveniente repetir mentalmente a fórmula quando, em lugar tranquilo, o indivíduo se puder concentrar e fixar a atenção sobre ela, expulsando do espírito todas as ideias e imagens estranhas. Uma vez feito o vazio, a fórmula encherá o campo da consciência. O processo serve para combater o medo, a inveja, a sensualidade, etc. As atitudes auxiliam estas aquisições do subconsciente. Quando se visa combater o medo, a posição em extensão, com o peito dilatado, a cabeça alta auxilia a autossugestão da coragem.

O subconsciente vai-se enriquecendo dia a dia com estas convicções, até se constituir um forte capital de energias que sairão espontaneamente, automaticamente, em nossa defesa, antes que a defesa voluntária e consciente venha tomar as posições. Fórmulas, atitudes, imagens, leituras, ajudarão a constituir este fundo que vale uma fortuna.

Pela via consciente de persuasão chegamos a organizar um estoque de forças que ficarão ao nosso dispor no subconsciente, e operarão em nosso benefício automaticamente, ou que nós mobilizaremos na ocasião precisa, lembrando-nos de que ali as depusemos num trabalho porfiado durante meses e anos. A vontade diretamente empregada é a violência: fazer violência sobre si significa a luta contra as impulsões, luta dolorosa e fatigante, que se pode suprir em certa medida, digamos em larga medida, pelo emprego do subconsciente, formado conscientemente.

Para tratar conosco como para tratar com os outros, o método da persuasão é muitas vezes bem superior ao método da violência!

Ao domínio direto das paixões juntemos habilmente o domínio indireto, produto de uma nítida autossugestão. Aos leitores do “Papel da Vontade na Educação”, convém ter notícia de uma obra recente que ensina a formar o subconsciente, é a obra de Jean des Vignes Rouges intitulada; “Gymnastique de la Volonté”, editada por J. Oliven, Paris.

NOTA:

[1] Papel da Vontade na Educação”, de D. Manuel Trindade Salgueiro, Casa do Castelo Editora, Coimbra, Portugal, 1942, 246 páginas. A carta está publicada como nota de  rodapé às páginas 121-123.  

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O artigo acima está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde o dia 17 de julho de 2023.

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Leia mais:



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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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