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6 de dezembro de 2016

Formando Bons Hábitos

A Criatividade na Teosofia da Vida Diária

Joaquim Duarte Soares



O caminho da sabedoria é fonte de paz e felicidade e começa com o conhecimento de si mesmo.

A filosofia esotérica ensina que aquilo a que chamamos personalidade, o quaternário inferior, é um aglomerado de skandhas, ou o conjunto de registos cármicos de vidas passadas. Os skandhas constituem a nossa herança cármica. Estão compostos pela soma de tendências, hábitos, defeitos e qualidades, e são ativados a cada nova encarnação. De um ponto de vista oculto, podemos dizer que somos filhos de nós mesmos.

Um dos efeitos do estudo sério da teosofia clássica e do esforço por viver o ensinamento é que passamos a desafiar a ignorância acumulada em nós próprios. 

O ser humano é complexo. Trazemos em nós hábitos e tendências que alimentam a ignorância, produzindo sofrimento desnecessário. Ao mesmo tempo, também possuímos em maior ou menor grau padrões energéticos sintonizados com a sabedoria e que produzem felicidade.

O desafio está em concentrar nossa energia e vontade naquilo que é positivo e deixar de alimentar o que é negativo. A arte de substituir hábitos nocivos por hábitos saudáveis é central na aprendizagem da sabedoria. [1]

Um pequeno poema intitulado “Hábito” (“Habit”, no original em inglês) descreve a importância de nos mantermos vigilantes em relação aos nossos hábitos:

“O hábito no princípio é apenas um fio de seda,
Belo como as delicadas teias aladas que balançam
Nos raios quentes de sol de um dia de verão;
Um riacho raso, ondulando sobre o seu leito;
O broto da planta, antes de suas raízes se espalharem;
Um espinho em teu caminho, ainda não endurecido;
Um filhote de leão que ainda não fareja a presa;
Uma pequena criança risonha obedientemente conduzida.
Cuidado! Esse fio pode prender-te como um grilhão;
Esse riacho se acumular num mar fatal;
Essa muda se transformar numa árvore cheia de nós;
Esse espinho, crescido e duro, pode ferir-te e trazer dor;
O filhote brincalhão revelar seus dentes assassinos;
A criança, um gigante, esmagar-te sob seus pés.” [2]

Ao adquirirmos consciência dos hábitos instalados e das suas consequências para nós e para os outros, temos a possibilidade de tomar a vida em nossas mãos e decidir qual o tipo de carma que queremos plantar a cada dia.

Avançar no caminho pressupõe o plantio de bons hábitos e de padrões vibratórios corretos. Devemos elevar-nos acima dos velhos skandhas da ignorância individual e coletiva. Este processo é probatório e contém múltiplos desafios e lições valiosas. O progresso acontece quando aprendemos com os erros e acertos enquanto perseveramos no esforço. O caminho é percorrido ao longo de várias vidas, no ritmo e no modo de cada um. Podemos ler no texto “Uma Batalha Diária”:

“A luta por agir de modo correto é simultaneamente física, emocional e mental. Deve-se estabelecer melhores hábitos. É necessário reduzir ou eliminar padrões errados de vibração. Ao preparar a si próprio através de intenções nobres, pensamentos adequados e ações justas, o indivíduo purifica seu instrumento - o eu inferior - e se liberta gradualmente de ilusões e sofrimentos desnecessários. Assim ele alcança uma paz que é interna, e não externa. O sofrimento humano será seu até o final, mas ele aprenderá a ser maior que a dor.” [3]

Desenvolvendo a capacidade de auto-observação, começamos a discernir os mecanismos psicológicos de apego a um variado conjunto de hábitos inconscientes que trazemos do passado. Esses elementos funcionam em nossa aura como bloqueios à expansão do magnetismo curativo do amor que emana do coração.

Passo a passo, vamos percebendo, não só mentalmente mas de forma vivencial, que nós não somos o nosso corpo, nem o que sentimos, nem o que pensamos.[4] A nossa “personalidade”, o eu inferior, é sim um valioso instrumento - o templo da Alma imortal. Nossa tarefa sagrada é purificá-lo para que nele brilhe a luz do Eu Superior.

O fato de que tudo é cíclico na vida é um aspecto a levar em conta em nossos esforços. Robert Crosbie afirma:

“O jeito de corrigir hábitos é reconhecer que os pensamentos errados irão retornar, e que mesmo os pensamentos que não são bem-vindos retornam obrigatoriamente devido à lei. Por isso, estabeleça um pensamento oposto - ou um sentimento oposto, ou comece uma ação na direção oposta. Continue fazendo isso da melhor maneira que puder, e finalmente você vai destruir o velho ciclo e estabelecer outro, novo.” [5]

Algumas linhas mais adiante Crosbie comenta:

“...É observando o retorno das impressões mentais que podemos corrigir os hábitos. Hábitos de qualquer espécie são criados por repetição. Na primeira vez que fazemos algo, ainda não há um hábito; mas se repetirmos a ação, e continuarmos repetindo, ela finalmente se tornará automática. Com o conhecimento da lei dos ciclos, os hábitos ficam dentro dos limites do nosso controle inteligente.”

Uma visão de longo prazo e uma meta elevada contribuem para aumentar o desapego em relação às marés e aos diferentes ciclos da vida. Mesmo pequenos passos dados são valiosos e todas as tentativas de viver um ideal altruísta são importantes. Nada se perde. O que importa é tentar, sempre.

Bons hábitos em relação a pensamento, estudo, alimentação e saúde, assim como a dedicação a uma causa nobre, abrem espaço para a vivência do que é bom, belo e verdadeiro. A cada dia, temos a possibilidade de viver interiormente a paz e a felicidade.

NOTAS:

[1] Vale a pena ler o texto “Vivendo na Atmosfera da Teosofia”, de Carlos Cardoso Aveline, que pode ser encontrado em nossos websites associados. 

[2] O poema, de autor anônimo, foi publicado na revista “Lucifer”, edição de maio de 1890, editada por HPB. (A palavra “Lúcifer” significa “portador da luz” e se refere ao planeta Vênus: foi distorcida na Idade Média por teólogos ignorantes.) O original em inglês do poema está disponível em nossos websites.

[3] O texto foi escrito por C. C. Aveline e está publicado em nossos websites.

[4] A ideia está colocada em um trecho de Robert Crosbie que encontramos no artigo “A Ioga do Dever”, de C. C. Aveline. 

[5] Reproduzido do artigo “Os Ciclos dos Hábitos”, de Robert Crosbie, que pode ser lido em nossos websites associados.

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O artigo acima é reproduzido da edição de maio de 2015 de “O Teosofista”, pp. 16 a 18.

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19 de outubro de 2016

O Significado da Suástica

Os Criminosos Nazistas Tentaram
Distorcer Conceitos da Filosofia Oriental

Joaquim Duarte Soares




O estudante sincero de Teosofia tem o dever de combater a falsidade e o preconceito, ainda mais quando estão em causa o próprio movimento teosófico e o ensinamento sagrado.

No texto “A Teosofia e a Segunda Guerra Mundial”, de Carlos Cardoso Aveline, podemos ler o seguinte:

“Num mundo ainda dominado em boa parte pelo fanatismo e por religiões ritualísticas, é natural que o movimento teosófico - funcionando como uma espécie de extintor não-violento de ilusões - seja atacado de várias formas, desde fora, e desde dentro. Um exemplo de tais ataques são os textos sem base que circulam acusando o movimento teosófico de ter tido simpatia pelo nazismo ou pelo fascismo. Há várias fontes ativas de desinformação em torno da questão da teosofia e do hitlerismo, e parece oportuno trazer algumas evidências sobre a real relação entre os dois, inclusive no período da Segunda Guerra Mundial.” [1]

É conhecida dos estudantes de teosofia a apropriação indevida e o uso criminoso de símbolos sagrados hindus por parte do regime Nazi. Como escreve Aveline:

“Os líderes nazistas praticavam algum tipo de feitiçaria anti-humanitária, e tinham métodos essenciais em comum com o mal disfarçado ‘misticismo de ódio e violência’ que foi, desde o século 16, cuidadosamente desenvolvido pelos jesuítas e usado pelo Vaticano.” [2]

O exemplo mais conhecido do uso criminoso de um símbolo sagrado para fins de magia antievolutiva talvez seja o caso da “cruz Jaina”, ou Suástica.

Este símbolo é comentado amplamente em “A Doutrina Secreta” de Helena P. Blavatsky, sendo classificado como antiquíssimo e profundamente místico. Foi usado na antiguidade por todos os povos do mundo. É um dos símbolos mais sagrados na Índia, fazendo parte das milenares tradições hinduísta e budista.

Diz Blavatsky:

“Poucos símbolos no mundo estão tão impregnados de verdadeiro significado oculto quanto a Suástica. É representada pelo algarismo 6; visto que, como essa cifra, aponta, na sua representação concreta - como acontece com o ideograma desse número - para o Zênite e o Nadir, o Norte, Sul, Oeste e Este; em toda parte encontramos a unidade, e esta unidade refletida em todas as unidades. É o emblema da atividade de Fohat, da contínua revolução das ‘rodas’, e dos Quatro Elementos, o ‘Quatro Sagrado’, no seu sentido místico, e não apenas no sentido cósmico; por outro lado, os seus quatro braços, dobrados em ângulos retos, guardam íntima relação, como já demonstramos, com as escolas Pitagórica e Hermética. Aquele que está iniciado nos mistérios do significado da Suástica, dizem os Comentários, ‘pode perceber através dela, com precisão matemática, a evolução do Cosmos e todo o período de Sandhya’.” [3]

A suástica é, por excelência, o símbolo da evolução Cósmica.

É uma imagem representada em muitos templos da Índia, do Tibete, da China e demais países com influência hindu e budista (sendo aliás o símbolo do próprio budismo esotérico). Além disso, está presente nas tradições dos povos nórdicos e das Américas.[4]  

São muito conhecidas as representações de Buddha com a cruz Suástica no peito, sendo denominada de “Selo do Coração”. A suástica está presente também em várias relíquias cristãs antigas. Sobre a sua universalidade, HPB esclarece:

“[A] cruz ansata egípcia ou Tau, a cruz Jaina ou Suástica, e a Cruz Cristã, têm todas o mesmo significado”.[5]

Apesar disso, ou por isso mesmo, os missionários cristãos trataram de classificar a cruz suástica como “diabólica”, denegrindo desta forma um símbolo sagrado mais antigo e que está na origem da “sua” cruz cristã. Reconhecer esta semelhança seria aceitar que o cristianismo tomou emprestado, ilegitimamente, símbolos sagrados de tradições muito anteriores.

Os crimes perpetrados desde o século 3 e 4 pelos cristãos fanáticos, e mais tarde retomados pelos jesuítas a partir do século 16, foram, de certo modo, intensificados na primeira metade do século vinte pelos regimes nazista e fascista. 

O autoritarismo “cristão” submeteu e perseguiu os próprios povos cristãos e o cristianismo místico e autêntico, enquanto fazia guerra a outras religiões. A mesma postura de desrespeito à vida foi adotada pelos nazistas. 

A traição e a negação do Mestre e do seu ensinamento são simbolizadas nos episódios do Novo Testamento que envolvem Pedro e Judas. Elas se concretizaram na conduta da Igreja de Roma ao longo de quase dois milênios, e encontram um exemplo mais no denegrir de um dos símbolos mais sagrados da Sabedoria Esotérica. Ao mesmo tempo, o Vaticano deu apoio político implícito ao nazismo e ao fascismo. Como constata Carlos C. Aveline:

“Naturalmente, o Vaticano sempre foi contra a teosofia, porque a teosofia propõe a fraternidade universal e denuncia e luta contra todas as formas de dogmatismo religioso.” [6] 

O movimento teosófico é contrário a qualquer ideologia totalitária, demonstrando simpatia pelos processos democráticos. Num certo sentido, ele é a inspiração oculta de movimentos que contribuem para a paz e a unidade dos povos, como é o caso das Nações Unidas. A ONU contempla no seu espírito os ideais teosóficos de fraternidade. [7]  

O Termo “Ariano”

Outra distorção grosseira efetuada pelo nazismo diz respeito ao uso do termo “ariano” ou “ária”.

Esta palavra significa “nobre” e é usada na “Doutrina Secreta” por Helena Blavatsky para designar o quinto estágio do processo evolutivo da humanidade, que se estende por um período de muitos milhões de anos. Daí surge a designação de “Raça Ariana” quando é referida a quinta Raça, abarcando um vasto número de sub-raças e ramificações. Deste modo, o termo “raça” é usado em “A Doutrina Secreta” tipificando essencialmente um longo período de tempo evolutivo, que abarca numerosos povos e nações, incluindo pessoas de características físicas muito diferentes entre si.

Do ponto de vista da filosofia esotérica, a mesma Alma Imortal, o aspecto Divino de cada ser humano, percorre (ou reencarna em) cada uma das divisões de ciclos evolutivos, quer sejam raças, globos, rondas ou manvântaras.

Vemos assim que só uma deturpação falaciosa justifica que se continue a relacionar o termo “ariano” ou “ária” com qualquer característica hereditária, etnológica ou de cor de pele.

No “Glossário Teosófico” encontramos as seguintes definições:

Árya (Sânsc.) – Literalmente: ‘Santo’. [‘Nobre’, ‘de raça nobre’. Nome de uma raça (a ariana), que invadiu a Índia, no período védico. Sobrenome de Agni, Indra e outras divindades.] Originalmente, era o título dos Rishis [8], que dominaram o Aryasatyani e entraram no sendeiro Áryanimarga, que conduz ao Nirvana ou Moksha (Libertação). Porém, atualmente, este nome tornou-se epíteto de uma raça e nossos orientalistas, privando os brahmanes hindus de seus direitos de nascimento, transformaram todos os europeus em Árias. Como no Esoterismo, os quatro sendeiros ou graus podem ser obtidos unicamente através de um grande desenvolvimento espiritual e ‘crescimento em santidade’, quando são designados pelo nome de ‘quatro frutos’. Para se chegar ao estado de Arhat, os quatro graus são respectivamente: Srotapatti (aquele que entrou na corrente), Sakridagamin (que deve retornar à vida apenas uma vez), Anagamin (que não precisa retornar à vida) e Arhat (venerável, o quarto grau de perfeição). São as quatro classes de Áryas, que correspondem a esses quatro sendeiros e verdades.” [9]

Para que não restem dúvidas, vejamos o que é o “Aryasatyani”:

Aryasatyani (Sanscr.) – As quatro verdades sublimes ou os quatro dogmas, a saber: 1.º) Du(s)kha, ou seja, a miséria e a dor são os companheiros inevitáveis da existência incipiente (esotericamente, física); 2.º) Samudaya, a verdade incontestável de que o sofrimento é intensificado pelas paixões humanas; 3.º) Nirodha, isto é, que a destruição e extinção de todos os sentimentos são possíveis para o Homem ‘no sendeiro’; 4.º) Marga, o estreito caminho ou senda que conduz a um resultado tão feliz.” [10]

Fica evidente que “Ária” era o título daquele Sábio que, tendo percorrido o caminho da mais estreita moralidade e serviço abnegado pela humanidade, atingia as alturas sublimes de Sabedoria e Compaixão Divinas.

De maneira idêntica o título de “Brâmane” era, originalmente, dado a aquele que por mérito e pureza tivesse alcançado a condição de iniciado ou “nascido duas vezes”, que venceu “toda tendência para o mal”. O próprio Buddha é apelidado de brâmane. Este ideal de “virtude e conhecimento” encontra-se maravilhosamente descrito no último capítulo do clássico budista “O Dhammapada”. Aí vemos o Iluminado proclamar, entre outras coisas:

“Eu chamo de brâmane aquele que é meditativo, puro, decidido; cujo dever é cumprido e cujos vícios foram vencidos; aquele que alcançou a meta mais elevada.” [11]

Vale a pena olhar ainda uma última palavra com o prefixo “Arya”:

Aryavarta (Sansc.) – ‘A terra dos Aryas’, ou seja, a Índia. Antigo nome da Índia do Norte, onde se estabeleceram inicialmente os invasores brâmanes (desde o Oxo – atualmente Amu-Daria), segundo os orientalistas. É errado dar esse nome a toda a Índia, pois Manu denomina ‘terra dos Aryas’ apenas a ‘região compreendida entre as cadeias de montanhas do Himalaia e Vindhya’, do mar oriental ao ocidental.” [12]

O nazismo adotou os termos “ária” e “ariano” e corrompeu-os, destituindo-os assim do seu significado real, tal como o cristianismo mais violento e mais autoritário fez ao longo dos séculos com muitos outros termos, símbolos sagrados e relíquias das tradições mais antigas, inclusive do judaísmo. A teosofia, por outro lado, tem afinidade com a ação fraterna, pacífica e não-violenta dos místicos e filósofos de todos os povos, religiões e tradições culturais.

NOTAS:

[1] O texto pode ser encontrado em nossos websites associados.  

[2] No texto referido acima.

[3] “The Secret Doctrine”, H. P. Blavatsky, Vol. II, Theosophy Company, Los Angeles, p. 587.

[4] Sendo um símbolo universal, a cruz suástica está também presente no símbolo do movimento teosófico. A este respeito vale a pena ler o texto “O Símbolo do Movimento Teosófico”, de Carlos Cardoso Aveline, que pode ser encontrado em nossos websites associados.  

[5] “The Secret Doctrine”, H. P. Blavatsky, Vol. I, Theosophy Company, Los Angeles, p. 657. 

[6] Veja o texto “A Teosofia e a Segunda Guerra Mundial”, citado acima.

[7] Ler o texto “Blavatsky, ONU e Democracia”, em nossos websites associados. 

[8] Os Sábios.

[9] “Glossário Teosófico”, Helena P. Blavatsky, Editora Ground, São Paulo, 3.ª edição, 1995, p. 52. Os quatro graus mencionados no texto referem-se às quatro grandes Iniciações do hinduísmo esotérico, que encontram a sua relação nos quatro estágios iniciáticos dos Mistérios.

[10] “Glossário”, p. 53.

[11] Esta obra clássica está publicada completa em nossos websites associados.

[12] “Glossário”.

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2 de julho de 2016

Blavatsky Comenta a Mediunidade

Os Motivos Pelos Quais a Filosofia
Esotérica Recomenda Evitar Práticas Mediúnicas 

Joaquim Duarte Soares 

Para Helena Blavatsky (foto) é fundamental
em teosofia ser independente e ter vontade própria




Qual a visão da teosofia original em relação à mediunidade espírita? 

Para examinar esta questão, é fundamental o estudo amplo e calmo da constituição oculta do ser humano, tal como ensinada pela Filosofia Esotérica. Sem compreender a sua natureza complexa não será possível perceber os processos naturais de desenvolvimento e evolução, de vida e morte, e do caminho do discipulado. [1] 

Vejamos, resumidamente, algumas ideias básicas.

O Ser Humano tem a seguinte natureza setenária:

1) Sthula-sharira -  Corpo Físico;
2) Prana -  Princípio Vital;
3) Linga-Sharira - Modelo ou duplo astral;
4) Kama - A sede dos desejos, paixões e emoções;

Estes 4 Princípios (ou mais corretamente 3 Princípios e o Corpo Físico) formam aquilo que a Teosofia designa por Quaternário Inferior, ou os níveis mortais;  a Personalidade, que apenas subsiste durante o período de uma encarnação.

Em seguida, temos a Tríade Superior:

5) Manas - Mente, Inteligência. Este princípio é dual em suas funções;
6) Buddhi - Intuição Espiritual, a Alma espiritual;
7) Atma - O Eu Imortal, o Espírito.

Um ponto importante a considerar é que existe uma ligação entre o Quaternário Inferior e a Tríade Superior, que é Antahkarana. O objetivo de todo aquele que percorre o Caminho Espiritual é ir “construindo”, ao longo de várias vidas, uma ponte cada vez maior entre os níveis mortais e os níveis espirituais e imperecíveis.

Na constituição setenária podemos distinguir igualmente três Almas, ou, três “tipos de consciência”:

1) Alma Animal ou Mortal (eu inferior): um agregado de Kama + Manas
2) Alma Humana: Buddhi + Manas
3) Alma Espiritual ou Imortal (Eu Superior): Atma + Buddhi

O caminho espiritual consiste na transferência da consciência do eu inferior para o eu superior, da alma mortal para Alma Imortal, através do despertar da Alma Humana, ou Buddhi-Manas, a Inteligência e Compaixão Universal.

Diante desta perspectiva da constituição integral do ser humano, podemos perceber que a mediunidade espírita e os demais fenômenos mediúnicos têm a sua base na atividade da alma animal ou mortal, no nível da Ilusão. Para a Teosofia autêntica, a mediunidade é um grave infortúnio e o discípulo esotérico é o oposto do médium. Um é ativo e positivo, o outro é passivo e negativo; um desenvolve progressivamente a sua vontade e poder sobre todas as circunstâncias e forças inferiores, o outro vai perdendo cada vez mais a sua autonomia e passa a ser o instrumento “dócil” de todo tipo de influências; enquanto um se esforça por polarizar nos níveis espirituais (Alma Imortal), o outro se deixa dominar e enredar nos níveis da ilusão (Alma Mortal); um refina os seus veículos de percepção, o outro desestrutura e degrada a sua fisiologia oculta; um amplia a sua consciência, o outro limita a sua consciência; um procura ler o Pensamento Divino, outro se ilude com os reflexos da Luz Astral; um toma nas mãos a responsabilidade de se conduzir pelo Caminho ascendente, outro delega a forças estranhas seu percurso de crescentes infortúnios.

Num capítulo da obra “Ísis Sem Véu”, de Helena Blavatsky, podemos ler o seguinte, a propósito da mediunidade (passiva):

“Longe de nós o pensamento de lançar uma mácula injusta sobre os médiuns físicos. Exauridos por diversas inteligências, reduzidos pela influência predominante dos espíritos [2] - à qual suas naturezas fracas e nervosas são incapazes de resistir - a um estado mórbido, que ao fim se torna crônico, eles são impedidos por essas ‘influências’ de assumir outra ocupação. Eles se tornam mental e fisicamente incapazes para qualquer outra atividade. Quem pode julgá-los severamente quando, lançados numa situação extrema, são constrangidos a aceitar a mediunidade como um negócio? E o céu sabe, como bem o demonstraram os últimos acontecimentos, se essa profissão deve ser invejada por quem quer que seja!”[3]

Todo o texto restante merece ser lido. Em um trecho mais adiante, HPB nos oferece palavras muito claras sobre a situação dos médiuns:

“É um erro dizer que um médium tem poderes desenvolvidos. Um médium passivo não tem poder. Ele tem uma certa condição moral e física que produz emanações, ou uma aura, na qual as inteligências que o guiam podem viver e pela qual elas se manifestam. Ele é apenas o veículo através do qual elas exercem seu poder. Essa aura varia dia a dia, e, segundo as experiências do sr. Crookes, mesmo de hora em hora. É um efeito externo que resulta de causas internas. A condição moral do médium determina a espécie dos espíritos que vêm; e os espíritos que vêm influenciam reciprocamente o médium, intelectual, física e moralmente. A perfeição de sua mediunidade está na razão da sua passividade, e o perigo que ele incorre está no mesmo grau. Quando ele está completamente ‘desenvolvido’ - perfeitamente passivo -, o seu próprio espírito astral pode ser paralisado, [até] mesmo retirado de seu corpo, que é então ocupado por um elemental (…).”

E ela prossegue:

“Como a mediunidade física depende da passividade, o seu antídoto é óbvio: o médium deve cessar de ser passivo. Os espíritos nunca controlam pessoas de caráter positivo que estão determinadas a resistir a todas as influências estranhas. Levam ao vício os fracos e os pobres de espírito que eles conseguem levar ao vício. Se os elementais que produzem milagres e os demônios desencarnados chamados de elementários fossem de fato os anjos guardiães, como se acreditou nos últimos trinta anos, por que não deram eles a seus médiuns fiéis pelo menos boa saúde e felicidade doméstica? Por que os abandonam nos momentos críticos do julgamento, quando são acusados de fraude? É notório que os melhores médiuns físicos são doentios, ou, às vezes, o que é ainda pior, inclinados a um ou outro vício anormal. Por que esses  ‘guias’ curadores, que fazem seus médiuns exercerem o papel de terapeutas e taumaturgos para os outros, não lhes dão a dádiva de um robusto vigor físico? Os antigos taumaturgos e os apóstolos gozavam geralmente, se não invariavelmente, de boa saúde; seu magnetismo nunca trazia ao doente qualquer mácula física ou moral; e eles nunca foram acusados de VAMPIRISMO, como o faz muito justamente um jornal espírita contra alguns médiuns curadores.” [4]

Ação Definida e Plena Atenção

Segundo a filosofia esotérica, a mediunidade e a perda da independência devem ser evitadas a todo custo, mas elas não ocorrem apenas em sessões espíritas. Os perigos da passividade psíquica diante de forças sutis pouco recomendáveis são enormes em qualquer ambiente “espiritual” que estimule nas pessoas uma obediência cega.  

Para evitar esta dominação paralisante, uma pedagogia espiritual eficaz deve estimular no aprendiz o desenvolvimento de uma vontade individual ativa, unida a um desejo de agir corretamente, e a uma decisão de ser individualmente responsável pelos seus pensamentos, palavras e ações.

Em 1885, Helena Blavatsky publicou três perguntas de um leitor no jornal “The Theosophist”, que ela editava mensalmente na Índia:

1) Quais são os sintomas, tanto externos como internos, que permitem detectar se estamos tornando-nos, ou se já nos tornamos de fato, um médium espírita?

2) Serão parte dos sintomas a má saúde, a perda da vitalidade, e a consequente perda de força-de-vontade, assim como a distração mental?

3) Quais são os meios para defender-nos eficientemente de tal processo?  E se o processo já se completou, quais são os meios para dissipar os seus efeitos?

HPB respondeu da seguinte maneira:

1) Perda de vitalidade e seus resultados.

2) Sim.

3) Vontade positiva, estudo, atividade, trabalho. [5] 

A prática da teosofia clássica nada tem a ver com passividade. Ela inclui elementos de Raja Ioga (a sabedoria pelo autocontrole e autoconhecimento), de Carma Ioga (a sabedoria pela ação correta) e de Jnana Ioga (a sabedoria pela contemplação das verdades universais).

Nestas três linhas de ação, uma vontade ativa, unida à ética, é um elemento central e indispensável.

NOTAS:

[1] Nossos websites associados contêm vários textos de estudo que permitem uma melhor compreensão da mediunidade, do processo pós-morte e da reencarnação, bem como algumas semelhanças e as muitas diferenças entre a filosofia espírita e a Teosofia. O texto “Os Sete Princípios da Consciência”, de Carlos Cardoso Aveline, é fundamental.

[2] Os “espíritos” de que H.P.B. fala não são as “almas dos desencarnados”, como supõem os espíritas, mas antes as “cascas astrais” ou então elementais.

[3] “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Ed. Pensamento, SP, vol. II, pp. 174-176.

[4] “Ísis Sem Véu”, obra citada, vol. II, p. 176-177.

[5] “The Theosophist”, Adyar, Índia, February 1885, p. 119.

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No texto acima o autor unifica os seus artigos “Como Evitar a Mediunidade e Seus Perigos” e “A Mediunidade e a Teosofia”, que foram publicados  respectivamente nas edições de abril de 2008 e julho de 2010 do boletim eletrônico “O Teosofista”.

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Para conhecer a teosofia original desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.


Com 19 capítulos e 191 páginas, a obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília.

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6 de fevereiro de 2016

Aprendendo a Ajudar a Humanidade

A Edição Crítica de ‘Luz no Caminho’,
Com Base nos Escritos de Helena Blavatsky 

Joaquim Duarte Soares

Dentro de cada ser humano está a única luz que pode iluminar o Caminho



O estudo das obras clássicas da literatura filosófica é uma das formas de que o estudante dispõe para desenvolver um contato mais profundo com a sua consciência espiritual.

O livro “Luz no Caminho”, de M.C., é, sem dúvida, uma das obras mais importantes. Tendo essencialmente a mesma fonte de outro clássico - “A Voz do Silêncio”, de Helena Blavatsky, ele contém valiosos ensinamentos sobre a arte de viver com sabedoria.

É um privilégio para os estudantes do século 21 terem ao seu alcance os mesmos aforismos que têm auxiliado ao longo de milênios outros aprendizes e aspirantes. Há numerosas edições de “Luz no Caminho”. A edição luso-brasileira publicada pelo “Aquarian Theosophist” é a primeira em qualquer idioma que contém uma análise e um enquadramento das virtudes e falhas do original escrito por Mabel Collins, com base nos escritos de Helena Blavatsky.  

Desde 1885, só agora foi produzida uma abordagem crítica da obra. Este fato faz com que a edição luso-brasileira seja única no mundo e saia na frente do mundo teosófico em língua inglesa. Ao mesmo tempo em que o leitor percebe os erros cometidos por M.C., ele tem a possibilidade de compreender melhor a importância dos ensinamentos presentes no livro.

O valor de uma obra pode ser medido pelo poder que ela tem de inspirar uma conduta superior e uma vida correta. Para que isso ocorra, é necessário por parte do estudante um esforço constante e persistente em procurar levar à prática o que é ensinado. Dessa forma o que é lido passa a ser experienciado e, assim, surge, pouco a pouco, a compreensão daquilo que está além das palavras. Aprendemos em “Luz no Caminho” que o aspirante à sabedoria deve transformar a si próprio no caminho a percorrer: 

“... Dentro de ti está a luz do mundo - a única luz que pode iluminar o Caminho.” (pp. 22 e 23)

A leitura desta edição - com tradução, notas e prólogo de Carlos Cardoso Aveline - torna mais claro um aspecto decisivo do ensinamento dado pelos grandes instrutores da humanidade: a ética, o altruísmo e a cooperação formam uma base inevitável, sobre a qual o aprendiz se pode capacitar para ser útil à Humanidade e alcançar a sabedoria.

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O texto acima foi publicado inicialmente na edição de setembro de 2014 de “O Teosofista”.

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Veja aqui um vídeo de um minuto, produzido pelos nossos websites associados: 




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9 de abril de 2015

As Forças Regeneradoras

A Consciência Planetária Atua de Dentro Para Fora

Joaquim Duarte Soares




A Teosofia original ensina que por detrás de uma aparente ação mecânica das forças físicas no planeta estão causas e forças espirituais.  Há um importante impacto da soma  dos pensamentos e desejos humanos sobre a fisiologia planetária.

Até o momento, em relação à crise climática planetária, a maioria dos seres humanos tem oscilado entre a negação dos fatos e a resignação fatalista.

De um lado, a ciência começa a pressentir mas ainda não se conscientizou da relação interdependente de todas as partes da natureza. Falta-lhe a visão do conjunto, a percepção dos níveis suprafísicos, e do caráter cíclico dos processos evolutivos. Esta concepção puramente materialista possibilita que o modo de vida prossiga como tem sido até agora, como se nada estivesse acontecendo.

De outro lado, a religião não sabe o que dizer de tudo o que tem acontecido e insiste em manter a letargia mental da parte da população que está sob sua influência. Na dúvida, o clero sempre vai dizendo que é preciso aplacar a ira do Deus imaginário que ele criou: e, em função disso, mais rezas, mais velas, mais incensos, mais templos, e mais ofertas para os cofres das igrejas.

A Teosofia demonstra que os desastres aparentemente indiscriminados da natureza têm a sua raiz mais profunda na atividade mental, emocional e física de cada um dos seres humanos, e que os períodos de decadência e renovação civilizatória são acompanhados da regeneração da fisionomia natural e da fisiologia planetária. Tudo se processa de acordo com a Boa Lei do Carma.

Podemos ler em “A Doutrina Secreta”:

“[É] absolutamente falso, e apenas mais uma demonstração da grande presunção da nossa época, afirmar (como fazem os homens da ciência) que todas as grandes transformações geológicas e terríveis convulsões tenham sido produzidas por forças  físicas comuns e conhecidas. Porque essas forças não foram mais do que os instrumentos e os meios para o cumprimento de certos propósitos, atuando periodicamente, e de modo aparentemente mecânico, através de um impulso interno incorporado mas que transcende a sua natureza material. Há um propósito em cada ato importante da Natureza,  cujos atos são cíclicos e periódicos. (…) Há uma predestinação na vida geológica do nosso planeta, assim como na história, passada e futura, das raças e das nações. Isto está diretamente relacionado com o que chamamos de Carma e os panteístas ocidentais chamam ‘Nêmesis’ e ʻCiclosʼ. A lei da evolução nos está levando agora ao longo do arco ascendente de nosso ciclo, quando os efeitos se refundirão uma vez mais, e se tornarão novamente as causas (agora neutralizadas), e todas as coisas que hajam sofrido a influência dos efeitos terão recuperado sua harmonia original.” [1]

As tremendas forças acumuladas pela atividade mental e astral da humanidade acabam por alterar o equilíbrio vital do planeta.

Os pensamentos e emoções negativas emanadas pelos seres humanos desencadeiam autênticas convulsões na face de Gaia. Pensamentos de paz e sentimentos de compaixão se somam às forças regeneradoras da Terra.

NOTA:

[1] Tradução direta da edição original da obra: “The Secret Doctrine”, H. P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, Vol. I, 2004, pp. 640-641.

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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