Poesia em Prosa: Examinando a
Tarefa Sagrada do Pedreiro Livre
António Ramos Rosa

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Nota
Editorial de 2017:
O poeta português Ramos Rosa nasceu em
17
de outubro de 1924 e viveu até setembro
de 2013.
Selecionamos a seguir quatro trechos da
obra “O Aprendiz Secreto”, de António Ramos
Rosa, Quasi Edições, Vila Nova de
Famalicão,
Portugal, 2001, 80 pp. A página de cada fragmento
é indicada ao final do trecho, entre parênteses.
(CCA)
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1. A Construção Circular
A construção será
redonda porque redondo é o ser. Ela será uma frutificação da substância e, na
sua multiplicidade, a unidade viva do desejo.
Todas
as linhas da morada refletirão os enigmas, os turbilhões, os labirintos e os
dilemas do construtor mas o núcleo da construção será uma pequena falha
luminosa que a fará elevar-se para o cimo e para além de todas as determinações
particulares do construtor.
E,
assim, ao ritmo da construção, o sentido se forma num recomeço constante, não
como um eco do passado mas como o frêmito novo de cada gesto construtivo que
desperta, na materialidade da construção, a nascente viva e unificadora do ser.
(p. 20)
2. O Espaço Solar da Realidade
A
tranquila exaltação com que o construtor coloca cada pedra é uma consequência
da maravilhosa insignificância do seu ato.
Se
a morada é uma finalidade, o movimento que determina a construção é em si mesmo
uma tentativa incerta que não tem atrás de si um fundamento ou a energia de um
princípio. A espontaneidade ingênua de cada gesto liberta e regenera o
construtor e cria nele a sua base móvel e o movimento arquitetônico que unifica
e reúne em si os elementos esparsos das impulsões caóticas do ser. Num impulso
vertical o construtor abre o espaço solar da realidade entre os flancos
terrestres e carnais da construção e a vibração silenciosa do invisível espaço.
(p. 22)
3. A Lucidez dos Gestos
Construtivos
O
movimento vertical da construção vem de muito longe, de um fundo sem fundo que
a visão não capta mas que é a condição primeira da visibilidade. A noite desse
fundo é a força que unifica e propaga preenchendo o vazio da pupila e abrindo-a
ao mundo. Essa força é a força da imaginação e a possibilidade de ser o que
ainda não se é. O construtor sente a angustiante iminência do por fazer e o
vazio de uma suspensão em que o nada é a ruína absoluta de toda a esperança.
Mas do fundo desse abismo negativo um movimento ascensional erige o
incomparável à torre da sua construção. É então que ele encontra a forma do ser
como se o longínquo se tornasse acessível na distância. E assim o ser a si
mesmo se junta e todos os gestos construtivos serão como que os frêmitos do ser
unido ao alento lúcido e claro do construtor. (p. 24)
4. A Abertura do Espaço
Cósmico
A
continuidade do tempo é a sucessão de presenças e ausências, de elevações e
quedas, de desaparecimentos no seio do aparecer, de enxames de sombras nos
círculos luminosos. O conhecimento desta dualidade leva o construtor a ter em
conta o vazio e a sombra como condições da densidade e leveza da sua
construção. Assim, na materialidade maciça do ser é preciso abrir concavidades
e vazios para que o fluir do tempo se atualize na matéria com a musicalidade do
ser. A graça e o encanto das formas resulta desse jogo de luzes e sombras, de
plenos e vazios, de formas côncavas e convexas, de planos e curvas, de
tonalidades suaves e de cores intensas. A morada será como uma concha
adormecida com largas e baixas janelas abertas para o mar e os campos monótonos
de sobreiros e olivais, e de um terraço liso e vermelho avistar-se-á também o
mar e o horizonte e, à noite, o silencioso e cintilante instrumento musical [1] das estrelas como um vasto leque
imóvel e rutilante, soberanamente aberto. Esta abertura do espaço cósmico
fomentará a unidade que o construtor procura através da dualidade do tempo. A
casa terá por isso a flexibilidade vegetal de uma planta e a transparência de
um animal aéreo suspenso num voo largo e repousado, interminavelmente aberto à
tranquilidade de um puro espaço. (p. 43)
NOTA:
[1] No original: harmônio. (CCA)
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Em setembro de 2016, depois de uma análise da situação do movimento
esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas. Duas
das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir
um futuro saudável.
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