Escrita por Ordem de um Mestre, a Carta
14-A Examina a Ação das Lojas
Teosóficas
Damodar K. Mavalankar

Visão parcial de
uma foto do início dos anos 1880, com vários teosofistas. Damodar - discípulo
altamente
avançado dos Mahatmas - está aos pés de Helena Blavatsky no lado esquerdo da
imagem.
Nota Editorial de 2017:
O texto a seguir reproduz
a Carta 14-A de “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett” [1], escrita em fevereiro de 1881.
Um
comentário editorial explica:
“A carta 14A foi escrita por Damodar
Mavalankar, uma figura importante nos primeiros dias da Sociedade Teosófica. Ele
era um chela do Mahatma K.H. e mais tarde foi trabalhar com o Mestre
permanentemente.”
“Sinnett, que estava sinceramente interessado
no bem-estar da S.T., havia pedido algumas sugestões. A carta 14A contém as
sugestões de Damodar.”
Uma
nota de Damodar para Sinnett, acompanhando a carta, revela que o texto foi
escrito de acordo com instruções de um Mestre. O teosofista escreveu:
“Respeitosamente submetida à consideração do
sr. Sinnett, sob ordens diretas do Irmão Koot Hoomi. Damodar K. Mavalankar.”
A
esta mensagem o Mestre acrescentou as seguintes palavras dirigidas a Sinnett:
“Com a exceção da taxa - muito exagerada -
os pontos de vista dele são completamente corretos. Essa é a impressão causada
na mente dos hindus. Espero, meu caro amigo, que você inclua um parágrafo
mostrando a Sociedade como ela é. Escute a sua voz interna, e obrigado mais uma
vez. Sempre atenciosamente, K.H.” [2]
Embora
o texto de Damodar não possa ser aplicado de modo literal ao movimento
teosófico do século 21, ele possui grande valor por várias razões.
* A
carta foi escrita sob as ordens de um Mahatma, o que significa que as suas camadas internas de significado são
permanentes.
* Ela
esclarece a relação entre ética, altruísmo impessoal e conhecimento. Estes três fatores alquímicos não podem ser
separados.
* A
terceira razão é que a carta descreve os dois níveis principais do movimento: a
ação humanitária e o treinamento esotérico.
*
Finalmente, Damodar mostra que os membros da confortável classe média que não
conseguem fazer qualquer doação monetária ao Movimento são simplesmente
egoístas em sua atitude e não estão qualificados para aprender em suas almas a
filosofia esotérica.
Em
relação a este último ponto, cabe lembrar que os aspirantes ao discipulado que
ingressavam na Escola Esotérica fundada por Helena Blavatsky faziam um voto em
nome dos seus eus superiores que inclui este item:
“Eu me comprometo a dar todo o apoio que
puder ao movimento em tempo, dinheiro e trabalho.” [3]
Os
Mestres não pensam que todo dinheiro é necessariamente impuro. O esforço
teosófico deve existir no mundo material, e várias das “Cartas dos Mahatmas”
mostram que os Adeptos tentaram ajudar Alfred Sinnett a obter recursos
financeiros para criar um jornal na Índia, cujo nome teria sido “Phoenix”.
No
entanto, o modo como as questões de dinheiro são resolvidas é rigorosamente
honesto de uma maneira que as mentes superficiais nem sempre conseguem ver ou
compreender: a preguiça mental não tem utilidade em filosofia esotérica.
Este
é um texto inspirador de Damodar K. Mavalankar. Ensina a atitude correta diante
do esforço teosófico, tal como ele existe em nossa civilização. Para facilitar
uma leitura contemplativa, alguns parágrafos mais longos foram divididos em
parágrafos menores.
(Carlos
Cardoso Aveline)
000
A Organização
do Movimento
Damodar
K. Mavalankar
(A Sociedade Teosófica)
Com referência ao
Regulamento e à Estrutura da Sociedade, peço permissão para fazer as seguintes
sugestões. Os pontos que enfatizo parecem-me bastante necessários, pois tenho
conversado com muitos hindus e julgo conhecer melhor o caráter hindu do que
qualquer estrangeiro.
Parece
prevalecer uma impressão geral de que a Sociedade é uma seita religiosa. Essa
impressão tem a sua origem, penso, na crença comum de que a Sociedade é
totalmente devotada ao Ocultismo.
Até
onde posso julgar, esse não é o caso. Se assim fosse, seria melhor tornar a Sociedade
secreta e fechar as suas portas para todos, exceto àqueles, muito poucos, que
possam ter demonstrado uma determinação para devotar as suas vidas inteiras ao
estudo do Ocultismo. Caso não seja assim, e ela esteja baseada sobre o
princípio amplo e humanitário da Fraternidade Universal, o Ocultismo, uma das
suas várias ramificações, deve ser um estudo inteiramente secreto.
Desde
tempos imemoriais esse conhecimento sagrado tem sido guardado do público vulgar
com grande cuidado, e só porque alguns de nós tiveram a grande felicidade de
entrar em contato com alguns dos guardiões desse tesouro inapreciável, será
correto de nossa parte abusar da bondade deles e vulgarizar os segredos que
eles consideram mais sagrados até mesmo que as suas vidas?
O
mundo ainda não está preparado para ouvir a verdade sobre esse assunto.
Colocando os fatos diante do público despreparado nós só fazemos parecer
ridículos aqueles que foram tão bondosos conosco, e que nos aceitaram como seus
colaboradores no trabalho pelo bem da humanidade. Ao falarmos demais sobre este
assunto, nos tornamos, até certo ponto, alvos do ódio público. Chegamos ao
ponto de, inconscientemente, levar o público a acreditar que a nossa Sociedade
está sob a direção unicamente dos Adeptos, quando toda a direção está nas mãos
dos Fundadores, e os nossos Instrutores nos dão conselhos só raramente, em
casos excepcionais e de grande emergência. O público viu que os fatos estavam
sendo mal compreendidos, já que os erros na administração da Sociedade - alguns
dos quais poderiam ter sido muito bem evitados pelo exercício de um simples bom
senso - eram expostos de tempos em tempos. Assim, o público chegou à conclusão
de que
(1)
Ou os Adeptos não existem, de modo algum, ou
(2)
Se existem, eles não têm conexão alguma com a nossa Sociedade, e portanto, nós
somos impostores desonestos, ou
(3)
Se eles têm qualquer ligação com a Sociedade, devem ser de um nível muito
inferior, pois, sob a sua orientação, tais erros ocorreram.
Com
as poucas e nobres exceções daqueles que têm inteira confiança em nós, nossos
membros hindus chegaram a uma dessas três conclusões. É portanto necessário, na
minha opinião, que medidas sejam adotadas rapidamente para eliminar essas
suspeitas. Para isso, vejo somente duas possibilidades: (1) ou a Sociedade toda
deve dedicar-se ao ocultismo, e nesse caso deveria ser tão completamente
secreta como uma loja maçônica ou rosacruz, ou, (2) ninguém deveria saber nada
sobre ocultismo, exceto aqueles poucos que, pela sua conduta, mostrassem
determinação de se devotar a esse estudo. Como a primeira alternativa foi
considerada desaconselhável pelos nossos “Irmãos” e claramente proibida, resta
a segunda.
Uma
outra questão importante é a da admissão de Membros. Até agora, qualquer um que
expressasse o desejo de se filiar e pudesse conseguir dois padrinhos que o
recomendassem podia filiar-se à Sociedade, sem que pesquisássemos mais
profundamente sobre a sua motivação. Isto levou a dois maus resultados. As
pessoas pensaram ou fingiram pensar que queríamos Membros apenas para receber
as suas Taxas de Ingresso, com as quais vivíamos; e muitas se filiaram por
simples curiosidade, pois pensaram que, pagando uma Taxa de Ingresso de 10
rúpias, poderiam ver fenômenos. E quando perderam a ilusão neste ponto, elas se
voltaram contra nós e começaram a insultar a nossa CAUSA, pela qual temos
trabalhado e à qual decidimos dedicar nossas vidas.
A
melhor maneira de superar este problema seria excluir esse tipo de pessoas.
Surge, naturalmente, a questão de como isso pode ser feito, já que o nosso
Regulamento é tão liberal que qualquer um é admitido. Mas, ao mesmo tempo,
nosso Regulamento determina uma Taxa de Ingresso de 10 rúpias. Isso é muito
pouco para manter do lado de fora os buscadores de curiosidades que, pela
possibilidade de serem satisfeitos, sentem que podem facilmente gastar essa
soma tão insignificante.
A
taxa poderia, portanto, ser aumentada o suficiente para que somente se filiem
os que são realmente sinceros. Necessitamos homens de princípios e de
propósitos sérios. Um homem assim pode fazer mais por nós do que centenas de
caçadores de fenômenos. A taxa deveria, na minha avaliação, ser aumentada para
200 ou 300 rúpias. Pode argumentar-se que assim talvez excluíssemos pessoas
realmente boas, sinceras e interessadas, mas incapazes de pagar essa taxa.
Porém penso que é preferível arriscar a perda de uma boa pessoa do que admitir
uma multidão de preguiçosos, um só dos quais pode desfazer o trabalho de todas
as pessoas sinceras. E, no entanto, mesmo esta situação pode ser evitada. Pois,
assim como agora admitimos alguém como membro, quando parece merecê-lo
especialmente, sem a necessidade de pagar a sua própria taxa, a mesma coisa
pode ser feita após a mudança proposta.
Damodar
K. Mavalankar, M.S.T. [4]
Respeitosamente
submetida à consideração do sr. Sinnett.
NOTAS:
[1] “Cartas dos Mahatmas Para A.P.
Sinnett”, Editora Teosófica, Brasília, Vol. I, 2001, pp. 90-92. (CCA)
[2] As duas notas acima, uma de
Damodar e a outra do Mestre, estão publicadas como Carta 14-B em “Cartas dos
Mahatmas”. (CCA)
[3] Veja em nossos websites
associados o artigo “O Significado de um Compromisso”, de Autor Anônimo. (CCA)
[4] M.S.T. - Membro da Sociedade
Teosófica. (N. da edição brasileira das Cartas)
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Em 14 de setembro de 2016, depois de uma análise da
situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu criar
a Loja Independente de Teosofistas.
Duas das prioridades da LIT são tirar
lições práticas do passado e construir um futuro saudável.
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