Transcendendo o Sofrimento Humano
Farias Brito
Raimundo de Farias
Brito
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Nota Editorial:
O pensador cearense Farias Brito
(1862-1917)
é um dos principais filósofos
brasileiros e sua
obra apresenta diversos pontos em
comum com
a filosofia esotérica. Entre os
seus livros mais
conhecidos estão “A Base Física
do Espírito”,
“O Mundo Interior” e “A Verdade
Como
Regra das Ações”. Dono de um horizonte
mental amplo, aberto ao estudo
das filosofias
orientais, Raimundo Farias Brito
também
colocou sua visão filosófica em
forma de versos.
(Carlos Cardoso Aveline)
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A Voz da
Consciência
Quando vê-se o medonho, escuro
cataclismo
Que
agita a natureza e abala a humanidade;
O céu -
sombra e mistério, a terra feita abismo,
Arrastada
no lodo a flor da liberdade;
Quando
vê-se que a lei é o grito do canhão,
Que o
mundo é um oceano, um mar de tiranias,
Que a
natureza é um caos, e a vida um turbilhão,
De
múltiplo sentir, de eternas agonias;
O sol
torna-se negro, o céu faz-se sombrio,
E põe-se
um vento forte e gélido a soprar,
E a
vasta natureza então treme de frio
Contendo
no seu seio a escuridão do mar.
Contudo
há uma luz na densa escuridão,
Do abismo
universal - é a lei do sentimento.
E
ergue-se da noite a doce compaixão
E sai da
sombra um astro - o eterno pensamento.
E logo a
consciência exclama aos contendores
Das
lutas do futuro em voz potente e forte,
A fronte
a se inundar nos vastos esplendores
Da
grande natureza e os pés por sobre a morte:
“Eu sou
feita de luz e feita de verdade
E tenho
mais poder que o sol abrasador.
Nasci da
luz do céu, meu corpo é a humanidade;
Tenho
por lei o bem, por ideal o amor.
Para o
bem tenho o olhar das coisas mansas, boas;
Para o
mal tenho o ferro agudo das espadas.
São
todas para vós, para vós minhas coroas,
Almas
filhas do bem, almas abençoadas.
Só há
uma ciência - é a voz da natureza.
Meu
sonho é só de amor, meu pensamento é puro.
Escuridão
e luz! ... Imensa profundeza!
Ó noite,
és o passado. Ó luz, és o futuro!”
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O poema acima, “A Voz da Consciência”, é reproduzido do
volume “Inéditos e Dispersos - Notas e Variações sobre Assuntos Diversos”, de
Farias Brito, compilação de Carlos Lopes de Mattos, Editorial Grijalbo Ltda.,
São Paulo, 1966, 550 pp., ver pp. 524-525.
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