Transcendendo Uma
Noção Ingênua do Amor Ideal
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline

Os animais entendem a linguagem
do amor
Pergunta:
Fala-se
muito hoje em “almas gêmeas”. O que a teosofia tem a dizer a respeito?
Comentário:
Como
ideia popular, o conceito de alma gêmea parece ser uma noção
sobretudo emocional. A ideia expressa a expectativa intensa, mas
irrealista, de formar um casal onde não haja dificuldades de relacionamento.
Onde
há vida, deve haver dificuldades e lições a aprender. Assim, a ideia de alma
gêmea como símbolo de um relacionamento de casal em que não haja coisas a
melhorar não corresponde à realidade. Todo casal é fonte de testes e
lições.
Num
plano mais profundo, a ideia de alma gêmea pode apontar para
uma harmonia, vinda de vidas anteriores - em que não há desgaste desnecessário
na interação entre duas individualidades que se amam. Ainda assim o
conceito é imperfeito, porque neste contexto a ideia de “gêmeo” parece implicar
que as almas têm a mesma idade, ou são iguais.
Na
esmagadora maioria dos casos, quando predomina a harmonia na relação
entre duas almas, uma delas é mais experiente que a outra. Isso ocorre também
no caso de um casal e em qualquer outra instância de convívio, seja no
plano familiar, profissional ou teosófico. A relação entre avós e netos, por
exemplo, é das mais harmoniosas.
A
expressão alma gêmea não possui uma base filosófica sólida. Ela
parece indicar sobretudo a busca de uma harmonia meramente emocional nos
relacionamentos, e também a fantasia de que “alguém será o eco gêmeo das minhas
aspirações”.
Isso
não existe. Cada alma é única. O conceito de “gêmeo” diz respeito
apenas ao plano físico. Uma alma imortal tem o seu próprio carma e dharma, que não
podem ser repetidos por qualquer outro ser. Não é possível clonar o carma de
alguém. A responsabilidade diante da vida é individual. A harmonia
interna (não externa) deve ser buscada com todas as esferas da vida e em
relação a todos os seres. Até os animais entendem a linguagem do amor. A
filosofia esotérica promove a unidade na diversidade. A harmonia criativa é
profunda no casal quando ambos, sendo diferentes, se amam e se colocam a
serviço da Vida. Neste processo, surge a felicidade.
O
amor entre iguais não gera vida. Amor implica um grau de semelhança e
afinidade, sem dúvida; mas também necessita de desafio, diferença e
criatividade.
Os Gêmeos
Segundo Blavatsky
“A
Doutrina Secreta”, de H. P. Blavatsky, revela o simbolismo esotérico do
signo zodiacal de Gêmeos. Um dos gêmeos é o eu superior, ou alma
imortal. O outro é o eu inferior, ou alma emocional. Os dois “eus” do
ser humano vivem em níveis diversos de consciência. Eles são profundamente
diferentes. Do contraste entre eles surge a sabedoria.
Do
mesmo modo, quando duas pessoas se amam, as diferenças devem ser respeitadas e
valorizadas. Algumas das diferenças entre o homem e a mulher geram a mais
profunda felicidade.
A
bem-aventurança surge daquele conhecimento mais profundo de si mesmo que
permite o esquecimento dos assuntos pessoais. O afeto altruísta é uma forma de
autotranscendência. No verdadeiro casal, a meta prioritária é a felicidade da
pessoa amada, e não a felicidade própria.
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Uma
versão inicial do texto acima foi publicada de modo anônimo na edição de agosto de 2012 de “O Teosofista”.
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