A Energia da Alma Imortal Nem Sempre
Gera
Consequências Imediatas Nos Planos
Inferiores
Carlos Cardoso Aveline

Os ciclos cósmicos estão de algum modo presentes na vida diária. O sono é equivalente a um breve pralaya, uma pausa no universo individual de alguém.
A cada noite, quando passamos pelo sono profundo e experimentamos talvez algum outro aspecto daquela experiência mais elevada que ocorre além do reino do nosso eu inferior, somos capazes de transcender (em parte, e por um momento) o círculo de Maya ou Ilusão.
No entanto, nem sempre trazemos muita coisa daquela vida para a nossa consciência diária em estado de “vigília”.
Tanto o filósofo francês Maine de Biran [1] como Helena P. Blavatsky mostraram que o Carma, ou Ação, se desenvolve em linhas inter-relacionadas mas relativamente independentes uma da outra, ou seja, em níveis diferentes de realidade, e com variados graus de densidade.
H. P. Blavatsky citou as seguintes palavras de Félix Ravaisson, um dos filósofos franceses que foram influenciados por Maine de Biran:
“A real existência, a vida da qual toda outra vida é apenas um reflexo imperfeito, uma pálida representação, é a vida da Alma.”[2]
De fato, os acontecimentos no plano espiritual nem sempre geram consequências imediatas nos planos inferiores e densos.
É necessário tempo para que o aprendiz compreenda o mistério setenário de estar realmente acordado. O progresso é gradual, e mais de uma encarnação é certamente necessária para que a vida possa tornar-se diretamente setenária nas múltiplas camadas da sua consciência.
Isto deve ser levado em conta quando vemos limitações e defeitos em outras pessoas e colegas de caminhada espiritual. Uma vez que as pessoas sejam sinceras e estejam fazendo o melhor que podem, será sábio lembrar que há uma diferença entre plantio e colheita. A relação entre as linhas cármicas dos diferentes níveis de consciência é complexa. A energia do céu pode necessitar uma boa quantidade de tempo, antes de manifestar-se na terra.
Em planos mais elevados de consciência, ocorrem acontecimentos que não são lembrados em nosso estado de vigília.
Antes de nascer para a sua encarnação atual, por exemplo, todo ser humano (salvo exceções) teve uma experiência direta em níveis elevados de consciência. O Devachan é a longa e abençoada experiência que ocorre entre duas vidas físicas. A sua proximidade cronológica com a nossa atual presença em estado de “vigília” torna possível compreender a própria substância da vida mais elevada. Além disso, todos experimentamos estados de algum modo equivalentes ao Devachan durante cada boa noite de sono.
Alguns indivíduos estão mais despertos para a realidade espiritual enquanto seus os corpos físicos dormem. A recíproca é verdadeira: no estágio atual da evolução humana, para muitos, o ato de estar fisicamente acordado significa necessariamente estar espiritualmente adormecido.
Quando não prestamos uma correta atenção à vida dentro e fora de nós, a nossa consciência em estado de vigília se torna apenas um sonho ilusório e desorientador. A chamada “vida física” pode ser uma espécie de sonambulismo. Não são poucos os cidadãos que sonham de olhos abertos, e que, quando acordam e recuperam finalmente o bom senso, ficam chocados pelo que veem.
Cabe perguntar até que ponto estamos de fato acordados. Segundo a filosofia esotérica, a verdadeira realidade é mais sutil e mais constante que as condições sempre mutáveis, feitas de sonhos, que reinam na vida física. Acordar de maneira real é uma função da sabedoria.
Cabe observar continuamente a nossa relação com o sono, com os sonhos, com a vida em estado de vigília e com a voz da nossa consciência. Deste modo aprendemos a ter uma Atenção mais contínua enquanto passamos pelos diversos estados de consciência que se sucedem, uma e outra vez, a cada dia de 24 horas.
NOTAS:
[1] “Nouveaux Essais D’Anthropologie”, em “Oeuvres de Maine de Biran”, Tome XIV, Introductions par Pierre Tisserand et Henri Gouhier, Presses Universitaires de France, Paris, 1949, 440 pp., ver pp.195-402.
[2] “Memory in the Dying”, um artigo de H.P. Blavatsky incluído na coletânea “Theosophical Articles”, H.P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, volume II, 1981. Veja a p. 378. Há uma menção prévia a Ravaisson alguns parágrafos acima, no texto de H. P. B.
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O artigo “Diferentes Linhas da Vida” está publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 18 de março de 2013. Uma versão inicial dele faz parte da edição do mesmo mês de março de 2013 de “O Teosofista”.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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