15 de março de 2013

Pensamentos Paralelos Sobre o Caminhar

À Maneira dos “Versos
Gêmeos” do Dhammapada Budista

Carlos Cardoso Aveline

O Vazio possui um nome secreto, e é um alicerce confiável



Para um indivíduo fraco
os fatos externos são fortes.
Para um homem forte,
os acontecimentos são  suaves.

Para o homem duro,
as situações são flexíveis.
Para alguém que é leve,
toda circunstância é dura.

Só um homem profundo
encara os desafios com leveza.
Um cidadão superficial
enxerga as coisas externas
como se fossem profundas.

Um cidadão sábio vê
o superficial como superficial
e o profundo como profundo.

O cidadão firme é
conduzido por sua consciência interior.
Uma natureza frágil é controlada pelos
ventos inconstantes do mundo externo.

Um caráter estável
leva a uma vida longa;
e possuir uma vontade forte
desenvolve um caráter estável.

Basta uma dose de covardia
para preocupar-se com coisas de curto prazo,
e ser perturbado por sentimentos de raiva.

Se um cidadão que pretende ser forte
enfrenta despreparado desafios
que supõe ser suaves, basta que os
obstáculos cresçam para a fraqueza ressurgir
sem aviso em sua alma, mostrando
que ainda não resiste aos ventos do carma. 

E mesmo um homem profundo,
se enfrentar os fatos sem preparo e atenção,
poderá ver os obstáculos tornarem-se firmes
e será levado por eles como uma folha
de outono é arrastada por uma brisa qualquer.

A vitória humana
resulta da experiência repetida
da tentativa e do erro.
A vitória da sabedoria é gradual.
Ela só acontece aos que sabem esperar.

Um dia, finalmente, o cidadão  
vê o que é sério como sério,
e reconhece o que é leve como leve.

Ele aprende a existir em
profundidade para coisas duráveis,    
e a ser como fino ar para coisas leves.

O cidadão equilibrado passa a ter
em si mesmo a substância do mistério.
É assim que alcança a sabedoria de não
agarrar-se a coisa alguma - por livre opção. 

Ele percebe então um fato oculto
que só a experiência pode revelar:    

Aquele que é sábio adota como
alicerce da sua vida o pleno e total
Vazio, o Espaço puro, a Lei impessoal.

O cidadão bem informado sabe que levita  
Enquanto mantém os pés colocados com força no chão.

Ele flutua no Espaço
Como parte do seu planeta e sistema solar.
Ele avança noite e dia com sua aldeia cósmica
pelo espaço insondável da pequena Via Láctea,
no reduzido Grupo Local de galáxias.

Consciente ou inconscientemente [1],
o eu superior de cada ser humano está unido ao Cosmo.
A renúncia - a aceitação do Vazio universal -  traz felicidade.
O nome secreto do Vazio é Plenitude.


NOTA:

[1] Na etapa evolutiva atual da humanidade, a alma imortal ou eu superior de cada ser humano está situada bem acima da sua consciência média, e é, portanto, “inconsciente”; ou mais precisamente “supraconsciente”. A consciência do eu superior não é cerebral. Ela flutua sobre a consciência voluntária e a inspira quando sua luz chega até o reino do eu inferior. O foco médio de consciência do indivíduo fica abaixo do nível do eu superior. Isso ocorre porque Antahkarana, a ponte entre eu superior e eu inferior, ainda é frágil e está “em construção” em nossa humanidade. Uma das metas do processo iniciático e da caminhada teosófica é tornar o eu superior cada vez mais presente e consciente na vida diária - através do despertar da inteligência espiritual ou Buddhi-Manas. O processo requer diversas encarnações. Ao longo dele, as águas do eu inferior, inicialmente turbulentas, se purificam e passam a refletir a luz que vem do alto. 

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O poema acima foi publicado em março de 2013.    

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.

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