17 de outubro de 2013

A Regra da Sinceridade

Carta de um Sábio Oriental Mostra o
Aspecto Rigoroso do Verdadeiro Aprendizado   

Um Mahatma dos Himalaias
 Uma imagem dos Himalaias, em quadro de Nicholas Roerich


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Nota Editorial:

Reproduzimos de O Teosofista,
edição de novembro de 2012, a carta 24
da primeira série de “Cartas dos Mestres de
Sabedoria”, compiladas por C. Jinarajadasa
(Editora Teosófica, Brasília). O texto tem
importância por vários motivos, três dos quais
devem ser citados aqui. Em primeiro lugar, a
carta mostra a franqueza e a linguagem direta
usada por sábios autênticos. O contraste é
enorme com a linguagem adocicada dos falsos
mestres fabricados por Charles Leadbeater, Annie
Besant, Geoffrey Hodson, e outros desinformados.

Em segundo lugar, ela indica o perigo fatal
da falta de sinceridade ao longo do caminho do
conhecimento. Vale sempre o axioma indicado
por Helena P. Blavatsky no artigo “Chelas e Chelas
Leigos”: “antes de desejar, faça por merecer”. Em
terceiro lugar, a carta mostra a situação de um
discípulo direto que está a um passo da queda.

(Carlos Cardoso Aveline)

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A Um Chela

Então você realmente imaginou que - quando lhe fosse permitido considerar-se meu chela - as negras recordações de seus erros passados estariam também ocultas de meu conhecimento, ou que eu sabia e mesmo assim perdoava? Você imaginou que eu era conivente com eles? Tolo...! três vezes tolo! Foi para ajudar a salvá-lo de seu Eu mais vil, despertar-lhe melhores aspirações; fazer com que a voz de sua “alma” desrespeitada fosse ouvida; para dar-lhe um estímulo para fazer alguma reparação... por estes motivos, somente, seu pedido para se tornar meu chela foi atendido. Somos os agentes da Justiça, não os lictores [1] sem sentimentos de um deus cruel. Mesmo indigno como você tem sido, colocando fora de modo vil seus talentos... cego como tem sido em relação aos clamores de gratidão, virtude e equidade, ainda assim você possui as qualidades de um homem bom - (adormecidas, na verdade, até agora!) e de um chela útil. Mas até quando continuarão suas relações conosco - isto depende somente de você. Você pode esforçar-se para sair do lodo, ou deslizar de volta até profundezas de vício e miséria agora inconcebíveis para sua imaginação... Lembre-se... de que você está diante de seu Atma, o qual é seu juiz, e que nem sorrisos, nem falsidades, nem sofismas podem enganar. Até aqui você recebeu apenas pequenos bilhetes de mim e - não me conhecia; agora me conhece melhor, pois sou eu que o acuso diante de sua consciência alertada. Você não precisa fazer promessas da boca para fora a Ele [2] ou a mim, nem confissões pela metade. Ainda que... você derrame oceanos de lágrimas e rasteje na poeira, isso não alterará em nada a balança da Justiça. Se quiser recuperar o terreno perdido, faça duas coisas: promova a mais ampla, mais completa reparação... e dedique suas energias ao bem da humanidade... Tente preencher cada dia com pensamentos puros, palavras sábias, ações amáveis. Não darei ordens, nem irei mesmerizar você, nem o influenciarei. Mas sem que perceba e quando talvez você vier - como tantos outros - a desacreditar de minha existência, estarei observando sua trajetória e simpatizando com suas lutas. Se você sair vitorioso no final de sua provação, serei o primeiro a dar-lhe parabéns. E, agora, há dois caminhos à sua frente, escolha! Quando tiver escolhido poderá consultar seu oficial superior visível - H. S. Olcott,  e ele será instruído por mim, através de seu Guru, para guiar você e mandá-lo adiante...

Você aspira a ser um missionário da Teosofia: seja um - se puder sê-lo de fato. Mas antes de sair pregando com um coração e uma vida prática que contradizem seu discurso - bendiga o raio que cause a sua morte, pois cada palavra irá acusá-lo no futuro. Vá e consulte o Cel. Olcott - confesse seus erros para este bom homem - e peça seu conselho.
                                                                                                                                  
K. H.

NOTAS:

[1] Lictor: Oficial da antiga Roma que acompanhava os magistrados com um molho de varas e uma machadinha para as execuções de sentença. (Nota da edição brasileira de Cartas dos Mestres de Sabedoria”.)

[2] Ele: No original, It: refere-se ao Atma. (Nota da edição brasileira de Cartas dos Mestres de Sabedoria)

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