É
Necessário Fazer da Bandeira
Ética
a Mola Mestra da Credibilidade
Michel
Temer

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O
texto a seguir é reproduzido do livro “Democracia
e Cidadania”, de Michel Temer, Malheiros Editores
Ltda.,
SP, Brasil, 2006, 288 pp., pp. 21-22. O artigo foi
publicado
pela primeira vez em 12 de agosto de 1994.
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Muita gente me pergunta se é possível existir ética na
política. A dúvida se justifica pela descrença das pessoas nos políticos e
também nas instituições, principalmente depois da série de escândalos e
denúncias que a sociedade brasileira teve de presenciar, nos últimos anos.
Respondo a esta questão com muita
convicção: é possível, sim, haver ética na política. E mais: para a melhoria da
qualidade política, em nosso País, a ética se faz absolutamente necessária.
Ser ético significa, antes de tudo,
ter noção exata das responsabilidades da representação política. E procurar
cumpri-las integralmente, sem fazer concessões e particularismos egocêntricos e
a interesses escusos. A ética na política é o território da aplicação correta
de normas, do zelo pela coisa pública, do respeito aos cidadãos, da defesa dos
direitos de todos, sem privilégios a grupos, da preservação dos valores que
forjam o caráter de um povo, como a solidariedade, a liberdade, a consciência
do dever e o amor à Pátria.
A política não é a esteira para a
promoção pessoal nem a escada para a locupletação de riquezas. A política é a
ponte para a elevação das condições da sociedade. Por seu meio e por suas
formas, aprimoram-se as instituições, aperfeiçoam-se os costumes, melhora-se a
qualidade de vida, promovem-se as condições de bem-estar coletivo.
Ser ético é fazer da política o
caminho para tais conquistas. É ter coragem para assumir riscos, determinação
para afugentar as pressões e as vaidades, força para atacar os vícios e
mazelas.
O compromisso ético está amparado
numa postura de dignidade pessoal e profissional. Os homens públicos precisam
dar o exemplo de retidão. As identidades maculadas pela mancha da ilicitude
caem no descrédito e contaminam o processo político.
Por isso, hoje, em nosso País, é
imprescindível que façamos da bandeira ética a mola mestra da credibilidade
social. A ética e a dignidade poderão conferir ao sistema político a grandeza
que ele simboliza. E de que tanto precisa para voltar a ser respeitado pela
sociedade.
Creio firmemente na ética e na
dignidade, como valores que podem nos levar a um sistema democrático mais
desenvolvido. Estamos no limiar do terceiro milênio e não podemos mais admitir
a barbárie, a impunidade, a indecência, os atos ilícitos, o fisiologismo, a
corrupção desenfreada, a má-fé, a existência de partidos sem doutrina, o uso das
máquinas para locupletação de grupos, a mesquinhez, as emboscadas, os jogos
inescrupulosos.
Simón Bolívar, um dia, disse:
“Não há boa-fé na América, nem entre
os homens nem entre as Nações. Os tratados são papéis, as constituições não
passam de livros, as eleições são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida um
tormento.”
Não podemos deixar que o desabafo do
grande Libertador se transforme em realidade. Com ética e dignidade, poderemos
abrir a janela da mudança política. E melhorar os padrões e costumes dos
representantes do povo no Parlamento Nacional.
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