Textos e Fragmentos Sobre Uma Tarefa Decisiva
Helena P. Blavatsky
Helena P. Blavatsky

Busto de H. P. Blavatsky (1831-1891), feito por Alexey Leonov
00000000000000000000000000000000000000
Nota
Editorial:
O material que traduzimos a seguir merece ser lido uma
O material que traduzimos a seguir merece ser lido uma
e outra vez, de modo calmo e reflexivo. O tema não é fácil: o
estudante deve lembrar que enquanto a intenção não for pura e
elevada, é melhor que a
vontade seja fraca. Assim, pelo menos,
a
derrota e a queda serão
menores. Antes que a intenção se fortaleça,
ela deve ser responsável,
constante, e deve estar definitivamente
voltada para o mundo do
altruísmo e da verdade universal. Toda
intenção vitoriosa é inseparável
da ética e da fraternidade.
(Carlos Cardoso Aveline)
0000000000000000000000000000000000000000000000000000
1. A Vontade e o Desejo
A
vontade é uma posse exclusiva do ser humano neste nosso plano de existência.
Ela o distingue do animal, no qual só o desejo instintivo está desperto.
O Desejo, no seu significado mais amplo, é a força criativa única do
Universo. Neste sentido, não há diferença entre ele e a Vontade; mas nós, seres
humanos, nunca conhecemos esta forma de Desejo enquanto somos apenas humanos.
Portanto, a Vontade e o Desejo são considerados aqui como conceitos opostos.
Assim, a Vontade é fruto do que é Divino, do Deus no ser humano; o
Desejo é a força que movimenta a vida animal.
A maior parte dos humanos vive no desejo e através do desejo,
confundindo-o com a vontade. Mas aquele que quiser vencer deve separar a
vontade do desejo, e fazer com que sua vontade predomine; porque o desejo é
instável e muda o tempo todo, enquanto a vontade é firme e constante.
Tanto a vontade como o desejo são absolutamente criadores, e formam o ser humano e também o ambiente ao seu
redor. Mas a vontade cria de modo
inteligente, e o desejo cria de modo cego e inconsciente. O homem,
portanto, faz a si mesmo à imagem dos
seus desejos, a menos que ele crie a si
mesmo segundo o modelo do que é Divino, através da sua vontade, que é um
produto da luz.
A tarefa do ser humano é dupla: despertar a vontade, para fortalecê-la
pelo uso e pela vitória, torná-la capaz de governar com poder absoluto em seu
corpo; e, ao mesmo tempo, purificar o desejo.
O conhecimento e a vontade são os instrumentos para obter esta
purificação. [1]
2. O Desejo Purificado
Quando o
desejo busca o que é puramente abstrato, quando o desejo perdeu todo traço ou
tonalidade de “eu”, então ele tornou-se puro.
O
primeiro passo para essa pureza é eliminar o desejo pelas coisas materiais, já
que elas só podem ser apreciadas pela personalidade separada.
O
segundo passo é deixar de desejar para si até mesmo coisas abstratas como
poder, conhecimento, amor, felicidade ou fama; porque, afinal de contas, elas
são todas egoístas.
A
própria vida ensina essas lições; porque todos esses objetos de desejos
tornam-se frutos do Mar Morto no
momento em que são alcançados. Isto nós aprendemos por experiência própria. A
percepção intuitiva captura a verdade positiva
de que a satisfação é alcançável só no infinito; a vontade torna essa convicção
um fato real na consciência, até que, afinal, todo desejo está centrado no que
é Eterno. [2]
3. Trechos de “Ísis Sem Véu”
* Eliphas Levi, o mago moderno, descreve a luz astral na seguinte frase:
“Dissemos que para adquirir o poder mágico duas coisas são necessárias:
libertar a vontade de toda escravidão, e usá-la sob controle.” [3]
* A vontade cria, pois a vontade em movimento é energia, e a energia
produz matéria. [4]
4. Fragmentos de Textos
Diversos
[Citações selecionadas de vários
volumes de “Collected Writings” de H. P. Blavatsky. Ao final de cada trecho, indicamos o volume e
a página.]
* Mesmo admitindo que a vontade do
ser humano não seja a causa direta de efeitos magnéticos, ainda assim, como assinala o senhor Donato, o
célebre magnetizador de Paris, a vontade “influencia e dirige muitas forças
misteriosas na natureza, das quais a ciência desconhece até a existência”.
(Vol. II, p. 282.)
* …Será que o nosso amigo supõe que algum Adepto chegou alguma vez a
esta condição sem vencer todos os obstáculos interiores pela pura força da
VONTADE e pela FORÇA DA ALMA? Um tal adeptado seria uma mera farsa. “UM ADEPTO
NÃO É FEITO, MAS FAZ A SI MESMO”, era o lema dos antigos rosacruzes. (Vol. III, p. 28.)
* O AMOR, quando é autenticamente
altruísta e está unificado com a
VONTADE, é um “poder” em si mesmo. ( Vol. IX, p. 286.)
* A regularidade na vida consiste de regularidade na fala e na ação, e
estes não podem existir separados da regularidade no pensamento e no
sentimento. Em Teosofia Prática, portanto, é necessário que estas cinco
condições coexistam, isto é: PENSAMENTO
CORRETO, SENTIMENTO CORRETO, PALAVRA CORRETA, AÇÃO CORRETA, VIDA CORRETA. (Vol. XII, p. 213.)
* A oração e a contemplação,
combinados ao ascetismo, são os melhores instrumentos de disciplina para
tornar-se um Teurgista, quando não há uma iniciação regular. Porque a intensa
oração pela realização de algum objetivo é apenas uma intensa vontade e um intenso desejo, o que
resulta em Magia inconsciente. (Vol. XIV, p. 116.)
* O coronel Olcott [5] nunca
foi um ateu “que nós saibamos”, mas um budista esotérico, que rejeita a ideia
de um Deus pessoal. A oração autêntica
- isto é, o exercício da nossa intensa vontade sobre os eventos (normalmente
provocados pelo acaso cego), com a meta de determinar a sua direção, tampouco foi jamais algo rejeitado
por ele. Até mesmo as orações tal como são normalmente entendidas, não são “rejeitadas”
por ele, mas simplesmente consideradas inúteis, quando não são absurdas e
ridículas, como no caso de orações para parar ou para provocar chuvas, etc. Ao
usar a palavra “oração” ele quer dizer -
VONTADE, o desejo ou comando expresso
magneticamente de que tal e tal
coisa benéfica para nós ou para outros venha a ocorrer. (Vol. IV, pp. 519-520.)
NOTAS:
[1] O fragmento “A Vontade e o
Desejo” é traduzido de “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, T.P.H., Adyar,
Índia, volume VIII, p. 109.
[2] O “O Desejo Purificado” é
reproduzido da obra “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline,
Edifurb, SC, 2007, p. 101. Fonte em inglês: “Collected Writings”, H. P.
Blavatsky, T.P.H., Adyar, volume VIII, p. 129.
[3] “Ísis Sem Véu”, H.
P. Blavatsky, Ed. Pensamento, Volume I, p. 210. Após verificar a edição
original em inglês (Theosophy Co., volume I, p. 137), corrigimos um pequeno erro de tradução.
[4] “Ísis Sem Véu”, H.
P. Blavatsky, Ed. Pensamento, Volume I, p. 212. Após verificar a edição original
em inglês (Theosophy Co., volume I, p. 140),
corrigimos um pequeno erro de tradução. Neste contexto, o termos inglês
“force” corresponde a “energia”, em português.
[5] Alusão a Henry S. Olcott,
cofundador do movimento teosófico em 1875, em Nova Iorque, ao lado de Helena P.
Blavatsky e William Q. Judge.
000
Para
conhecer um diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos
últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas
na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.

Com 28 capítulos e 170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da
Universidade de Blumenau, Edifurb.
000