Meios Para Encontrar a Harmonia Interior
Carlos Cardoso Aveline
O equilíbrio
ecológico é apenas a fraternidade, a harmonia, e a relação de causa-e-efeito
unindo as diferentes formas de vida nos vários reinos da natureza. Mas sou
humano, tenho muito por aprender, e é correto que me pergunte:
“Será possível viver de fato a fraternidade
no dia-a-dia da sociedade que me rodeia hoje? Como posso viver uma ecologia interior, harmonizando-me com a
vida humana em geral, aqui e agora, por meu próprio mérito e esforço e sem
impor condições prévias aos outros?”
Algumas ideias básicas podem ser úteis na
tentativa de viver a ecologia da mente e de ser igualmente fraterno para com
todos.
1) Em primeiro lugar, o erro alheio não deve fazer com
que eu me sinta autorizado, nem remotamente, a errar da
minha parte. Perceber um erro não justifica
outro. A verdadeira autoestima não surge da comparação em que se atribui
desvantagem aos outros. A satisfação com o erro alheio é muitas vezes uma fuga
de nossas próprias frustrações, e deve ser vencida pela observação atenta do
mecanismo da inveja e da competição.
2) O erro alheio não deve causar excessiva
indignação. Pode-se
combater o erro alheio, especialmente quando ele tem consequências negativas
sobre seres inocentes. Mas a indignação excessiva nos cega e tira a
serenidade. É preciso combater o erro, não a pessoa que errou. E a
indignação exagerada diante do erro pode ser um disfarce da inveja. Perde-se
muita energia com indignação emocional diante dos erros alheios. Em
alguns casos, estes erros são inclusive imaginários, no todo ou em parte.
O excesso de indignação é uma energia que seria melhor empregada no
nosso próprio autoaperfeiçoamento. Esta última tarefa é algo que ninguém pode
fazer por nós.
3) Saber ouvir a crítica aos nossos próprios erros. Ouvir os outros, em geral, já é difícil. Ouvir uma crítica a nós é
mais difícil ainda. Inconscientemente, gostamos de supor que somos infalíveis.
É preciso ouvir de fato as críticas dirigidas a nós. São verdadeiras? Então é preciso coragem para mudar. São
falsas? Depois de um exame honesto, neste caso, devemos deixar que a crítica
injusta entre por um ouvido e saia pelo outro.
4) Não devo enxergar erros alheios onde eles não existem.
Muitos erros alheios são miragem e
alucinação. É cômodo transferir para fora pontos fracos nossos, ou exagerar as
falhas dos outros para poder chegar à conclusão de que somos perfeitos, e
apenas o mundo é que - injustamente - não nos compreende.
5) Devo fazer o bem. Não basta manter-me livre tanto do mal quanto do sentimento de raiva
contra o mal. É preciso também fazer coisas boas, duráveis, equilibradas. E
isto não só no aspecto pessoal, como também na dimensão familiar, social e
política. Porque não há muros dividindo um setor e outro da nossa vida. Não é a
crítica que elimina o mal, mas a prática firme e paciente do bem, por parte de
quem procura ter o máximo de discernimento diante da vida. A crítica é um fator
auxiliar importante, de grande valor preventivo.
6) Devo tornar acessível aos outros a prática do
equilíbrio e da harmonia. Em casa,
no trabalho, na convivência com pessoas e animais, devo colocar ao alcance de
todos alguns mecanismos simples pelos quais a fraternidade humana possa
manifestar-se. Isto será eficaz na medida da simplicidade pessoal com que for
feito. Deve ser algo natural. Se não estiver ocorrendo, todo o processo precisa
ser repensado, porque está faltando algo importante.
7) Ter uma meta e um programa definidos para minha vida. A vida de uma pessoa é algo demasiado importante para perder-se em meio
aos problemas e ilusões diárias, lembranças de ontem e esperanças para a semana
que vem. Quais são os meus objetivos existenciais? De que forma pretendo fazer
da minha vida algo realmente significativo e útil? O que desejo aprender e
realizar até os 95 anos de idade? São perguntas importantes. E não é por
casualidade que, quando enfrentadas, acabam conduzindo aos outros seis pontos
abordados anteriormente. O sétimo ponto é, de certa forma, o primeiro.
Deste modo, a ecologia da mente está presente
nos relacionamentos, assim como nas ideias, nas emoções e em todos os aspectos
da vida diária. Antes de olharmos o ecossistema externo, cabe olhar para o
nosso conteúdo interior: estaremos sendo ecologicamente corretos no campo das
relações humanas? Devemos plantar com calma e durante muito tempo aquilo que
desejamos colher no futuro.
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O texto acima corresponde ao capítulo quatro
da obra “Apontando Para o Futuro”, Carlos Cardoso Aveline, Ed. PrajnaParamita,
Porto Alegre, 1996.
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Sobre a teosofia do ambiente natural e a
ecologia da mente, veja o livro “A Vida
Secreta da Natureza”, de Carlos Cardoso Aveline.
O livro foi publicado pela Editora Bodigaya,
de Porto Alegre, tem 157 páginas divididas por 18 capítulos e está na terceira
edição, de 2007.
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