O Movimento Teosófico
Não Deveria Ser Mais
Numeroso?
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
Estudante A:
A teosofia é uma filosofia abrangente. Ela descreve o ser humano como
fundamentalmente imortal. A filosofia esotérica ensina princípios básicos.
Entre eles estão a lei do carma, a lei da reencarnação, a autorresponsabilidade
perante o universo, e a unidade dinâmica de tudo o que há. É uma filosofia que
desperta as pessoas para a vida eterna. Por que motivo, então, os teosofistas
são poucos?
Estudante B:
Talvez eles venham a ser muitos, dentro de pouco tempo. É possível que
haja um grande despertar no século 21. Mas, em geral, a evolução humana não
ocorre no mesmo ritmo de uma Copa do Mundo de futebol. Ela se desenvolve ao
longo de milênios incontáveis. O movimento teosófico moderno, fundado em 1875,
ainda não completou duzentos anos. Portanto, ele é tão recente quanto uma muda
de árvore que acaba de germinar. Sua ação é pioneira. Ele precisa abrir caminho
ali onde não há caminho. Se os teosofistas não fossem pioneiros, seria fácil
reunir multidões. No futuro eles serão mais numerosos que as torcidas de
futebol durante uma Copa do Mundo. Por enquanto, é preciso trabalhar sem
expectativa de resultados visíveis.
Estudante A:
Como é possível abrir caminho em meio à rotina da ignorância organizada?
Estudante B:
Surpreendentemente, é menos difícil do que parece, uma vez que haja uma
visão de longo prazo. É necessário desenvolver uma forte determinação. Isso só
pode ocorrer pouco a pouco. O estudante deve erguer-se sozinho, por decisão
própria, renunciando às facilidades ilusórias da “viagem de carona” e da
“psicologia do rebanho”. Ele deve tornar-se um ser plenamente atento. Deve
desenvolver uma visão clara que o tornará capaz de distinguir o que é ainda
apenas um potencial. A possibilidade sagrada da sabedoria altruísta é
invisível ao olhar desatento. Ela é incompreensível para as mentes que se
apegam a uma doença crônica chamada imediatismo.
Estudante A:
Em que consiste, então, o trabalho de uma escola autêntica de filosofia?
Estudante B:
O trabalho teosófico espalha a semente da potencialidade universal e a
coloca ao alcance de milhares de pessoas. Cada indivíduo receberá da filosofia
esotérica aquilo que é capaz de perceber. Ele sintonizará com aquela porção do
ensinamento que compreende e que pode adotar como sua, pelo critério da
harmonia interior. A gradualidade deve ser respeitada.
Na medida em que o trabalho é pioneiro, aqueles que provocam o surgimento
de um movimento teosófico autêntico não podem ser numerosos. H.P. Blavatsky
teve seus motivos para dedicar uma das suas obras mais importantes, A Voz do
Silêncio, “Aos Poucos”.[1]
Ela sabia que, frequentemente, são os Poucos que fazem a diferença, e não as
multidões.
Estudante A:
Como alguém pode perceber que seu lugar é entre os Poucos?
Estudante B:
Todo progresso real é feito com autonomia. A escolha vem da alma.
Vejamos um exemplo prático. O pequeno núcleo de associados da Loja Independente
de Teosofistas vem construindo em mais de um idioma as bases de um movimento
teosófico que segue o ensinamento original de Helena Blavatsky.
Eles elegeram a si mesmos para desenvolver uma escola de filosofia
teosófica. Eles ouviram um chamado do seu interior, por afinidade, não-verbal.
Eles estão geograficamente espalhados, e internamente unidos nesta tarefa
inédita. Eles crescem lentamente em número. Sabem que o único alicerce durável
do movimento está na relação de cada estudante com sua própria consciência.
Estudante A:
Digamos que um estudante decide “eleger a si próprio para a tarefa”. O
que é que ele tem a ganhar com isso?
Estudante B:
Ele tem acesso a algo de um valor inestimável: um treinamento autêntico.
Um treinamento verdadeiro implica dificuldades e desafios, seja para um atleta,
um iogue, ou um teosofista. Só os falsos gurus prometem um caminho fácil. Mas o
treinamento em teosofia é um autotreinamento.
Não há em filosofia esotérica original um treinador ou guru externo. Há
uma autodisciplina que surge gradualmente, à medida que o caminhante trilha o
caminho. Há uma ajuda mútua entre os estudantes; mas ela respeita e incentiva a
independência individual, combinando-a com a solidariedade.
Se a fonte de inspiração não for encontrada dentro de cada um, não
adianta procurá-la fora. Daí a importância da autonomia do aprendiz.
Estudante A:
Segundo alguns, os desafios que surgem durante a caminhada são
significativos.
Estudante B:
O fato de que o caminho autêntico é íngreme e avança morro acima
constitui uma bênção, porque é do alto do morro que se tem uma visão ampla. Se
os desafios fossem poucos, o caminho não teria valor.
Estudante A:
Mas quais são os obstáculos?
Estudante B:
Externamente, não são os mesmos para todos. Eles variam conforme as
qualidades positivas de cada estudante. Mas todo aquele que iniciar a caminhada
passará por períodos de lutas e desafios. Entre as possíveis armadilhas estão:
1) A dispersão;
2) O desânimo;
3) A impaciência;
4) A falta de discernimento.
Estes obstáculos estão ligados entre si. A falta de discernimento, por
exemplo, leva à dispersão. A impaciência produz desânimo. O desânimo bloqueia o
discernimento, e assim sucessivamente. Estes desafios são vencidos pela
combinação de cinco fatores, cuja sequência também varia de pessoa para
pessoa:
1) A concentração;
2) A coragem;
3) A paz-ciência;
4) A observação atenta; e
5) A vontade de aprender.
Assim como os desafios, os fatores positivos somam energia uns com os
outros. A paciência possibilita a concentração. A vontade de aprender abre
caminho para cada um dos outros itens. A coragem é resultado da concentração. A
observação atenta amplia a vontade de aprender; e assim por diante. É claro que
há muitos outros fatores: estamos escolhendo alguns para exemplificar.
É preciso saber atuar com a intensidade de quem busca resultados de
curto prazo, e ao mesmo tempo desenvolver a paciência de quem sabe e compreende
que tem centenas de milhares de anos pela frente. O verdadeiro eu vive numa
escala de tempo muito ampla. Por outro lado, ele inspira em nós, ao longo da
vida diária, uma vontade de agir a cada instante do modo mais correto
possível.
No plano do eu superior, cada ser humano sabe que a eternidade está
presente no momento exato do agora.
Ele também sabe que todo momento presente é parte do tempo eterno.
Quando se torna profundamente consciente disso, ele age à altura.
NOTA:
[1] A obra “A Voz do Silêncio”, de H.P. Blavatsky, está disponível na
íntegra em nossos websites associados.
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada na edição de junho de
2011 de “O Teosofista”.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa
análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes
decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das
suas prioridades a construção de um
futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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