Por
Que os Teosofistas
Não
Dão Demasiada Atenção aos Efeitos
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
Tanto
no mundo material como no plano da realidade sutil, tudo o que ocorre de modo
perceptível já aconteceu antes, necessariamente, no plano das causas.
Cada evento que
é percebido por alguém teve a sua cadeia de causação colocada em movimento
antes de se tornar um fato consumado.
As causas, em si
mesmas, são invisíveis. Os fatos
externos podem ser detectados pelos cinco sentidos, mas quando os mesmos fatos
se transformam em Causas e geram consequências, a sua ação já não é tão fácil
de perceber, a menos que haja uma atenção e um exame adequados por parte do
observador. Aquele que busca a verdade deve ter uma estrutura de consciência
que não fique presa à vasta rede cármica dos efeitos que interagem entre si.
As causas dos
fenômenos são Ocultas à visão externa, e o Ocultismo ou teosofia é uma ciência
das Causas. Ela estuda o que está além dos aspectos aparentes dos seres, das
ações e das situações.
Os estudantes
atentos de teosofia buscam as Fontes dos acontecimentos. Eles combatem os Alicerces, e não apenas os
sintomas, do Sofrimento e da Ignorância.
Eles produzem e estimulam as Causas de libertação interior. Preferindo
agir no plano Causal, frequentemente deixam que os efeitos cuidem de si mesmos.
Este é um sentido oculto da famosa frase “Que os mortos enterrem os seus
mortos” (Mateus, 8: 22).
De fato, a vida
está sobretudo nas causas. Os pequenos fatos são a origem dos grandes
acontecimentos. A vitalidade flui desde o plano oculto - a dimensão da semente
- para o plano da germinação, isto é, dos pequenos resultados. Em seguida, o
que é pequeno se transforma no que é grande.
Finalmente, as grandes estruturas tendem a desaparecer, de acordo com a
Lei dos Ciclos. Deste modo elas abrem espaço para que novas sementes germinem e
novas formas de vida cresçam, tornando visíveis outros aspectos da Vida Oculta
e Infinita.
O Desejo de cada
indivíduo tem uma relação preferencial com os efeitos, assim como a sua Vontade
ativa está relacionada com o mundo das Causas.
Os Sábios e os Ocultistas seguem a lei da conservação da energia e focam
seu esforço central nas Causas, para não perder demasiado tempo com aquilo que
dificilmente pode ser mudado ou evitado - os efeitos.
Dirigindo as
Causas, o indivíduo pode influenciar melhor o mundo dos efeitos. Geralmente a
recíproca não é verdadeira. É bem mais difícil influenciar o mundo das Causas
agindo desde o mundo dos efeitos. No entanto, causa e efeito não podem ser
separados. Cada efeito é também uma causa, e cada causa, um efeito. No Tripitaka, o cânone budista, o “Sutra dos
Preceitos do Discípulo” afirma:
“Meu filho, se o
bodhisattva pode contemplar causa e efeito, o efeito da causa e a causa do
efeito, ele pode deste modo romper as causas e os efeitos, e obter causas e
efeitos. Se o bodhisattva pode romper e obter causas e efeitos, isso é chamado
de ‘o
efeito do Dharma’ [1], o rei
de todos os dharmas, e o autocontrole de todos eles.” [2]
Nas “Cartas dos
Mahatmas” encontramos a seguinte definição sobre o que é filosofia esotérica:
“Nossa filosofia
se encaixa na definição de Hobbes. Ela é preeminentemente a ciência dos efeitos
pelas suas causas e das causas por seus efeitos (...).” [3]
De acordo com o
budismo, os doze Nidanas formam a “cadeia de causação” da vida e do sofrimento
dos seres humanos. Os nomes tradicionais
dos Nidanas [4] servem como exemplos
para estimular o estudo e a observação da cadeia de causação presente em cada
aspecto da vida. Tal cadeia de causação é, naturalmente, a cadeia do carma. Ela
é a rede simétrica de apegos e rejeições, desejos e medos, formas de prazer e
formas de dor. É esta cadeia que
transforma os seres humanos em prisioneiros cegos do ciclo desconfortável de
nascimento e morte.
Nas Cartas dos
Mahatmas, depois de descrever o mundo nidânico dos apegos humanos, um Mestre de
Sabedoria faz uma pergunta difícil a um discípulo leigo que queria ter um
diálogo mais de perto com os sábios dos Himalaias. O Mestre escreveu,
referindo-se aos homens e mulheres comuns:
“Irá você tentar
- para diminuir a distância entre nós - libertar-se da rede da vida e da morte
em que todos eles estão presos (.....) ?” [5]
De fato, tudo
depende de cada indivíduo. A libertação só pode ser verdadeira se for
autolibertação.
O Carma é o
grande professor, e a Vida nos dá valiosas oportunidades para que aprendamos.
No início de
cada novo ciclo do tempo - um novo ano, uma nova década ou um novo dia de 24
horas - nós temos condições mais propícias para focar nossa consciência em uma
compreensão adequada das Causas da ignorância, para evitá-las; e das Causas da
obtenção da Sabedoria, para colocá-las em movimento de modo mais intenso,
definido e eficaz.
NOTAS:
[1] Dharma: Do
sânscrito, dever, lei, doutrina, ensinamento.
[2] “The Sutra on Upasaka Precepts”, BDK English
Tripitaka, Translated from the Chinese of Darmaraksa, Numata Center for
Buddhist Translation and Research, 1994, 225 pp., ver p. 38.
[3] “Cartas dos
Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, edição em dois volumes, Carta 88,
volume II, p. 54.
[4] Veja a lista
dos doze Nidanas no item correspondente do “Glossário Teosófico” de H. P.
Blavatsky, Ed. Ground, SP.
[5] “Cartas dos
Mahatmas”, Editora Teosófica, Carta 47, volume I, p. 214.
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O artigo acima foi publicado pela primeira vez em inglês em
nossos websites associados. Título original: “Setting Causes in Motion”. A presente tradução foi feita pelo
próprio autor e, portanto, não é necessariamente literal em todos os
parágrafos.
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Sobre
o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição
luso-brasileira de “Luz no Caminho”,
de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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