Equilíbrio é Necessário Para Que um
Peregrino Avance na Direção do Que é Sagrado
Carlos Cardoso Aveline
Sob a aparência
frequentemente caótica das coisas externas, tudo flui em paz no planeta e no
universo.
Nenhum
cidadão necessita tomar medidas práticas para que o Sol se apresse de modo a
erguer-se na hora certa no horizonte, pela manhã. Tampouco há necessidade de
fazer um esforço pessoal para colher os frutos da sua ação altruísta. O bom trabalho,
feito com moderação no rumo do que é elevado, nos capacita a confiar no futuro.
A
paz nasce de dentro: em algumas ocasiões, inclusive, ela desce sobre as pessoas
de boa vontade como um estado mental elevado de duração especialmente longa. Um
tal bem-estar envolve o eu inferior inteiro do indivíduo e o coloca numa
espécie de “estado abençoado de suspensão animada”. A bênção com frequência
ocorre depois de concluída uma tarefa difícil e demorada.
Durante
os estados de descanso contemplativo, é correto fazer pequenas coisas úteis que
não exigem concentração. A mente externa será capaz de pequenas ações em
aspectos superficiais da vida. Basta que o seu funcionamento seja lento e não faça
qualquer esforço. Nossa natureza interna estará parcialmente afastada,
renovando em silêncio suas forças em planos meditativos.
Os
descansos psíquicos profundos não podem ser buscados artificialmente. Se o
peregrino faz um trabalho correto sem nada esperar em troca no plano pessoal, as
formas elevadas de descanso passarão a ser merecidas por ele. No tempo certo,
elas ocorrerão.
Em
outras palavras, o descanso mais reparador acontece depois do trabalho correto.
A qualidade do repouso depende da qualidade do esforço. Este é um dos motivos
pelos quais devemos administrar com bom discernimento as energias vitais tanto nos
períodos de trabalho como nas horas de repouso. Um conhecimento da lei dos
ciclos indicará quando é adequado fazer esforços intensos; quando cabe
descansar; e como se pode usar corretamente o princípio da moderação.
Em
todas as situações, a relação do peregrino com as pequenas coisas práticas da
vida deve ser manejada de modo a preservar a sua relação com as coisas maiores.
O magnetismo dos assuntos pequenos, que parece ser semi-inteligente, irá sugerir
que ele lhes dê uma atenção exagerada, perdendo a relação de harmonia com o
mundo das coisas maiores. O magnetismo dos fatores insignificantes é na verdade
o seu próprio carma passado.
Gradualmente,
a força de vontade espiritual se torna intensa e os laços com questões menores
ficam atenuados. A consciência do indivíduo se expande à medida que ele aprende
a lidar sem apego com os fatos externos e diminutos da vida. A caminhada humana
é feita de ritmos. Tem a ver com hábitos. Quando criamos um padrão energético saudável,
o progresso se torna mais fácil. Ao fazer uma coisa certa, fica menos difícil realizá-la
corretamente outra vez. Mais adiante ela pode tornar-se uma parte do nosso ser.
Cabe
focar a consciência no silêncio do coração várias vezes por dia. A tarefa é
fácil e pode ser realizada sem parar o trabalho em que estejamos engajados. Com
uma pequena quantidade de força de vontade, interrompemos a rotina mental para evocar
o que é sagrado.
Basta
reduzir o ritmo dos esforços durante meio minuto, continuando com a mesma
atividade em câmara lenta, enquanto o “vazio” meditativo é vivenciado por um
instante na consciência do coração. Depois da pausa, a paz se expande e a
eficiência aumenta.
A existência
humana é feita de ciclos que fluem dentro de ciclos, e estes são parte de
ciclos maiores, até o infinito. Saber descansar é tão importante quanto saber
agir. Levando em conta a lei da expansão e da retração, começamos a conhecer a
pulsação eterna do universo e entramos em harmonia com a lei que governa todas
as coisas.
Ao
longo do caminho da sabedoria, meditação e oração constituem fatores centrais
no relaxamento do peregrino. O tipo correto de oração não é um pedido a uma
divindade externa: constitui um voto independente e afirma uma decisão
responsável. Há uma oração de origem judaica que celebra a conclusão dos ciclos
de trabalho humano. Ela faz uma reflexão sobre o final de cada dia, e anuncia ao
mesmo tempo a paz do final de uma encarnação inteira, quando foi vivida com
honestidade. [1]
Diz
ela:
Oração Para o Pôr do Sol
“O Sol desce, as sombras sobem.
O dia da Lei Universal está perto do
fim.
A orbe brilhante voa agora para sua
casa,
Uma brisa suave antecipa o repouso.
Que a Lei Universal faça culminar o
nosso trabalho antes da noite:
Que haja luz no entardecer.
Enquanto o Sol se demora ainda nas
nuvens,
Elevemo-nos, elevemo-nos até o céu;
Que o amor possa lançar os seus raios
pacíficos,
Dando nova esperança às nossas almas.
Ah, que a hora final possa ser clara:
Na véspera, que haja luz.
E quando o Sol da nossa vida retirar-se,
Quando as sombras do entardecer nos
rodearem,
E o nosso coração cansado já não bater,
Quando uma sepultura cobrir nossa
vestimenta terrestre,
Nós teremos uma visão gloriosa:
Na véspera, haverá luz.” [2]
Através
de contemplações meditativas adequadas, o peregrino organiza sua própria
vontade de avançar na direção do mundo sagrado. A maneira eficaz de orar faz
com que o eu inferior do indivíduo vivencie a sua unidade essencial com todos
os seres.
Reflexão Para o Final de Semana
Por
meio de orações em que a autonomia individual é respeitada, a consciência do
peregrino se torna um templo ativo. Esta é uma oração para o início do final de
semana:
“Nós exaltamos a Lei Universal, e
agradecemos a ela por todas as bênçãos da semana que agora termina.
Agradecemos pela vida, pela saúde, e
pela força; pela casa, pelo amor e pela felicidade; pela disciplina das
provações e tentações; pela felicidade do nosso êxito e prosperidade.
A Lei estabelece: em seis dias devemos
fazer todo o nosso trabalho, e o sétimo dia deve ser dedicado à contemplação da
lei e ao descanso.
A Lei Universal nos eleva pelas bênçãos
do trabalho, e nos santifica no amor e na graça pelas bênçãos do descanso.” [3]
Em
cada instância do mundo, o modo ótimo de agir inclui o hábito de consultar
nossa consciência interna. Se ouvirmos a
voz do silêncio, nossa existência mudará para melhor - em meio a desafios
significativos - e poderemos trabalhar mais tempo, ficando menos cansados.
Aprender
a viver é uma forma de alquimia interior.
Para
a filosofia esotérica, devemos garantir que a nossa alma está satisfeita com o trabalho
que fazemos, e também com a escolha das ações que decidimos não realizar. Quando
todos os níveis da consciência individual estão identificados com a tarefa que
realizamos e aprovam as renúncias que fazemos na vida, a energia vital é
economizada e o caminho da sabedoria pode ser trilhado em segurança.
NOTAS:
[1] Nas duas orações do presente artigo,
evitamos personificar divindades ou tratar de reduzi-las à condição humana. Em
função disso, substituímos na tradução a palavra “Deus” pelas palavras “Lei
Universal”. No esoterismo judaico, assim como na teosofia, “Deus” é uma
coletividade impessoal de inteligências divinas, cuja ação expressa a Lei Una.
[2] Traduzido do livro “The
Union Prayerbook for Jewish Worship”, Central Conference of American Rabbis,
Volume II, New York, 1962, 350 pp., ver p. 325.
[3] Do livro “The Union Prayerbook for Jewish Worship”,
Central Conference of American Rabbis, Volume II, 1962, ver p. 36.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento
esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja
Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas
diversas dimensões da vida.
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