Palestra Feita na Amazônia em 1938
Mostra o Caráter Decisivo da Boa Vontade
C. Jinarajadasa
C. Jinarajadasa, falando em Belém do Pará em Março de
1938
Nota Editorial de Junho de 2018
Ninguém está livre de derrotas, mas a honestidade e
a nobreza das intenções são dois elementos fundamentais para que o aprendizado da
vida seja valioso.
O teosofista C. Jinarajadasa
errou bastante por haver confiado na falsa clarividência de Annie Besant e
outros desinformados. Porém foi sincero e íntegro e se manteve leal ao ideal elevado
do progresso humano. C.J. contribuiu decisivamente para a preservação dos
ensinamentos autênticos de teosofia, e defendeu Helena Blavatsky com firmeza e
lealdade. [1]
O texto abaixo transcreve uma
palestra feita durante uma das visitas de Jinarajadasa ao Brasil. Este é o título
original da publicação na revista “O Teosofista” de maio-junho de 1938: “Alocução do Sr. Jinarajadasa aos membros da
Federação Espírita Paraense, em sua recepção naquela Sociedade”. [2]
Acrescentamos notas explicativas visando
esclarecer o significado de alguns termos desde o ponto de vista da filosofia
esotérica.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Uma Nova Era de Paz Para Todos
C. Jinarajadasa
Desde que estive em Belém, há 4 anos, o meu
trabalho de propaganda da Teosofia levou-me a muitos países do mundo. Visitei
duas vezes os Estados Unidos e a Austrália, tendo também ido até a China e ao
Japão; conheço as condições das coisas na França, Itália, Alemanha e Inglaterra,
tendo também visitado esses países. O mundo inteiro está perturbado; os homens
desconfiam uns dos outros e há mais ódio no mundo do que em qualquer outro
período de sua história.
Que podemos nós fazer para
auxiliar? Creio que podemos aprender alguma coisa, do que foi dito pelos anjos [3] quando do nascimento do menino
Jesus. Eles proclamaram “Paz no mundo aos entes de boa vontade”! Notai que os
anjos não prometeram paz a todos os homens, mas somente aos de boa vontade.
Porque, a paz que todos nós desejamos - paz em nossos corações e em nossas
mentes, paz entre os vizinhos e paz entre as nações - não é um milagre que seja
a tarefa que Deus[4] tenha de
realizar, mas uma morosa reconstrução do pensamento, do sentimento e da ação,
que é, o dever de toda a humanidade.
Aumentar a boa vontade no mundo -
é essa a maior necessidade do mesmo mundo. Que se atravessa no caminho? O medo
e a ignorância. Os homens temem muitas coisas, especialmente a morte. Os homens
têm o conhecimento de muitos fatos e leis da natureza, mas eles ignoram que
Deus [a Lei] trabalha nas coisas do
mundo, com o Seu plano para melhorar o mundo. Os espíritas de todo o mundo
muito têm feito para fazer desaparecer o pavor da morte. Os teosofistas também
têm trabalhado nessa seara, mas muito especialmente para mostrar que existe um
Plano de Deus para a evolução humana, o qual pode ser compreendido por todos os
homens.
Todo o homem ou mulher, que
descobriu qualquer verdade, tem o dever de compartilhar essa verdade com
outros. Mas nós não podemos convencer e auxiliar os outros a se tornarem
melhores, querendo mostrar simplesmente pelas nossas palavras que achamos a
verdade; o único meio de prová-lo é pelo exemplo de nossa própria vida. É pelos
nossos atos que provamos que caminhamos na verdadeira estrada.
Deveis estar lembrados que Cristo
[5] ensinou: “Há dois deveres: o
primeiro amar a Deus, e o segundo o nosso semelhante.” No momento atual, o
nosso semelhante necessita do nosso auxílio; devemos desenvolver nele a boa
vontade. Mas como? Não lhe falando somente, mas servindo-o. Todo o lugar aonde
se encontram espíritas e teósofos deve ser um centro de boa vontade em ação.
Muito pode ser feito, neste sentido, para com as crianças; reúnam-nas aqui,
façam-nas cantar e brincar; façam-nas felizes, e assim haverá mais boa vontade
no mundo. Eu não mencionarei outros meios de desenvolver boa vontade. A vossa
intuição vos sugerirá esses meios.
Devemos mostrar aos nossos amigos
e inimigos que não nos reunimos aqui para pensar em nossa felicidade e
salvação, mas sim para saber melhor como servir a Deus e aos homens.
Temos que provar, pelo que
fazemos neste salão, que acreditamos numa era de paz para todos os homens; e
nos comprometamos que, em cada reunião, trabalharemos para aumentar a boa
vontade nos corações de todos.
Nós, espíritas e teósofos,
compreendemos melhor que os outros, alguns dos mistérios de Deus. Isso nos
obriga a esquecer-nos das nossas necessidades, e a lembrar-nos do Plano de Deus
para todos, e trabalharmos dia e noite para esse Plano.
Paz na terra aos entes de boa
vontade - esse é o nosso trabalho. Apesar de sermos poucos, assim mesmo podemos
fazer muito.
Não disse o Cristo: “Onde duas ou
mais pessoas se reunirem em meu Nome, com elas estarei”?
Trabalhem, meus irmãos, com os conhecimentos
que tendes, para desenvolver boa vontade entre os homens, e assim tereis paz e
felicidade no vosso coração e na vossa mente.
Também descobrireis essa suprema
alegria, que o Cristo, vosso Irmão Maior, está sempre convosco, animando-vos,
inspirando-vos, e guiando-vos. A paz, que os anjos anunciaram, também pode ser
vossa, se trabalhardes pelo sucesso do Plano do Cristo, do plano da boa vontade
que Ele veio proclamar, mas que ainda não foi realizado.
Mas pode ser realizado, se cada
um de vós for um mensageiro da boa vontade e um centro de paz e amizade onde
estiverdes: no lar, na rua, no vosso escritório ou estabelecimento, e neste
salão.
C. Jinarajadasa.
Belém, Pará, 29 de Março de 1938.
NOTAS:
[1] Veja em
nossos websites o artigo de C. Jinarajadasa intitulado “A Natureza Heroica de H. P. Blavatsky”.
(CCA)
[2] Ver pp.
83-84. Trazemos em nota de rodapé as primeiras palavras da transcrição, de
caráter mais específico daquele momento:
“Senhores e dignos Membros da União
Espírita Paraense: Eu vos agradeço cordialmente as saudações com que me
distinguistes, e o convite que me foi feito, para visitar-vos e dizer-vos
algumas palavras, neste dia festivo, da comemoração que estais fazendo.” (CCA)
[3] “Anjos”.
O termo é evitado em teosofia clássica, porque é demasiado vago e pode ter
muitos significados contraditórios. Se fosse necessário usar esta palavra,
caberia definir “anjos” como “inteligências celestiais de caráter impessoal”.
(CCA)
[4] “Deus”.
Não existe, nem no cosmo nem fora dele, qualquer coisa parecida com os deuses
monoteístas fabricados pelas diversas seitas de religiões. Se quisermos aceitar
o uso desta palavra, será preciso deixar claro que o termo significa a lei universal,
o conjunto coletivo das inteligências celestes, e o eu superior de cada ser
humano, sua alma imortal, cuja substância pertence ao cosmo. (CCA)
[5] “Cristo”:
princípio cósmico universal, sexto princípio da consciência humana, símbolo, às
vezes personificado, da alma espiritual de cada membro da humanidade. Deste
Cristo universal, o Jesus do Novo Testamento é uma manifestação aos humanos.
(CCA)
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O artigo acima foi publicado dia 27
de junho de 2018.
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Sobre a história do movimento teosófico no
Brasil, veja em nossos websites associados os artigos “Breve Histórico da Teosofia no Brasil”, “Leadbeater Diz Que Matou Brasileiros”, “Bispo Católico Visita Plantações em Marte”, “A Teosofia no Brasil”, “Besant Anuncia Que é Mahatma”, “Origem do Movimento Teosófico no Brasil” e “A Fraude da Escola Esotérica”.
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histórico disponíveis em nosso acervo online: “Carta de Seidl Para Gervásio, Sem Data”, “Como Surge a Loja Rio de Janeiro”, “Krishnamurti e a Teosofia”, “Fabricando um Avatar”, “Celebrando o Dia Oito de Maio”, “Krishnamurti e as Ilusões Besantianas”, “O Racismo em Nome da Teosofia”, “A Teosofia e a Segunda Guerra Mundial” e “Prelúdio Para Um Irmão Que Parte”.
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Em
14 de setembro de 2016, um grupo de estudantes decidiu criar a Loja Independente de Teosofistas. Duas
das prioridades da LIT são tirar
lições práticas do passado e construir um futuro saudável.
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