Notas Sobre o Privilégio de Ser Autorresponsável
Carlos Cardoso Aveline

Aquele que perde o ânimo de elevar a si próprio sente a tentação de rebaixar
o seu próximo.
Quem pretende elevar-se, ao contrário, vê nos outros o seu próprio
crescimento e não tem prazer em imaginar defeitos em seu semelhante.
Vejamos alguns exemplos.
Na escola, quando os alunos pensam mal do professor ou professora,
conseguem uma desculpa para estudar menos e uma (falsa) justificativa para cair
no mau comportamento.
Cada vez que um cidadão se habitua a falar com revolta das autoridades,
fica mais fácil e mais natural, para ele, sonegar imposto, mentir ao seu
próximo ou viajar acima da velocidade permitida, nas ruas e estradas, tratando
depois de subornar o guarda de trânsito.
Ao invés de valorizar o que têm, o indolente e o desanimado ambicionam o
que não possuem.
Quem não gosta de si mesmo não resiste à tentação de odiar as figuras de autoridade.
Então a “culpa” pela sua própria incapacidade interna de aprender o melhor é projetada
sobre o “líder”, para evitar a sensação desagradável de enxergar suas próprias
falhas.
Portanto, aquele que faz pouco dos dirigentes sem assumir a
responsabilidade pelo que pensa está buscando justificativas para não melhorar
a si mesmo.
O mesmo se aplica a quem fala mal de determinada situação, sem tomar
providências para que ela melhore ou para afastar-se dela. Também se aplica a
quem se considera “destinado a sofrer eternamente”, ou “condenado à derrota”. O
uso de “profecias negativas” funciona como desculpa para não tentar o melhor,
fugindo da responsabilidade.
Por outro lado, aquele que desenvolve ações saudáveis e construtivas dentro do que está ao seu alcance abre
caminho para o bem-estar durável. Quem planta o que é bom colherá cedo ou tarde
o que lhe corresponde.
Tudo começa no pensamento.
Colocados estes fatos, uma coisa fica clara. Existe um espírito crítico que
leva a uma ação prática curativa, como questionar o professor displicente e
exigir que as autoridades sejam honestas.
E existe outro tipo de espírito crítico, exercido de modo irresponsável,
que serve como justificativa para seguir os ditames da inveja, os impulsos
cegos da competição, e para dar uma desculpa (esfarrapada) para a falta de
coragem de agir com nobreza por mérito próprio e afastar-se do erro.
Confrontado com os seus próprios medos, o desinformado prefere ver falhas (reais
ou imaginárias) no outro.
Quando muita gente opta por fugir do autoconhecimento, surge nos grupos a “necessidade”
de fabricar inimigos e bodes expiatórios a serem odiados “unanimemente”.
Assim se espalha o sentimento de frustração. Em seguida os índices de
agressão verbal e física aumentam na comunidade, ou entre as comunidades. A
astúcia e os sentimentos desleais se alastram.
Diante disso, o desafio é manter o bom senso e a simplicidade. Não podemos
corrigir facilmente os defeitos alheios, mas podemos combater as nossas
próprias falhas e isso ninguém poderá fazer por nós.
Para que uma sociedade seja capaz de curar a si própria, basta haver um
certo número de pessoas com coragem de afastar-se do erro, quando o veem, e de
aproximar-se do acerto, e de focar no que é correto enquanto recebem o oposto
de aplausos. O sacrifício da comodidade permite a paz interior.
O prazer de ser responsável e tentar o melhor é mais duradouro que a
satisfação infantil de pensar mal dos outros. A pureza de coração e a decisão
de elevar-se por mérito próprio são a base da cooperação sincera.
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O texto “Largando o Hábito de Pensar
Mal” foi publicado dia 8 de agosto de 2018.
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