Quando a Mente se Eleva,
a Alma Alcança o Equilíbrio
Carlos Cardoso Aveline

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É errado
pensar que “tudo é impermanente”. A mudança exterior, por exemplo, é eterna. As
leis fundamentais da Natureza são permanentes. A sucessão de ciclos é estavelmente
real, assim como o Oceano do Universo.
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A filosofia esotérica afirma que é preciso levar em conta a constante mudança
das marés nos diversos níveis do mar da existência. A autodisciplina deve ser principalmente
interna e independente das mutáveis circunstâncias externas. Deste modo ela
permanece transcendente, flexível, e não pode ser facilmente quebrada. A boa autodisciplina
é rígida nos fatores essenciais, e adaptável nos fatores secundários.
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Com frequência ocorre que indivíduos aparentemente espertos enganam a si
próprios ao pensar que podem obter vantagens pessoais duradouras através de várias
formas de falsidade. A ilusão ocorre porque, sendo eticamente insensíveis e espiritualmente
cegos, eles ignoram a lei do carma. Como resultado disso, só conseguem ver os
fatos do curto prazo.
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Os resultados iniciais da desonestidade podem ser agradáveis. Quando o carma
amadurece o suficiente, porém, os mentirosos compreendem finalmente que não há
razão para eles comemorarem suas tentativas fraudulentas de serem “muito
espertos”.
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Não há razão para pensar que uma criança não pode compreender os conceitos
básicos de teosofia. A lei do carma e a ideia de reencarnação, por exemplo,
podem ser compreendidas por pessoas de qualquer idade, assim como o princípio
universal do respeito por todos. O velho deve estar tão disposto a aprender
quanto uma criança, ou mais.
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A lei da simetria expressa a lei do carma. Devido à ação infalível desta lei, um
passo adiante só pode ser dado quando o peregrino está disposto a aceitar o
grau correspondente de sacrifício. Embora os sacrifícios sejam com frequência
extremamente dolorosos, eles são apenas aspectos desagradáveis do desapego, que
em si mesmo é uma fonte de contentamento e de destruição da ignorância. Menos é
mais: a simplicidade voluntária abre o caminho para a bem-aventurança.
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Uma absoluta justiça é inevitável: a lei do carma não aceita suborno. Ela não
faz favores em troca de orações, rituais ou arrependimento verbal. Nenhum
salvador externo protegerá qualquer pessoa das consequências das suas ações.
Cada um deve, portanto, examinar o seu próprio grau de lealdade à ética e ao
que é verdadeiro. As ações eticamente corretas têm consequências, e os
pensamentos generosos cedo ou tarde frutificam.
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O desperdício de energia cria mais fumaça do que fogo ou luz. Economizar as
forças vitais é parte da sabedoria, porque a tarefa do peregrino não inclui
intensificar os aspectos “febris” da peregrinação. Em cada ponto carmicamente
crítico da jornada, eles irão intensificar-se por si mesmos.
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Uma visão de longo prazo e o compromisso incondicional com a meta tornam
possível um nível crescente de eficiência energética. O esforço intenso é
fundamental, mas ele deve ser feito na direção correta.
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Todos desejam ter uma vida cujos alicerces sejam firmes, e cujas raízes estejam
em solo permanente. Poucos parecem compreender que tais raízes e alicerces só
podem ser duráveis quando estão situados na consciência celestial do eu
superior de cada um. A verdadeira Árvore da Vida tem como solo o céu infinito.
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Quando estamos na presença do que é divino, há uma paz interior, ainda que ao
mesmo tempo a batalha seja intensa. Se o peregrino se sente emocionalmente
desconfortável, deve resgatar a presença interna do sagrado. Uma vida correta é
um processo probatório que ocorre enquanto o peregrino se mantém em harmonia
com a sua consciência.
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O significado da expressão “a voz do silêncio” é simples. Quando há silêncio em
algum plano de percepção, os sons mais sutis podem ser escutados. Quem pára de
fazer barulho para si mesmo se torna capaz de ouvir o som dos reinos superiores.
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A roda da vida inclui círculos cármicos de pensamentos, emoções e ações. Ideias,
sentimentos e gestos nobres estão perto do eixo da roda, a Mônada, o eu
superior, Atma. A vida inferior gravita em torno da periferia da Roda,
representada pelo mundo físico. À medida que a mente do peregrino se eleva, a
geometria da sua alma passa por uma mudança fundamental: o foco da consciência
se afasta dos níveis barulhentos da roda. Ele se aproxima do centro estável e sintoniza
com o eixo da alma, que é feito de paz. Deste ponto o peregrino pode facilmente
ver a unidade da vida inteira.
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A lei do Carma se expressa através da lei dos ciclos. Embora todas as ocasiões
sejam boas para plantar sementes adequadas, a germinação delas e a colheita dos
seus frutos terão de acontecer no tempo correto, e não quando se poderia
desejar desde um ponto de vista pessoal.
As
decisões quanto ao que plantar e como plantar devem levar em conta o momento
cíclico em que o plantio ocorre; e também o solo
ou situação cármica em que isso é feito. Quando chega o momento do trabalho de
colheita, é preciso lembrar que a tarefa deve ser realizada com calma e
cuidado, porque a colheita normalmente contém as sementes a serem usadas na
próxima estação de plantio.
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Ao desenvolver um ponto de vista independente para olhar a realidade, podemos prestar
verdadeira atenção aos objetos e acontecimentos.
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O apego fecha os olhos do indivíduo, impedindo-o de observar o fluxo livre da
vida e reduzindo a sua capacidade de aprender.
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Devemos adquirir um sistema estável de referências para olhar para a vida. O
marco referencial deve ser durável. No entanto, aquilo que vemos com ajuda da teosofia
ética irá mudar o tempo todo, porque a vida tem o seu próprio dinamismo e não
está programada para obedecer às expectativas de ninguém.
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O artigo acima foi publicado como texto
independente em 24 de abril de 2019. Uma versão inicial e anônima dele está
incluída na edição de maio de 2016 de “O
Teosofista”, pp. 17-19.
Embora o título “Ideias ao Longo do
Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the
Road”, do mesmo autor, não há uma identidade exata entre os conteúdos das
duas coletâneas de pensamentos.
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