30 de novembro de 2014

A Lei da Simetria

A Vida é Dual e Encontra a Paz no Equilíbrio

Carlos Cardoso Aveline




Um eixo simétrico é como o fiel de uma balança: ao redor dele há fatores diferentes e proporcionais, que compensam uns aos outros. 

A simetria é a expressão geométrica do equilíbrio e da justiça, e tudo é simétrico no universo e no caminho espiritual. Os exemplos disso são inumeráveis.

Há um eixo simétrico entre os dois hemisférios cerebrais do ser humano, e outro eixo que estabelece o equilíbrio entre o mundo sutil e o mundo manifestado.

No plano físico, a terceira lei de Newton - da ação e da reação - é a lei da simetria. No plano moral, virtudes opostas e complementares, como a coragem e a prudência, ou a generosidade e o discernimento, encontram seu ponto de equilíbrio no eixo simétrico que as une e as distingue.

Há uma simetria entre fatores semelhantes. Quanto maior a sabedoria, maior a serenidade. O equilíbrio recíproco entre os fatores da vida existe também na ordem inversa: quanto maior a sabedoria, menor ignorância. Quanto maior o discernimento, menor a imprudência. De um modo ou de outro, todos os fatores se equilibram e se compensam. As etapas avançadas do caminho teosófico não são uma exceção. Existe um eixo simétrico na relação entre os Mestres de Sabedoria e os estudantes de filosofia esotérica, e um raja-iogue dos Himalaias escreveu no século 19:

“Cada passo dado por alguém em nossa direção nos forçará a dar outro passo em direção a ele.” [1]

Onde há vida, há necessidade de equilíbrio. A simetria marca a construção do corpo humano desde a cabeça até os pés.  Há uma simetria entre o ar que aspiramos e o ar que colocamos para fora, ao respirar. A existência de eixos simétricos nas dimensões sutis do mundo expressa a lei da harmonização constante de todas as coisas, também conhecida como  Lei do Carma.   

O conceito de Círculo de Pascal define o universo como um círculo cuja circunferência não está em parte alguma, e cujo centro está em todas as partes. [2]   Podemos acrescentar que cada “centro” do universo  é um ponto de simetria que une dois raios, iguais e opostos entre si.  

O Equilíbrio Entre Plantar e Colher

Quando dizemos “O que se planta, se colhe”, estamos falando de um processo que é simétrico. Existe uma simetria invisível entre nascer e morrer, entre a infância e a velhice, entre o céu e a terra, o espiritual e o material. O casal humano forma um todo simétrico: por isso pode gerar vida nova. Em qualquer situação dada, é quando encontramos o eixo de simetria que alcançamos a compreensão, a plenitude e a paz.

No círculo do zodíaco, cada signo tem o seu oposto simétrico. As virtudes e lições de cada signo existem de modo simétrico e proporcional em relação às lições e virtudes do signo diretamente oposto. Peixes ensina a percepção do todo, e Virgo ensina a percepção do detalhe.  Touro irradia estabilidade, e Escorpião transmite a transmutação. Em Áries aprendemos a iniciativa e a luta, e em Libra aprendemos a harmonização que busca a justiça. Sagitário dá lições sobre unidirecionalidade, e Gêmeos ensina sobre flexibilização. Capricórnio transmite a disciplina e o rigor do mestre Saturno; e Câncer transmite o amor e a sensibilidade da Lua. Leão nos mostra como reunir; Aquário nos mostra como libertar, e como ser independente.

Precisamos de todas estas lições. Por isso a alma humana faz uma peregrinação habitando sucessivamente cada casa ou “mansão” energética do céu, e assim aprende com cada um dos pontos de vista, até conhecer o centro da roda da vida universal.

Não só o corpo humano, mas o corpo das plantas e dos animais possuem eixos simétricos. O que está à esquerda é proporcional ao que está à direita. E cada ser é um resumo do planeta e do sistema solar. O eixo da Terra é um eixo simétrico. O movimento diário da Terra em torno do seu próprio eixo faz com que seja renovado continuamente o contato do planeta com as forças morais e espirituais que governam o sistema solar. O movimento anual da Terra em torno do Sol também possui um eixo simétrico, e ele se reflete, como vimos, nos pares de opostos do zodíaco. Tudo o que há no universo se desenvolve criativamente de acordo com a lei da simetria, cujo nome mais popular é lei do carma. O mundo emocional está longe de ser uma exceção.

A Simetria Mágica dos Sentimentos


Podemos encontrar um centro duradouro de felicidade quando compreendemos e transcendemos, em parte, a oscilação pendular da vida entre dor e prazer.

Cada desejo pessoal tende a provocar uma dor ou frustração correspondente, até que a soma da experiência acumulada de prazer ou dor chega a zero.

Nenhuma dor é eterna, e a cada sofrimento corresponde um alívio. Ao observar o jogo de extremos, alcançamos o ponto de equilíbrio do movimento pendular da vida. Ele está no centro da nossa consciência: a felicidade é estar sereno.

Nossa responsabilidade cármica fica aumentada quando evocamos o Caminho espiritual, e quanto maior ela for, mais exigente será a equação entre êxito e frustração em nossa caminhada pela vida. A austeridade ensinada por Saturno passa então a ser fundamental. Uma vez que você tenha adotado uma meta nobre, se você não procurar por Tapah, a prática da austeridade, Tapah irá procurar por você.

As “dificuldades da vida” que aparecem espontaneamente e sem que você as convide são formas involuntárias de Tapah, e foram geradas pelo Carma. Devemos agradecer à Lei por ajudar-nos a percorrer o Caminho da Austeridade mesmo quando fugimos dele. Deste modo descobrimos o Equilíbrio que está no centro de todos os movimentos pendulares.

Kahlil Gibran escreveu sobre a simetria da vida emocional. No livro “O Profeta”, ele afirma:

“Quando estiverem tristes, olhem de novo para seus corações e verão que na realidade estão chorando por aquilo que era sua alegria. Alguns de vocês podem dizer, ‘A alegria é maior que a tristeza’, e outros dirão, ‘Não, a tristeza é maior’. Mas eu lhes digo, elas são inseparáveis. Elas surgem juntas, e quando uma está sentada com você à mesa, a outra dorme em sua cama. Vocês estão verdadeiramente suspensos como balanças entre sua dor e sua alegria. Só quando estão vazios podem permanecer num ponto intermediário, e em equilíbrio.” [3]

Esta é a lei da bem-aventurança.

O verdadeiro bem-estar é encontrado acima do contraste entre alegrias e aflições. No centro do eixo simétrico está a chave da felicidade incondicional.

NOTAS:

[1] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Ed. Teosófica, volume II, Carta 136, p. 317.

[2] Veja o texto “O Centro do Círculo de Pascal”, de Carlos Cardoso Aveline. Está disponível em nossos websites associados. 

[3] Traduzido da edição em inglês: “The Prophet”, Kahlil Gibran, Senate, Singapore, 114 pp., 2004, pp. 36-37.

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Uma versão inicial e mais curta do texto acima foi publicada de modo anônimo na edição de janeiro de 2012 de “O Teosofista”.

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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