Os Mestres e
o Espírito Deles Foram
Banidos de Adyar
Ainda Durante a Vida de HPB
Helena P. Blavatsky
Helena P. Blavatsky
H. P. Blavatsky
(1831-1891)
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Nota Editorial:
Este testemunho
impressionante é um estudo
sobre como a lealdade
enfrenta a traição, e foi
escrito em abril de
1890 pela fundadora do
movimento teosófico. O título original é: “Why I
Do Not Return to
India”. O documento constitui
uma Carta Aberta que
deveria ser distribuída a todos
os teosofistas
indianos. No entanto, a Carta foi ocultada
e permaneceu em segredo durante 32 anos, fato que
também aumenta a gravidade
do seu conteúdo.
Depois de ser escondido
durante décadas, o texto foi
publicado em “The
Theosophist”, em Adyar, Índia, em
janeiro de 1922. “Why I Do Not Return to India” está
incluído em
“Theosophical Articles”, de Helena P.
Blavatsky, Theosophy
Company, Los Angeles, 1981,
edição em três
volumes, veja o volume I, pp. 106-114.
O texto também pode
ser encontrado nos “Collected
Writings” de HPB, TPH,
EUA, vol. XII, pp. 156-167.
A palavra “Aryavarta”,
que aparece na abertura
da carta aberta, é o
nome tradicional da Índia. Em
sânscrito, o termo
significa literalmente “terra dos
Árias”, isto é, “a terra
dos nobres”, a terra dos sábios.
(Carlos Cardoso
Aveline)
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“...
E tampouco posso - se eu
quiser
ser fiel ao meu compromisso e
aos meus
votos de vida inteira - viver na
Sede
Geral da qual os Mestres e o espírito
Deles
foram virtualmente banidos. A presença
dos
Seus retratos não ajudará. Eles são letra morta.”
H.P. Blavatsky em “Por Que Não Volto à Índia”
A MEUS IRMÃOS DE
ARYAVARTA,
Em abril de
1890 completaram-se cinco anos desde que deixei a Índia.
Muitos de
meus irmãos hindus demonstraram grande amabilidade para comigo por diversas
vezes desde que parti; especialmente neste ano (1890), quando, quase
mortalmente doente, recebi de várias Lojas indianas cartas de simpatia e
afirmações de que eles não esqueceram daquela que amou a Índia e o povo hindu
mais do que o seu próprio país, durante a maior parte de sua vida.
É, portanto,
meu dever explicar por que não volto para a Índia, e a minha atitude com
relação à nova fase na história da S.T., aberta desde que eu formalmente assumi
a direção do Movimento Teosófico na Europa. Porque não é apenas por causa da
minha má saúde que não retorno à Índia. Aqueles que me salvaram da morte em
Adyar, e em mais duas oportunidades desde então, poderiam facilmente me manter
viva lá, como Eles me mantêm viva aqui. Há uma razão muito mais séria. Uma
linha de conduta foi traçada para mim aqui, e encontrei, entre ingleses e norte-americanos,
aquilo que inutilmente busquei na Índia.
Na Europa e
na América, durante os últimos três anos, encontrei centenas de homens e
mulheres que têm a coragem de declarar sua convicção sobre a realidade da existência
dos Mestres, e que estão trabalhando pela Teosofia conforme as Suas linhas de ação e sob Sua orientação, dadas através da minha
humilde pessoa.
Na Índia, por outro lado, desde minha
partida, o verdadeiro espírito de devoção aos Mestres e a coragem de
expressá-lo com franqueza tem diminuído constantemente. Mesmo em Adyar,
crescente luta e conflito ocorreram entre personalidades; uma animosidade sem
motivo e não merecida - quase ódio - foi expressada contra mim por alguns
membros da equipe. Parece que tem acontecido alguma coisa estranha e sinistra
em Adyar durante esses últimos anos. Tão logo um europeu, com as melhores
inclinações teosóficas, muito devotado à Causa e amigo pessoal meu ou do
Presidente, coloca os seus pés na Sede Geral, ele se torna um inimigo pessoal
de um ou outro de nós e, o que o é pior, termina por prejudicar e abandonar a
Causa.
Que fique
claro, desde logo, que não acuso ninguém. Sabendo o que sei sobre a atividade
das forças do Kali Yuga, que agem para obstaculizar e arruinar o Movimento
Teosófico, não considero aqueles que se tornaram um após o outro meus inimigos -
e isso sem qualquer falha da minha parte - como eu poderia considerá-los, se a
situação fosse diferente.
Um dos fatores principais no redespertar de Aryavarta,
que tem sido parte do trabalho da Sociedade Teosófica, foi o ideal dos Mestres.
Mas devido à falta de critério, de discrição e discernimento, e devido às
liberdades tomadas em relação a Seus nomes e suas Personalidades, surgiu uma imagem Deles completamente distorcida. Eu estava sob o mais solene
compromisso e juramento de nunca revelar toda a verdade a ninguém, exceto àqueles
que, como Damodar, haviam sido definitivamente selecionados e chamados por Eles.
Tudo que eu podia revelar na época era que, em algum lugar, existiam tais
grandes homens; que alguns Deles eram hindus; que Eles conheciam como ninguém
toda a sabedoria antiga de Gupta Vidya e que haviam obtido todos os Siddhis,
não como os Siddhis são representados na tradição e nas “alegorias feitas para
despistar”, presentes nos escritos antigos, mas como são de fato e na
realidade; e também, que eu era um Chela de um Deles. No entanto, surgiram em
seguida na imaginação de alguns hindus as fantasias mais extremas e ridículas
em relação a Eles. Referiam-se a Eles como “Mahatmas”, e alguns amigos excessivamente
entusiasmados os depreciaram com estranhos retratos imaginários; nossos
oponentes, descrevendo um Mahatma como um completo Jivanmukta, disseram que,
como tal, Ele estava impedido de se comunicar com quaisquer pessoas vivas do
mundo. Eles também afirmaram que, como esta é a Kali Yuga, era totalmente impossível
que pudesse haver algum Mahatma na era atual.
Apesar
dessas primeiras interpretações erradas, a ideia dos Mestres e a crença Neles
deram bons frutos na Índia. O principal desejo Deles era preservar o verdadeiro
espírito religioso e filosófico da Índia antiga; defender a Sabedoria antiga
contida em seus Darshanas e Upanixades contra os ataques sistemáticos dos
missionários, e, finalmente, fazer renascer o espírito patriótico e ético adormecido
nos jovens, nos quais esse espírito quase tinha desaparecido devido à educação universitária.
Muito disso foi conseguido pela, e através da, Sociedade Teosófica, apesar de
todos seus erros e imperfeições.
Se não fosse pela Teosofia, teria a Índia o seu Tukaram Tatya, fazendo o
inestimável trabalho que ele faz e que ninguém na Índia pensou em fazer antes? Sem
a Sociedade Teosófica, teria a Índia alguma vez pensado em arrancar das mãos
dos eruditos Orientalistas não espirituais o dever de reviver, traduzir e
publicar os Livros Sagrados do Oriente, de popularizá-los e vendê-los por um
preço muito mais barato, e ao mesmo tempo de forma muito mais correta do que
jamais foi feito em Oxford? Teria o nosso próprio irmão Tukaram Tatya, devotado
e respeitado, pensado alguma vez em fazê-lo, se ele não tivesse entrado para a
Sociedade Teosófica? O Congresso político indiano teria sido uma possibilidade,
sem a Sociedade Teosófica? E o mais importante de tudo, pelo menos um, entre
vocês, teve um completo benefício através dela; e se a Sociedade não tivesse
dado à Índia nada mais que esse futuro Adepto (Damodar) [1] que agora tem a perspectiva de
um dia tornar-se um Mahatma, apesar do Kali Yuga, só isso já seria prova de que
a Sociedade não foi fundada em Nova York e transferida para a Índia em vão. Finalmente,
se alguém entre os trezentos milhões de pessoas da Índia pode demonstrar, com
provas, que a Teosofia, a S.T., ou mesmo minha humilde pessoa, foram
instrumentos para causar o menor dano, tanto ao país como a qualquer hindu, ou que
os Fundadores ensinaram doutrinas perniciosas ou deram maus conselhos - então,
e só então, pode ser atribuído a mim, como um crime, o fato de ter revelado o
ideal dos Mestres e fundado a Sociedade Teosófica.
Sim, meus bons e inesquecíveis irmãos hindus, só o nome dos Mestres
sagrados, que tempos atrás era invocado com orações e pedidos de bênçãos de um
extremo a outro da Índia - apenas o nome Deles já causou uma grande mudança
para melhor em sua terra. Não é ao coronel Olcott nem a mim que vocês devem
alguma coisa, mas verdadeiramente àqueles nomes que, só alguns anos atrás, tornaram-se
palavras familiares em suas bocas.
Foi assim que, enquanto permaneci em Adyar, as coisas foram bastante
fáceis, porque um ou outro dos Mestres estava quase sempre entre nós, e o espírito
deles protegia a Sociedade Teosófica de danos reais. Mas em 1884, Coronel
Olcott e eu partimos para uma visita à Europa, e enquanto estávamos fora caiu o
“raio e trovão” dos Padres e dos Coulomb.[2] Retornei em novembro e fiquei
perigosamente doente. Foi durante este tempo e durante a ausência do Coronel
Olcott na Birmânia [3] que as sementes de todas as
discórdias futuras e - deixe-me dizer de uma vez - da desintegração da
Sociedade Teosófica foram plantadas pelos nossos inimigos. O fato de que apesar
da conspiração Patterson-Coulomb-Hodgson e da falta de coragem dos principais
teosofistas a Sociedade não tenha desmoronado naquele mesmo momento é prova
suficiente de que ela foi protegida. Abalados em suas crenças, os destituídos
de coragem começaram a perguntar: “Por que, se os mestres são autênticos Mahatmas,
Eles permitiram que tais fatos acontecessem, ou por que Eles não usaram Seus
poderes para destruir esta trama ou aquela conspiração, ou mesmo para destruir
ou aquele homem e aquela mulher?” No entanto, já foi explicado inúmeras vezes
que nenhum Adepto do Caminho Correto interfere com o justo funcionamento do
Carma. Nem mesmo o maior dos Iogues pode desviar o avanço do Carma ou impedir os
resultados naturais das ações por mais que um curto período e, mesmo neste
caso, esses resultados apenas se irão impor mais tarde com força dez vezes
maior, porque assim é a lei oculta do Carma e dos Nidanas.
Nem mesmo o
maior dos fenômenos irá ajudar o real progresso espiritual. Cada um de nós tem
que conquistar Moksha ou Nirvana por mérito próprio, e não porque um Guru ou um
Deva nos ajudará a esconder nossos fracassos. Não há nenhum mérito em ter sido
criado como um Deva imaculado ou em ser um Deus; mas há a eterna
bem-aventurança de Moksha, que surge para o homem que se torna como um Deus ou Divindade por seus próprios esforços. Punir os culpados é a
missão do Carma e não o dever de qualquer Mestre. Mas aqueles que agem conforme
o ensinamento Deles e vivem a vida da qual eles são os melhores exemplos jamais
serão abandonados por Eles, e sempre que necessário terão Sua ajuda benéfica, seja
ela visível ou invisível. Essas palavras, é claro, são dirigidas a aqueles que
ainda não perderam totalmente a fé nos Mestres. Aqueles que nunca acreditaram
ou que deixaram de acreditar Neles têm todo direito de manter suas opiniões.
Ninguém será prejudicado pelo fato de pensarem assim, exceto eles mesmos, talvez,
algum dia.
Quanto a
mim, quem pode me acusar de ter agido como impostora? De ter, por exemplo,
tirado um único centavo de alguém? De ter alguma vez pedido dinheiro, ou de
tê-lo aceito, apesar de repetidamente me oferecerem grandes quantias? Aqueles
que, apesar disso, escolheram pensar ao contrário, terão que explicar aquilo
que mesmo meus caluniadores do tipo dos padres e da Sociedade de Pesquisas
Psíquicas não conseguiram explicar até hoje, isto é, a motivação para tal
fraude. Terão que explicar por que, em vez de pegar e ganhar dinheiro, eu doei
à Sociedade cada centavo que ganhei escrevendo para jornais; por que, ao mesmo
tempo, quase me matei com um trabalho intenso e incessante ano após ano, até
que minha saúde ficou debilitada, de modo que, se não fosse pela repetida ajuda
de meu Mestre, eu teria morrido há muito tempo devido aos efeitos deste trabalho
voluntário excessivo.
Quanto à absurda
teoria segundo a qual eu seria uma espiã russa, se ela ainda encontra crédito
em algumas mentes idiotas, já desapareceu há muito pelo menos dos cérebros
oficiais dos anglo-indianos.
Se, digo eu,
naquele momento crítico, os membros hindus e europeus da Sociedade e
especialmente os líderes em Adyar, hindus e europeus, tivessem permanecido
juntos como um só homem, firmes em sua convicção sobre a autenticidade e o poder
dos Mestres, a Teosofia teria saído mais triunfante que nunca e nenhum dos
medos deles se teria concretizado, por mais astutas que fossem as armadilhas
legais contra mim, e fossem quais fossem os erros de julgamento que eu, a humilde
representante dos Mestres, pudesse ter feito na conduta executiva do assunto.
Mas a
lealdade e coragem das autoridades de Adyar e dos poucos europeus que haviam
confiado nos Mestres não estiveram à altura do teste, quando este veio. Apesar
de meus protestos, fui expulsa da Sede Geral. Doente como eu estava, na verdade
à beira da morte, segundo os médicos disseram, ainda protestei, e teria lutado
pela Teosofia na Índia até meu último suspiro se tivesse encontrado apoio leal.
Mas alguns temiam complicações legais, outros tinham medo do governo, enquanto
meus melhores amigos acreditavam nas ameaças dos médicos de que eu morreria se
continuasse na Índia. Assim, fui mandada para a Europa para recuperar minhas
forças, com a promessa de rápido retorno à minha amada Aryavarta.
Bem, eu
parti, e imediatamente começaram as intrigas e os boatos. Já em Nápoles soube
que estavam dizendo que eu pretendia iniciar na Europa “uma Sociedade rival” e
“acabar com Adyar” (!!). Diante disso, eu ri. Então
começou o boato de que eu tinha sido abandonada
pelos Mestres, que eu tinha sido desleal a Eles, que eu tinha feito isso e aquilo.
De fato, nada disso tinha a menor porção de verdade ou era alicerçado em fatos.
Depois fui acusada de ser, na melhor das hipóteses, uma médium alucinada, que confundiu
“fantasmas” com Mestres vivos, enquanto outros declararam que a verdadeira H.
P. Blavatsky estava morta - havia morrido por ter usado erradamente a Kundalini - e que a forma física tinha
sido tomada por um Chela Dugpa, que era a atual H. P. B. Outros ainda me
consideravam uma bruxa, uma feiticeira, que por seus próprios objetivos fingia ser
uma filantropa e uma amiga da Índia, quando na verdade se dedicava à destruição
de todos aqueles que tivessem a infelicidade de serem dominados psicologicamente por mim. Na verdade, os poderes psicológicos
atribuídos a mim pelos meus inimigos, sempre que um fato ou um “fenômeno” não
podiam ser explicados satisfatoriamente, são tão grandes que só eles já teriam feito
de mim um Adepto extremamente extraordinário - independentemente de quaisquer
Mestres ou Mahatmas. Em resumo, até 1886, quando o Relatório da S. P. P. foi
publicado e essas bolhas de sabão explodiram sobre nossas cabeças, houve uma
longa série de acusações falsas, com cada novo envio dos correios trazendo algo
de novo. Não direi o nome de ninguém; não importa quem disse alguma coisa e
quem a repetiu. Uma coisa é certa: com a exceção do coronel Olcott, todos pareciam
ter banido os Mestres de seus pensamentos e expulsado o espírito deles de
Adyar. Todo tipo de incongruência foi ligado a esses nomes sagrados, e eu fui
considerada a única responsável por todos os eventos desagradáveis que aconteceram
e cada erro cometido. Numa carta recebida de Damodar em 1886, ele me informava
que a influência dos Mestres em Adyar se tornava cada dia mais fraca, que
diariamente Eles eram representados como menos que “Iogues de segunda categoria”,
e totalmente negados por alguns, enquanto outros, que ainda acreditavam e
continuavam fiéis a Eles, tinham medo até mesmo de pronunciar os Seus nomes.
Finalmente, ele me pedia enfaticamente que voltasse, dizendo que naturalmente os
Mestres tomariam providências para que minha saúde não sofresse com isso.
Escrevi ao coronel Olcott sobre o assunto, implorando a ele para que me
deixasse retornar, e prometendo que eu viveria em Pondicherry se necessário,
caso minha presença não fosse desejada em Adyar. Recebi a resposta ridícula de
que, logo que eu voltasse, eu seria mandada para as Ilhas Andaman como espiã
russa, o que, naturalmente, mais tarde o coronel Olcott descobriu que não era
verdade. A rapidez com que esse pretexto fútil foi levantado para me manter
longe de Adyar mostra em cores claras a ingratidão daqueles por quem eu dei
minha vida e saúde. E mais: pressionado, segundo entendi, pelo Conselho
Executivo, sob o pretexto inteiramente absurdo de que, no caso de minha morte,
meus herdeiros poderiam reivindicar uma parte da propriedade de Adyar, o
Presidente me mandou um documento legal para que eu assinasse, pelo qual eu
formalmente renunciava a qualquer direito em relação à Sede Geral aos
Escritórios, ou mesmo a viver lá sem o consentimento do Conselho. Isto, embora
eu tivesse gastado vários milhares de rúpias de meu próprio dinheiro e destinado
minha parte dos lucros de “The Theosophist” para a compra da casa e da mobília.
No entanto, assinei a renúncia sem uma palavra de protesto. Vi que eu não era
desejada e permaneci na Europa apesar do meu desejo ardente de voltar à Índia. Como
poderia deixar de sentir que todo meu trabalho fora recompensado com
ingratidão, quando meus mais intensos desejos de retornar recebiam desculpas
inconsistentes e respostas inspiradas por aqueles que me eram hostis?
O resultado disso tudo era muito claro. Vocês conhecem muito bem a situação
na Índia e não é necessário dar mais detalhes. Numa palavra, desde minha saída,
não apenas a atividade do movimento na Índia gradativamente diminuiu, mas
aqueles por quem eu tinha a mais profunda afeição, considerando-os como uma mãe
considera seus próprios filhos, voltaram-se contra mim. Enquanto que, no
Ocidente, logo que aceitei o convite para vir para Londres, encontrei pessoas
que, apesar do Relatório da S. P. P. e das suspeitas extremadas e hipóteses
extravagantes lançadas em todas as direções, acreditam na verdade da grande
Causa por que tenho lutado, e na minha própria boa-fé.
Atuando sob as ordens dos
Mestres, comecei no Ocidente um novo movimento de acordo com as linhas
originais, fundei “Lucifer” [4] e a loja que tem meu nome. Reconhecendo
o trabalho esplêndido feito em Adyar pelo coronel Olcott e outros para realizar
o segundo dos três objetivos da S. T., isto é, promover o estudo da Literatura
Oriental, decidi aqui realizar os dois outros objetivos. Todos sabem com que
sucesso isto foi conseguido. Por duas vezes o coronel Olcott foi convidado a
vir, e então eu soube que eu era mais uma vez querida na Índia, por alguns,
pelo menos. Mas o convite veio demasiado tarde; meu médico não permitiria, e
tampouco posso - se eu quiser ser fiel ao meu compromisso e aos meus votos de
vida inteira - viver na Sede Geral da qual os Mestres e o espírito Deles foram
virtualmente banidos. A presença dos Seus retratos não ajudará. Eles são letra
morta. A verdade é que eu jamais poderei voltar à Índia, a não ser como fiel
agente Deles. E como a menos que Eles apareçam pessoalmente diante do Conselho
(o que certamente nunca farão) nenhum conselho que eu possa dar sobre questões
ocultas será aceito, uma vez que se duvida do meu relacionamento com os Mestres
e ele é inclusive totalmente negado por alguns, e como eu própria não tenho
direito a estar na Sede Geral, que motivo há, então, para que eu viva em Adyar?
O fato é
que, em minha situação, meias-medidas são piores que nada. As pessoas têm que
acreditar inteiramente em mim, ou desacreditar honestamente. Ninguém, nenhum teosofista é obrigado a acreditar,
mas é pior que inútil as pessoas me pedirem ajuda se não acreditam em mim. Aqui
na Europa e na América do Norte há muitos que nunca recuaram em sua devoção à
Teosofia; consequentemente, a expansão da Teosofia e da S. T. no Ocidente,
durante os três últimos anos, foi extraordinária. A razão principal disso é que
fui estimulada e encorajada pela devoção de um número sempre crescente de
membros, em relação à Causa e a Aqueles que a guiam, no sentido de estabelecer
uma Seção Esotérica, na qual eu posso ensinar um pouco do que aprendi àqueles
que confiam em mim e que comprovam essa confiança através de seu trabalho
desinteressado pela Teosofia e pela S.T. No futuro, então, é minha intenção
devotar minha vida e energia à Seção Esotérica (S.E.), e ensinar àqueles que têm
confiança em mim. Seria inútil usar o pouco tempo que me resta para
justificar-me perante aqueles que não têm certeza da existência dos Mestres,
apenas porque, julgando-me mal, consideram conveniente suspeitar de mim.
E quero
dizer desde já, para evitar interpretações erradas, que minha única razão para
aceitar a direção exotérica dos assuntos europeus foi salvar os que realmente
têm a Teosofia no coração e trabalham por ela e para a Sociedade; para que eles
não sejam obstaculizados por aqueles que, não só não se importam com a Teosofia
tal como ensinada pelos Mestres, mas também estão trabalhando inteiramente
contra ambos, e tentam minar e contra-atacar a influência do bom trabalho já
feito, tanto pela negação aberta da existência dos Mestres como através de uma
hostilidade declarada e amarga contra mim; e, também, unindo forças com os mais
desesperados inimigos de nossa Sociedade.
Meias-medidas,
repito, não são mais possíveis. Ou eu afirmei a verdade tal como a conheço em
relação aos Mestres, e estou ensinando o que aprendi com Eles, ou então eu
inventei tanto os Mestres como a Filosofia Esotérica. Há alguns, entre os Esoteristas
do grupo interno, que dizem que se eu inventei tudo, então eu devo ser um “Mestre”.
De qualquer forma, não há alternativa para este dilema.
Portanto, qualquer direito que a Índia pudesse ter sobre mim
só teria uma força proporcional à atividade dos membros de lá em favor da
Teosofia, e proporcional à sua lealdade aos Mestres. Vocês não deveriam
precisar da minha presença entre vocês para convencê-los da autenticidade da
Teosofia, mais do que os seus Irmãos americanos precisam. Uma convicção que
diminui quando alguma personalidade específica está ausente não é uma
convicção. Saibam, além disso, que só posso dar qualquer nova demonstração e
ensinamento à Seção Esotérica, e isso pela seguinte razão: os seus membros são
os únicos que tenho o direito de expulsar por deslealdade a seus votos (não a mim, H. P. B., mas ao seu Eu Superior e ao aspecto Mahátmico dos
Mestres), um privilégio que não posso exercer com os membros da Sociedade
Teosófica em geral, embora seja o único meio de arrancar o membro doente do
corpo saudável da Árvore e, assim, salvá-la da infecção. Só posso dar atenção a
aqueles que não serão afastados pelo primeiro sopro de calúnia e por qualquer insinuação
e suspeita ou crítica, venham de quem vierem.
De agora em
diante, que fique claro que o resto de minha vida é devotado somente àqueles
que acreditam nos Mestres e querem trabalhar pela Teosofia como Eles a entendem,
e pela Sociedade Teosófica de acordo com as linhas sobre as quais Eles a
estabeleceram originalmente.
Se, então,
meus irmãos hindus desejam real e honestamente fazer a regeneração da Índia, se
querem trazer de volta em algum momento os dias em que os Mestres, nos tempos
da antiga glória da Índia, caminhavam livremente entre eles, guiando e
ensinando o povo; que nesse caso eles joguem fora todo medo e hesitação e virem
uma nova página na história do Movimento Teosófico. Que eles se reúnam corajosamente
em torno do Presidente Fundador, quer eu esteja na Índia ou não, e em torno
daqueles poucos Teosofistas verdadeiros que permaneceram fiéis, e desafiem
todos os caluniadores e descontentes ambiciosos - tanto dentro como fora da
Sociedade Teosófica.
[“The Theosophist”, janeiro de
1922.] [Escrito em abril de 1890.]
NOTAS:
[1] Damodar K. Mavalankar, teosofista que, ainda jovem, foi
convidado a ir viver no Himalaia em
companhia dos Mestres e dos seus discípulos regulares. (CCA)
[2] “Raio e trovão”: uma campanha de
calúnias contra H.P.B. e o movimento teosófico, orquestrada com ajuda do
Vaticano e da política colonialista, ameaçada pela valorização teosófica da
sabedoria indiana antiga. A campanha incluía o uso de documentos forjados. (CCA)
[3] Birmânia: atual Mianmar. País
situado entre a Índia, a China e a Tailândia. (CCA)
[4] Revista “Lucifer”. Ao contrário do
que é sugerido por uma falsa teologia baseada no medo, a palavra latina
“Lúcifer” significa “portador da luz”. O termo era usado no mundo antigo para
designar o planeta Vênus, a “estrela d’alva” e a “estrela vespertina”. Assim, o
nome da revista fundada por H.P.B. era uma homenagem ao planeta Vênus,
esotericamente considerado “o irmão mais velho” da nossa Terra. (CCA)
000
O artigo “Por Que Não Volto à Índia” está publicado nos websites associados desde setembro de 2014.
000
Veja também “HPB e os Pobres Covardes em Adyar”.
000
Leia mais:
* A Fraude da Escola Esotérica.
* Blavatsky é Best-Seller em Adyar.
* Krishnamurti e as Ilusões Besantianas.
* Os Estudantes de Blavatsky na Sociedade de Adyar.
000
O artigo “Por Que Não Volto à Índia” está publicado nos websites associados desde setembro de 2014.
000
Veja também “HPB e os Pobres Covardes em Adyar”.
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Leia mais:
* A Fraude da Escola Esotérica.
* Blavatsky é Best-Seller em Adyar.
* Krishnamurti e as Ilusões Besantianas.
* Os Estudantes de Blavatsky na Sociedade de Adyar.
000
Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia
a edição luso-brasileira de “Luz no
Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete
capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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