18 de agosto de 2010

Avaliando o Planeta Terra

Os Cidadãos de Boa Vontade
Têm Um Dever Diante de  Si

Carlos Cardoso Aveline

O planeta Terra pode funcionar como um jardim comunitário



É notável a dificuldade da civilização atual de pensar o conjunto da questão planetária. Estamos vendo em primeira mão o que ocorre quando o carma coletivo amadurece e o prazo de validade de uma forma de organização está vencido. 

Há bem mais que uma limitação cultural. Há uma cegueira organizada, e ela boicota toda capacidade de enxergar. De fato, o pior cego é aquele que não quer ver. Mas isso vai mudar. Já aumentam os sinais de um despertar da consciência planetária.

A civilização de hoje, como grande parte das civilizações anteriores, é baseada na premissa de que a natureza é inimiga do homem.

A ideia primordial, ainda que implícita, é de que a natureza deve ser substituída pelo asfalto, pela energia atômica, pelo desmatamento, pela desertificação, pelas guerras, pela especulação imobiliária, pelo massacre dos animais, e - claro - por uma filosofia social darwinista, segundo a qual devem dominar “os mais aptos”. Os mais “aptos” são, deste ponto de vista, os mais egoístas, os mais gananciosos, os mais astutos, aqueles que são espiritualmente destituídos de alma e de consciência ética. E, no contexto atual, pode-se mesmo constatar que alguns dos indivíduos “poderosos” cuja fé está colocada na premissa darwinista têm, literalmente, a consciência ética e filosófica de um gorila das selvas. Só lhes falta o respeito instintivo pela vida natural e pela lei do carma que os gorilas autênticos possuem. Os macacos tecnológicos não sabem o que é equilíbrio.

Seria agradável se a ignorância espiritual socialmente organizada pudesse ser eliminada com um custo histórico baixo. Não é isso que estamos vendo, no entanto. As notícias sobre exemplos de desorganização climática se espalham e se tornam coisas cada dia mais corriqueiras. Sua importância é ignorada. Grandes catástrofes são tratadas como fato banal, enquanto a novela de televisão, as entrevistas dos “famosos” e as últimas falsas novidades sobre qualquer assunto fútil estão no centro das atenções da mídia dominante.

A cultura civilizatória atual ainda não adotou de modo amplo os parâmetros filosóficos que a permitirão compreender melhor o processo planetário. Há na psicologia coletiva de hoje um medo profundo de alterações climáticas. Elas são associadas subconscientemente a velhas imagens de “fim de mundo”, que, na verdade, não indicam o final do planeta, mas apenas transformações geológicas, em alguns casos rigorosas. O terror supersticioso paralisa a capacidade de preparar-se com ética e com bom senso para uma mudança planetária.  

Por outro lado, a teosofia ensina que a decadência da base geológica da atual civilização está diretamente ligada à decadência das bases mentais, intelectuais, morais e emocionais da etapa humana que está terminando. A decadência precede, e prepara, a regeneração.

O planeta é um único processo multidimensional. Ele tem sete níveis de consciência operando simultaneamente, e todos esses níveis estão vivendo - entre o século 19 e o século 22 - o final de um ciclo e o começo de outro.

O receio subconsciente de enfrentar os fatos é, pois, um fator que não pode ser subestimado. Grandes mudanças provocam medo, inclusive quando são geológicas, e o filósofo espanhol Emilio Mira y López escreveu:

“Terremotos, incêndios, inundações, raios, avalanchas, são (...) eventos não só capazes de assustar-nos com sua presença, mas também de fazer-nos estremecer ante sua real ou suposta iminência. Não é apenas por pressentir a probabilidade de um dano físico mais ou menos grave que tais cataclismos nos aterrorizam, mas por outros motivos, entre os quais se destacam os de sua ancestralidade, seu imenso poder e sua inevitabilidade. Realmente, desde os tempos mais remotos, esses fenômenos têm causado a morte das mais variadas espécies animais. Por isso, em nosso genoplasma, estão latentes os dispositivos de alarme e fuga ante a simples evocação de sua imagem ou lembrança.”[1]

Isso explica grande parte da dificuldade de uma mudança de atitude diante da questão ambiental.

No entanto, é cada dia mais fácil acelerar a ampliação do caminho do meio entre dois extremos igualmente paralisantes.

De um lado, temos o apego à rotina consumista, que nega a necessidade de uma mudança na relação da humanidade com o ambiente natural. De outro lado, há o conhecido fatalismo que considera o “fim do mundo” inevitável, e pensa que só o deus imaginário criado pelos sacerdotes profissionais é capaz de enfrentar o assunto.

O caminho do meio, que é o caminho do bom senso, ainda parece estreito e difícil. Mas ele já existe e é claramente indicado pela filosofia e pela teosofia.

Ao longo dos milênios, inúmeras civilizações cumpriram suas missões e foram substituídas, frequentemente através de crises ambientais. A civilização atual não é eterna e está em crise. Mas o final de uma civilização e o começo de outra não são algo súbito. Eles devem ser encaminhados passo a passo e gradativamente.

Nem a preguiça nem o pânico são bons conselheiros. O momento atual é de preparação para um despertar. O planeta Terra pode funcionar como um jardim comunitário, e já são grandes as oportunidades para que os cidadãos ajam criativamente. Começa a surgir uma nova consciência ética universal. O renascer não pode ser acelerado pela propaganda, mas sim pela vivência interna da sabedoria universal, pela prática da ajuda mútua, e pelo plantio de bom carma no plano da alma.

NOTA:

[1] “Os Quatro Gigantes da Alma”, Emilio Mira y López, Livraria José Olympio Editora, RJ, 1980, 224 pp., ver p. 33.

000

Uma versão inicial do texto acima foi publicada de modo anônimo na edição de agosto de 2010 de “O Teosofista”.

000 

Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.

000