Uma Chave Para Visualizar o Futuro
Um Mahatma dos Himalaias
Um Mahatma dos Himalaias

1. Introdução: a Importância do Documento
A história registra que, em 1881, um dos raja-iogues ou
Mestres de Sabedoria que orientavam o trabalho teosófico na sua fase pioneira decidiu
buscar conselhos, e consultou o seu próprio instrutor.
O Mestre dos Mestres
foi então ouvido. O tema era a natureza, a meta e o rumo do movimento que
estava sendo iniciado.
O instrutor que foi
consultado é chamado pelos Mestres simplesmente de Chohan. A palavra
“Chohan” significa “Senhor”. Mais tarde,
este mesmo Sábio passou a ser frequentemente referido como “Maha-Chohan”. Um
dos instrutores de H. P. Blavatsky qualificou-o em certa ocasião como “a rocha
das idades”. Em outro momento, referiu-se ao Chohan como “aquele para quem o futuro é como uma
página aberta”.[1] Nas publicações da Loja Unida de
Teosofistas, a LUT, ele é mencionado como “o Grande Mestre”.
Depois da consulta com o
Chohan, o Mestre fez um relato da conversa.
Este texto é a mais autorizada descrição da Missão que deveria ser
cumprida pelo movimento teosófico e esotérico autêntico, não só nas décadas,
mas também nos séculos seguintes. Ele contém uma profecia extraordinária, e
positiva, sobre o progresso cultural e histórico da nossa humanidade. Ao
contrário de tantas “profecias” que se limitam a anunciar grandes desastres, o
texto aponta o rumo da transição vitoriosa dos seres humanos (não sem
sacrifícios) para uma nova era de paz e
de fraternidade planetária.
Entre outros motivos, a Carta
do Grande Mestre tem especial importância
porque nela encontramos elementos centrais de informação sobre a
religião do futuro. Ela dá os contornos
gerais de uma religiosidade que deve surgir mais claramente durante o século
21. Havia, porém, uma dúvida a respeito do conteúdo
exato da carta, em uma passagem das mais
decisivas. O texto transcrito por C.
Jinarajadasa no volume “Cartas dos Mestres de Sabedoria” (Ed. Teosófica) diz o seguinte:
“A Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra
fundamental, o alicerce das religiões futuras da humanidade.” [2]
A passagem inspira alguns
questionamentos. Existirão, no futuro, muitas religiões competindo entre si? Ou
haverá uma única religião global, ainda que não-autoritária?
O original da Carta do Chohan
desapareceu, e há mais de uma cópia dele. Nos primeiros anos do movimento,
cópias das Cartas dos Mahatmas circulavam privadamente entre os estudantes. A
Sociedade Teosófica de Pasadena - que ao lado da Sociedade de Adyar e da Loja
Unida de Teosofistas é uma das principais correntes internacionais de
pensamento esotérico - publicou a versão do texto que está no Museu Britânico.
Nesta versão, o documento menciona a religião futura, no singular:
“A Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra
fundamental, o alicerce da religião futura da humanidade.” [3]
Neste caso o mestre teria
afirmado que a religião do futuro será uma só - naturalmente não-burocratizada
e incluindo a necessária diversidade cultural.
Com o objetivo de verificar e
comprovar diretamente os fatos, os editores dos nossos websites associados
tomaram providências para obter uma cópia autêntica da mais autorizada versão
da Carta do Chohan que existe no mundo. Esta é, sem dúvida, a cópia feita a
caneta pelo próprio Alfred Sinnett, o homem que a recebeu do Mestre. O
documento está no setor de Manuscritos Raros da Biblioteca Britânica (British
Library), em Londres, e seu número de identificação é 45289A. Em maio de
2009, foi obtida junto à Biblioteca Britânica uma cópia autenticada completa do
manuscrito 45289A - a Carta
do Chohan ou Grande Mestre.
O exame direto da carta
confirma o fato de que a frase correta é:
“A Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra
fundamental, o alicerce da religião futura da humanidade.”
Esta comprovação é importante
por vários motivos. Um deles é que ainda hoje a maior parte das publicações
teosóficas internacionais - inclusive as que estão voltadas para a teosofia
original - continuam a divulgar a frase equivocada, falando de “religiões”, no
plural, tal como na versão de C. Jinarajadasa.
É importante observar também
que, na última frase da carta, há uma referência à “verdadeira filosofia, a verdadeira religião”, no singular.
A religião do futuro é a
religião-filosofia, a religião-sabedoria.
Ela é uma, mas não é autoritária,
e portanto inclui o princípio da diversidade cultural. Ela tem como base a
percepção direta e a vivência da fraternidade universal que une todos os seres.
Internamente una, ela pode ser vista como externamente múltipla.
Transcrevemos a seguir (logo
depois das notas bibliográficas) a íntegra da profética “Carta do Grande
Mestre”, com a devida correção na frase sobre a religião do futuro.
(Carlos Cardoso Aveline)
NOTAS:
[1] Sobre a
alusão ao “futuro como uma página aberta”, veja “Cartas dos Mestres de Sabedoria”,
editadas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, 1996, p. 57 . Sobre a
alusão a “rocha das idades” ou “rocha das eras”, veja “Cartas dos Mahatmas Para
A.P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, primeiro parágrafo da Carta 18, volume
I, p. 112.
[2] Carta 01,
primeira série, em “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, obra citada, p. 18.
[3] “View of the Chohan on the T.S.”, texto incluído no volume “Combined
Chronology – For use with 'The Mahatma Letters to A.P. Sinnett' and
'The Letters of H.P.B. To A.P.Sinnett' ”, by Margaret Conger, T.U.P.,
Pasadena, California, 1973, 48 pp., ver especialmente a p. 44.
2. A Íntegra da Carta do Grande Mestre
A doutrina que promulgamos,
por ser a única verdadeira, deve, apoiada em provas como as que estamos por
oferecer, triunfar, afinal, como qualquer outra verdade. Contudo, é
absolutamente necessário incuti-la gradualmente, colocando em prática suas
teorias, fatos inquestionáveis para aqueles que sabem, com inferências diretas
deduzidas das — e corroboradas pelas — evidências fornecidas pelas modernas
Ciências Exatas. Esta é a razão pela qual o Coronel H.S.O., que trabalha apenas
para reviver o Budismo, pode ser visto como alguém que se esforça na verdadeira
senda da teosofia, muito mais do que qualquer outra pessoa que escolha como
meta a gratificação de suas próprias e ardentes aspirações ao conhecimento
oculto. Despojado de suas superstições, o Budismo é verdade eterna, e aquele que
se esforça por encontrar esta última está buscando a Theo-Sophia, Sabedoria Divina, que é um sinônimo da verdade.
Para que nossas doutrinas
ajam de forma prática sobre o assim chamado código moral, ou as idéias de
retidão, pureza, auto-esquecimento, caridade, etc., temos de popularizar o
conhecimento da Teosofia. O que caracteriza o verdadeiro teosofista não é o
objetivo individual e determinado de obter para si mesmo o Nirvana (culminação
de todo conhecimento e sabedoria absoluta) — o que, afinal, é apenas um sublime
e glorioso egoísmo — mas a dedicação
à busca com auto-sacrifício do melhor meio para levar nosso próximo ao caminho
correto, beneficiando o maior número possível de nossos semelhantes.
Os setores intelectualizados
da humanidade parecem estar-se dividindo rapidamente em dois grupos. Um
prepara-se inconscientemente para longos períodos de aniquilação temporária, ou
estados de não-consciência, devido ao abandono deliberado de seu intelecto, e
aprisionamento nas estreitas trilhas do fanatismo religioso e da superstição,
processo que inevitavelmente conduz à total deformação do princípio
intelectual; o outro entrega-se desenfreadamente a seus impulsos animais, com a
intenção deliberada de submeter-se à
aniquilação pura e simples em caso de fracasso, e a milênios de degradação após
a dissolução física. Essas “classes intelectuais”, agindo sobre as massas
ignorantes que elas atraem, e que as vêem como nobres e dignos exemplos a
seguir, rebaixam e degradam moralmente aqueles que deveriam proteger e orientar.
Entre a superstição degradante e o ainda mais degradante e brutal materialismo,
a pomba branca da verdade dificilmente encontra um lugar onde possa descansar
seus pés desprezados e exaustos.
Já é tempo de a teosofia
entrar em cena; os filhos dos teosofistas serão mais provavelmente teosofistas,
em seu tempo, do que qualquer outra coisa. Nenhum mensageiro da verdade, nenhum
profeta jamais conquistou, durante seu tempo de vida, um completo triunfo, nem
mesmo Buda. A Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra fundamental, o
alicerce da religião futura da humanidade. Para alcançar o objetivo proposto,
foi determinado que houvesse uma convivência maior, mais sábia, e especialmente
mais benevolente, do superior com o inferior, do Alfa e do Ômega da sociedade.
A raça branca deve ser a primeira a estender a mão da fraternidade aos povos de
cor escura e a chamar de irmão o pobre “negro” desprezado. Esta perspectiva
pode não agradar a todos, mas não é teosofista aquele que se opõe a este
princípio.
Em vista do sempre crescente
triunfo e, ao mesmo tempo, mau uso do livre-pensamento e da liberdade (o reino universal de Satã,
como o chamaria Eliphas Levi), como poderia o instinto combativo natural do
homem ser impedido de infligir crueldades e atrocidades, tirania, injustiça,
etc., até hoje inimagináveis, se não através da tranqüilizadora influência de
uma fraternidade e da aplicação prática das doutrinas esotéricas de Buda?
Pois, como todos sabem, a
libertação total da autoridade do poder único ou lei que a tudo impregna,
chamada de Deus pelos padres — Buda, Sabedoria Divina e iluminação ou Teosofia
pelos filósofos de todas as épocas — significa também a emancipação, no mesmo
sentido, da lei humana.
As doutrinas fundamentais de
todas as religiões se comprovarão idênticas em seu significado esotérico, uma
vez que sejam desagrilhoadas e libertadas do peso morto representado pelas
interpretações dogmáticas, dos nomes pessoais, das concepções antropomórficas e
dos sacerdotes assalariados. Osíris, Krishna, Buda e Cristo serão apresentados
como nomes diferentes de uma mesma estrada real para a bem-aventurança final, o
Nirvana.
O Cristianismo místico, isto
é, aquele Cristianismo que ensina a autolibertação através do nosso próprio
sétimo princípio — o Para-Atma (Augoeides)
libertado, chamado por alguns de Cristo, por outros, de Buda, e equivalente
à regeneração ou renascimento em espírito — será visto como exatamente a mesma verdade do Nirvana do
Budismo. Todos nós temos de nos livrar de nosso próprio Ego, o ser ilusório e
aparente, a fim de reconhecer nosso verdadeiro ser em uma vida divina
transcendental. Mas, se não formos egoístas, devemos esforçar-nos e fazer com
que outras pessoas vejam essa verdade, e reconheçam a realidade desse ser
transcendental, o Buda, Cristo ou Deus de cada pregador. Esta é a razão por que
mesmo o Budismo exotérico é o caminho mais seguro para conduzir os homens em
direção à única verdade esotérica.
Do modo como se encontra o
mundo agora, seja cristão, muçulmano ou pagão,
a justiça é desconsiderada, enquanto a honra e a piedade são atiradas ao
vento. Numa palavra, vendo que os objetivos principais da S.T. são mal
interpretados por aqueles mais interessados em nos ajudar pessoalmente, como
iremos lidar com o restante da humanidade, em meio à maldição conhecida como
“luta pela vida”, que é a real e mais prolífica causa da maioria das desgraças
e tristezas e de todos os crimes? Por que esta luta teve que tornar-se o
esquema quase universal do universo? Nós respondemos: porque nenhuma religião,
com exceção do Budismo, ensinou até agora um desapego prático por essa vida
mundana, enquanto cada uma delas — sempre com aquela única e solitária exceção
— através de seus infernos e danações, inculcou o maior pavor em relação à
morte. Por isso nós encontramos, de fato, esta luta pela vida imperando mais
violentamente nos países cristãos, prevalecendo especialmente na Europa e na
América. Ela é mais fraca nas terras pagãs e praticamente desconhecida entre as populações budistas.
(Na China, durante um período de fome, onde as massas são mais ignorantes em
relação a sua própria religião ou a qualquer outra, foi notável o fato de que
aquelas mães que devoraram seus filhos pertencessem às localidades onde se
encontrava a maior quantidade de missionários cristãos; onde não havia nenhum
deles e apenas os bonzos possuíam a terra, a população morria com o máximo de
indiferença). Ensine-se ao povo a ver que a vida nesta Terra, mesmo a mais
feliz, é apenas um fardo e uma ilusão, que apenas o nosso próprio karma, a causa que produz um
efeito, é nosso próprio juiz, — nosso salvador em vidas futuras — e a grande
luta pela vida em breve perderá sua intensidade. Não há penitenciárias nas
terras budistas, e o crime é praticamente desconhecido entre os budistas no
Tibete. (O que foi dito acima não é dirigido a você, ou seja, A.P.S., e nada
tem a ver com o trabalho da Sociedade Eclética de Simla. Pretende apenas dar
uma resposta à impressão equivocada do Sr. Hume a respeito do “trabalho do
Ceilão” como não sendo Teosofia).
O mundo em geral, e
especialmente a cristandade, abandonado por dois mil anos ao regime de um Deus
pessoal, bem como a seus sistemas políticos e sociais baseados nessa idéia,
provou agora ser um fracasso. Se os teosofistas dizem: “Nada temos com tudo isso;
as classes mais baixas e as raças inferiores (aquelas da Índia, por exemplo, na
concepção dos britânicos) não são motivo de preocupação para nós e devem
arranjar-se como podem” — o que acontece com nossas belas declarações sobre benevolência, filantropia,
reforma etc.? Serão tais declarações falsas?
E se forem falsas, poderá a nossa senda ser a verdadeira? Não deveríamos
nos dedicar a ensinar a alguns poucos europeus, que vivem na abundância —
muitos deles carregados com as dádivas
de uma fortuna imerecida — a explicação racional dos fenômenos de campainhas
soando no ar, da materialização de xícaras, do telefone espiritual e da
formação do corpo astral, e deixar os numerosos milhões de ignorantes, de
pobres e desprezados, humildes e oprimidos, tomar conta de si mesmos e de sua
vida futura da melhor forma que puderem? Nunca! Antes pereça a S.T., com os
seus dois infelizes fundadores, do que permitirmos que ela se transforme em
mera academia de magia, um centro de ocultismo. Que nós, os devotados seguidores
daquele espírito encarnado do absoluto auto-sacrifício, da filantropia, da
divina benevolência, assim como de todas as mais elevadas virtudes que se pode
alcançar nesta terra de tristeza — o homem dos homens, Gautama Buda —
permitíssemos, em algum momento, à S.T. representar a corporificação do egoísmo, o refúgio dos poucos que jamais pensam
nos muitos, é uma estranha idéia, meus irmãos.
Entre os poucos vislumbres
obtidos pelos europeus acerca do Tibete e de sua hierarquia mística de “Lamas
perfeitos”, há um que foi corretamente compreendido e descrito. “A encarnação
do Bodhisattva, Padma Pani, ou Avalokitesvara e Tsong-ka-pa e
a de Amitabha, que renunciavam, na
sua morte, à obtenção do Budado — ou seja, o summum bonum da bem-aventurança e da felicidade pessoal individual
— de forma a nascerem mais e mais vezes em benefício da humanidade”. (R.D.) Em
outras palavras, que deveriam ser submetidos reiteradamente à miséria, ao
aprisionamento da carne e a todas as tristezas da vida, para que, através deste
auto-sacrifício, repetido através de longos e monótonos séculos, pudessem
tornar-se os meios de assegurar a salvação e a bem-aventurança futura para um
punhado de homens escolhidos entre uma das muitas raças da humanidade. E é de
nós, os humildes discípulos destes Lamas perfeitos, que se espera aprovação
para que a S.T. abandone seu nobre título de Fraternidade da humanidade e
torne-se uma simples escola de Psicologia. Não, não, bons irmãos, vocês já
estão equivocados há demasiado tempo. Vamos entender-nos bem. Aquele que não se
sente competente o bastante para compreender suficientemente a nobre idéia,
para trabalhar por ela, não necessita assumir uma tarefa que é muito pesada
para ele. Mas dificilmente haverá um teosofista em toda a Sociedade, que não
possa auxiliá-la eficientemente através da correção das impressões errôneas dos
de fora, quando não ajudar realmente através da propagação dessa idéia. Ah, o
homem nobre e altruísta que nos auxiliar efetivamente,
na Índia, nesta divina tarefa! Todo nosso conhecimento, passado e presente, não
seria suficiente para recompensá-lo.
Tendo explicado nossos pontos
de vista e aspirações, tenho apenas mais umas poucas palavras a acrescentar.
Para serem verdadeiras, a religião e a filosofia têm de oferecer a solução de
todos os problemas. Que o mundo esteja moralmente em tão má condição é uma
evidência conclusiva de que nenhuma de suas religiões e filosofias, aquelas das
raças civilizadas menos do que
qualquer outra, jamais possuíram a verdade.
As explanações corretas e lógicas sobre os problemas dos grandes princípios
duais — certo e errado, bem e mal, liberdade e despotismo, dor e prazer,
egoísmo e altruísmo — são tão impossíveis para elas agora como eram há 1881
anos atrás. Elas estão tão longe da solução quanto sempre estiveram; mas deve
haver, em algum lugar, uma solução consistente para estes problemas e, se
nossas doutrinas provarem sua competência em oferecê-la, então o mundo será o
primeiro a confessar que esta deve ser a verdadeira filosofia, a verdadeira
religião, a verdadeira luz, a qual dá a verdade e nada mais que a verdade.
(Final da Carta)
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Sobre o mistério do despertar individual para a
sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.

Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso
Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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