Se Cada Um Cumprir Seu Dever, o
Sofrimento Humano Será Reduzido em Breve
Um
Mestre de Sabedoria
Uma
imagem dos Himalaias, em quadro de Nicholas Roerich
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Nota Editorial de 2015:
Publicado pela primeira vez em 1888,
o documento a seguir esclarece aspectos
fundamentais do esforço teosófico moderno.
Para tornar mais fácil uma leitura
contemplativa do texto, dividimos
alguns
dos seus parágrafos em parágrafos menores.
(Carlos Cardoso Aveline)
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“Ponham as suas boas intenções em prática
sem demora, e sem permitir que uma só delas
permaneça apenas no terreno das intenções.”
Só a filosofia divina - a união
espiritual e psíquica do homem com a natureza - pode, através da revelação das
verdades fundamentais ocultas sob os objetos dos sentidos e da percepção, promover
um espírito de unidade e harmonia, apesar da grande diversidade que há entre as
religiões em conflito.
A
teosofia, portanto, espera e exige dos membros da Sociedade [1] uma grande tolerância mútua e
caridade em relação aos defeitos uns dos outros, e uma ajuda mútua
incondicional na busca das verdades de cada aspecto da natureza moral e da
natureza física. Este padrão ético deve ser aplicado de modo inabalável na vida
diária. [2]
A
Teosofia não deve representar apenas uma coleção de verdades morais, um pacote
de ética metafísica expresso em dissertações teóricas. A teosofia deve ser algo prático; e tem, portanto, que
ficar livre de digressões inúteis, no sentido de discursos volúveis e conversas
elegantes.
Se
cada teosofista cumprir apenas o seu dever - aquilo que ele pode e deve
realizar - em pouco tempo se verá que a soma do sofrimento humano ficou
visivelmente reduzido, dentro e ao redor das áreas de cada loja da nossa
Sociedade. Esqueçam o EU no trabalho pelos outros, e a tarefa passará a ser
fácil, e leve, para vocês …….
Não
deixem que o seu orgulho em relação a este trabalho dependa do apreço e do
reconhecimento dos outros. Por que algum membro da Sociedade Teosófica [3], tentando ainda tornar-se um
teosofista, iria atribuir qualquer valor à opinião boa ou má que o seu próximo
tenha dele próprio e do seu trabalho, se ele sabe por si mesmo que o trabalho é
útil e benéfico para outras pessoas? O entusiasmo e o elogio humanos são de
curta duração, na melhor das hipóteses. A risada do zombeteiro e a condenação
do observador indiferente seguramente virão, e em geral elas têm mais força que
o elogio e a admiração dos que simpatizam. Não desprezem a opinião dos outros, nem
provoquem inutilmente críticas injustas da parte do mundo. Ao invés disso,
permaneçam indiferentes tanto ao desrespeito quanto ao elogio de quem nunca
poderá conhecer vocês como vocês realmente são, e diante de quem, portanto,
vocês devem manter-se imperturbáveis tanto numa situação como na outra, sempre
colocando a aprovação ou condenação do seu próprio Eu Interior acima da opinião das multidões.
Quem
quiser conhecer a si mesmo no espírito da verdade deve aprender a estar sozinho
até mesmo no meio de grandes multidões, que podem rodeá-lo às vezes. Procurem a
comunhão e o diálogo apenas com o Deus que está em suas próprias almas. Levem em
conta somente o elogio ou a condenação daquela divindade que jamais pode
separar-se dos seus verdadeiros eus; porque
tal divindade é de fato um Deus, isto
é, a CONSCIÊNCIA MAIS ELEVADA.
Ponham
as suas boas intenções em prática sem demora, e sem permitir que uma só delas
permaneça apenas no terreno das intenções. Façam isso sem esperar recompensa ou
mesmo reconhecimento do bem que possam ter feito. A recompensa e o
reconhecimento estão em vocês mesmos e são inseparáveis de vocês, porque só os
seus Eus Internos podem apreciar suas ações e perceber o verdadeiro valor
delas. Cada um contém dentro do seu tabernáculo interior a Corte Suprema - o
promotor, a defesa, o corpo de jurados e o juiz - cuja sentença é a única da
qual não se pode recorrer. Ninguém poderá conhecer vocês melhor do que vocês
mesmos, quando tiverem aprendido a julgar a si próprios a partir da luz
invariável da divindade interna - a sua Consciência mais elevada. Deixem,
portanto, que as massas - sempre incapazes de conhecer os seus verdadeiros eus
- condenem os seus eus externos de acordo com falsos critérios …….
A
maior parte da assembleia pública de magistrados é geralmente composta de
juízes nomeados por si mesmos, que jamais adotaram como divindade permanente
qualquer ídolo além das suas próprias personalidades, os seus eus inferiores.
Aqueles que tentam seguir ao longo da vida a sua luz interior nunca serão vistos julgando - muito menos condenando -
os mais fracos. Que importância tem, então, o fato de tais juízes condenarem ou
elogiarem, e humilharem vocês, ou os colocarem em um pedestal?
De
um jeito ou de outro, eles nunca os compreenderão. Podem transformá-los em
ídolos, enquanto pensarem que vocês são um espelho fiel deles próprios,
situados no pedestal ou altar que eles construíram; e enquanto vocês os
divertirem, ou os beneficiarem. Vocês não podem esperar ser para eles qualquer
coisa exceto um fetiche, que
substitui outro fetiche destronado antes. E, no seu devido tempo, vocês também serão
substituídos por outro ídolo. Deixem, pois, que aqueles que construíram o ídolo
o destruam no momento que quiserem, jogando-o por terra por motivos tão fúteis
quanto os motivos que tiveram para construí-lo. A sua Sociedade Ocidental não
pode viver sem um líder instantâneo, e tampouco pode adorá-lo por mais do que
um momento. Mas sempre que a sociedade quebra um ídolo e joga lama sobre ele,
não é o modelo que a sociedade destrona e destrói, e sim a imagem desfigurada
criada pela sua própria fantasia distorcida, à qual atribui os seus próprios
vícios.
A
Teosofia só pode ser expressada objetivamente através de um código de vida que abranja
o todo, completamente impregnado pelo espírito da tolerância mútua, da
compaixão e do amor fraternal. A sua Sociedade, como organismo [4], tem diante de si uma tarefa que, a
menos que seja realizada com grande discernimento, fará com que o mundo dos
indiferentes e dos egoístas se volte contra ela.
A
Teosofia tem que combater a intolerância, a ignorância e o egoísmo, ocultos sob
o manto da hipocrisia. Ela tem que distribuir toda a luz que puder a partir do
fogo da Verdade, colocado sob responsabilidade dos seus servidores. Deve fazer
isso sem medo ou dúvidas, e sem temer críticas nem condenação.
Através
da sua porta-voz, a Sociedade, a Teosofia tem que dizer a VERDADE olhando de
frente para a MENTIRA. Deve enfrentar a fera em sua toca, sem temer ou pensar
sobre consequências negativas, e fazer frente tanto a calúnias como a ameaças.
Como Associação, a Sociedade tem não só o direito, mas o dever de
revelar o vício e fazer o possível para corrigir os erros, seja através dos
seus palestrantes escolhidos ou da palavra impressa dos seus jornais e
publicações. No entanto, as acusações devem ser feitas de um modo tão impessoal
quanto possível. E os seus membros, individualmente,
não têm este direito.
Antes
de mais nada, os seguidores da Teosofia devem estabelecer o exemplo de uma
moralidade firmemente definida, e aplicada com igual firmeza, para depois terem
o direito de assinalar, mesmo que com um espírito amável, a ausência de uma unidade
ética e de um propósito unificado em outras associações ou indivíduos. Nenhum
teosofista deve acusar um irmão, seja dentro ou fora da associação; e tampouco
pode lançar uma mácula sobre as ações de outro indivíduo, ou denunciá-lo, sob
pena de perder o direito de ser considerado um teosofista. Porque, como
teosofista, ele deve desviar o olhar das imperfeições do seu próximo, e
concentrar sua atenção mais precisamente sobre as suas próprias falhas, para
corrigi-las e tornar-se mais sábio. Ele não deve mostrar a disparidade entre a
pretensão e a ação, nos outros. Seja no caso de um irmão, de um vizinho ou de
um cidadão qualquer, o teosofista deve sempre ajudar, no árduo caminho da vida,
aquele que é mais fraco que ele.
Os
problemas da verdadeira Teosofia e da sua grande missão são, primeiro, a produção
de concepções claras e inequívocas a respeito de ideias e deveres éticos, de
modo que possam satisfazer do melhor modo possível e da maneira mais completa os
sentimentos corretos e altruístas dos seres humanos; e, em segundo lugar, a ligação
de tais concepções com a vida diária, de modo a criar-se um campo onde elas
possam ser aplicadas de maneira adequada. Este é o trabalho comum colocado
diante de todos os que estão dispostos a agir com base em tais princípios. É um
trabalho laborioso, que exige esforço intenso e perseverança, mas ele levará
vocês a fazer um progresso imperceptível, e não deixará espaço para aspirações
egoístas fora dos limites traçados …….
Não
caiam na tentação de fazer comparações pessoais antifraternas entre a tarefa
realizada por vocês e a tarefa deixada sem fazer por seus próximos ou seus
irmãos. Na lavoura da Teosofia, ninguém
tem o dever de cuidar de um pedaço de terreno maior do que a sua força e a sua
capacidade permitem.
Não
sejam demasiado severos em relação aos méritos ou deméritos de quem busca
admissão em suas fileiras, porque só o Carma sabe a verdade sobre o real estado
do ser humano interno, e só esta LEI, que tudo vê, pode lidar com justiça a
este respeito.
Até
mesmo a presença entre vocês de um indivíduo bem-intencionado e que tem
simpatia pode ajudá-los magneticamente ……. Vocês são trabalhadores voluntários
na lavoura da Verdade, e devem deixar livres os caminhos que levam até esta
lavoura.
…….
……. …….
O grau de êxito ou fracasso
são as indicações que os mestres devem seguir, porque os seus erros
constituirão as barreiras colocadas por suas próprias mãos entre vocês e
aqueles a quem pediram que fossem seus professores. Quanto mais o estudante se
aproximar da meta buscada, menor será a distância entre ele e o Mestre.
NOTAS:
[1] “Membros da Sociedade”, isto é, “membros do
movimento teosófico”. A sociedade teosófica original deixou de existir durante
os anos 1890. (CCA)
[2] Erich Fromm escreve
em seu livro “Man for Himself”:
“É impossível compreender o homem e as suas
perturbações emocionais e mentais sem que haja uma compreensão da natureza dos
conflitos morais e conflitos de valores. O progresso da Psicologia não surge do
divórcio entre um reino supostamente ‘natural’ e um reino supostamente ‘espiritual’,
focando-se a atenção sobre o reino ‘natural’. O progresso surge de voltar à
grande tradição da ética humanística, que enxerga o homem em sua totalidade
física e espiritual, e acredita que a meta do homem é ser ele mesmo, e que a
condição para alcançar esta meta é que o homem aja com autonomia.” (“Man for Himself”, Erich Fromm, Holt,
Rinehart and Winston Ltd., New York, USA, 1960, 254 pp., veja p. 7) (CCA)
[3] Isto é, do movimento
teosófico. (CCA)
[4] Ou o seu movimento e suas associações, como organismos.
(CCA)
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O texto “Algumas Palavras Sobre a Vida Diária”
foi traduzido da revista “Lucifer”, de Londres, edição de janeiro de 1888, pp.
344-346. Ele também está nos “Collected Writings” de H. P.
Blavatsky, TPH, volume VII, pp. 173-175. “Lúcifer” é um nome antigo do planeta Vênus,
a “estrela d’alva” e a “estrela vespertina”. Desde a Idade Média, o significado
da palavra tem sido distorcido por sacerdotes desinformados e supersticiosos.
A editora da revista, H. P. Blavatsky, escreveu que o
artigo “Algumas Palavras Sobre a Vida Diária (“Some Words on
Daily Life”) foi escrito por um Mestre de Sabedoria. Uma transcrição do mesmo
texto, com algumas diferenças e comentários, foi publicada por C. Jinarajadasa como
Carta 82 da segunda série de “Letters From the Masters of the Wisdom”.
Este material foi publicado em português pela Editora Teosófica, de Brasília,
sob o título de “Cartas dos Mestres de Sabedoria”.
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Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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