22 de setembro de 2025

Esquerda, Direita, Centro…

 
Ideologias Devem Servir Para Buscar
Soluções, e Não Para Dividir Pessoas
 
Michel Temer
 



Sou contra as rotulações. Esquerda, direita, centro, extrema esquerda ou extrema direita pouco importam ao cidadão comum. O que ele quer do governante é resultado. Se este for positivo, se tiver emprego ou conseguir sobreviver economicamente, não importa o rótulo que o governante queira utilizar. Aliás, os rótulos têm apenas um efeito eleitoreiro. Alardeia-se que a esquerda é a favor dos pobres e a direita, dos ricos. Mas exemplos de governos eleitos são plenos de esquerdistas protetores do empresariado, ricos, e direitistas que se dedicam fortemente a bons resultados sociais. Rótulos, portanto, nada significam para os habitantes de um país

Costumo exemplificar: pergunte a quem passa fome se ele é de esquerda, direita ou centro. Dirá: quero um pão. A um desempregado: quero um emprego. A um empresário: quero financiamento. Ou pagar menos tributos. Tudo a indicar um comando pragmático, objetivo, palpável, de acordo com as necessidades de cada qual.

Importante, sim, é preservar o sistema democrático porque é nele que o povo manda ao escolher seus representantes. Para os que apreciam a rotulação, melhor seria distinguir os sistemas democráticos dos autocráticos ou monocráticos, já que estes últimos retiram do povo a capacidade de escolha, gerando fórmulas absolutistas.

Vejam que não é incomum, naquela rotulação tradicional, jogar empregados contra empregadores e estes contra os empregados. São, na verdade, as duas grandes forças produtivas nacionais e aos governos cabe compatibilizá-las, e não desarmonizá-las. Tomemos argumento trivial: os governos querem combater o desemprego. Para tanto, é preciso ter emprego. Para ter emprego, é preciso ter empresa. É claro que se impõe, nessa equação, que uns e outros estejam satisfeitos com suas atividades. Daí o lucro, daí salários adequados.

Outro preconceito: meio ambiente e terras indígenas. São valores nacionais que merecem preservação. Entretanto, esses temas passaram a ser ideológicos, prejudicando, em face de embate ideológico, a sua adequada solução. E tudo isso gera mal-estar e disputa entre brasileiros, quando todos deveriam unir-se para solucioná-los. Ideologia deve prestar-se a buscar soluções, não dividir pessoas. Concreção, racionalidade, discussão de ideias, e não embate destrutivo de conceitos.

Outra coisa que se nota: cada novo governo (na União, nos Estados, nos municípios) quer destruir o que os anteriores fizeram. Mudam-se programas e até seus nomes, quando se sabe que cada governante, no seu momento histórico, fez coisas úteis. Se efetivou erros, eles hão de ser apontados e corrigidos. Aí, sim, cabe a observação crítica cujo objetivo será nobre: consertar o que deu errado.

Outro conceito equivocado: nas democracias é fundamental a existência da oposição. No seu conteúdo jurídico-constitucional, a oposição existe para ajudar a governar quando critica, contesta, contradita, fiscaliza. Impede ela, com tal atuação, o poder absoluto, unitário. Mas não é essa a sua atividade, ou seja, se eu perdi a eleição, o meu dever é destruir aqueles que a venceram. O conceito, portanto, é político, e não jurídico. Com isso se prejudica a governabilidade e, em consequência, o povo. O exemplo clássico institucional correto é o que se dá no Reino Unido. Lá, a maioria forma o governo, o gabinete de situação, e a oposição estabelece o que se conhece como gabinete das sombras, cujo objetivo é fiscalizar o governo.

Com essas considerações e com vistas a aperfeiçoar o sistema, volto aos rótulos. Por mais que se os despreze, eles subsistem. E, por subsistirem, permito-me dizer que em alguns momentos no Brasil venceu o que se chama de esquerda; em outros, a direita. Mas as últimas eleições municipais indicaram que o povo quer o centro, ou seja, moderação, tranquilidade, harmonia. Nada da radicalização que tem imperado nos últimos tempos. Quando se pensa no centro, parte-se da concepção latina segundo a qual a virtude está no meio (in medio virtus).

Se o centro é vencedor, é preciso organizá-lo. Organizá-lo significa somá-lo. O que se constatou nestas eleições municipais é que muitos partidos vencedores são de centro. Levaram a maior parte, expressiva mesmo, dos municípios brasileiros.

Em 2026 teremos eleições nacionais e estaduais. Faria bem ao País se esses partidos começassem a aliançar-se desde já por meio de um programa comum que venha a ser debatido durante a campanha para ser aplicado no governo, oferecendo, assim, ao eleitorado a oportunidade de saber a opção que está fazendo. Uma espécie de ponte para os futuros quatro anos, de 2026 a 2030. Isso dará consistência e credibilidade a esses partidos. Candidatura ver-se-á no momento próprio, mais adiante.

De igual maneira, ainda preso à rotulação: a esquerda poderá agrupar-se e, de igual maneira, formatar um programa comum. E de igual forma poderá fazê-lo a chamada direita.

Sendo assim, a próxima eleição não será apenas de nome contra nome, mas de programa contra programa. Será, na certa, uma atuação bastante respeitosa com o eleitorado.

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O artigo “Esquerda, Direita, Centro…” está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 22 de setembro de 2025. Foi publicado inicialmente pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, em 23 de novembro de 2024.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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