A Situação do Planeta
Resulta do Estado da Alma
Carlos Cardoso Aveline
Muitos se preocupam com o perigo de uma terceira guerra mundial. A
verdade é que a guerra já começou há algum tempo, e ocorre como uma batalha no
plano da mente.
A guerra mundial que vivemos agora é um conflito de longo prazo,
não declarado, e bastante diferente dos anteriores. É a mais inteligente das
guerras, sendo em grande parte sutil; é a mais tola delas, porque é
desnecessária. Ela não ocorre no mundo físico: seu principal campo de batalha
está localizado na alma.
Não haverá necessidade, portanto, de provocar a ruína completa
da nossa civilização, se o respeito pela vida vencer na consciência humana.
Em qualquer espécie de conflito, a vitória e a derrota começam
no pensamento. Para Sun Tzu, a “Lei Moral” ou vontade de vencer é fator
decisivo. Ele afirma que o líder “representa as virtudes da sabedoria,
sinceridade, benevolência, coragem e retidão”. [1]
O melhor tipo de guerra é aquele em que não é necessário combater
fisicamente, e Sun Tzu explica:
“Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema; a
glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar. Na arte
da guerra, a melhor coisa é tomar o país inimigo totalmente e intato; danificar
e destruir não é tão bom.” [2]
As boas artes marciais do Oriente têm como base o mesmo
princípio: “em primeiro lugar está a força da mente e do espírito”.
É verdade que o conflito mundial do século 21 inclui planejamento
e ocupação de posições militares físicas ao redor do mundo. Ações e intenções
genocidas são visíveis no plano material. No entanto, no jogo de xadrez, como
na estratégia, a ameaça é frequentemente mais eficaz que a sua realização.
O mapa mundial de armas nucleares revela a existência de uma
rede absurda de ameaças e contra-ameaças. A proliferação nuclear, o maior
perigo para a humanidade, começa nas mentes dos estadistas e se alimenta da
ingenuidade humana. A guerra se desenvolve fundamentalmente como uma batalha da
imaginação.
As ideias precedem os fatos externos: a terceira guerra é uma
luta pela definição das ideias dominantes
que determinam o rumo da humanidade no século atual. Trata-se de uma versão
atualizada, planetária e multidimensional da segunda guerra, ocorrida entre 1939
e 1945.
De um lado, temos o campo magnético dos que preservam a ética,
amam a Vida e observam o princípio moral da ação moderada.
Do outro lado vemos aqueles que veneram os sentimentos
destrutivos. Incapazes de amar a si mesmos, ignoram o valor do autocontrole e
do respeito profundo por todos os seres.
Há modos sutis de boicote contra a vida: sabe-se que a adoração
do dinheiro e das máquinas constitui uma forma indireta de combater a energia
da alma e abrir caminho para vários tipos de calamidade. A
luta entre as forças da alma e as forças da não-alma desencadeia-se ao mesmo
tempo na mente do indivíduo e no ethos de cada comunidade local. No
Oriente Médio e em todo o mundo, nenhuma província ou país fica livre dela.
Ninguém está afastado desta guerra abrangente. Na mente de todos, há um amor
pela vida e outro sentimento que boicota esse amor.
A falsa religiosidade que glorifica o ódio também alimenta o
antissemitismo e o amor pelo poder material. A ilusão de que dinheiro e posição
social produzem felicidade estimula as causas da violência física e
psicológica. As várias formas de falsidade socialmente estabelecidas possuem o
mesmo efeito oculto destrutivo.
Cada cidadão precisa vencer sua própria batalha microcósmica
enquanto ajuda outros a vencerem as suas.
Aquele que é suficientemente rigoroso consigo mesmo evita a
autoilusão e desmascara a adoração coletiva do mundo da aparência. A vida tem
seus próprios modos de derrotar a filosofia da mentira segundo a qual “a sinceridade é impossível” e “a hipocrisia constitui a lei”.
Os amigos da verdade não precisam ser muitos, e o sábio judaico Maimônides
escreveu sobre a importância do pensamento independente.
“Quando tenho um tema difícil diante de mim”, disse ele, “quando
o caminho é estreito e a única maneira de afirmar uma verdade confirmada é dizendo
algo que agradará um só homem inteligente e desagradará dez mil tolos, prefiro
dirigir-me a aquele homem, e ignorar a condenação da maioria.” [3]
A filosofia esotérica concorda com
Maimônides neste ponto.
A Arte de Observar os Fatos
É errado olhar para o Carma - as situações da vida - como se ele
fosse imutável. O Carma é plástico na sua interação conosco. Seu significado
prático e seus resultados dependem do ponto de vista desde o qual ele é vivido
e observado.
A terceira guerra mundial é uma guerra pelos pontos de vista
dominantes em nossa cultura. A derrota é inevitável para aqueles que olham para
a vida pela lente do egoísmo, e acreditam que é ingênuo ser sincero.
Os indivíduos sem contato com suas almas são tristemente
destituídos de inteligência: não podem guiar a humanidade. Os cidadãos honestos
devem lutar pelo seu direito de ser
sinceros, que a média dos mentirosos inveja e ataca. O peregrino consciente
promove no seu próprio mundo psicológico aquilo que é correto. Ele rejeita os pensamentos
e sentimentos hostis à sabedoria.
Este conflito mundial é uma luta pela compreensão, uma guerra de
princípios. A vitória da alma começa em qualquer lugar e se desdobra por toda
parte um milhão de vezes. Ela ocorre cada vez que um cidadão se livra de
“crenças automáticas”, abandona pontos de vista não examinados e rejeita a
rotina do ódio e o hábito do desânimo. Ela emerge sempre que alguém faz um
exame severo de suas próprias opiniões e escolhe o pensamento autorresponsável,
colocando de lado ideias transmitidas de forma subconsciente.
É dever espiritual do cidadão ouvir a paz sagrada de sua própria alma: a suave
voz do silêncio cura a dor humana. Os níveis superiores do silêncio falam do
equilíbrio eterno que une todas as coisas.
Nada pode ser mais elevado que a verdade e a sinceridade.
Nenhuma arma feita por seres humanos poderia desafiar a Lei das Leis. Tudo está em unidade
no nosso planeta, e nos reinos decisivos da vida flui livremente a força do
altruísmo.
O grau de honestidade nos corações dos seres é o fator central em relação
ao futuro. No capítulo 18 de Gênesis, vemos que um pequeno número de indivíduos justos teria sido suficiente para
evitar uma catástrofe geológica. A mesma ideia fundamental é ensinada nos
clássicos taoistas. [4] O princípio
é fácil de encontrar nos ensinamentos do cristianismo, do hinduísmo, e na
teosofia clássica de Helena Blavatsky.
Será que temos agora esse
pequeno número necessário de indivíduos Justos? É uma questão a enfrentar. É um
tema a ser trabalhado.
Ao
longo da vida do planeta, há três fatores silenciosamente interconectados, e a interação
entre eles é ensinada por diferentes tradições culturais, e demonstrada pela
ciência e pela sociologia:
1)
A quantidade de ética e sabedoria na alma das pessoas;
2)
Os ciclos de vida geológicos e ecológicos do planeta; e
3)
O grau de bem-estar da humanidade; a legitimidade e o destino de suas
civilizações.
A
Raja Ioga e a teosofia moderna não estão sozinhas ao dizer que a situação do planeta
resulta do estado da alma. O Pirkê Avot, um clássico do judaísmo, afirma:
“O
mundo existe graças a três coisas: a verdade, a justiça e a paz (…).” [5]
A
presença silenciosa de almas de boa vontade entre nós tem reduzido invisivelmente
o tamanho da terceira guerra mundial, evitando que assuma proporções físicas
indevidas.
Essa
influência ajudará a fechar a porta da destruição desnecessária, se a loucura
da proliferação de armas nucleares for interrompida a tempo.
Proteger
a humanidade não é uma tarefa de curto prazo. O esforço desdobra-se era após
era e deve ser intensificado em algumas ocasiões.
Cada
vez que o êxito tem lugar, ele ocorre primeiro no mundo interno, e só depois no
mundo exterior. Emerge nos cenários visíveis da vida através do
restabelecimento da Ética e da Justiça. Firmeza e moderação são sempre
oportunas no processo.
NOTAS:
[1] “A Arte da Guerra”, Sun Tzu,
adaptação e prefácio de James Clavell, Editora Record, 1995, 111 pp., p. 18.
[2] “A Arte da Guerra”, adaptação de
James Clavell, Editora Record, p. 25.
[3] “The
Guide for the Perplexed”, Moses Maimonides, Dover Publications, Inc., New York,
414 pp., ver p. 09.
[4]
Veja
por exemplo os capítulos 15, 19, 136 e 178, entre outros, em “Wen-tzu, a Compreensão dos Mistérios”, Ensinamentos de Lao-tzu. Tradução
do chinês, Thomas Cleary. Tradução do inglês, Carlos Cardoso Aveline. Brasília,
Editora Teosófica, 2002, 198 páginas.
[5] “A Ética do Sinai”, Ensinamentos dos Sábios
do Talmud, Editora e Livraria Sêfer, São Paulo, 1998, ver Capítulo 1, Mishná
18, p. 64.
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O texto acima foi publicado pela
primeira vez em inglês sob o título de “The World War in Our Minds” e
está disponível em nossos websites associados. Pode ser visto também em nosso
blogue no jornal israelense “The Times of Israel”.
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Sobre a necessidade de evitar conflitos desnecessários,
veja em nossos websites os artigos “Brasil
é Contra a Proliferação Nuclear”, de Michel Temer, e “Old Prophecies and
Atomic War”, de Carlos Cardoso Aveline.
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