O “Avatar” Nem Sempre Mostrava
Em Público Os Seus Reais Pensamentos
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
O “Senhor Cristo” pseudoteosófico e a Sra. Annie
Besant em 1926, três
anos antes de ele finalmente terminar a comédia
abandonando a Sociedade Teosófica
Jiddu Krishnamurti foi cuidadosamente educado por Annie Besant e Charles
Leadbeater para ser o avatar da nova era. E eles foram quase obsessivos em
relação a isso. [1]
Na vida adulta, porém, Krishnamurti rejeitou por completo os ensinamentos
dos dois e nunca demonstrou interesse pela pseudoteosofia Besantiana. Tampouco
prestou atenção à teosofia original, ou à sabedoria clássica. Em vez disso,
tornou-se um pensador que estranhamente denunciava como errado o próprio ato de
pensar.
O professor indiano P. Krishna foi sobrinho de Radha Burnier (1923-2013),
que presidiu a Sociedade de Adyar durante décadas. Seguidor ardoroso de
Krishnamurti, P. Krishna contou um diálogo que ele teve com um amigo sobre como
fora educado por Charles Leadbeater e Annie Besant.
P. Krishna escreveu:
“Certa vez um homem disse a Krishnamurti que ele havia tido muita sorte por
ser educado na Sociedade Teosófica tendo professores como Leadbeater e Annie
Besant. Ele respondeu: ‘Sim, tive muita sorte de ter professores
como eles.’ E o homem acrescentou: ‘Nós
não tivemos tanta sorte, precisamos ser educados em instituições convencionais.
De que modo podemos encontrar a verdade?’ E ele respondeu: ‘Caro senhor, eu tive sorte porque tudo o que
eles me diziam entrava por um ouvido e saía pelo outro’.” [2]
Esta é, em poucas palavras, a avaliação que Krishnamurti fez da filosofia
de Annie Besant e da influência dela sobre ele.
Em seu artigo, P. Krishna desenvolve uma interpretação artificial e
“politicamente correta” das palavras de Krishnamurti. Tais explicações e
justificativas não têm interesse para nós: Krishnamurti era capaz de falar por
si mesmo. Suas próprias palavras são muito claras, e ele sabia do que estava
falando. O desabafo de Krishnamurti sobre a educação recebida de Besant e
Leadbeater é a ponta de um iceberg que
por razões políticas ele preferia manter submerso sob as águas.
Krishnamurti não tinha admiração alguma pela fraude pseudocristã fabricada
pelos líderes da Sociedade de Adyar. No entanto, deixava-se ficar como cômodo beneficiário
dela.
A Missa na Igreja Católica Liberal
Em seu bem
documentado livro “Krishnamurti, The Years of Awakening” [3], a autora
britânica Mary Lutyens transcreve parte de uma carta de 1922 escrita por Jiddu
Krishnamurti para sua íntima amiga Lady Emily.
O fragmento
mostra como Krishnamurti temia revelar em público o que realmente pensava dos
líderes teosóficos e de sacerdotes como C. W. Leadbeater, a quem ele
considerava “tolos”.
Krishnamurti
assistiu a uma missa da Igreja Católica Liberal que foi oficiada pelo próprio “bispo”
C. W. Leadbeater.
Na época,
Krishnnamurti estava sendo treinado para fazer o papel de Senhor Cristo na tragicomédia pseudoteosófica da “Volta de Cristo”
dirigida por C. W. L. e Annie Besant. A paródia só terminou quando o “avatar”
abandonou definitivamente a Sociedade de Adyar em 1929.
Em sua carta
para Lady Emily (mãe de Mary Lutyens), Krishnamurti escreveu o seguinte desde a
cidade de Sidney, na Austrália:
“Domingo pela
manhã [4] fui até a Igreja Católica Liberal e C. W. Leadbeater era o
sacerdote encarregado. Ele fez tudo muito corretamente, mas você sabe que não
gosto de rituais e não aprecio toda aquela parafernália, com todas aquelas
orações, e com as pessoas erguendo-se e abaixando-se, os trajes, etc.; mas não
vou atacar isso; algumas pessoas gostam de fazer estas coisas, que direito
tenho eu de atacá-las ou desaprová-las? A missa na igreja durou duas horas e
meia e o tédio era tamanho que eu estava quase desmaiando. Acho que demonstrei
isso. Devo ter cuidado para que eles não me interpretem mal; caso contrário
terei problemas. Eles são como gatos & cachorros a respeito deste assunto
de igreja. De qualquer modo, são tolos. Os seus exageros e a falta de tato são
causas de problemas aqui.”
Mary Lutyens
acrescentou que as palavras acima resumem “a atitude de Krishnamurti em relação
à igreja”.
Infelizmente, na
época ele era muito tímido e não tinha força de caráter suficiente para fazer
uma clara declaração de princípios. Na verdade, Krishnamurti manteve a infeliz
paródia de Cristo Católico Liberal
durante sete anos ainda - até agosto de 1929.
NOTAS:
[1] Veja o artigo “Fabricando um Avatar”, de Carlos Cardoso Aveline, que está
disponível em nossos websites associados. Leia também, do mesmo autor, o texto
“Krishnamurti e a Teosofia”.
[2] “Krishnamurti
As I Knew Him”, artigo de P. Krishna, diretor do Rajghat Education Centre,
Krishnamurti Foundation - Índia, Varanasi. O texto foi publicado pela primeira
vez na edição de maio de 1997 da revista “The Theosophist”, na Índia. O artigo
transcreve uma palestra dada por P. Krishna em novembro de 1996 na Loja de
Adyar da Sociedade Teosófica, em Chennai, na Índia.
[3] “Krishnamurti,
The Years of Awakening”, de Mary Lutyens, livro publicado por Farrar, Straus and Giroux,
New York, 1975, 326 pp., ver p. 142.
[4] Dia 18 de abril de 1922, segundo revela
Mary Lutyens.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento
esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja
Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas
diversas dimensões da vida.
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