O Reino que Devemos Buscar Está no
Céu, e o Caminho Para Chegar Lá é Interno
Joana Maria Ferreira de Pinho

Escolher
o caminho da verdade implica enfrentar uma série de desafios. A maior
dificuldade é interna. Alguns setores da personalidade lutarão pela sua
sobrevivência.
As
ideias e as imagens que o buscador constrói acerca de si mesmo são entidades
vivas. Quando elas se sentem ameaçadas dão luta. Uma visão honesta sobre nós
próprios é muitas vezes dolorosa. Veremos erros e defeitos que tentamos
esconder ao longo da nossa existência e, com coragem, aceitaremos a impureza
dos outros como sendo também nossa.
O
caminho da sabedoria exige constantes exercícios de humildade e desapego do
peregrino. A vivência espiritual não corresponde a um mar de rosas como tantos
desinformados desejam. Acordar para a realidade do ser é, como a literatura
teosófica destaca, nascer de novo. E todo nascimento implica uma dose de
sofrimento.
A
primeira respiração é dolorosa para o bebê mas, ao mesmo tempo que ocorre o
sofrimento, o recém-nascido é acolhido com amor por um novo mundo. Também
aquele que nasce para dimensões mais elevadas da vida sofre e é acolhido pelo
eu superior, que o guia, ama, protege e educa. À medida que o peregrino entra
no mundo divino, ele transcende a dor. Como diz o ditado popular, o que arde
cura. E Helena Blavatsky escreveu:
“Toda
árvore tem sua sombra; cada sofrimento, sua alegria.” [1]
Podemos
sofrer enquanto nos vamos conhecendo com mais profundidade. No entanto, esse tipo
de dor é bem diferente daquela que ocorre quando estamos distantes do eu
espiritual. Aquele que é insensível para o princípio divino da vida tem no
sofrimento um objeto de culto. Aquele que desperta tem no cosmo inteiro o
objeto de sua adoração, e dessa forma torna-se maior do que qualquer dor. Sua
alma passa a buscar alimento no céu e com isso ele conhece a alegria e a
compaixão.
As
dificuldades continuarão a existir. Ele se sentirá muitas vezes remando contra
a maré, mas isso é um teste para a sua capacidade de agir. Navegar no oceano da
vida pode ser surpreendente e quando o buscador está pronto surge a corrente
luminosa que o ajuda a avançar e a servir com entusiasmo e eficácia.
A
sociedade atual ainda não sabe acolher os que pensam de uma forma diferente da
maioria. Os solitários são chamados por alguns de “antissociais”. Os que
ignoram os bens materiais, são vistos como “irresponsáveis”. Os que sonham e se
esforçam por criar um mundo melhor, são chamados de “infantis” pelos
desinformados. Nem todos percebem que no
silêncio da solidão nunca se está realmente só. O reino que devemos buscar está
no céu e o caminho para chegar lá é interno. A pureza e a alegria das crianças
são condições que devemos recuperar. Sonhar é um estágio inicial de toda vivência.
Bernard Shaw escreveu:
“O
homem razoável adapta-se ao mundo: o não razoável persiste em fazer o mundo
adaptar-se a ele. Portanto, todo progresso depende do homem que não é
razoável.” [2]
O
avanço da humanidade surge do esforço dos pioneiros, daqueles que abrem um
caminho novo e tentam revelar que o destino de todos é a paz, a bondade e o
contentamento. Os que entram em conformidade com a maioria materialista não
podem gerar mudança e progresso. A fricção entre velhos paradigmas e novas
formas de olhar para o mundo e de agir nele é um dos movimentos que faz a
humanidade progredir.
O
peregrino que se esforça por construir uma sociedade justa e honesta sofre
muitas injustiças. A própria família e os amigos muitas vezes olharão para ele
como um fracassado e ingênuo. De fato, ele não conhecerá o êxito no modelo
materialista adotado pela sociedade atual. Nem ele busca esse tipo de sucesso.
O peregrino focado em plantar o novo futuro é indiferente a comentários e a
visões negativas que os outros possam ter em relação a si. Como Carlos Cardoso
Aveline escreveu:
“A
coisa correta a fazer é concentrar-nos na ação correta e perseverar. (…) O
conforto pessoal deve ser deixado de lado para que a ação solidária aconteça.” [3]
A
concentração no plantio é uma das garantias para a boa colheita. A bondade não
está em fazer o que os outros esperam que seja feito. Ser solidário implica
ouvir a voz da consciência e respeitá-la, fazer o que é correto em todas as
situações da vida, nunca desistir de seguir a Mente-Coração e lançar em todos
os terrenos as sementes do Amor-Sabedoria.
A
força daqueles que temem a mudança não derrubará os que tentam transformar o
mundo. Os pioneiros da nova era agem a partir do centro altruísta, o coração.
Sua energia é ilimitada, sua criatividade é imensa. Seu poder está na ajuda
mútua e seu destino é vencer.
NOTAS:
[1] Do
texto “Preceitos e Axiomas do Oriente - 1”, de Helena P. Blavatsky. O artigo
está disponível em nossos websites associados.
[2]
Palavras citadas na obra “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline,
Edifurb, Blumenau, SC, Brasil, 2007, 169 pp., p.123.
[3]
Reproduzido do artigo “Comentários à Escada de Ouro”, de Carlos Cardoso Aveline.
O artigo está em nossos websites associados.
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Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.

Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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