9 de maio de 2016

A Amazônia Segundo Al Gore

 Ex-Vice-Presidente dos EUA
Escreveu Sobre Chico Mendes 

Al Gore

Al Gore em foto de 2015 de Newsmax

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Nota Editorial Inicial

No início de 2007,  Al Gore ganhou o prêmio
Oscar de melhor documentário por seu filme
“Uma Verdade Inconveniente”, sobre a crise
climática global.  Em outubro, ele recebeu o
Prêmio Nobel da Paz por sua ação global em
defesa  do ecossistema planetário.

Comprometido com a causa ambiental
desde o início da década de 1980, o ex-vice-
presidente norte-americano visitou a Amazônia
quando ainda era senador,  para  apoiar a luta
dos seringueiros em defesa da floresta.

A seguir, um trecho do seu livro de 1993,
“A Terra em Balanço”, em que Gore toma
 posição em relação à luta de Chico Mendes.

Nos parágrafos anteriores a este trecho,
ele descreve a luta não-violenta dos povos
nativos da Malásia, que, em defesa das suas
florestas, faziam barreiras humanas para bloquear
estradas,  como meio de  impedir o desmatamento.

(Carlos Cardoso Aveline)

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(...)  Os fracos e os oprimidos são as primeiras vítimas, mas a sanha insaciável  e incansável de explorar  e saquear a terra logo despertará a consciência de outros que agora começam a entender os alarmes e os abafados gritos de socorro.

Nas famosas palavras do pastor Martin Niemoller, a respeito de como os nazistas conseguiram dominar uma sociedade inteira:

“Na Alemanha, os nazistas vieram buscar primeiro os comunistas, e não protestei,  pois não era comunista. Depois vieram buscar os judeus, e não protestei, pois não era judeu. Depois vieram buscar os sindicalistas, e não protestei, pois não era sindicalista. Depois vieram buscar os  católicos, e não protestei, pois era protestante. Depois vieram buscar-me e, àquela altura, não havia ninguém para  protestar por mim.”

Quem exigiu uma nova resistência foi Chico Mendes.  No final de 1988, os senadores Tim Wirth, John Heinz e eu, os congressistas John Bryant, Gerry Sikorski e uma delegação de observadores, estávamos a caminho do Brasil para encontrar Chico Mendes, talvez o mais famoso herói da resistência dos últimos anos, quando ele foi assassinado  por um grupo de ricos latifundiários.

Nascido no Acre, na região amazônica, Chico Mendes organizou e liderou os seringueiros, que colhem os produtos renováveis da floresta tropical – frutos, castanhas e principalmente borracha - que obtêm da seiva colhida através de pequenos cortes nas seringueiras. Seu modo de vida tem ajudado a preservar a floresta tropical, mas começou a prejudicar os interesses comerciais que visam explorá-la, queimando-a e derrubando árvores para abrir  espaço para fazendas de gado. Em diversas ocasiões, Chico Mendes e os seringueiros tentaram impedir a passagem de máquinas e recusaram-se a permitir que os exploradores cruzassem a floresta tropical para incendiar áreas próximas. 

Além disso, Chico Mendes encontrou formas alternativas - e sustentáveis - de ganhar a vida na floresta tropical e incentivou uma série de empreendimentos criativos para estimular os proprietários de terras a não destruí-las, mas a viver em harmonia com elas. Como aumentou seu reconhecimento da complexidade  dessas questões e desenvolveu-se sua capacidade de liderança, tentou entrar para a política, mas a riqueza e o poder dos latifundiários garantiram-lhe a derrota.  Entretanto, continuou a ameaçar seus interesses, e mataram-no, com uma rajada de tiros, na porta de sua casa.

Chegando ao Acre, encontramo-nos com Ilzamar, viúva de Chico Mendes, e com seus companheiros do movimento seringueiro, que prometeram continuar a luta contra a destruição da Amazônia.  A batalha está longe do fim: muitos outros integrantes do movimento, menos conhecidos que Chico Mendes, também foram mortos, e é impossível salvar a floresta tropical sem o apoio organizado do resto do mundo.  A morte violenta de Chico Mendes, porém, não foi em vão, pois concentrou a atenção do mundo nas sérias ameaças a um dos mais notáveis ecossistemas do mundo. Embora desejasse viver, foi exatamente isso o que previu em sua última entrevista:

“Se um anjo viesse do céu e garantisse que minha morte poderia fortalecer essa luta, seria uma troca justa”.

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Reproduzido do livro “A Terra em Balanço - ecologia e o espírito humano”, de Al Gore, Editora Augustus, São Paulo, 1993, 450 pp., ver pp. 312-314.

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Sobre a ecologia da mente e a teosofia do ambiente natural, veja o livro  “A Vida Secreta da Natureza”, de Carlos Cardoso Aveline.


A obra foi publicada pela Editora Bodigaya, de Porto Alegre, tem 157 páginas divididas por 18 capítulos, e está na terceira edição, de 2007.

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