Ex-Vice-Presidente dos EUA
Escreveu Sobre Chico Mendes
Al Gore
Al
Gore em foto de 2015 de Newsmax
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Nota
Editorial Inicial
No início de 2007, Al Gore ganhou o prêmio
Oscar de melhor documentário
por seu filme
“Uma Verdade Inconveniente”,
sobre a crise
climática global. Em outubro, ele recebeu o
Prêmio Nobel da Paz por sua
ação global em
defesa do ecossistema planetário.
Comprometido com a causa
ambiental
desde o início da década de
1980, o ex-vice-
presidente norte-americano visitou
a Amazônia
quando ainda era senador, para apoiar
a luta
dos seringueiros em defesa da floresta.
A seguir, um trecho do seu
livro de 1993,
“A Terra em Balanço”, em que Gore
toma
posição em relação à luta de Chico Mendes.
Nos parágrafos anteriores a este
trecho,
ele descreve a luta
não-violenta dos povos
nativos da Malásia, que, em
defesa das suas
florestas, faziam barreiras
humanas para bloquear
estradas, como meio de impedir o desmatamento.
(Carlos Cardoso Aveline)
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(...) Os fracos e os oprimidos são as
primeiras vítimas, mas a sanha insaciável e incansável de explorar e saquear a terra logo despertará a
consciência de outros que agora começam a entender os alarmes e os abafados
gritos de socorro.
Nas famosas palavras do pastor Martin Niemoller, a respeito de como os
nazistas conseguiram dominar uma sociedade inteira:
“Na Alemanha, os nazistas vieram buscar primeiro os comunistas, e não
protestei, pois não era comunista.
Depois vieram buscar os judeus, e não protestei, pois não era judeu. Depois
vieram buscar os sindicalistas, e não protestei, pois não era sindicalista.
Depois vieram buscar os católicos, e não
protestei, pois era protestante. Depois vieram buscar-me e, àquela altura, não
havia ninguém para protestar por mim.”
Quem exigiu uma nova resistência foi Chico Mendes. No final de 1988, os senadores Tim Wirth,
John Heinz e eu, os congressistas John Bryant, Gerry Sikorski e uma delegação
de observadores, estávamos a caminho do Brasil para encontrar Chico Mendes,
talvez o mais famoso herói da resistência dos últimos anos, quando ele foi
assassinado por um grupo de ricos
latifundiários.
Nascido no Acre, na região amazônica, Chico Mendes organizou e liderou
os seringueiros, que colhem os produtos renováveis da floresta tropical –
frutos, castanhas e principalmente borracha - que obtêm da seiva colhida
através de pequenos cortes nas seringueiras. Seu modo de vida tem ajudado a
preservar a floresta tropical, mas começou a prejudicar os interesses
comerciais que visam explorá-la, queimando-a e derrubando árvores para
abrir espaço para fazendas de gado. Em
diversas ocasiões, Chico Mendes e os seringueiros tentaram impedir a passagem
de máquinas e recusaram-se a permitir que os exploradores cruzassem a floresta
tropical para incendiar áreas próximas.
Além disso, Chico Mendes encontrou formas alternativas - e sustentáveis -
de ganhar a vida na floresta tropical e incentivou uma série de empreendimentos
criativos para estimular os proprietários de terras a não destruí-las, mas a
viver em harmonia com elas. Como aumentou seu reconhecimento da
complexidade dessas questões e
desenvolveu-se sua capacidade de liderança, tentou entrar para a política, mas
a riqueza e o poder dos latifundiários garantiram-lhe a derrota. Entretanto, continuou a ameaçar seus
interesses, e mataram-no, com uma rajada de tiros, na porta de sua casa.
Chegando ao Acre, encontramo-nos com Ilzamar, viúva de Chico Mendes, e
com seus companheiros do movimento seringueiro, que prometeram continuar a luta
contra a destruição da Amazônia. A
batalha está longe do fim: muitos outros integrantes do movimento, menos conhecidos
que Chico Mendes, também foram mortos, e é impossível salvar a floresta
tropical sem o apoio organizado do resto do mundo. A morte violenta de Chico Mendes, porém, não
foi em vão, pois concentrou a atenção do mundo nas sérias ameaças a um dos mais
notáveis ecossistemas do mundo. Embora desejasse viver, foi exatamente isso o
que previu em sua última entrevista:
“Se um anjo viesse do céu e garantisse que minha morte poderia
fortalecer essa luta, seria uma troca justa”.
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Reproduzido
do livro “A Terra em Balanço - ecologia e o espírito humano”, de Al Gore,
Editora Augustus, São Paulo, 1993, 450 pp., ver pp. 312-314.
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Sobre a ecologia da mente e a teosofia do
ambiente natural, veja o livro “A Vida Secreta da Natureza”, de Carlos
Cardoso Aveline.
A obra foi publicada pela Editora Bodigaya,
de Porto Alegre, tem 157 páginas divididas por 18 capítulos, e está na terceira
edição, de 2007.
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