9 de julho de 2016

Através dos Séculos

Sobre as Ondas do Carma
e da Compaixão Universal

Augusto de Lima



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Nota Editorial:

O poema a seguir faz um exercício de expansão
da consciência para além da esfera de sofrimentos e
ambições pessoais. Acrescentamos notas explicativas.

(CCA)

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O globo estava escuro, o firmamento baço.
Arrebatado na asa invisível dos ventos,
eu ouvia gemer no indefinido espaço
as mortas gerações dos séculos poentos. [1]

Filhos de antigos sóis [2], filhos dos novos dias,
monstros, ídolos, reis, virgens de rostos pulcros [3],
corpos vazios de alma, almas de amor vazias,
erguiam-se a meus pés do fundo dos sepulcros.

Como ondas que as marés vão arrojando às plagas [4],
num denso remoinho elétrico de gritos,
eu via o turbilhão dessas humanas vagas,
bulhando no cairel [5] dos tempos infinitos.

A guerra fratricida, a tirania, o roubo,
a crápula, o veneno, as tramas hediondas…
Messalina [6], a cadela, Heliogábalo, o lobo [7],
cruzavam-se a rolar, arrastados nas ondas.

E o vento cada vez se tornava mais forte,
e o ruído crescia, e a treva era mais densa;
nisto ouvi rebentar dos vagalhões da Morte
um grito, que ecoou pela abóbada imensa.

E súbito acalmou-se a agitação das massas,
e o vento me depôs. Um estelino [8] albor
vinha lavando o céu das fúnebres fumaças:
- era a constelação das lágrimas do Amor.

NOTAS:

[1] Poentos: poeirentos.

[2] A filosofia esotérica afirma que sóis e sistemas solares seguem a mesma lei universal da “reencarnação” periódica, descansando nos pralayas e voltando à atividade nos manvântaras. Assim, a expressão “antigos sóis” é uma referência a existências anteriores de sistemas solares.

[3] Pulcros: de grande beleza, delicadeza e graciosidade.

[4] Plagas: terras.

[5] Cairel: borda, beira, fronteira.

[6] Messalina: mulher devassa, meretriz.

[7] Heliogábalo, imperador romano sem ética.

[8] Estelino: o termo, raro, significa “estrelado”.

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O poema acima foi reproduzido do volume “Poesias”, de Augusto de Lima, Editora H. Garnier, Rio de Janeiro / Paris, 1909, 300 pp., ver pp. 9-10. A ortografia foi atualizada.

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Para conhecer um diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.


Com 28 capítulos e 170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da Universidade de Blumenau, Edifurb.  

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