Crise Climática: “Uma Verdade Inconveniente”
Carlos Cardoso Aveline
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Tendo recebido o Prêmio Nobel da Paz
em 2007, Al Gore desenvolve um trabalho
que reforça o ensinamento da filosofia
esotérica em relação aos ciclos climáticos do planeta.
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No seu filme e livro de 2006 “Uma verdade Inconveniente”, o
ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore adota um ponto de vista em
relação aos ciclos de vida do planeta terra que foi claramente descrito no
final do século 19 pelo teosofista William Q. Judge.
Estudioso da tradição
esotérica, Judge escreveu sobre os Ciclos
e as Eras da evolução humana em seu livro “O Oceano da Teosofia”. A primeira
edição da obra foi publicada nos Estados Unidos em 1893. É pouco provável que
Gore, cujo embasamento central é dado pelas pesquisas de vanguarda da ciência
atual, tenha lido William Judge.
Os dois livros, o de
1893 e o de 2006, se referem ao mecanismo pelo qual uma nova era glacial
subitamente se espalha sobre uma grande área do planeta. Essa é uma
possibilidade existente agora, de acordo com vários cientistas atuais, e isso,
apesar do poderoso lobby que financia
cientistas para dizer o contrário.
Ao abordar as mudanças
de ciclos geológicos, Judge descreve em seu livro clássico vários mecanismos
típicos de uma transição para uma nova era glacial:
1) “A respeito dos
grandes cataclismos que ocorrem no começo e no fim dos grandes ciclos, as
principais leis que governam seus efeitos são aquelas do Karma e Reincorporação
ou Reencarnação, acontecendo sob a lei cíclica. Não apenas o homem é regido por
essas leis, mas cada átomo de matéria também, e a massa de matéria está sendo
constantemente submetida a mudanças ao mesmo tempo que o homem. Ela deve
portanto exibir alterações correspondentes àquelas pelas quais o pensador está
passando. No plano físico, os efeitos são trazidos por fluidos elétricos e
outros, que em conjunto com os gases agem sobre os sólidos do globo. Na mudança
de um grande ciclo, eles alcançam o que pode ser chamado de ponto de explosão
e causam convulsões violentas das
seguintes categorias: (a) Terremotos, (b) Inundações, (c) fogo, (d) Gelo.”
2) “Os terremotos
podem ser trazidos, de acordo com essa filosofia, por duas causa gerais;
primeiro, rebaixamentos ou elevações sob a crosta terrestre devido a calor e
vapor, segundo, mudanças elétricas e magnéticas que afetam a água e a terra ao
mesmo tempo. Essas últimas têm o poder de tornar a terra fluídica
instantaneamente sem derretê-la, assim causando deslocamentos imensos e
violentos em grandes ou pequenas ondas. Atualmente, esse efeito de vez em
quando é visto em distritos propensos a terremotos, onde essas causas elétricas
atuam em menor escala.”
3) “Enchentes de
alcance geral são causadas por deslocamento de água por um rebaixamento ou
elevação da terra, e por esses combinados com mudanças elétricas, que induzem
uma descarga copiosa de umidade. A última não é o mero esvaziamento de uma
nuvem, mas uma súbita transformação de vastos corpos de fluidos e sólidos em
água.”
4) “Incêndios
universais vêm de mudanças elétricas e magnéticas na atmosfera, pelas quais a
umidade é retirada do ar e este é transformado em uma massa ígnea; e, em
segundo lugar, pela expansão do disco solar magnético em direção a sete centros
magnéticos, dessa forma queimando o globo.”
A seguir vem o parágrafo
específico em que William Judge expressa a mesma ideia que seria desenvolvida e
ampliada por Gore no início do século
21.
Diz Judge:
“Os cataclismos pelo
gelo não vêm apenas da súbita alteração dos polos, mas também do
abaixamento da
temperatura devido às alterações das correntes mornas no mar e das correntes
quentes magnéticas
dentro da terra. As primeiras são conhecidas da ciência, e as últimas, não. O estrato
mais inferior da umidade é subitamente congelado, e vastas áreas de terra são
cobertas da noite para o dia com vários metros de gelo. Isso pode facilmente
acontecer com as ilhas britânicas, se as correntes mais quentes do oceano forem
desviadas do seu litoral.” [1]
Essas linhas parecem
ser confirmadas pelo que Al Gore escreve em 2006, sobre o mesmo assunto. Gore é
ecologista há décadas. Estuda as questões climáticas desde os anos 1980, quando
era senador. No seu livro mais recente, ele aborda o processo de aquecimento do
clima global, provocado pelo famoso ‘efeito estufa’, cuja causa é o verticalmente
crescente excesso de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Ele descreve o
processo, cientificamente documentado, de derretimento de gelo na região dos polos
do nosso planeta.
Como alguns
estudantes de filosofia esotérica sabem, o derretimento de gelo nos polos pode
estar diretamente ligado às mudanças periódicas de orientação do Eixo Terrestre
(polos norte-sul) em relação ao Sol. Tais mudanças são mencionadas por Helena
Blavatsky em seus escritos. O derretimento altera toda a “distribuição e
equilíbrio de peso” ao longo da superfície do nosso planeta, e assim pode
modificar a orientação dos polos. A matéria geológica em nosso planeta é muito
mais plástica e fluida, e muito menos “sólida” do que alguém poderia pensar à
primeira vista. Duras rochas são a exceção; a fluidez é a regra.
As temperaturas
crescentes e o derretimento em grande escala de glaciares nos polos são de fato
apenas os efeitos iniciais de uma mudança muito maior na fisiologia do planeta.
Gore escreve:
“O derretimento do
Ártico pode mudar de forma profunda todos os padrões climáticos do planeta. Os
cientistas chamam o clima global de ‘sistema não linear’ - apenas uma maneira
sofisticada de dizer que as mudanças não são graduais. Algumas podem ocorrer de
repente, em grandes saltos, como já ocorreu no passado.” [2]
E Gore prossegue:
“Os cientistas nos
ensinam que a melhor maneira de compreender o clima do planeta é considerá-lo
uma espécie de motor que redistribui o calor do Equador e dos trópicos para os
polos. A Terra absorve muito mais
energia solar entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, pois o sol
fica diretamente sobre essa região o ano todo.”
Nos polos, ocorre o
contrário:
“Em contraste, no Polo
Norte e no Polo Sul os raios de sol batem apenas de forma oblíqua. Cada um dos
polos recebe luz solar apenas metade do ano, ficando a outra metade em completa
escuridão. A redistribuição do calor do Equador para os polos impulsiona as
correntes marítimas e de vento - como a Corrente do Golfo e as correntes de
jato (‘jet streams’). Essas correntes vêm seguindo um padrão mais ou menos
igual desde o fim da última era glacial, há 10 mil anos - antes ainda da
construção das primeiras cidades. Interferir no trajeto dessas correntes teria
consequências incalculáveis para toda a civilização. Contudo, a crise climática
tem potencial para isso.”
Nas linhas acima,
Gore menciona o fato bem conhecido de que o planeta saiu de uma era glacial há
cerca de 10 mil anos atrás.
É interessante notar
que, segundo as “Cartas dos Mahatmas” - uma coleção fundamental de documentos
de filosofia esotérica - foi cerca de
11.500 anos atrás que Poseidon, a última e grande ilha de Atlântida, “afundou
de modo súbito”. [3]
Cabe perguntar: terá
sido isso por causa de uma inundação? Sem dúvida. E será que a inundação foi causada
por um repentino derretimento de gelo,
em grande escala? Provavelmente.
O paradoxo é que um
aquecimento inicial produz um derretimento de gelo, que leva a uma nova era
glacial, que demora às vezes mil anos. Quanto
à duração da era glacial, deve-se ver o final da p. 149, perto do mapa maior no
livro de Gore.
Assim, o “derretimento”
que afundou Atlântida 11.500 anos atrás poderia estar vinculado ao processo de
início de uma era interglacial. As datas parecem coincidir, falando em termos
gerais, já que cerca de 10 mil anos atrás nós tivemos o final de uma era do
gelo. Mas Gore usa a ideia de 10 mil anos com flexibilidade, pressupondo uma
margem de erro de dez por cento.
Voltemos agora à
descrição do que está ocorrendo no momento presente. Gore afirma (p. 149):
“A temperatura média
no mundo é de cerca de 14,5 graus centígrados. Um aumento de 2,7 graus
centígrados significa, na verdade, um aumento de apenas 0,5 graus ou 1,0 grau
centígrado no Equador, porém mais de seis graus no Polo Norte, assim como um
acentuado aumento na periferia da Antártida.
Dessa maneira, todas
essas configurações dos ventos e das correntes oceânicas, que se formaram
durante a última era do gelo e têm se mantido relativamente estáveis desde
então, hoje se encontram em risco.”
E ainda:
“Nossa civilização nunca
passou por uma mudança ambiental semelhante a esta, nem remotamente. Os padrões
climáticos de hoje existiram durante toda a história da civilização humana.
Todos os lugares do mundo - cada cidade, cada fazenda - se localiza, ou foi
desenvolvida com base nos mesmos padrões climáticos que sempre conhecemos.”
O que diz Al Gore com
relação às correntes oceânicas mencionadas por William Judge? O
ex-vice-presidente norte-americano escreve:
“Segundo os
cientistas, um componente do sistema do sistema climático global que, para
nossa surpresa, é muito frágil, é o Atlântico Norte, onde a Corrente do Golfo
encontra os ventos frios que vêm do Ártico e atravessam a Groenlândia. (...) As
correntes oceânicas estão todas unidas (...) formando a Corrente Transportadora
Oceânica Global ou Cinturão Termohalino Mundial (‘Global Ocean Conveyor Belt’).”
Nesse ponto Gore
acrescenta, referindo-se à ilustração que representa as correntes oceânicas no
mapa do mundo:
“As partes vermelhas
desse sistema de circulação contínua, abaixo, representam a água superficial
aquecida; a mais conhecida é a Corrente do Golfo, que flui ao longo da costa
leste da América do Norte. As partes azuis são as correntes oceânicas frias,
mais profundas, que fluem no sentido oposto, para o sul.”
É um sistema de
reciclagem permanente de águas quentes e frias. O texto prossegue:
“Há cerca de 10 mil
anos aconteceu algo que talvez possa acontecer de novo. Quando o manto de gelo
que recobria a América do Norte derreteu, formou um gigantesco lago de água
doce, que na margem leste era contido por um enorme dique de gelo. Os atuais
Grandes Lagos são os remanescentes daquela época. Certo dia, por fim, esse
dique de gelo se rompeu, e a água doce se despejou no Atlântico Norte. Quando
essa quantidade sem precedentes de água doce inundou o Rio São Lourenço (St.
Lawrence River) e alcançou o mar, a
‘bomba d’água’ se desligou. A Corrente do Golfo praticamente parou de
fluir, deixando de levar à Europa Ocidental o calor provindo de sua evaporação.
Em consequência, a Europa voltou a passar por uma era do gelo, por um período
de 900 a 1.000 anos. E essa transição aconteceu com bastante rapidez. Alguns
cientistas hoje se preocupam seriamente com a possibilidade de que esse
fenômeno volte a ocorrer.”
Essas afirmações são
muito semelhantes à tese de William Q. Judge.
Naturalmente, o tema
merece mais estudo e pesquisa. Não é difícil perceber que a Teosofia e a sua
Doutrina dos Ciclos de Tempo podem ajudar-nos a compreender o momento atual da
civilização. E isso nos permitirá compreender melhor a nós próprios e as
possibilidades de ação das gerações atuais, assim como as nossas oportunidades
de agir de modo correto diante dos desafios que estão à nossa frente.
NOTAS:
[1] “O Oceano da Teosofia”, edição
online em nossos websites associados, capítulo XIV, p. 66.
[2] “Uma Verdade Inconveniente”, Al
Gore, Ed. Manole, SP, 2006, 328 páginas.
Veja as pp. 149-151.
[3] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, dois volumes, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, ver Carta 93-B, volume
II, p. 118.
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