9 de outubro de 2016

Al Gore e a Tradição Esotérica

Crise Climática: “Uma Verdade Inconveniente”

Carlos Cardoso Aveline



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Tendo recebido o Prêmio Nobel da Paz
em 2007, Al Gore desenvolve um trabalho
que reforça o ensinamento da filosofia
esotérica em relação aos ciclos climáticos do planeta.   

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No seu filme e livro de 2006 “Uma verdade Inconveniente”, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore adota um ponto de vista em relação aos ciclos de vida do planeta terra que foi claramente descrito no final do século 19 pelo teosofista William Q. Judge.  

Estudioso da tradição esotérica, Judge  escreveu sobre os Ciclos e as Eras da evolução humana em seu livro “O Oceano da Teosofia”. A primeira edição da obra foi publicada nos Estados Unidos em 1893. É pouco provável que Gore, cujo embasamento central é dado pelas pesquisas de vanguarda da ciência atual, tenha lido William Judge. 

Os dois livros, o de 1893 e o de 2006, se referem ao mecanismo pelo qual uma nova era glacial subitamente se espalha sobre uma grande área do planeta. Essa é uma possibilidade existente agora, de acordo com vários cientistas atuais, e isso, apesar do poderoso lobby  que financia cientistas para dizer o contrário. 

Ao abordar as mudanças de ciclos geológicos, Judge descreve em seu livro clássico vários mecanismos típicos de uma transição para uma nova era glacial:  

1) “A respeito dos grandes cataclismos que ocorrem no começo e no fim dos grandes ciclos, as principais leis que governam seus efeitos são aquelas do Karma e Reincorporação ou Reencarnação, acontecendo sob a lei cíclica. Não apenas o homem é regido por essas leis, mas cada átomo de matéria também, e a massa de matéria está sendo constantemente submetida a mudanças ao mesmo tempo que o homem. Ela deve portanto exibir alterações correspondentes àquelas pelas quais o pensador está passando. No plano físico, os efeitos são trazidos por fluidos elétricos e outros, que em conjunto com os gases agem sobre os sólidos do globo. Na mudança de um grande ciclo, eles alcançam o que pode ser chamado de ponto de explosão e  causam convulsões violentas das seguintes categorias: (a) Terremotos, (b) Inundações, (c) fogo, (d) Gelo.”

2) “Os terremotos podem ser trazidos, de acordo com essa filosofia, por duas causa gerais; primeiro, rebaixamentos ou elevações sob a crosta terrestre devido a calor e vapor, segundo, mudanças elétricas e magnéticas que afetam a água e a terra ao mesmo tempo. Essas últimas têm o poder de tornar a terra fluídica instantaneamente sem derretê-la, assim causando deslocamentos imensos e violentos em grandes ou pequenas ondas. Atualmente, esse efeito de vez em quando é visto em distritos propensos a terremotos, onde essas causas elétricas atuam em menor escala.”

3) “Enchentes de alcance geral são causadas por deslocamento de água por um rebaixamento ou elevação da terra, e por esses combinados com mudanças elétricas, que induzem uma descarga copiosa de umidade. A última não é o mero esvaziamento de uma nuvem, mas uma súbita transformação de vastos corpos de fluidos e sólidos em água.”

4) “Incêndios universais vêm de mudanças elétricas e magnéticas na atmosfera, pelas quais a umidade é retirada do ar e este é transformado em uma massa ígnea; e, em segundo lugar, pela expansão do disco solar magnético em direção a sete centros magnéticos, dessa forma queimando o globo.”  

A seguir vem o parágrafo específico em que William Judge expressa a mesma ideia que seria desenvolvida e ampliada  por Gore no início do século 21. 

Diz Judge: 

“Os cataclismos pelo gelo não vêm apenas da súbita alteração dos polos, mas também do
abaixamento da temperatura devido às alterações das correntes mornas no mar e das correntes
quentes magnéticas dentro da terra. As primeiras são conhecidas da ciência, e as últimas, não. O estrato mais inferior da umidade é subitamente congelado, e vastas áreas de terra são cobertas da noite para o dia com vários metros de gelo. Isso pode facilmente acontecer com as ilhas britânicas, se as correntes mais quentes do oceano forem desviadas do seu litoral.” [1]

Essas linhas parecem ser confirmadas pelo que Al Gore escreve em 2006, sobre o mesmo assunto. Gore é ecologista há décadas. Estuda as questões climáticas desde os anos 1980, quando era senador. No seu livro mais recente, ele aborda o processo de aquecimento do clima global, provocado pelo famoso ‘efeito estufa’, cuja causa é o verticalmente crescente excesso de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Ele descreve o processo, cientificamente documentado, de derretimento de gelo na região dos polos do nosso planeta.

Como alguns estudantes de filosofia esotérica sabem, o derretimento de gelo nos polos pode estar diretamente ligado às mudanças periódicas de orientação do Eixo Terrestre (polos norte-sul) em relação ao Sol. Tais mudanças são mencionadas por Helena Blavatsky em seus escritos. O derretimento altera toda a “distribuição e equilíbrio de peso” ao longo da superfície do nosso planeta, e assim pode modificar a orientação dos polos. A matéria geológica em nosso planeta é muito mais plástica e fluida, e muito menos “sólida” do que alguém poderia pensar à primeira vista. Duras rochas são a exceção; a fluidez é a regra.

As temperaturas crescentes e o derretimento em grande escala de glaciares nos polos são de fato apenas os efeitos iniciais de uma mudança muito maior na fisiologia do planeta. Gore escreve:  

“O derretimento do Ártico pode mudar de forma profunda todos os padrões climáticos do planeta. Os cientistas chamam o clima global de ‘sistema não linear’ - apenas uma maneira sofisticada de dizer que as mudanças não são graduais. Algumas podem ocorrer de repente, em grandes saltos, como já ocorreu no passado. [2]

E Gore prossegue:

“Os cientistas nos ensinam que a melhor maneira de compreender o clima do planeta é considerá-lo uma espécie de motor que redistribui o calor do Equador e dos trópicos para os polos. A Terra  absorve muito mais energia solar entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, pois o sol fica diretamente sobre essa região o ano todo.”

Nos polos, ocorre o contrário:

“Em contraste, no Polo Norte e no Polo Sul os raios de sol batem apenas de forma oblíqua. Cada um dos polos recebe luz solar apenas metade do ano, ficando a outra metade em completa escuridão. A redistribuição do calor do Equador para os polos impulsiona as correntes marítimas e de vento - como a Corrente do Golfo e as correntes de jato (‘jet streams’). Essas correntes vêm seguindo um padrão mais ou menos igual desde o fim da última era glacial, há 10 mil anos - antes ainda da construção das primeiras cidades. Interferir no trajeto dessas correntes teria consequências incalculáveis para toda a civilização. Contudo, a crise climática tem potencial para isso.”

Nas linhas acima, Gore menciona o fato bem conhecido de que o planeta saiu de uma era glacial há cerca de 10 mil anos atrás.

É interessante notar que, segundo as “Cartas dos Mahatmas” - uma coleção fundamental de documentos de filosofia esotérica -  foi cerca de 11.500 anos atrás que Poseidon, a última e grande ilha de Atlântida, “afundou de modo súbito”. [3]

Cabe perguntar: terá sido isso por causa de uma inundação? Sem dúvida. E será que a inundação foi causada por um repentino derretimento de gelo,  em grande escala? Provavelmente. 

O paradoxo é que um aquecimento inicial produz um derretimento de gelo, que leva a uma nova era glacial, que demora às vezes  mil anos. Quanto à duração da era glacial, deve-se ver o final da p. 149, perto do mapa maior no livro de Gore.

Assim, o “derretimento” que afundou Atlântida 11.500 anos atrás poderia estar vinculado ao processo de início de uma era interglacial. As datas parecem coincidir, falando em termos gerais, já que cerca de 10 mil anos atrás nós tivemos o final de uma era do gelo. Mas Gore usa a ideia de 10 mil anos com flexibilidade, pressupondo uma margem de erro de dez  por cento. 

Voltemos agora à descrição do que está ocorrendo no momento presente. Gore afirma (p. 149):

“A temperatura média no mundo é de cerca de 14,5 graus centígrados. Um aumento de 2,7 graus centígrados significa, na verdade, um aumento de apenas 0,5 graus ou 1,0 grau centígrado no Equador, porém mais de seis graus no Polo Norte, assim como um acentuado aumento na periferia da Antártida.

Dessa maneira, todas essas configurações dos ventos e das correntes oceânicas, que se formaram durante a última era do gelo e têm se mantido relativamente estáveis desde então, hoje se encontram em risco.”

E ainda:

“Nossa civilização nunca passou por uma mudança ambiental semelhante a esta, nem remotamente. Os padrões climáticos de hoje existiram durante toda a história da civilização humana. Todos os lugares do mundo - cada cidade, cada fazenda - se localiza, ou foi desenvolvida com base nos mesmos padrões climáticos que sempre conhecemos.”

O que diz Al Gore com relação às correntes oceânicas mencionadas por William Judge? O ex-vice-presidente norte-americano escreve: 

“Segundo os cientistas, um componente do sistema do sistema climático global que, para nossa surpresa, é muito frágil, é o Atlântico Norte, onde a Corrente do Golfo encontra os ventos frios que vêm do Ártico e atravessam a Groenlândia. (...) As correntes oceânicas estão todas unidas (...) formando a Corrente Transportadora Oceânica Global ou Cinturão Termohalino Mundial (‘Global Ocean Conveyor Belt’).”

Nesse ponto Gore acrescenta, referindo-se à ilustração que representa as correntes oceânicas no mapa do mundo:

“As partes vermelhas desse sistema de circulação contínua, abaixo, representam a água superficial aquecida; a mais conhecida é a Corrente do Golfo, que flui ao longo da costa leste da América do Norte. As partes azuis são as correntes oceânicas frias, mais profundas, que fluem no sentido oposto, para o sul.”

É um sistema de reciclagem permanente de águas quentes e frias. O texto prossegue:

“Há cerca de 10 mil anos aconteceu algo que talvez possa acontecer de novo. Quando o manto de gelo que recobria a América do Norte derreteu, formou um gigantesco lago de água doce, que na margem leste era contido por um enorme dique de gelo. Os atuais Grandes Lagos são os remanescentes daquela época. Certo dia, por fim, esse dique de gelo se rompeu, e a água doce se despejou no Atlântico Norte. Quando essa quantidade sem precedentes de água doce inundou o Rio São Lourenço (St. Lawrence River) e alcançou o mar, a  ‘bomba d’água’ se desligou. A Corrente do Golfo praticamente parou de fluir, deixando de levar à Europa Ocidental o calor provindo de sua evaporação. Em consequência, a Europa voltou a passar por uma era do gelo, por um período de 900 a 1.000 anos. E essa transição aconteceu com bastante rapidez. Alguns cientistas hoje se preocupam seriamente com a possibilidade de que esse fenômeno volte a ocorrer.”

Essas afirmações são muito semelhantes à tese de William Q. Judge.

Naturalmente, o tema merece mais estudo e pesquisa. Não é difícil perceber que a Teosofia e a sua Doutrina dos Ciclos de Tempo podem ajudar-nos a compreender o momento atual da civilização. E isso nos permitirá compreender melhor a nós próprios e as possibilidades de ação das gerações atuais, assim como as nossas oportunidades de agir de modo correto diante dos desafios que estão à nossa frente. 

NOTAS:

[1] “O Oceano da Teosofia”, edição online em nossos websites associados, capítulo XIV, p. 66.

[2] “Uma Verdade Inconveniente”, Al Gore, Ed. Manole, SP, 2006,  328 páginas. Veja as pp. 149-151.   

[3] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, dois volumes, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, ver Carta 93-B, volume II, p. 118.  

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