Duas Questões Sobre o
Sentido de Responsabilidade
Carlos Cardoso Aveline
É
possível chegar aos 80 anos sem deixar de ser infantil?
Há certas perguntas que podem fazer um estudante de
filosofia pensar mais profundamente sobre a vida.
Vejamos, brevemente, dois
exemplos.
1) “Quais são os limites adequados para o meu envolvimento com coisas do
plano físico e emocional?”
Nem sempre é fundamental comprar
aquele carro novo com dezenas de prestações mensais capazes de comprometer o
sono e a paz de espírito de qualquer cidadão responsável. Talvez não seja
necessária aquela reforma detalhada da casa ou apartamento em que moramos.
Mesmo no plano emocional, cabe
examinar até que ponto assumimos compromissos que são coerentes com nossa
jornada pelo caminho da sabedoria. É limitado o número de pessoas que podemos
ajudar no plano pessoal sem perder a eficiência na tarefa.
Talvez seja mais eficaz a ajuda
feita desde os planos superiores de consciência. O que as pessoas mais
necessitam é de um contato ampliado com suas próprias almas, e a teosofia
possibilita este processo. Não há nada de errado com cuidar de algumas tarefas
no plano físico, ou emocional. Ao contrário. O problema surge quando o
indivíduo é asfixiado interiormente por elas, ou quando elas são uma forma de
fuga do confronto com as grandes questões da vida, que dizem respeito à relação
do indivíduo com sua alma imortal.
Vejamos agora a segunda questão.
2) “É possível que alguém chegue aos 80 anos de idade sem ter saído da
infância?”
A infância física é uma coisa, a
infância espiritual é outra. Pode-se passar a vida toda cuidando de coisas de
curto prazo e morrer aos cento e vinte anos de idade lamentando porque não houve
tempo suficiente para cuidar de sequer metade das “coisas que têm que
ser cuidadas”.
A opção filosófica é diferente. A
filosofia ensina a moderação e a renúncia em relação aos objetos do plano
físico ou pessoal. Os estudantes de teosofia percebem, gradualmente, que são apenas
hóspedes. Estão de passagem no plano físico. Nada “pertence” efetivamente a
alguém. Nem sequer as pessoas mais íntimas são de alguém. Essa constatação
desperta no estudante uma certa humildade diante do mundo físico, e ele passa a
aceitar mais facilmente a simplicidade voluntária.
Quando percebe de fato que a vida
física é apenas uma hospedagem passageira, o indivíduo passa a cuidar daquilo que
é efetivamente seu, isto é, a sua responsabilidade
perante seu próprio eu superior, o seu “pai espiritual”, ao qual terá que
prestar contas ao final da encarnação.
Esta prestação de contas é muito
mais do que um relatório existencial feito pelo discípulo (o eu inferior) ao
Mestre (o eu superior). O conteúdo do relato determinará o rumo e o conteúdo do
longo processo pós-morte. Além disso, definirá as condições objetivas e
subjetivas da próxima encarnação.
A decisiva responsabilidade
individual perante o seu próprio eu superior é, portanto, algo que pertence de
fato a cada um. Na ausência desse sentimento, a vida é uma série de
infantilidades. Um dia chegará a crise da adolescência para a alma que evolui
através da reencarnação, e então ela terá de enfrentar a perspectiva da vida
adulta.
Através da perseverança, o
estudante que é sincero consigo mesmo vence, um a um, os desafios que emergem
no Caminho. A intensidade no esforço, de um lado, e o desapego em relação a resultados
de curto prazo, de outro lado, são fatores que permitem a ele criar o bom
hábito de vencer os desafios. Deste modo ele constrói o seu mundo no plano em
que as coisas construídas duram, isto é, no plano do eu superior.
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada sem
indicação de nome de autor na edição de junho de 2010 de “O Teosofista”.
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Em setembro de 2016, depois de
cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de
estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como
uma das suas prioridades a construção
de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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