A Quem Cabe Dar o
Primeiro Passo Para a Solução
Carlos Cardoso Aveline
Um obstáculo sutil dificulta há longo tempo o
desenvolvimento do potencial do Brasil como nação. Existe uma ausência de visão
de futuro saudável.
Os cidadãos de boa vontade enfrentam dois grandes grupos
de problemas.
De um lado, no plano dos efeitos, podemos dizer que estão todos os problemas sociais, as
limitações econômicas e dificuldades institucionais acumuladas desde o final do
império, na década de 1880.
De outro lado, no plano das causas, temos a crise acumulada de negativismo mental e emocional,
e um profundo ceticismo em relação a questões éticas, espirituais e sociais.
Para entender os desafios que a alma do país enfrenta,
cabe lembrar um princípio universal da lei do carma: a lealdade produz energia
positiva, enquanto a deslealdade atrai negativismo.
Em 1889, um traiçoeiro golpe militar contra o imperador Dom
Pedro abriu a etapa da República de um modo pouco abençoado.[1] Desde então até hoje a vida
política e institucional do país teve momentos de paz que de um lado foram
poucos, e de outro foram breves.
Desde o início do século 21, os níveis de corrupção na
política subiram de modo extraordinário, devido à dolorosa e mal disfarçada traição
ao país por parte de um partido populista que antes lutara pela ética.
O resultado foi uma nova onda de pessimismo.
E isso é apenas um aspecto do processo, embora central.
Há um contexto cultural maior em torno do desafio ético da
sociedade brasileira. O país não é uma ilha. O culto ao materialismo parece
dominar a civilização atual inteira com a sua adoração do dinheiro e da
aparência, promovendo ativamente uma deslealdade
para com a alma humana.
A traição do ser individual à sua própria alma provoca
por todo lado depressão, tristeza, desânimo, violência e cobiça desmedida.
Muitos entendem que num regime democrático deve haver um
amontoado irresponsável exigências setoriais e reivindicações desencontradas de
todo tipo. A verdade é que “numa casa em
que todos gritam ninguém tem razão”.
Quando cada setor prioriza a defesa unilateral dos seus
próprios direitos, o ambiente social fica viciado pela soma das reclamações
egoístas. Assim poucos prestam atenção ao interesse comum. O resultado é a
infelicidade de todos.
Quando, por outro lado, cada grupo e indivíduo pensa principalmente no
cumprimento dos seus deveres, o clima coletivo é purificado pelo altruísmo.
Neste caso o Carma comum é ajudado por uma sincera solidariedade e não há necessidade
de reclamações: o resultado é um
bem-estar durável.
Nenhuma religião ou filosofia ensinou jamais que um povo
progride através do culto das paixões animais, da adoração do dinheiro ou da
exaltação das futilidades e das reclamações.
Todas as filosofias e religiões dignas do nome ensinaram
e ensinam nos mais diferentes povos que o pensamento correto, o projeto
histórico claro, a ética e a solidariedade são o cimento e os tijolos para
construir uma sociedade saudável.
Cabe a cada um
dar o primeiro passo. E cada novo passo à frente é de certo modo o primeiro.
O bom carma se acumula de modo invisível, inclusive em
meio a uma multiplicação de aparentes sinais negativos. O tempo de chuvas e
trovoadas pode não ser um espetáculo bonito de se ver, mas purifica e renova a
vida toda. Embora seja lento, o processo histórico do despertar brasileiro é forte.
NOTA:
[1] Veja em nossos websites associados o artigo “A Filosofia de Dom Pedro II”.
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Uma versão inicial do artigo acima
foi publicada, sem indicação do nome do autor, na edição de março de 2017 de “O Teosofista”, pp. 10-11.
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