O Lótus é uma Flor Sagrada Para
os Povos
Antigos, e Vitória Régia é Seu Nome no Brasil
Oswaldo Silva

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Nota Editorial de 2017
O artigo a seguir é reproduzido
de “O
Teosofista”, edição de março-abril de 1934,
pp. 72 a 74. A ortografia está atualizada, e
foram verificados os nomes
científicos.
Oswaldo Silva foi um dos
teosofistas mais
ativos no Brasil durante as
décadas de 1920 e 1930.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Cada reino da Evolução oferece um mistério imenso diante
do qual a mente do filósofo ou a alma do artista permanecem: uma, estática,
confundida pela sabedoria inconcebível e a outra, inebriada pela beleza do
drama nele contido.
O que caracteriza a obra divina é a distribuição desta
sabedoria e desta beleza, sem distinção nem preferência: qualquer material para
ela, a Natureza, é o bastante para engendrar uma obra-prima. Um raio de sol e a
pétala de uma flor, mesmo sobre a lama de um pântano, são motivo de um quadro
que imortalizaria um artista, se ele tivesse tintas... e talento para executar
sua fiel reprodução.
Quem pudera sondar o mistério da evolução da mônada
mineral, a evolução daquela alma silenciosa dos rochedos que, durante uma ronda
catenária ergue lá, muito ao longe, o seu perfil de Titã?
Que drama concebe o homem que possa imitar a majestade de
um mar proceloso, a rugir no escuro, como se fossem manadas de leões famintos?
A Natureza é profundamente dramática, mas também é,
incomparavelmente, misteriosa e... soberanamente artista, infinitamente...
Creio que não há reino da nossa evolução em que ela se mostre mais pródiga do
que seja o do vegetal... com efeito: quanto à abundância, nele não há limites;
por toda parte surgem as mais estranhas formas, quer seja nos vastos campos ou
nas florestas umbrosas, tudo é coberto por esse lençol verde, sem fim.
E tudo serve para dar vida a esses entes silenciosos: a
areia dos desertos, a fenda dos rochedos, a terra úmida e encharcada dos paus;
eles vivem no ar, na terra, na água, na neve, nos fermentos. E as plantas
trazem em si o aspecto do lugar em que vivem: aquelas que conseguem dominar a
secura dos desertos são ásperas, incolores, secas e rugosas; as que vivem na
humidade dos lugares sem sol, são geladas, carnudas e gotejantes; no fundo dos
mares, nas trevas abismais, onde reina o silêncio e a morte, as plantas são
raras, são pegajosas, álgidas e aglutinantes...
Algumas, são da cor do lodo e parecem serpentes
aprisionadas pelas cabeças, agitando-se ao sabor das correntes profundas.
Ao contrário, nas águas límpidas e relativamente próximas
da superfície, vivificadas pelo sol tropical, entre anêmonas rutilantes e madréporas
esmaltadas [1], há plantas que
sugerem um país de sonho...
Vivem nos lagos da Ásia, da África e da América e mesmo
em alguns da Europa, certas variedades de plantas pertencentes às famílias das
Ninfeáceas e das Nelumbiáceas, muito interessantes.
Nesta última família estão agrupados os gêneros lótus: (Nelumbium
speciosum, Nymphoea lótus, Nymphoea
coerulea), muito conhecidos, através da história profana, religiosa e
simbólica. O lótus é flor sagrada na Índia, no Japão, e na China, como o foi no
velho Egito. Sobretudo, na Índia, o seu papel como elemento decorativo, como
símbolo religioso, é preponderante.
Poderíamos nos estender longamente a propósito desta
flor; queremos, porém, antes algo dizer sobre um gênero pertencente à primeira
família, a das Ninfeáceas, que vegeta nos lagos do norte do Brasil, gênero da
tribo das Euríales: a Vitória Régia.
Tão bela quanto o lótus, esta flor teria, talvez,
igualmente servido de grande símbolo a um povo antigo. Distingue-se das Nelumbiáceas,
ou dos lótus propriamente ditos, pela particularidade de que suas folhas, que
são extensas, de um a dois metros de diâmetro, têm bordos erguidos,
assemelhando-se a uma bandeja descomunal. Vi muitas vezes, nos majestosos lagos
amazonenses, na tranquilidade misteriosa daquelas águas paradas, aves aquáticas
de longas pernas, imóveis, sobre as folhas da Vitória Régia, como a meditarem
em um poema estranho... [2]
Sem dúvida, este maravilhoso euríale é digno do ambiente
majestoso que o cerca e não é possível ao estudante das evoluções ocultas
contemplá-lo sem evocar de pronto as cenas feéricas que, na penumbra da luz
lunar, têm por palco a superfície espalmada das suas folhas gigantescas.
Mais de uma lenda de sabor nativo surge no “folk lore”, da história da Vitória
Régia...
Certa vez, Yuarauá (peixe-boi) apaixonou-se por Koema
(Manhã), que se banhava no lago ao nascer do sol. A índia desmaiou de susto ao
ver o feio rosto do apaixonado, e este conduziu-a para sua morada, que era um
recanto do lago, coberto de plantas aquáticas, onde a água era muito fria,
lodosa e tranquila. Arakuema (dia bonito), seu noivo, procurou-a inutilmente e,
por fim, morreu de tristeza; porém a sua alma, transformada em maçarico, corre
sobre as folhas das Vitórias Régias em busca de Koema... que Yuarauá escondeu
entre as folhas do gigantesco Lótus brasileiro.
NOTAS:
[1] Madrépora: um tipo branco de coral. Trata-se de um animal, como são todos
os corais. (CCA)
[2] A vitória régia pode suportar até cerca de 40 quilos se eles forem bem
distribuídos. Seu diâmetro chega em alguns casos a dois metros e meio. (CCA)
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Em setembro de 2016, depois de uma
análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de
estudantes decidiu formar a Loja
Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições
práticas do passado e construir um futuro saudável.
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