Os Seres Humanos Trazem Nas
Mãos a Vida e
a Morte, e Com Elas Passam o Tempo
Brincando
Joaquim Gervásio de Figueiredo
Nota Editorial de
2017:
Existe uma contradição misteriosa entre mundo celeste e
vida terrena.
Em sua obra “Ísis Sem Véu”, Helena Blavatsky escreve sobre
a possibilidade de a alma espiritual de um indivíduo morar nos mundos superiores
enquanto o seu corpo continua vivendo na Terra, e cita a este respeito a
tradição chinesa e budista. [1] Neste
caso a distância entre céu e Terra é grande, porém há harmonia entre as duas
dimensões da vida.
Por outro lado, cabe examinar o que ocorre se o eu
inferior fracassa, interrompendo antahkarana
- a ponte sutil que o liga ao eu superior. [2]
Blavatsky explica a derrota espiritual da alma:
“…A alma já semi-inconsciente, (…) completamente
embriagada pelos vapores da vida terrena, perde os sentidos e a esperança de
redenção. É incapaz de vislumbrar o esplendor do espírito superior, de ouvir as
admoestações do ‘Anjo guardião’ e de seu ‘deus’. Ela só pretende o
desenvolvimento e uma compreensão mais completa da vida natural, terrena; e,
assim, só pode descobrir os mistérios da natureza física. (…..) Começa por se
tornar virtualmente morta; morre completamente. Está aniquilada. Tal catástrofe pode ocorrer, muitas vezes, muitos anos
antes da separação final do princípio vital
do corpo. Quando chega a morte, seu férreo e pegajoso domínio se debate com a vida; mas não há mais alma a liberar. A
única essência dessa última já foi absorvida pelo sistema vital do homem
físico. A morte implacável libera apenas um cadáver espiritual; no melhor dos
casos, um idiota. Incapaz de se elevar para regiões mais altas ou de despertar
da letargia, ela se dissolve rapidamente nos elementos da atmosfera terrestre. (…..)
No século que atravessamos amiúdam-se os casos dessas mortes de almas. A todo
momento tropeçamos com homens e mulheres desalmados.”[3]
O artigo a seguir examina, a partir destes ensinamentos,
o processo pelo qual “os mortos” podem viver no mundo espiritual, enquanto “os
vivos” podem estar destituídos de vida superior e estar mortos em suas almas.
O teosofista Joaquim Gervásio de Figueiredo foi autor de
diversos livros sobre filosofia esotérica e fez a revisão técnica da tradução da
obra “Ísis Sem Véu”.
Vida e morte constituem um paradoxo, assim como verdade e
falsidade. Embora tenha partilhado das ilusões ritualistas fabricadas por Annie
Besant e outros pseudoclarividentes, Gervásio foi um teosofista bem
intencionado e um estudioso. Seguiu a postura eclética e indecisa de C.
Jinarajadasa, que não deixou de lado o que é falso, mas manteve um sincero respeito
pelo que é autêntico. No século 21, o movimento teosófico já pode resgatar o
que é correto e abandonar os erros.
O texto “Vivos
Mortos e Mortos Vivos” é reproduzido da edição de janeiro-fevereiro de 1960
da revista “O Teosofista”, pp. 4-9.
A ortografia foi atualizada, e notas explicativas acrescentadas.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Vivos Mortos e Mortos Vivos
Joaquim Gervásio de Figueiredo
Para o homem vulgar (e vulgar aqui é todo aquele, qualquer
que seja a sua roupagem social ou título intelectual, que ainda encara a vida
pelo prisma comum das religiões, ciências, filosofias ou preconceitos de que se
emaranha a humanidade em geral), vivo é quem possui corpo físico e morto é quem
já o perdeu.
Que tolo é esse conceito, senão preconceito! Pode o homem
ter seu corpo físico pleno de vitalidade e energia, e contudo estar morto para
as coisas superiores e eternas; como pode não ter mais existência física e no
entanto estar vibrante para as realidades eternas, que adejam radiosas sobre as
coisas transitórias da vida.
Não falemos, pois, dos vivos nem dos mortos conhecidos do
vulgo; mas, antes, dos vivos e dos mortos que são novos e desconhecidos para o
vulgo, mas velhos e muito familiares aos que tiveram a suprema felicidade de
sentir, mesmo por um instante fugaz, as delícias do Eterno.
Cada indivíduo traz numa mão a vida e na outra a morte, e
com elas passa todo o tempo brincando, sem atentar se mais
estima a vida que a morte, ou se mais se deixa cegar por uma que por outra. E
porque ele é um desatento ao que traz nas mãos e ignorante da sua própria
brincadeira, sempre confunde a vida com a morte e busca a morte pensando buscar
a vida, ou procura a vida supondo procurar a morte.
Daí a grande tragédia do mundo, em que os homens se
consomem disputando o que deveriam abandonar e abandonando o que deveriam
disputar.
Vida e morte são os dois polos entre os quais se debate a
humanidade. Vida e morte constituem a dupla natureza do homem. Vida e morte são
as duas metades do universo. Vida e morte são a dupla manifestação de Deus. [4]
Ninguém pode, portanto, fugir da vida ou da morte. Ou está
com uma ou está com a outra. Não pode estar com ambas ao mesmo tempo, como não
pode fugir totalmente de uma para esconder-se totalmente na outra.
São os dois extremos opostos de um mesmo campo, em que o indivíduo,
qual Arjuna em seu Kurukshetra [5] tem que travar a sua batalha espiritual,
colher todas as experiências necessárias à sua evolução, e conquistar a vitória
da sua libertação, tenha ou não Shri Krishna objetivado a seu lado, para alentá-lo
e auxiliá-lo.
Que é a vida e que é a morte, separadamente consideradas?
Se é difícil definir uma e outra, mais difícil é definir uma separada da outra,
pois como não se pode obter a luz sem o seu oposto, a sombra; tampouco se pode
pensar na vida sem nela incluir a sua contraparte, a morte.
O que podemos definir da vida é que ela representa tudo
quanto é sublime, perfeito, perdurável, eterno e feliz, ao passo que a morte
representa tudo quanto negue tudo isso. Portanto, só realmente vive quem luta
pelo sublime, pelo perfeito, pelo eterno e feliz, e completamente morto está
quem se esquiva e foge dessa luta. E mais morto está quem, além dela se desertar,
ainda finge ignorá-la, e ridiculariza quem a trave.
Mais vivo se acha o mártir que se sacrificou por um
ideal, que os seus algozes. O mártir, com o coração abrasado pelas chamas da
vida, a ela se atirou com menosprezo de seu próprio corpo, e pensando perder a
vida, de fato a ganhou, porque apenas perdeu o corpo. E os algozes, cuidando salvar
a própria vida condenando à morte a sua vítima, de fato a perderam e mergulharam
na morte, porque deram expansão ao seu eu inferior, abafando a voz do seu Eu
superior. Estes se lançaram nos abismos da morte, pois apartar-se do seu próprio
Eu divino equivale a morrer, e à pior morte, pois é a morte de trevas.
Quem são os verdadeiros mortos? São aqueles que, cegos a toda
inspiração superior, negativos aos influxos de todo ideal, insensíveis aos
sofrimentos dos seres viventes, humanos ou animais, ignorantes de sua própria majestade
divina, vivem abstratos, na contemplação do seu minúsculo eu, engolfados nas águas
estagnadas do seu insaciável egoísmo e extraviados na escuridão de sua ignorância
infinita. São mortos para toda a expressão superior da vida; mortos para a
humanidade, para a beleza, para o sacrifício, para Deus.[6]
E quem são os verdadeiros vivos? São aqueles que já
despertaram em si a consciência espiritual, ou melhor, a compreensão real da
vida, e fazem dessa compreensão a bússola norteadora de suas atitudes, o diapasão
natural pelo qual afinarão seus pensamentos, sentimentos e atos. Esses são realmente
vivos, porque já se despertaram para o Eterno, para o sofrimento alheio, para os encantos do ideal, da beleza e do sacrifício; e, em vez de projetarem trevas
no mundo, inundam-no com a luz de suas virtudes e de sua espiritualidade.
O mundo espiritual, como o material, nos oferece os vales
escuros e as montanhas radiosas para a nossa peregrinação ou nossas diversões.
Que espetáculo magnífico representa uma montanha verdejante, saturada de vida,
que se ergue solitária e esguia acima das ervas rasteiras da planície, e se mantém
nobremente indiferente aos tumultos dos ventos, das tempestades e de mil agitações
ao seu redor.
Mesmo que o homem, sempre daninho, lhe dinamite o corpo e
lhe arranque pedras gigantescas das entranhas, ela continua imperturbável, tranquila
e calma, e de quando em quando, num rasgo sublime de abnegação, ainda faz
jorrar de seu seio rebentos de água cristalina e fresca para mitigar a sede do seu inimigo e suavizar-lhe o
trabalho destrutor. E quando, exausta de forças, não mais pode sustar-se em pé,
tomba fragorosamente, porém com a mesma majestade com que até então se erguera,
como a desafiar o espaço infinito e a covardia humana.
Eis um magnífico símbolo do nosso Ego e do que devemos
ser!
Sentados no trono da verdadeira compreensão,
altaneiramente erguidos acima do tumultuar ruidoso e ensurdecedor das paixões e
da erva daninha dos preconceitos e superstições, com a fronte sempre iluminada
pelo sol inconfundível da Verdade, mantenhamo-nos indiferentes aos golpes desferidos
em nossa personalidade; abramos os nossos corações pacíficos e generosos aos
instrumentos benditos do nosso Carma; assimilemos todas as experiências com que
nos presenteia a vida; esqueçamos as nossas derrotas e triunfos passados ou
futuros, e passemos a contemplar as certezas do eterno agora. E se num dia
tivermos de cair (o que seria natural, já que até os Deuses têm caído), seja a
nossa queda tão majestosa quanto a da montanha, que se não abate moralmente e
deixa um exemplo vivificante de força e grandeza na memória dos demais.
Quão bela e encantadora seria a vida de cada um de nós,
se desde a infância tivéssemos aprendido a cultivar em nosso caráter o
sentimento da nobreza! Não da nobreza conhecida e transmitida pelos homens à
sua descendência, em que, através de um sentimento de honra e amor mal compreendidos,
ensinam os jovens a desenvolver uma nobreza egoísta e cruel, insuflando-lhes um
sentimento de família, pátria e tradições que só lhes desperta o fanatismo, o
exclusivismo e a vaidade. Mas, sim, a nobreza que ensina os jovens a só
aplicarem a força do seu entusiasmo, o desprendimento de sua vida e a sua
transbordante vitalidade, no aperfeiçoamento de si próprio e no bem-estar da
coletividade, sem distinção de fronteiras, credos ou nacionalidades.
Mas enquanto se ensinar o jovem a “lavar sua honra com
sangue”, a retribuir “dente por dente e olho por olho”, a reconhecer como única
verdadeira a sua religião ou pátria, a despertar e manter a ideia de competição
em lugar de cooperação, a cultivar o cérebro com menosprezo do coração, muito
longe nos achamos e cada vez mais nos afastaremos do sonhado ideal de uma
fraternidade ilimitada e de paz indefectível.
Inculque-se na criança certo sentimento de nobreza,
ensinando-a a nunca ter por móbil de seus atos pensamentos baixos e mesquinhos,
que a nivelam com os animais e os selvagens [7] e lhe degradam gradativamente o caráter. Tal sentimento,
despertado com carinho e perseverança de pais que realmente amam, seria uma
grande força protetora da infância, pois lhe amorteceria as tendências inferiores
herdadas do passado, lhe incentivaria as superiores e lhe criaria o hábito de
pensar e sentir nobremente, e de reagir natural e espontaneamente contra as influências
opostas, que campeiam pelo mundo.
Não é esse trabalho tão difícil, pois - creiamos, apesar
do riso incrédulo dos pessimistas - muito mais fácil é cultivar o sentimento do
bem e da verdade, do que o do mal e da mentira, porque a natureza de cada um é,
em essência, o bem e a verdade. E mesmo que fosse difícil, essa é a missão dos
pais, da qual, acreditem ou não, terão que prestar contas às leis divinas que
regem a vida e a morte.
Que ninguém, religioso ou espiritualista, se julgue ter
se assenhoreado das leis da vida e da morte, só porque pertenceu ou não a uma
escola, religião ou sociedade. Que não se imagine mais próximo da Verdade ou da
Salvação, só porque estuda, crê, medita ou trabalha pelos outros. Os brâmanes
com os seus Vedas e os escribas com o seu Pentateuco supuseram o mesmo, e
todavia os fatos provaram o contrário. É mister interpretar a vida, não apenas através
do prisma limitado das escrituras ou livros, que, por magníficos que sejam, nem
um átomo da vida podem representar completamente.
Não é fechando-se num ideal, e menos numa ideia, nem
esmagando ideias, mas abrindo nossas mentes e corações a fim de que transbordem
vida e luz para o mundo, a maneira como nos aproximamos da verdade.
Na história de Shankaracharia, o imortal filósofo hindu,
se conta um episódio ocorrido com um grande Mestre e um ancião, profundo
conhecedor dos Vedas, o qual, segundo a lenda, foi uma forma tomada por Vyasa,
a encarnação de Shiva, para pôr à prova a sabedoria do filósofo, encarnação de
Vishnu. Entre os dois sábios se trava então uma discussão sublime, ardorosa,
que até aos próprios devas comoveu e atraiu. Já sete dias durava a controvérsia
sem que se pudesse prever quantas vezes o sol a assistiria, ou se a terra não
correria o mesmo risco de deter sua marcha para lhe ouvir o desfecho, quando
Padmapada, discípulo de Shankaracharia, já enfadado de tanta delonga,
intromete-se na discussão para suplicar-lhes que “bem podiam os Avatares de
Vishnu e Shiva desistir da controvérsia e deixar o mundo em paz”.
Que admirável lição de filosofia e de moral! Dir-se-ia
que Brahma falara pela boca do discípulo Padmapada para mostrar que mais vale a
paz e a harmonia entre os seres do que as controvérsias e discussões, mesmo entre
os deuses. Exato ou não o episódio narrado, é incontestável que ele encerra uma
profunda verdade, digna de ser meditada pelos que pensam convencer e conter o
mundo provocando debates e controvérsias que geralmente suscitam dissensões e
lutas, e mais geram trevas que luz. Ninguém, até hoje, atingiu iluminação por
meio de discussões, mas pelo esforço próprio e sacrifício de si mesmo. Como as
grandes descobertas têm sido sempre o produto de meditações sustidas, ou de
claras e repentinas intuições, assim as grandes conquistas espirituais têm que
resultar da meditação e intuição, que se desenvolvem pelo aprimoramento da vida
interna. Não há outro caminho!
Pode um indivíduo ser erudito em filosofias e religiões e
contudo estar morto para as eternas verdades que aquelas encerram, pois uma
coisa é fazer delas uma simples matéria de especulações intelectuais, e outra é
torná-las marcos balizadores da conduta individual.
Temos de convir que as filosofias e religiões, tal como
os outros ramos de investigações, não foram projetadas no mundo para constituir
um mero esporte em que o homem, de maneira mais ou menos pedante, deleite a sua
mente inferior ou acaricie as suas emoções devocionais. Foram, ao contrário, instituídas
com altas finalidades educativas e práticas. Prova disto está em que os seus
fundadores, como os seus discípulos imediatos, foram sempre a maior expressão objetiva
de suas doutrinas, e ninguém combateu com mais tenacidade que eles a tendência
intelectual e emocional do homem para fazê-las resvalar para o campo meramente teórico
ou devocional.
O ideal esclarecido é uma força construtora, que, se
vivido sinceramente, levará o homem a alturas inconcebíveis. É um sol
resplandecente a iluminar as almas puras, pairando sobre as densas nuvens das paixões
egoístas e selvagens das almas cegadas pela ignorância e ébrias de grandezas.
Ai do mundo se nele se apagasse o último ideal!
Mas que influência poderá exercer o ideal, se escasseiam
os idealistas que o vivam tanto quanto importa? O Sol não desce do firmamento para
vir aquecer e vitalizar a terra por meio de um contato íntimo; nem mesmo a
terra resistiria à sua aproximação. Daí porque o glorioso astro lhe emite os
seus raios, brilhantes mensageiros que a vêm iluminar e aquecer, para que ela, distante
embora do Astro-Rei, receba dele a vida de que precisa e desempenhe sua função
sem dano algum. Do mesmo modo, não pode a humanidade, ainda infantil, resistir
ao contato direto da onipotente Verdade, a qual por isso, a exemplo do Sol, lhe
manda os seus mensageiros, os grandes idealistas, que, como raios luminosos,
dispersam luz e vida entre os homens.
Muitos são, então, os que, tocados pelo seu divino fogo,
acordam do seu sono, contemplam a luz e seguem os seus mensageiros. Mas quão
poucos chegam ao fim da jornada! E quantos há que se supõem chegados ao fim e não
advertem terem entravado sua marcha logo no início da jornada! Por isso, no
mundo rareiam os leais idealistas e multiplicam-se os que se dizem tais. Não há
falta de ideal, mas, sim, de gênios que o saibam interpretar e viver, pois o
ideal, a eterna manifestação da vida, é qual chama que nunca se apaga mas
permanece infatigável em sua faina iluminadora.
O verdadeiro idealista será um morto vivo, porque estará
morto à atração das coisas transitórias e vivo para as coisas eternas. Jamais
se deixará perder no labirinto das paixões desenfreadas, nem se arrastar na
corrida louca dos que só sentem vida quando nas manifestações grosseiras dos sentidos.
Com a mente alada para as regiões da beleza e a intuição aberta aos influxos ígneos
do seu ideal, terá sempre a sua consciência voltada para as manifestações
superiores da vida, buscando descobri-la numa flor que se entreabre, num inseto
que zune, num riacho que canta, no oceano mutável, na montanha imperturbável,
no pássaro de encantos polimorfos, na criança e no velho, no preto e no branco,
na mulher graciosa e no homem varonil, enfim, em tudo o que tenha o dom de
transmitir graça e de expressar majestade e beleza. Eis porque o homem, quando
idealista, será sempre um hábil artista no sentido de descobrir mais e mais
belezas, mesmo onde outros só vejam fealdades.
Quem em cada coisa e acontecimento seja capaz de
descobrir um traço de beleza ou um motivo de inspiração, bem perto estará de
sentir a unidade da vida de todas as coisas. Então sentirá que todo objeto e
todo ser, por mais esquisito que seja, é um desdobramento de sua própria natureza.
Não mais criará um mundo para si e outro para os demais,
porque sentirá que ele e os outros têm por morada comum o mesmo mundo. Não distinguirá
o mundo dos vivos do mundo dos mortos, porque vivos e mortos se movem no mesmo
mundo. Não mais se isolará dos vivos e dos mortos, nem os separará em estanques
diferentes, porque sentirá e verá a vida fluir livremente tanto nas regiões físicas
como nas hiperfísicas, e interpenetrando com igual intensidade os chamados
vivos e os chamados mortos. Não mais temerá a vida nem a morte, nem as disporá
em campos antagônicos e incompatíveis, porém as reconhecerá como facetas necessárias
de um mesmo todo, como o anverso e o reverso de uma mesma medalha, que é a Vida
Eterna a movimentar-se soberana e independente por sobre o tempo e o espaço.
Então, dia chegará em que se sentirá ele próprio como
sendo essa mesma Vida Eterna, o princípio relacionador do passado com o futuro,
o triunfante “Senhor da Vida e da Morte” de que fala o Apocalipse. Será o
“filho do homem” renascido no Cristo glorioso e imortal, o pecador tornado
“perfeito como o Pai do Céu” e proclamando urbi
et orbi: “Eu
e meu Pai somos Um!”
Tal é a aurifulgente meta final, que a todos ilumina e
aguarda. Buscá-la e senti-la desde já é trilhar o Caminho, a Verdade e a Vida,
para ressuscitar dentre os mortos e enfileirar-se entre os realmente vivos,
quer habitem este ou outros mundos.
NOTAS:
[1] “Ísis Sem Véu”, Helena
Blavatsky, Ed. Pensamento, volume II, pp. 272-273, especialmente 273. (CCA)
[2] Veja em nossos websites associados o artigo “A Ponte Entre Céu e Terra”. (CCA)
[3] “Ísis Sem Véu”, Helena
Blavatsky, Ed. Pensamento, volume IV, p. 23. (CCA)
[4] Em teosofia não há um deus monoteísta, mas uma pluralidade ilimitada de
divindades nos mais diversos planos da realidade. O fato de que um deus “único”
não existe fica claro se olharmos para o mundo das religiões monoteístas, regido
há milhares de anos pela neurótica disputa de poder entre numerosos deuses -
cada um deles supostamente “único e onipotente” - que procuram prejudicar uns
aos outros usando meios quase sempre questionáveis. (CCA)
[5] Veja a obra clássica “Bhagavad Gita”, que possui várias edições em língua portuguesa.
(CCA)
[6] Sobre Deus, veja a nota 4, acima, e leia em nossos websites
associados o texto “Mestres Ensinam Que
Não Há Deus”. (CCA)
[7] “Selvagens”: a
palavra deve ser entendida como se
referindo a seres humanos desequilibrados, e não como se fosse uma menção aos
povos indígenas, cujas tradições de sabedoria são respeitadas pelos estudantes
de filosofia esotérica. (CCA)
000
Sobre a
história do movimento teosófico no Brasil, leia os artigos “Bispo Católico Visita Plantações em Marte”,
“Leadbeater Diz Que Matou Brasileiros”,
“A Fraude da Escola Esotérica” e “Breve Histórico da Teosofia no Brasil”.
Outros
exemplos de textos de interesse histórico disponíveis em nosso acervo online: “Carta de Seidl Para Gervásio, Sem Data”,
“Como Surge a Loja Rio de Janeiro”,
“Krishnamurti e a Teosofia”, “Fabricando um Avatar” e “Celebrando o Dia Oito de Maio”.
000
Em 14 de
setembro de 2016, depois de uma análise da situação do movimento esotérico
internacional, um grupo de estudantes decidiu criar a Loja Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do
passado e construir um futuro saudável.
000