O Esforço Teosófico Constitui um
Processo de Construção Permanente
Carlos Cardoso Aveline
“Trate […] de aprender uma lição
através de
quem quer que seja que ela
possa estar sendo dada.
‘Até mesmo as pedras podem pregar sermões’.”
(“Cartas dos Mestres de
Sabedoria”,
Editora Teosófica, Brasília, página
147.)
Compilando textos antigos,
pesquisando e ensinando uma sabedoria milenar, a Loja Independente de
Teosofistas, LIT, constitui uma semente do futuro cuja germinação é guiada pelo
ensinamento dos Mestres dos Himalaias.
A Loja é um paradoxo em movimento. De um lado, está
voltada para a melhoria do mundo. De outro, sua força depende da interiorização
e da disciplina interior com que cada associado convive consigo mesmo na vida
diária.
O estudo da teosofia original permite construir a Loja
como um pequeno templo compartilhado. Nele o peregrino interage com um
ensinamento celestial, isto é, com a
consciência cósmica, cujas chaves de acesso estão no acervo dos websites
associados.
Fazer parte do território sutil e concreto da LIT implica
ouvir sua própria alma e atuar em harmonia com o progresso de todos os seres,
nos níveis essenciais da consciência.
A função de uma loja teosófica não é apenas prestar
atenção ao drama humano que se desdobra hoje em escala planetária. É também
aumentar o contato com o silêncio sagrado. A eliminação do barulho é um ato de
vontade própria que sustenta o processo de inspiração superior e fortalece a
prática de ações corretas.
É necessária uma vontade imperiosa para vencer as
tendências materializantes que transfiguram negativamente o mundo. Não cabe ter
revolta ou horror diante do processo infantil de dessacralização atual das
coisas divinas. É tarefa do indivíduo bem informado construir uma defesa para a
bondade impessoal, e preservar o discernimento e a sabedoria no interior da sua
própria alma.
Trabalhando na direção da luz, a Loja Independente
partilha um Esquema Conceitual, Referencial e Operativo, ou ECRO. O progresso
interior exige autorresponsabilidade. Todo cidadão pode observar e aperfeiçoar
com regularidade o seu próprio sistema de orientação. Seu esquema conceitual, referencial e operativo deve ouvir sua alma e
estar adaptado à sua própria vida, seu carma específico e suas circunstâncias.
O ECRO individual tem vários níveis de consciência. É
físico, emocional, mental, filosófico e opera no mundo do espírito. As
referências orientadoras de um aspecto da vida podem entrar em choque com as
referências de outro aspecto. Só uma visão ampla do mundo permite harmonizar o
todo na sua pluralidade.
O movimento teosófico é um ECRO dinâmico compartilhado.
Constitui um processo de construção permanente. Provoca uma “febre cármica de
autopurificação”, na existência das pessoas mais atentas.
A Loja
é Pedra e é Grão de Areia
Fundada há pouco tempo, em 14 de setembro de 2016, a Loja
Independente de Teosofistas tem como perspectiva o longo prazo. Seu aniversário
ocorre sete dias depois da data nacional do Brasil, a mesma data em que foi
fundado o movimento teosófico internacional, em 1875.[1]
É bem conhecida em filosofia esotérica a força das letras
e dos sons.
A sigla LIT está contida em palavras como literal, literatura, literalidade,
literário, e também “litania”, que
significa oração ou súplica.
A palavra “lítico” significa “puro, verdadeiro, legítimo,
sem mistura”. O estudante de filosofia deve ser lítico. A meta é alcançar uma visão autêntica da sabedoria
teosófica.
Litoglifia é a arte de gravar sobre pedra. No mito bíblico, os dez mandamentos de
Moisés são litoglíficos. Foram
escritos em pedra, simbolizando a luz astral e o seu caráter indelével e indeletável.
O associado da LIT busca ser um litóglifo, um especialista em escrever sobre
pedra e agir no plano durável da vida. Pedra
representa aquilo que está situado nos planos superiores da natureza.
No trecho bíblico que fala da escada de Jacó - o capítulo
28 do Gênese - é sobre uma pedra que Jacó descansa a cabeça, como se fosse um
travesseiro, antes de dormir e ter um sonho em que vê a escada entre céu e
Terra.
Para a tradição maçônica - que gira em torno da imagem da
construção - o pedreiro livre é como
uma pedra bruta, e deve trabalhar a si mesmo enquanto faz parte da construção
coletiva do templo.
Na tradição andina, os seres humanos eram de pedra antes
de entrarem em ação como tais, isto é, eram modelos arquetípicos, imóveis, de
eras anteriores, aos quais foi dada vida outra vez na abertura do ciclo humano atual.
Em torno da ideia da pedra há um diálogo permanente entre
os níveis superiores e inferiores de consciência. O artigo “Um Parentesco Entre
a Índia e os Andes” examina o fato de que H.P. Blavatsky visitou pessoalmente a
fronteira andina entre a Bolívia e o Brasil:
“Ela juntou um punhado de areia de um rio para levar
consigo. HPB conta que viajou com a pequena amostra de minérios para a Europa,
onde confirmou que havia na terra pepitas de ouro levadas pela correnteza do
rio desde o Brasil para a Bolívia.”
Por algum motivo a Loja Independente estuda a sabedoria
andina.
As pedras são objetos magnéticos, e o mesmo artigo
afirma:
“Há uma passagem das Cartas dos Mahatmas em que um mestre
pede a um discípulo leigo que lhe mande três pedras tiradas das margens do mar
Adriático. O Adriático é um braço do Mar Mediterrâneo. O mestre escreveu a
Alfred Sinnett: ‘Você poderia encontrar
um modo de recolher para mim três seixos? Eles devem vir das praias do
Adriático - preferivelmente de Veneza; tão próximo do Palácio Dogal quanto eles
puderem ser encontrados (….). Os seixos devem ter três cores diferentes; um
vermelho, outro preto, o terceiro branco (ou acinzentado). Se conseguir
pegá-los, por favor, mantenha-os separados de qualquer influência e contato
exceto os seus…’.” [2]
O escritor argentino Jorge Luis Borges usou a metáfora da
pedra como símbolo da permanência e da areia como imagem daquilo que se perde:
“Nada se edifica sobre pedra, tudo sobre areia, mas o
nosso dever é edificar como se fora pedra a areia…”. [3]
A LIT é pedra e é areia, cujo grão é uma miniatura da
pedra. É também um sonho. Os sonhos fazem parte da realidade.
A pequena Loja, instrumento de uma construção maior, é
permanente por um lado e de outro lado está sujeita às marés do tempo
cronológico. É um grão de areia à beira do Oceano.
Não há um dilema doloroso entre ser pedra, ser areia, e
ser pó. Os teosofistas são pedra e são areia, e são água. O planeta em que
vivemos é ele mesmo uma pequena pedra molhada girando e vivendo suas marés à
beira de um largo mar de estrelas.
* A ciência atual chama de litosfera a parte externa consolidada do nosso planeta.
* O litoral é
o ponto de encontro entre o mar e o continente. No plano simbólico, o litoral
liga o flexível e o firme, o imenso e o terrestre, o tempo eterno e o curto
prazo. A LIT pertence àquela Faixa Litorânea em que a humanidade se
encontra com o oceano da sabedoria eterna.
* Litoide, diz o dicionário Aurélio, é aquilo que tem aspecto de pedra. A litolatria é o culto ou adoração das
pedras.
* Sabemos em teosofia que há pedras com diferentes
propriedades psíquicas e espirituais. H.P. Blavatsky escreveu sobre isso, e temos
em nossos websites um texto dela sobre o tema: “O Poder Mágico da Safira”.
[4]
* A litomancia
é a adivinhação por meio de pedras. As runas, das tradições espirituais pagãs
do norte da Europa, são tradicionalmente inscrições em pedras que permitem dialogar
com o futuro.
* A Loja estuda as chaves da construção do futuro humano
saudável.
* O verbo “litar” vem da palavra latina “litare”. Significa
oferecer sacrifício, sacrificar com bons presságios, obter bom presságio, ter
bons indícios.
A Loja está atenta à liturgia
oculta, não-dogmática e autorresponsável que cada um cria com a prática
regular pela qual se aproxima da sua alma eterna. Ao fortalecer a ligação com o
seu próprio eu superior, o estudante de teosofia passa a cooperar quase
imperceptivelmente com os sábios que guiam a caminhada humana no rumo da ética.
NOTAS:
[1] Veja o artigo “Sete de Setembro em Nova Iorque”.
[2] O texto “Um Parentesco Entre a Índia e os Andes”
está disponível em nossos websites associados.
[3] Citado em “Conversas na Biblioteca”, Carlos Cardoso Aveline, Edifurb, SC,
2007, 170 pp., ver p. 169.
[4] “O Poder Mágico da Safira”.
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O texto acima foi publicado como artigo independente dia
21 de maio de 2018. Sua versão inicial está incluída - sem indicação do nome do
autor - na edição de maio de 2018 de “O Teosofista” (pp. 01-04).
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Veja em nossos websites os artigos “O Perfil da Loja Independente”, “A Criação da LIT em 2016”, “A Força de um Compromisso
Sagrado”, “A LIT e o Despertar Interior”, “A Loja Independente e o Movimento”, “Transformar Uma Casa Num Templo”, “O Desafio Diante da Loja
Independente”, “Construindo a Loja Independente”, “O Movimento Teosófico, 1875-2075”, “LIT: a Árvore Com Raízes No Alto” e “A Loja Independente de Teosofistas”.
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