Em Junho de 1633, Para Evitar a Tortura, Galileu
Humilha-se Perante os Criminosos do Vaticano
Carlos Cardoso Aveline
Galileu Galilei, nascido a 15 de
fevereiro de 1564, e um dos
inúmeros instrumentos de tortura usados
pelos teólogos do catolicismo Vencido pelo medo, o cientista Galileu Galilei declarou dia 22 de junho de 1633 que estava errado e alterou radicalmente a sua posição como cientista.
Fazendo o que os seus perseguidores queriam, ele afirmou
solenemente que, na verdade, a Terra estava fixa, imóvel, no meio do Universo
em movimento.
O Sol e os demais planetas e estrelas é que giravam em
torno da Terra.
Assim havia sido decidido e estabelecido, em nome de
Deus e das Sagradas Escrituras, pelos teólogos da Igreja e do Vaticano. E eles
o torturariam interminavelmente por todos os meios possíveis, antes de assassiná-lo, a menos que ele dissesse de público tais
mentiras.
Durante anos, Galileu e os copernicanos haviam
defendido a tese científica segundo a qual a Terra girava em torno do Sol.[1] Por causa disso, Galileu foi acusado
de heresia no ano de 1612. Em 1615, foi denunciado ao Santo Ofício. Só duas
décadas depois, no dia 22 de junho de 1633, os representantes de Deus na Terra finalmente
condenaram Galileu.
E anunciaram:
“Dizemos, pronunciamos, sentenciamos e declaramos que
tu, o referido Galileu, pelas coisas aduzidas em processo e por ti confessadas
como referidas acima, te tornaste para este Santo Ofício veementemente suspeito
de heresia, isto é, de haver mantido e crido em doutrina falsa e contrária às
sagradas e divinas escrituras, que o Sol seja o centro da Terra e que não se
mova do Oriente para o Ocidente, ao passo que a Terra se mova e não esteja no
centro do universo (....). E, consequentemente, estás incurso em todas as
censuras e penas dos cânones sagrados e outras constituições gerais e
particulares impostas e promulgadas contra semelhantes delinquentes. E pelas
quais nos contentaremos se, em termos absolutos, mais que antes, com coração
sincero e fé não fingida, diante de nós, abjures, maldigas, detestes os
referidos erros e heresias, bem como qualquer outro erro e heresia contrários à
Igreja católica e apostólica, do modo e na forma que por nós te serão dados
(.....).”
Ao contrário de Giordano Bruno e outros perseguidos
pela igreja, Galileu não tinha vontade
de resistir diante da arrogância dos cardeais. Sobretudo, não quis morrer enfrentando
os sofisticados instrumentos de tortura física desenvolvidos pela tecnologia do
terror que o Vaticano usava.
Galileu optou pela humilhação, e decidiu reconhecer
que os sacerdotes e torturadores sabiam mais do que ele de matemática e
astronomia. Desta maneira, ao invés de ser assassinado, ele conseguiu passar o
resto da vida em prisão domiciliar. No mesmo dia 22 de junho, como exigiam os
cardeais, pronunciou oficialmente estas palavras:
“Eu, Galileu, filho daquele Vicente Galileu de
Florença, nesta minha idade de setenta anos, constituído pessoalmente em juízo
e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos Cardeais,
Inquisidores gerais em toda a República Cristã contra a herética maldade, e
tendo diante de meus olhos os sacrossantos Evangelhos, que toco com as próprias
mãos, juro que sempre acreditei, acredito agora e, com a ajuda de Deus,
acreditarei também no futuro em tudo aquilo que a Santa Igreja católica e
apostólica mantém, prega e ensina (....). Portanto, querendo eu retirar das
mentes das Eminências Reverendíssimas e de todo fiel cristão esta veemente
suspeição, justamente concebida em relação a mim, com coração sincero e fé não
fingida, abjuro, maldigo e detesto os referidos erros e heresias e, em geral,
todo e qualquer outro erro, heresia e seita contrárias à santa Igreja. E juro
que, para o futuro, nunca mais direi ou afirmarei, por voz ou por escrito,
coisas tais pelas quais se possa ter de mim semelhante suspeita.”
Para completar sua aparente derrota, Galileu deixa de
lado toda dignidade e compromete-se, no plano verbal, a denunciar aos criminosos
do Vaticano qualquer “herético” que viesse a conhecer.
Afirma:
“E, se conhecer algum herético ou suspeito de heresia,
o denunciarei a este Santo Oficio, ao Inquisidor ou Ordinário do local onde me
encontrar (.....).” [2]
A História mostra que a violência intelectual contra
Galileu não constitui um fato isolado. É um exemplo entre milhões. Foi sobre a base da
coação, da tortura e do assassinato, que se ergueu o poder do cristianismo
imperial. Além disso, é possível que a coação não tenha sido apenas verbal.
No seu ensaio sobre o processo de Galileu, o filósofo
francês Ernest Renan defende a tese de que o cientista pode ter sido torturado
fisicamente pelos assassinos do clero católico, e que talvez só depois disso
ele tenha concordado em afirmar que o Sol gira em torno da Terra.
Renan destaca o fato de que, no início do século 19, desapareceu
uma parte significativa do processo de julgamento de Galileu no Vaticano, onde
poderiam estar o registro e a documentação das torturas físicas. [3]
Passadas centenas de anos, no século 21 a ciência
ainda não recuperou sua dignidade. Embora apresente-se como proprietária
“neutra” e “objetiva” do conhecimento, continua funcionando majoritariamente a
serviço do dinheiro, do poder político e dos fabricantes de armas. Com razão
Blaise Pascal (1623-1662), contemporâneo de Galileu, escreveu estas palavras:
“A verdade é tão obscura nestes tempos - e a falsidade
está tão estabelecida - que, a menos que amemos a verdade, não podemos
conhecê-la.” [4]
Quando os cientistas fingem que não veem a
impossibilidade de que haja um deus monoteísta comandando casuisticamente o
universo; quando os historiadores se calam diante da óbvia inexistência histórica
de um Jesus tal como descrito no Novo Testamento; e quando a Psicologia
(exceto na obra de Freud) faz de conta que não conhece os desastres
psicológicos e psicossociais causados pela crença fanática em um deus monoteísta,
percebemos que a verdadeira Ciência, a busca da Verdade, anda longe
do atual academicismo.
A Academia de hoje teme dizer a verdade - e teme ainda
mais contrariar os seus financiadores.
Os exemplos do fracasso ético da ciência são numerosos e variados. Salvo exceções, a comunidade científica deixou que a influência política dos grandes grupos econômicos impedisse, até a primeira metade do século 21, uma ação mais forte pela preservação do meio ambiente. Ignorando sua responsabilidade moral, os cientistas pouco ou nada têm feito para interromper a proliferação atômica.
Os exemplos do fracasso ético da ciência são numerosos e variados. Salvo exceções, a comunidade científica deixou que a influência política dos grandes grupos econômicos impedisse, até a primeira metade do século 21, uma ação mais forte pela preservação do meio ambiente. Ignorando sua responsabilidade moral, os cientistas pouco ou nada têm feito para interromper a proliferação atômica.
A autolimitação da ciência, quando se trata de
questionar o poder eclesiástico ou a influência dos interesses políticos e
econômicos de curto prazo, frequentemente reduz os pesquisadores científicos a uma
condição mental medíocre, em que, mais que buscar a verdade, buscam financiamento.
Inclusive nas universidades.
Cresce lentamente o número dos cientistas dignos, que
optam por um projeto de vida correto e humanista.
O sofrimento moral e físico de Galileu Galilei, de
Giordano Bruno, do pensador luso-brasileiro Antônio Vieira e de outros milhares
de vítimas do Vaticano merece a solidariedade de todos, e traz uma lição prática
difícil para os tempos atuais.
É necessário resistir ao autoritarismo e à coação no
plano do pensamento: inclusive à coação econômica, feita no mundo atual através
de financiamentos - e à coação política.
Cabe colocar todo e
qualquer conhecimento a serviço de metas adequadas, e não da falsidade. O
verdadeiro cientista não trabalha para a manutenção de fraudes ou injustiças. É
dever da ciência evitar o mau uso do conhecimento, fazendo com que todo saber
seja compatível com o fortalecimento da alma, da justiça e do respeito à vida.
NOTAS:
[1] A informação vem do mundo antigo e pertence à tradição pitagórica. Veja, por exemplo, “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, Carta 93B, volume II, p. 115, inclusive a nota de rodapé.
NOTAS:
[1] A informação vem do mundo antigo e pertence à tradição pitagórica. Veja, por exemplo, “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, Carta 93B, volume II, p. 115, inclusive a nota de rodapé.
[2] “História da Filosofia”, Giovanni Reale e Dario
Antiseri, Ed. Paulus, SP, 1990, edição em dois volumes, ver volume II, pp.
248-290, e mais especialmente pp. 273-274.
[3] “Nouvelles Études D’Histoire Religieuse”, Ernest
Renan, Calmann-Lévy, Éditeurs, Paris, 1884, 533 páginas. Ver o ensaio “Un Mot Sur le Procès de Galilée”,
pp. 443-452, mais especialmente pp. 445-446.
[4] “Pascal”, um volume da coleção “Great Books of the
Western World”, Encyclopaedia Britannica, Inc., London, 1952, 487 pp., ver
p. 343. O pensamento citado faz
parte de “Appendix - Polemical Fragments”.
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Uma versão inicial do artigo acima
faz parte da edição de junho de 2009 de “O
Teosofista”, onde não há indicação do nome do autor. O texto foi publicado
nos websites associados dia 11 de junho de 2019.
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Clique para ver o artigo “Como Usamos o Conhecimento”.
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