Carlos Cardoso Aveline
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Ao
comentar a situação do seu país, muitos adotam opiniões rígidas. Lutam pela
vitória da sua descrição da realidade como quem torce pelo seu time de futebol durante
a partida final de um campeonato. Tomados por um entusiasmo cego, deturpam
livremente os fatos e abandonam todo respeito pela realidade.
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A tendência saudável é que aumente o número dos que pensam com independência. São
necessárias mais pessoas que observem seu país com isenção, olhando para ele desde
o ponto de vista do seu potencial positivo e sagrado. Só a verdade permanece:
as distorções têm vida curta.
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Apesar das dificuldades naturais, não há razão para ficar excessivamente
preocupado ao ver um aumento de ignorância espiritual nas camadas sociais mais
prósperas do mundo de hoje. Nada é eterno, exceto a Lei do Equilíbrio. Tudo é
cíclico, na evolução humana. Apenas a balança da eterna justiça permanece, e
nem as mais violentas crises de cegueira moral podem durar muito tempo.
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Adaptar-nos a circunstâncias em constante mutação é tão necessário quanto
permanecer ligados à nossa meta central, durável e elevada. Cabe avançar para o
objetivo através do método escolhido. A lei do universo funciona com base no princípio
da perfeição dinâmica. Tudo se aperfeiçoa. Todos aprendem. Ao fortalecer nossa
afinidade com a lei, aumentamos a harmonia no nosso espaço do carma e do tempo.
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As tarefas cansativas e tediosas estão entre as mais úteis no aprendizado de
teosofia. Ao realizá-las com inteiro cuidado, o peregrino desenvolve o seu
poder de concentração, fortalece o seu contentamento incondicional e se torna
mais capaz de observar em seu próprio eu inferior os movimentos ativos da preguiça,
do orgulho e outras formas de resistência à sabedoria.
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O verdadeiro sentido de encantamento deve vir de dentro. A grandeza moral pertence
à alma e resulta do grau de autoesquecimento com que o peregrino cumpre seu
dever nos diversos níveis de consciência.
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Assim na vida em geral como em teosofia, a ajuda mútua é uma lei inevitável.
Não pode ser ignorada impunemente. Tudo o que existe, e todos os que vivem ou
viveram algum dia, estão em unidade dinâmica.
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Os efeitos daquilo que fazemos voltam para nós. O fato é garantido pelo
processo da reencarnação, mas o carma nem sempre espera tanto tempo. As primeiras
consequências do que fazemos são imediatas. Outras demorarão mais tempo para
amadurecer.
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Não há fatos isolados: a harmonia é recíproca. Todo sofrimento é compartilhado,
talvez secreta e silenciosamente; e cada
erro ou acerto pertence ao patrimônio comum de experiências acumuladas. O apoio
mútuo é o caminho da evolução.
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Cada um dos sete níveis principais de consciência humana possui mais de um tipo
de silêncio. Um silêncio profundo e vertical incluirá diversas camadas de
percepção, gerando uma capacidade de enxergar especialmente durável.
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A clareza de visão resulta da renúncia às aparências e da concentração na
essência das coisas.
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O silêncio desvela a realidade interior e oferece uma visão atualizada do
passado e do futuro. É no silêncio que fala o mestre, a nossa alma mais
elevada, Atma-Buddhi. Na ausência de ruído, o significado dos fatos se torna
claro. A lição nem sempre é agradável, mas liberta o peregrino de suas ilusões.
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A estrada para a sabedoria é simples no sentimento e complexa no plano da
mente. Tanto o pensamento como o coração são necessários. O peregrino bem
informado combina a simplicidade e a complexidade. Ele usa os dois lados do
cérebro: o lado que pensa de modo concreto e o lado que percebe a vida
intuitivamente.
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Cada passo adiante muda a caminhada inteira, inclusive a visão que se tem dos
passos já dados. Com cada novo avanço o peregrino deixa algumas coisas para
trás e passa a ver outros fatos até este momento invisíveis.
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Para ter eficiência, a busca da sabedoria deve ser amparada por um sentido de
equilíbrio. Fatores diferentes podem ser combinados através de uma criatividade
em que não há pressa.
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Uma capacidade de identificar beleza moral e feiura moral faz parte do processo
de aprendizagem. A cada forma de felicidade corresponde algo doloroso, ou alguma
forma necessária de ser austero.
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Uma simetria conecta os gestos e as ações internas e externas. Todas as coisas
grosseiras e sutis estão relacionadas entre si. A paz incondicional une as várias
dimensões da vida.
* Cada povo possui suas próprias ligações com o reino superior do
Espírito. A silenciosa conexão com o mundo mais elevado opera através de
pensadores e cidadãos atentos que vivem fundamentalmente em suas almas
espirituais, enquanto possuem corpo físico. Tais indivíduos trabalham em uma
sintonia de alma com grandes instrutores que viveram em outros povos e épocas
diferentes.
* Documentar o trabalho dos sábios de todos os tempos e fazer com
que ele seja conhecido é parte do dever teosófico. Numerosos pensadores de
compreensão universal caíram no esquecimento, ou suas obras foram distorcidas.
Os estudantes de teosofia clássica têm o privilégio de estudar com professores
de altruísmo que viveram em tempos e lugares distantes. Ao fazer isso,
expandem o diálogo com o seu próprio eu superior - cuja substância é cósmica.
* A harmonia que um buscador da verdade obtém não se baseia na
negação dos testes, da provação ou do sofrimento. A paz surge para ele da
harmonização dinâmica dos vários aspectos da vida, agradáveis e desagradáveis. A
vitória ocorre à medida que ele aprende a reduzir os seus erros, a fazer o bem,
e a ajudar os outros seres que lutam para despertar.
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“Ideias ao Longo do
Caminho - 25” foi publicado como artigo independente em 19 de junho de 2019. Uma versão
inicial e anônima dele faz parte da edição de setembro de 2016 de “O Teosofista”, pp. 14-15.
Embora o título “Ideias ao Longo do
Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the
Road”, do mesmo autor, não há uma identidade exata entre os conteúdos das
duas coletâneas de pensamentos.
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