A Vida Individual é
Como uma Pequena
Embarcação
Navegando no Oceano Cósmico
Paul Carton
Figura 1
Para compreender melhor a constituição uni-trinitária
do ser humano, reproduzimos a interpretação (que já foi dada em nosso Tratado
de Medicina) de um baixo-relevo que simboliza de modo extremamente correto as
relações entre os elementos da constituição humana.
O baixo-relevo, datado do século XVI, foi seguramente projetado
por um iniciado na ciência oculta. Ele vem dos locais de construção da Basílica
de St. Denis e está localizado no Louvre, na sala de esculturas da Idade Média.
Apresentamos aqui a reprodução fotográfica desse baixo-relevo mutilado, em seu
estado atual (fig. 1) e o desenho que o reconstrói (fig. 2) publicado por
Lordat na obra “Leçons de physiologie”.
Figura 2
O ser humano é uma embarcação pequena e frágil navegando
no oceano cósmico. A sua tripulação é formada por três personagens que
correspondem aos seus três elementos formadores: o espírito, no centro; a vitalidade,
na frente; e o corpo físico, atrás. Essas três forças são agrupadas em uma
unidade individual: o barco.
A força vital é representada pela imagem de uma mulher
de saúde excelente e exuberante. Ela está descabelada e parece tola, tamanha a
intensidade da vida que a anima. De fato, ela é, de certo modo, o motor do
barco, dirigido pelo espírito e agindo sobre a matéria, isto é, sobre o
esqueleto da arquitetura física. Sua força motora é dada pela sua própria
reserva de vitalidade e em grande parte também pelas pulsações poderosas da
vida atmosférica, que ela recolhe em sua vela estendida, assim como o ser
humano a reúne abrindo seus pulmões.
A força vital faz com que a embarcação avance
independentemente da vontade do espírito, assim como, no corpo físico, a vida
faz com que todas as engrenagens das vísceras funcionem sem a intervenção da
vontade. Mas, por si só, a força vital é incapaz de uma liderança clara e bem
pensada. Na verdade, ela está de costas para a direção seguida pelo barco e só
cuida da sua própria exuberância. Ela é a louca da casa, é o inconsciente, a
fonte de impulsos instintivos, de paixões cegas, de impulsos impensados. Ela deve
sempre se voltar para o espírito e obedecer à direção dele, para que o barco siga
no rumo correto.
A figura situada no centro simboliza o espírito. Ele é
descrito como um homem velho, porque é imortal, tendo sido criado pelo Espírito
Eterno. Ele domina os outros dois tripulantes, comandando diretamente a vida à
sua frente e indiretamente a vida material, que está atrás dele.
Ele tem como ponto de apoio o universo e se mantém
erguido com a ajuda de duas muletas, que representam a ciência e a religião.
Elas compensam a sua fraqueza e o ajudam a encontrar seu caminho e a educar a
si mesmo na vida.
O espírito está no comando do navio porque segura as
cordas da vela que reúne a vitalidade. Ele pode corrigir as inclinações e regular
as energias impetuosas da vida, assim como os rumos frequentemente incorretos da
matéria física que governa a parte posterior.
Ele conhece o objetivo oculto da existência, e busca
torná-lo cada vez mais claro aos olhos da Vida, estimulando-a a agir
corretamente, porque o tempo, medido pela sua ampulheta, é limitado para ele evoluir sob esta forma individual. O seu olhar está voltado para a frente, pois
é ele que sabe, é ele que registra o passado, que zela pelo presente e vê à
distância o futuro, para o qual deve guiar a embarcação.
A matéria física, na retaguarda, é simbolizada pela
dimensão perecível do indivíduo: o esqueleto. É a matéria que governa no ar,
com a ajuda das asas erguidas, e na água, com ajuda da sua foice, que serve de
leme.
Pela ação do leme, a matéria física influencia a força
vital e o espírito, e, se o espírito ainda não tiver domínio suficiente no controle
da vela, a matéria passa a impor a sua própria direção e a colocar o barco
perigosamente à deriva. Mas se o espírito tiver sido educado e treinado ele
pode corrigir a ação do leme material e impor um rumo correto, administrando
adequadamente a vela.
A matéria física está armada com um arco e flechas,
contidos em uma aljava. Obedecendo às sugestões da força vital ou do espírito, a
matéria pode usá-los para se defender ou para atacar, e pode até fazer uso
nocivo deles, perfurando a sua força vital. Acontece então o suicídio do
indivíduo.
Da harmonia das relações entre os três personagens
depende o bom desempenho do barco, ou seja, do agrupamento individual. Sem vida
e sem a sua vela motriz, o espírito não tem qualquer controle da matéria. Sem
vida e sem espírito, a matéria não tem mais qualquer apoio ou orientação, mas está
condenada ao naufrágio e ao desaparecimento.
Quando a calma reina ao redor da embarcação, quando o
ar e a água estão pouco agitados, o conjunto todo pode descansar. O espírito consegue
então ausentar-se, deixar mais folgadas as cordas da vela, e a vida continua a
dirigir o barco sozinha. É o que acontece durante o sono. Mas quando surge uma
comoção externa, o piloto acorda e retoma o seu posto de comando.
Se a vela da vitalidade ficar demasiado esticada,
pode-se abandonar a direção sábia do espírito e impor ao conjunto da embarcação
movimentos desordenados e destrutivos, como ocorre quando a cólera ou o impulso
de forças vitais inconscientes substituem a vontade razoável.
Quando a embarcação fica danificada devido a uma
manobra infeliz de um dos personagens, ou por causa de uma desobediência ou de ignorância,
é necessário parar num porto para fazer o devido conserto. Ocorre então uma
doença que exige repouso e cuidado adequados. Os danos materiais ou a doença
são consequências de ações anteriores, e servem como lições.
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O texto acima está publicado nos websites associados
desde o dia 15 de setembro de 2020. Foi traduzido por CCA da obra “La Science
Occulte et Les Sciences Occultes”, de Paul Carton, Librairie le François, Boulevard
Saint-Germain, Paris, 1935, com 430 páginas além da Table Alphabétique. Ver pp. 80-82. O texto original em francês está
disponível online. Clique e leia “La Constitution Uni-Trinitaire de L’Homme”.
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Veja outros escritos de Paul Carton.
Leia também “Os Sete Princípios da Consciência” e “A Ponte Entre Céu e Terra”.
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