20 de junho de 2013

O Poder de Abençoar

A Antiga Arte de 
Estimular o Melhor nos Outros


Carlos Cardoso Aveline


O eu superior é celestial, e o contato com ele nos abençoa


O poder de abençoar é uma energia vital superior. Ele desperta pouco a pouco na consciência do indivíduo que dedica sua vida à busca da sabedoria. Ele surge na medida em que o estudante da filosofia esotérica expande gradualmente sua vivência direta do ensinamento, fortalece seu contato com a Lei e ganha real confiança na vida e em si mesmo.

Em última instância o poder de abençoar os outros beneficia aquele que o exerce, porque tudo o que alguém faz a outrem volta cedo ou tarde para ele próprio. Em Atos dos Apóstolos, 20:36, podemos ler:  “Há mais felicidade em doar do que em receber”.  A curto prazo, porém, ajudar os outros pode atrair para aquele que abençoa algo da angústia ou da ignorância de quem estava a sofrer.  Na lenda do Evangelho, Jesus foi crucificado por fazer o bem. Abençoar implica autossacrifício.  A boa vontade de quem abençoa será constantemente testada.  A arte de despertar o melhor nos seres humanos é probatória. Não pode haver ao abençoar uma intenção subconsciente de beneficiar a si mesmo, nem a de parecer espiritual, ou de despertar admiração.  A intenção dominante em todos os níveis da consciência deve ser o estabelecimento impessoal de uma relação pedagógica com a vida, na qual o ato de aprender, o processo de ensinar e a tentativa de estimular o melhor nos outros são apenas três aspectos criativos de um amor incondicional pela Vida.

Teosofia é respeito pela vida universal, e implica reconhecer que o eterno e o infinito estão presentes em cada ser.  Abençoar não consiste em dizer a alguém “eu te abençoo”. Este formalismo ilusório tem origem sacerdotal.  O ato de abençoar é mais profundo e mais complexo: consiste em despertar no outro sua okeidade natural, sua capacidade de estar OK, isto é, de estar em unidade dinâmica  e criativa com a Vida ao seu redor e com a Vida dentro de si.  Abençoar é um processo gradual e contínuo, que estimula em outrem tanto o autoconhecimento como a autorresponsabilidade.

Não nos enganemos: viver corretamente é a única fonte real de bom carma ou de bênçãos. Antes de desejar felicidade, é preciso merecê-la.  Em consequência disso, abençoar é estimular no outro a decisão de fazer por merecer a bem-aventurança da paz interior.

Os teosofistas não acreditam em bênçãos vindas de “alguém” e gratuitamente. Eles sabem que o bem-estar real emerge do bom trabalho.  O esforço diário na direção correta é um bálsamo. O trabalho nos abençoa. Dar o exemplo de uma vida sábia é um modo eficaz de ajudar os outros. A presença silenciosa de um ser de coração puro inspira o melhor nos que o rodeiam. Mas não basta alguém ter o poder de abençoar incondicionalmente e de estimular sem nada esperar em troca o que há de mais elevado naqueles com quem entra em contato.  É preciso que aquele que receberá a energia curadora tenha a capacidade de aceitar a libertação. E há um momento na vida em que é necessária uma forte autodisciplina para abrir mão da dor a que estamos acostumados.

Renunciando ao Sofrimento Desnecessário

A dor psicológica é um hábito e o ser humano se apega a ela. O indivíduo ingênuo se identifica com suas “feridas emocionais” - normalmente associadas ao desejo - e se lamuria e se lamenta tanto diante dos outros como no seu discurso interno para consigo mesmo.

Pode haver uma estranha satisfação pessoal em gemer e constatar que se está sofrendo muito. O autocastigo é um vício e pode estar associado a sentimentos subconscientes, e ilusórios, de culpa.  O hábito emocional de ser infeliz deve ser compreendido e abandonado. É saudável fazer um voto solene para consigo mesmo - e renová-lo uma e outra vez -, tomando uma resolução firme no sentido de desapegar-se das formas costumeiras de sofrimento. 

Aquilo que causa dor emocional a uma pessoa pode não causar a outra: portanto, a dor emocional é uma questão de opção, ainda que a escolha por sofrer seja subconsciente. 

A parte desagradável do carma individual surge como hábitos e tendências negativas, mas eles podem ser superados. Ao abrir mão do sofrimento desnecessário, aceitamos os fatos como eles são e trabalhamos com sentido prático para construir a realidade agradável que queremos ver. Deixamos de reclamar da vida ou das circunstâncias e passamos a ter uma existência iluminada e vitoriosa a cada novo dia.  Deste modo nos capacitamos para aceitar a felicidade e as bênçãos que estão o tempo todo à nossa disposição - embora talvez não o saibamos - e que fluem a partir da energia universal e pura do nosso próprio eu superior.  

O pensamento é o leme que define o rumo do carma. O pensamento correto leva ao carma positivo, e pensar corretamente está ao alcance da livre vontade individual.

A substância da alma imortal é abençoada.  Cada ser humano pode constatar isso diretamente.  O eu superior é celestial. Ele é feito de bem-aventurança e felicidade. Desligando-nos do hábito de desejar e sofrer, ampliamos o nosso contato com o território sutil e revolucionário da felicidade.  Então surge em nós com força especial a capacidade de irradiar para todos a bênção que habita nossa consciência.

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