24 de abril de 2024

Efeitos do Estudo da Doutrina Secreta

 
A Leitura Atenta da Obra de Helena
Blavatsky  Pode Causar Uma Revolução Pessoal
  
Carlos Cardoso Aveline




O calmo estudo da obra “A Doutrina Secreta” (DS) é uma tarefa contemplativa e ao mesmo tempo envolve uma séria pesquisa pessoal. O esforço emprega todos os níveis de consciência e percepção do peregrino, incluindo a intuição não-pensada e o estudo com apoio dos mais diversos tipos de dicionários e obras de diferentes tradições orientais e ocidentais.

Não devemos, portanto, encarar o estudo da DS como se fosse uma leitura linear, através da qual “simplesmente reunimos informação e ficamos sabendo das coisas”.

A leitura em linha reta, superficial, limitada ao plano das palavras, é no entanto a mais frequente hoje, dado o despreparo e a desinformação do leitor médio.

Poucos procuram aprimorar o modo como pensam. Mesmo no movimento esotérico, temos mais papagaios falantes do que estudantes interessados em aprender. Não são muitos os que buscam pensar por si mesmos, com clareza.

Um dos maiores desastres sofridos pelo movimento teosófico durante o século vinte, por exemplo, foi a vontade de inúmeros teosofistas de agradar os meios acadêmicos, e o desejo deles de “parecer científicos”.

Abandonando a indispensável crítica teosófica à ciência moderna, numerosos teosofistas passaram a bajular acriticamente as universidades e os pequenos mundos acadêmicos. Assim passaram a fazer tentativas infantis de dar uma aparência de legitimidade às suas próprias concepções superficiais de filosofia esotérica.

As Misérias do Mundo Científico

Na verdade, a teosofia original não critica apenas a religiosidade dogmática.

Ela mostra as misérias da ciência acadêmica, que não são poucas. Com frequência a ciência convencional e materialista é tão dogmática quanto qualquer seita religiosa intolerante e os seus adoradores buscam sobretudo dinheiro e poder de um modo muito mal disfarçado.

Veja-se por exemplo o tamanho do esforço científico hoje voltado para a fabricação de armamentos convencionais, de armamentos atômicos, de armamentos biológicos,  e outras atividades igualmente voltadas para o lucro e o consumismo destituídos de ética.

Mesmo a psicologia e a medicina sofrem um grau importante de deturpação devido ao jogo dos interesses econômicos, que, como se sabe, nada têm de científicos, exceto como disfarce para parecerem legítimos. É lamentável ver o uso intenso de conhecimentos psicológicos e tecnológicos com o objetivo de promover a dominação mental de povos inteiros.

A busca da verdade não pode ser colocada a serviço de instituições burocráticas ou materialistas, sejam elas religiosas, tecnológicas ou científicas.

Buscar a verdade, ou ler a Doutrina Secreta, será eficiente se for uma função do nosso templo interno - e independente - situado silenciosamente em cada alma humana.

Deve haver audácia, e também modéstia. O trabalho precisa ser intenso, e também humilde.

O leitor que não tem uma completa paciência e a indispensável capacidade de concentração se decepciona em pouco tempo com a necessidade de tratar quase cada frase da DS, e certamente cada parágrafo, como um quebra-cabeças, um enigma, uma equação a resolver.

No estudo eficiente da DS, o peregrino não fica simplesmente sabendo disso ou daquilo no plano verbal.

Ele incorpora em sua alma, vivencialmente, uma certa percepção direta do cosmo e das suas eternidades, no plural.

Ele percebe que ele próprio, visto como espírito, faz parte das ondas e marés da vida cósmica universal. Ele acorda com cada novo manvântara e adormece com cada começo de pralaya. Ele habita diferentes globos e faz parte de raças materiais, mais densas que a humanidade atual, assim como de raças “pré-adâmicas”, não físicas, espiritualizadas.

Ele compreende alguma coisa dos diferentes tipos de tempo, da duração infinita e do espaço ilimitado. Ele sabe que a própria eternidade e a vastidão imensa estão sujeitas a algo como uma renovação cíclica, eternamente.

Neste processo, o estudante se desidentifica em relação ao mundo material denso, e passa a identificar-se com mundos sutis cujo espaço-tempo é “relativamente imenso” e quase completamente insondável.

O estudo da DS é, portanto, uma transformação lenta, simultânea, trabalhosa, dos mundos emocional, mental e espiritual do leitor.

Exige o máximo do intelecto do estudante, mas impulsiona também uma transformação do seu mundo concreto, assim como do seu espírito.

Ao estudar a DS, portanto, um primeiro passo é examinar se durante o estudo o leitor está integrado com os seus sentimentos. Em teosofia, o conhecimento que exclui emoções, intuições e pensamentos próprios não é conhecimento. É apenas a memorização superficial de palavras e ideias, atividade que caracteriza uma certa vaidade infantil, frequente em meios acadêmicos e até esotéricos.

Os sentimentos devem ser observados. Há orgulho pessoal por estar lendo uma obra tão importante? Existe uma pressa ansiosa de chegar ao fim da leitura? Há uma intenção subconsciente de mostrar erudição aos outros, graças a estes estudos? Haverá preguiça mental? Tudo deve ser observado com paciência, sabendo-se que com o tempo virão emoções mais maduras.  

A questão básica, portanto,  não é ler ou não ler a DS, mas como ler esta obra. A leitura vivencial e vivenciada é a leitura útil. A obra constitui um portal do caminho iniciático, ou seja, do caminho das Iniciações.

Toda bem-aventurança traz sofrimentos. O estudante precisa lidar com a dolorosa perda do mundo simples em que ele próprio vivia, antes de descobrir a bênção da filosofia esotérica.

A leitura é uma luta e muda o leitor. Ela expande a sua consciência, purifica a sua vida e transforma as suas prioridades. Ela o aproxima pessoalmente do cosmos num sentido vivencial direto.

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O artigo acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 24 de abril de 2024.  Uma versão inicial e ainda anônima de “Efeitos Práticos do Estudo da Doutrina Secreta” pode ser vista na edição de março de 2023 do periódico O Teosofista.

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Leia mais:





* A Doutrina Secreta, de Helena P. Blavatsky.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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