2 de dezembro de 2015

Fragmentos de Filosofia Estoica

 A Teosofia Ética do Mundo Clássico Ocidental

Musônio Rufo

O dodecaedro, sólido platônico de 12 lados, simboliza o Universo



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Nota Editorial:

Selecionamos e traduzimos a seguir doze fragmentos
de Musônio publicados no volume “Tabla de Cebes -
Musonio Rufo, Disertaciones, Fragmentos Menores,
Epicteto, Manual, Fragmentos”, Editorial Gredos, Madrid,
1995, 250 pp. Indicamos o número de página ao final de cada
citação. O filósofo estoico Musônio viveu de 28 E.C. a 100 E.C.

(Carlos Cardoso Aveline)

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1) Ser filósofo é o mesmo que ser bom. (p. 60)

2) A filosofia consiste em ocupar-se da perfeita honestidade e nada mais. (p. 59)

3) A virtude é uma ciência não só teórica, mas também prática, como a medicina e a música. (p. 59)

4) Por que os homens deveriam buscar e investigar como viver melhor, que é aquilo em que consiste o filosofar, e as mulheres não? Por acaso convém que os homens sejam bons, e as mulheres não? (p. 77)

5) Não é possível viver corretamente o dia de hoje sem vivê-lo como se fosse o último. (p. 149) [1]

6) Por que acusamos os tiranos [dirigentes políticos] se somos bastante piores do que eles? Temos impulsos iguais aos deles em destinos [contextos] diferentes. (p. 149)

7) Merecerás o respeito de todos se começares primeiro por respeitar a ti mesmo. (p. 151)

8) Se preferes sobretudo ficar dentro do que é adequado, não te aborreças com as circunstâncias. Pensa quantas coisas já te aconteceram na vida não do modo como tu querias, mas como era adequado. (p. 150)

9) Que o prazer não seja um bem em si mesmo não é algo que pareça perceptível de imediato, porque o prazer nos convida como se fosse um bem. Mas se tomarmos como premissa maior a ideia de que todo bem é preferível, e acrescentarmos a ela outra premissa reconhecida, a de que alguns prazeres não são preferíveis, teremos demonstrado que o prazer não é um bem. (p. 72)

10) ... E o fato de que o trabalho intenso não é um mal não parece convincente de imediato; mais convincente é o seu contrário, a ideia de que o trabalho é algo mau. Mas se admitirmos uma premissa maior evidente, a de que devemos evitar todo mal, e acrescentarmos a ela outra premissa ainda mais evidente, a de que muitos trabalhos não devem ser evitados, chegaremos à conclusão de que o trabalho intenso não é um mal. (p. 72)

11) Não é preciso que o mestre do filósofo exponha a quem aprende uma grande quantidade de raciocínios e demonstrações, mas que ele fale sobre cada tema oportunamente, que trate de ajustar-se ao discernimento de quem ouve, que diga o que é convincente e não pode ser facilmente refutado, e, sobretudo, que ele fale do que é mais útil e atue de acordo com o que diz, conduzindo assim os seus ouvintes. (p. 74)

12) Quanto ao aluno, ele deve concentrar-se no que lhe é dito [pelo professor]. De um lado, sua meta deve ser não deixar que um erro permaneça despercebido. [2] Deve admitir seus erros. De outro lado ele não deve querer - por Zeus! - ouvir demonstrações longas sobre a verdade, mas sim demonstrações claras. E se o aluno ficar convencido de que os conselhos são corretos, que os siga em sua vida, pois só assim obterá algum benefício da filosofia; ao desenvolver ações que estão de acordo com os raciocínios que aceitou e que eram corretos. (p. 74)


NOTAS:

[1] Esta frase é atualmente famosa porque foi adotada em suas “Meditações” por Marco Aurélio, o imperador-filósofo da Roma antiga. Na verdade, Musônio foi professor de Epicteto (55 C.E.-135 C.E.), e Epicteto ensinou filosofia para Marco Aurélio (121 C.E.- 180 C.E.). Durante o século vinte, Carlos Castaneda adotou a mesma ideia em seus livros. (CCA)

[2] Inclusive um erro do próprio professor. (CCA)

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A seleção de fragmentos acima foi publicada pela primeira vez na edição de dezembro de 2014 de “O Teosofista”, sob o título de “Doze Fragmentos de Musônio Rufo”.

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Para conhecer um diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.


Com 28 capítulos e 170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da Universidade de Blumenau, Edifurb.  

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